Aquele rosto lhe era familiar. Aquela voz, aquele cabelo, o jeito de mover-se. Aquele olhar. Mas por que não conseguia ver a pessoa? Por que seu rosto estava tão embaçado, como se o olhasse por um vidro sujo, quebrado...?
-- A corrupção vai se espalhar -- Falava aquele garoto, mas a voz que escapava de sua boca era feminina. Ou ao menos achava que era. Tinha um timbre grave, profundo, rouco -- E todos sucumbirão, como cadáveres aos vermes.
A pessoa começou a afastar-se enquanto raízes negras brotavam do chão. Ele tentou recuar. Tentou pedir que o garoto esperasse, mas as raízes amarraram-se em seu pé e penetraram sua carne, seus ossos, sua alma, e tudo o que ele conseguiu pensar foi em morte, dor, na podridão de uma montanha de corpos empilhados.
As raízes subiram por dentro e fora de seu corpo. Espalharam-se por suas veias, rompendo-as, sangrando-o, alcançando seu peito, cercando seu coração. Sentiu dor. Sentiu medo. Sentiu raiva. Sentiu-as lentamente chegando perto daquele monte de carne que bombeava sangue por seu corpo, e sentiu-o ser tocado pela Maldade. Enfim, veio o grito rasgando sua garganta, e escuridão, enquanto seu velho conhecido sorria ao longe.
Enzo acordou assustado. Sentia cada veia de seu corpo queimando, o coração batendo forte. Estava deitado em seu chalé, ensopado de suor. O teto de mármore branco e recheado de nuvens refletia de leve a luz do braseiro que queimava ali ao lado, de frente à grande estátua.
Espere. Aquele não era o chalé 6.
Enzo levantou-se rapidamente. Estava no chalé 2. O chalé de Hera. Como sempre, vazio. Havia ali apenas ele e a grande estátua da deusa, encarando-o de cima com um olhar de quem poderia tanto abraçá-lo quanto parti-lo ao meio com um raio. O clima frio e escuro indicavam que devia ser noite. O que fazia ali?
As chamas estalaram.
Gean abriu os olhos. Diferentemente do normal, não sentiu a sonolência comum ao pós-despertar. Sentia-se perfeitamente acordado. Sabia e quem era aquela voz doce que sussurrava em seus ouvidos. Sabia quem havia lhe mostrado aquelas raízes, aquela pedra, aquela força imparável que lhe enchia o peito, queimava seus pulmões e lhe proporcionava um misto de dor e prazer. Êxtase. Ódio, devoção e dúvida. Havia algo mais no sonho. Havia calor, luz e nostalgia. E aquela melodia calma, que ia contra tudo o que acreditava. Como um barco velejando contra a brisa.
Levantou-se. Saúde as estrelas, dissera sua deusa.
-- A corrupção vai se espalhar -- Falava aquele garoto, mas a voz que escapava de sua boca era feminina. Ou ao menos achava que era. Tinha um timbre grave, profundo, rouco -- E todos sucumbirão, como cadáveres aos vermes.
A pessoa começou a afastar-se enquanto raízes negras brotavam do chão. Ele tentou recuar. Tentou pedir que o garoto esperasse, mas as raízes amarraram-se em seu pé e penetraram sua carne, seus ossos, sua alma, e tudo o que ele conseguiu pensar foi em morte, dor, na podridão de uma montanha de corpos empilhados.
As raízes subiram por dentro e fora de seu corpo. Espalharam-se por suas veias, rompendo-as, sangrando-o, alcançando seu peito, cercando seu coração. Sentiu dor. Sentiu medo. Sentiu raiva. Sentiu-as lentamente chegando perto daquele monte de carne que bombeava sangue por seu corpo, e sentiu-o ser tocado pela Maldade. Enfim, veio o grito rasgando sua garganta, e escuridão, enquanto seu velho conhecido sorria ao longe.
Enzo acordou assustado. Sentia cada veia de seu corpo queimando, o coração batendo forte. Estava deitado em seu chalé, ensopado de suor. O teto de mármore branco e recheado de nuvens refletia de leve a luz do braseiro que queimava ali ao lado, de frente à grande estátua.
Espere. Aquele não era o chalé 6.
Enzo levantou-se rapidamente. Estava no chalé 2. O chalé de Hera. Como sempre, vazio. Havia ali apenas ele e a grande estátua da deusa, encarando-o de cima com um olhar de quem poderia tanto abraçá-lo quanto parti-lo ao meio com um raio. O clima frio e escuro indicavam que devia ser noite. O que fazia ali?
As chamas estalaram.
Levante.
Venha.
A noite está bela, minha pequena gramínea,
e ela é apenas uma criança.
É hora de brincarmos.
Saúde as estrelas...
Venha.
A noite está bela, minha pequena gramínea,
e ela é apenas uma criança.
É hora de brincarmos.
Saúde as estrelas...
Gean abriu os olhos. Diferentemente do normal, não sentiu a sonolência comum ao pós-despertar. Sentia-se perfeitamente acordado. Sabia e quem era aquela voz doce que sussurrava em seus ouvidos. Sabia quem havia lhe mostrado aquelas raízes, aquela pedra, aquela força imparável que lhe enchia o peito, queimava seus pulmões e lhe proporcionava um misto de dor e prazer. Êxtase. Ódio, devoção e dúvida. Havia algo mais no sonho. Havia calor, luz e nostalgia. E aquela melodia calma, que ia contra tudo o que acreditava. Como um barco velejando contra a brisa.
Levantou-se. Saúde as estrelas, dissera sua deusa.