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por William B. Davenpot 04/08/20, 01:45 pm

William B. Davenpot

William B. Davenpot
Filho(a) de Hécate
Filho(a) de Hécate
Nome da narração: MISSÕES ONE-POST LIVRES
Objetivo da narração: Explicação da ficha de reclamação
Quantidade de desafios: Complexa com desenvolvimento da trama do personagem com NPC e ações que contaram para influenciar seu psicológico.
Quantidade de monstros: Não existem monstros, porém, lutas e assassinatos.  
Espécie dos monstros: --


Podemos negar que nossos anjos existem, dizer a nós mesmos que eles não podem ser reais. Mas eles aparecem de qualquer maneira. Em lugares estranhos, em tempos estranhos, eles podem ser qualquer personagem que possamos imaginar. Serão verdadeiros demônios se precisarem, nos chamando, nos desafiando a lutar.

As luzes piscavam. O relógio fazia tique, toque, tique, toque. Uma grande massa negra estava diante do menino de olhos frios. Ele lambeu os lábios umedecendo a superfície rugosa. Pigarreando o rapaz respondeu à pergunta anterior.

– Meu nome é William, William Bartholomeu Davenport. Tenho 17 anos e assassinei meus pais, feliz?

O homem de sobretudo negro ficou de pé e andou de um lado ao outro na sala pequena. Ele jogou uma pasta cheia de fotos sobre a mesa. Voltando a se sentar o homem apoiou as palmas das mãos contra a superfície lisa e analisou a fisionomia do menino. Ele tinha grandes olhos penetrantes, sua pele era branca, mas com alguns tons acobreados, como os surfistas, seus cabelos eram loiros, vestia-se como um rapaz comum, porém, seus olhos lhe denunciava, mostrava que de traz de tudo aquilo ele era um ser doentio.

– Me conte tudo. – Ordenou o homem. – Desde o início. – Ele pegou um gravador de voz e deu Play. – Não me esconda nada.

O rapaz cruzou os braços na altura do peito e olhou o homem nos olhos, como se tentasse ler seus pensamentos. Por fim deu de ombros e começou a falar.

– Tudo ocorreu em uma quarta-feira, foi meu primeiro dia de aula na nova escola, eu tinha apenas 12 anos de idade. Mamãe me deixou na porta da escola e me deu um beijo no rosto, ainda posso sentir o calor de seus lábios contra minha face rosada. Quando eu era pequeno eu era muito fofo, sabe aqueles anjinhos de coral? Eu era muito parecido com um. Sentei-me na segunda cadeira ao lado da mesa do professor, cochichos se espalharam por todos os lados, olhei para trás e vi um menino alto de cabelos negros me olhando, engoli a seco, ele me olhou como se fosse devorar minha alma.

O homem bufou e bateu com a mão sobre a mesa com violência.

– Eu não quero saber sua vida escolar. Vá para a parte importante.

O menino fechou os olhos, como se estivesse se concentrando e pedindo aos deuses para não esquartejar o homem.

– Esta bem... Era verão o dia estava quente, eu tinha apenas nove anos e meio, ia fazer dez anos duas semanas depois, minha mãe estava muito ocupada cuidando do meu irmão mais novo John, ele era um sapeca sempre correndo e derrubando as coisas. Eu estava sem camisa e sentada de frente a tv jogando vídeo game, papai sentou-se no sofá e começou a tomar sua cerveja. Sabe quando você sente que tem alguém lhe observando? Pois é, foi assim que me senti, vez ou outra eu olhava para trás, papai estava usando um calção de dormir azul, chinelos de dedo. Ele era um homem musculoso, seu abdômen completamente trincado, cabelos negros bem cortados, cara de um verdadeiro executivo. Em um momento notei ele tocar seu membro e mexer um pouco, mordi meus lábios inferiores e voltei a prestar atenção ao meu jogo. O suor escorria em minha testa, pois estava muito quente naquela manhã. Levantei e fui até a cozinha pegar um chá gelado, papai veio logo atrás de mim. Abri a geladeira e peguei a garrafa de chá, quando me virei colidi com a barriga do papai derramando suco sobre sua roupa. [...] Engoli a seco, ele me puxou, tentei escapar, mas não consegui. Era tarde de mais.

O homem observava o menino falar, a fita girava dentro do gravador. – Continue. – Disse o homem.

– Eu irei nós poupar destes detalhes que não são relevantes para o caso, mas quero que fique consciente que tudo que ocorreu naquele dia tornou-se algo continuo e eu não tinha mais o que fazer. — O garoto levantou as mãos algemadas e as colocou sobre a mesa. — É como diz o ditado, a ocasião faz o ladrão.  

O entrevistador olhou para o menino assustado, depois seu olhar mudou para algo relativo à compaixão, pensando em como o menino havia sido forte aquele tempo todo, sendo estuprado dia e noite pelo próprio pai. – Continue. – Disse o homem.

O menino suspirou, colocou a mão sobre a mesa e olhou para o lado. – Ele vai lhe prender. – Disse com uma voz maligna. – Não, não vai, ele vai te ajudar. – Disse com outra voz olhando para a esquerda. – Eu não tenho culpa, quero deixar logo claro, ele mereceu. Todos mereceram. – Ele então lambeu o lábio inferior.

– Era noite, mais ou menos dez horas. Mamãe estava de plantão no hospital e só chegaria de madrugada, John estava dormindo e papai não havia feito nada comigo aquele dia. Estranho, eu havia passado a tarde toda planejando minha fuga ou como acabar com aquela tormenta. As vozes em minha mente me mandavam cometer suicídio, outra voz me dizia para fugir e a outra me deu uma ótima idéia. – O rapaz deu um sorrisinho de canto de boca, pegou a água sobre a mesa e tomou um gole. – Papai havia ido dormir, eu então me arrastei por debaixo do lençol [...] Papai abriu o olho e deu um grito ao ver a faca na minha mão,  [...]

O homem deixou o palito de dente que estava entre seus lábios cair sobre a mesa, piscou três vezes e balançou a cabeça de um lado ao outro, pegou uma caneta e começou a escrever em um bloquinho de papel. – Muito bem. – Disse ele. William então movimentou a cabeça para o lado e cuspiu. – Não acabei. – Disso sorrindo. O homem por sua vez fitou ele. – Eu sei, muito bem, continue.

– Ela não deveria ter chegado tão cedo. Eles me disseram que iríamos só matar o papai, mamãe estaria no trabalho então daria tempo de fugir, mas não aquela p** teve que chegar, ela me abusou apenas uma vez, mas pediu desculpas. Desculpa é o c**. Ela entrou na sala e me viu sentado no sofá todo sujo de sangue, correu em minha direção e sentou-se sobre as pernas diante de mim. Perguntou se eu estava ferido, balancei a cabeça negativamente, ela viu na minha mão direita uma faca, recuou, porém, fui mais rápido. A lâmina atravessou da direita para a esquerda fazendo um largo corte [...] Meus olhos analisavam a lâmina ensanguentada, [...] O menino deu uma gargalhada alta ao lembrar da cena. – Não posso negar, eu amei.

A sala ficou em completo silêncio, pode se dize que não ficou devido ao som do relógio batendo, o horário indicava que eles haviam passado uma hora e meia conversando. O homem abriu o gravador e retirou uma fita totalmente cheia, retirou do bolso uma virgem e colocou no lugar da anterior. Ele bebeu um gole de café. – Podemos prosseguir. – Disse ele bebendo mais um gole do café.

– Quero saber o porquê de ter matado aqueles policiais.

William se ajeitou na cadeira e inclinou o corpo para frente. Ele sorriu e lambeu os lábios. Ele então olhou para o homem. Suspirou. O olhar do menino parecia uma cobra pronta para dar o bote. O homem caminhou na direção dele movimentando a caneta entre os dedos, o menino inclinou a face na direção do homem que gritou para que ele respondesse, porém, ele se recusou. Desta vez William não iria abrir a boca, ninguém poderia saber o que ocorreu com os policiais, ninguém...


Naquela mesma tarde, logo após o interrogatório terminar tragicamente em um novo assassinato, William foi recolocado em um local para sua reabilitação, local recluso e com poucos membros, os métodos de tratamento do local podem ser taxados de bárbaros ou até mesmo cruéis. Lobotomia, terapia de choque, trepanação, entre outros tratamentos que já não são mais usados com frequência eram aplicados em seus pacientes. O garoto foi diagnosticado com distúrbio de personalidade, ansiedade compulsiva e hiperatividade. Sua primeira semana no local foi tratada com aplicações de medicamentos intravenosos, que não resultaram muito bem. Os ataques de raiva se tornaram constantes, mais de cinco médicos foram feridos ao longo do tratamento, que passou a ser aplicado terapias de choques na temporã. As descargas eram aplicadas duas vezes ao dia, os médicos ficavam pasmos como o garoto conseguia se recuperar rápido.

Seu penúltimo dia no local foi o mais tenso, pois ele levou a morte de dois internos sendo levado a ficar no quarto branco.

O cômodo estava em completo silêncio, os azulejos brancos eram vistos em todas as partes, desde teto até o chão. No centro um jovem amarrado com camisa de força balançava de um lado ao outro, o silencio foi rompido por um gemido agudo, os olhos do menino se assemelhavam à loucura, seus lábios estavam secos, como se ele tivesse passado dias e dias sem beber água. Seus cabelos estavam longos, até a altura dos ombros e estava desbotados, o loiro havia perdido a vida e dado lugar a uma cor que se assemelhava aos cabelos brancos. Ele dizia alguma coisa alguma coisa inaudível, sua cabeça movimentava da direita pra esquerda olhando para os lados, como se estivesse à procura de algo, seu coração batia rápido, como se estivesse a correr uma maratona. Ele passou lentamente a língua sobre os lábios umedecendo, suspirou fundo e abaixou a cabeça.


– Eu não fiz nada, eu não fiz nada, eles mereceram tudo aquilo, que eles mereceram, eu sei. Não fui eu, não fui eu. Sua culpa! Sua culpa! Não foi minha culpa! – O menino conversava com ele mesmo, olhando para direita olhando para esquerda, sussurrando algo muito baixo. Ele então ergueu a cabeça e soltou um grito. – Calem a porra da suas bocas seus vermes imundos! Calem-se – ele então soltou uma gargalhada e olhou pro lado com a face maligna. – Você fez por merecer tudo isso gatinho, você está colhendo o que você plantou apenas... Você é uma maldição vinda do inferno para tornar a vida das pessoas um inferno não percebeu isso ainda? Nós somos frutos de sua propriamente, nós somos sua maldição. Criança maldita, dizia a puta da minha mãe. – ele então colidiu com seu corpo contra o chão, seus dentes se trincaram, Ele ergueu a cabeça lentamente, dando uma risadinha.


Então a grande porta se abriu. O menino se arrastou para trás tentando se esquivar como se fosse um rato fugindo de um predador. Seus olhos dilataram, a última coisa que ele pôde ver foi quando a grande agulha penetrou no seu pescoço.



Estática da Luz fez o menino acordar. Em seu braço esquerdo uma agulha daquelas descartáveis penetrava em sua veia, trazia também um tubo branco que levava até uma pequeno saco contém o soro, ao lado direito uma máquina de calcular os batimentos cardíacos fazendo um som de pi, pi, pi. Ele abriu um largo sorriso, lambeu os lábios e ficou esperando, em silêncio, ouvindo apenas o badalar da máquina. Não demorou muito para o silêncio ser rompido pelo som do gemido da porta, um Doutor adentrou o recinto, olhou o garoto nos olhos e sentou-se numa mesa. William já estava acostumado com aquele tipo de entrevista, como já ocorreram várias, várias vezes na delegacia e até mesmo no manicômio.


William movimentou a cabeça para o lado esquerdo como se fosse um animal faminto analisando sua presa, ele já havia criado esse hábito de ficar analisando as pessoas. Sorria, apenas isso que fazia, não dizia uma palavra sequer, apenas demonstrar um sorriso cínico, doentio, daqueles que levam as pessoas a loucura, seus olhos demonstravam sabedoria adquirida ao longo do tempo, as várias e várias sessões de tortura que sofreu no manicômio o fizeram forte, também o fizeram descobrir o que ele era.


O homem então abrir uma pequena pasta contendo folhas brancas, a primeira página continha estampado a imagem de William, havia uma pequena foto 3 por 4 o nome do rapaz ao lado, seu tipo sanguíneo, nome da mãe e pai, seus antecedentes, seu estado clínico, entre outras coisas. Então via-se no topo uma pergunta. O homem ficou de pé caminhou até o menino e olho nos olhos.

– O que você tem de único? Qual é a sua melhor qualidade e qual é o seu Pior defeito?

O menino apenas sorriu. Ficou lá parada, olhando para o homem com um sorriso estampado no rosto. Ele não me umedeceu lentamente os lábios e voltou a sorrir. O homem novamente perguntou, mas o menino nada respondeu. O homem então se aproximou do rapaz, pegou sobre uma pequena mesinha uma agulha contém um líquido branco, ele deu um sorrisinho de canto de boca e introduziu agulha no braço do rapaz. No mesmo instante o menino começou a se debater sobre a maca convulsionando.


Levaram-se alguns minutos até o menino recobrasse a consciência, quando ele viu que o doutor ainda permanecia no lugar ele começou a gargalhar, como louco. O doutor fez novamente a mesma pergunta, desta vez mais calmo, sereno, ignorando completamente as risadas sarcásticas do rapaz. Novamente o menino apenas sorriu.


O médico novamente aproximou-se do menino e da mesinha contendo utensílios médicos, ele pegou um bisturi e passou contra a bochecha do rapaz, que se remexia de um lado ao outro gritando não, porém, o corte foi certeiro. O sangue escorria pela lateral do rosto do rapaz e caia sobre a maca branca. O médico encheu a mão de vermes brancos e esfregou contra o ferimento do menino, no mesmo momento ele gritou tão alto que fez o ouvido do homem zumbir. Refazendo a pergunta o médico voltou a sentar na cadeira diante da mesa e observar o menino sendo devorado pouco a pouco pelos vermes.

– Eu sou nada, apenas isso um verme insignificante. Como estes que estão em meu rosto, apenas isso que eu sou. Qualidade e defeito, nada disso me define. Sou aquilo que restou, aquilo que ninguém quer, sou as sobras, eu sei ser as sobras e você sabe ser o quê?

Por mais uma vez o homem ignorou as atitudes do menino, escreveu no prontuário algumas coisas e olhou para ele com um olhar sínico.

– Por quais motivos acha que veio para cá? O que vai fazer se eu te contar que nunca mais vai poder voltar para casa? O que sabe sobre sua mãe?

O menino ao ouvir as palavras do homem gargalhou alto, mas se calou ao sentir que ainda possuía vermes devorando sua face, comendo cada parte, mas ao mesmo tempo ele sabia que aquilo estava sendo curado. Ele então suspirou e movimentou a cabeça para o lado.

– To querendo também saber isso, mas acho que gostam de maltratar o que não conhecem. – Ele levantou a cabeça e olhou o homem nos olhos. – Família? Que família o que. – Ele gargalhou alto. – Aqueles vermes que eu matei? Eu nem deveria chamar eles de vermes, pois é uma ofensa aos vermes. Minha mãe? Aquela puta, ela era uma enfermeira qualquer. Por que me pergunta tais barbaridades?

O homem arqueou a sobrancelha, seu lábio inclinou para a esquerda formando um meio sorriso sinistro, ele andou de um lado para o outro e gesticulou com as mãos.

– Ora, ora, ora. O menino chorão não sabia que era adotado? – O homem deixou escapar uma risada. – Uma pena descobrir de tal modo, mas eu não estou aqui para ser seu terapeuta eu quero respostas.


O homem gritou tão alto que sua voz ecoou entre as paredes da sala como se fossem tiros.


– Qual era a coisa mais importante na sua antiga vida e por que era isso?

Menino movimentou a cabeça de um lado a outro estralando o pescoço, suspirou e tão deu pequeno gemidinho lembrando da dor que estava sentindo e sorriu, ele havia aprendido a ignorar a dor, por isso ele apenas sorria, esta era uma forma de demonstrar que estava sentindo muita dor. Quanto mais ele sorria mais ele sentir dor.

– Qual era a coisa mais importante? Boa pergunta, boa pergunta. – Ele engoliu Pouco de saliva. – meu irmão! É apenas Ele, eu fiz aquilo por ele! Porque eu não queria que ele fosse o novo eu. Eu queria que ele fosse alguém melhor, com uma família melhor, algo que nunca tive. Isso tudo aqui se trata a respeito das mortes não é? Responda-me.

Ignorado, apenas isso. William estava sendo ignorado pelo Doutor que se evasivavá de responde-lo.

– Se defina em três palavras.

– Verme insignificante ambulante. Está bom pra você? Ou quer que eu me defina do jeito mais positivo? – Ele abriu um largo sorriso sínico.

– Qual seu maior medo e o que você faz para combate-lo?


– Medo? Eu não tenho medo. Eu não tenho medo de nada. – O homem arqueou uma sobrancelha e deu um sorrisinho de canto de boca. – tá bom, tá bom. – resmungou – eu tenho medo de ser insuficiente para as pessoas, apenas isso. O que eu faço para tentar impedir isso? Apenas sorrir é claro. Mas agora me responda que porra esta fazendo comigo? E que diabos é essa história de eu ser adotado? Responda – O menino exigia, contudo, ele não estava em posição para tal.

Os minutos seguintes o homem largou a ficha sobremesa, andou até o rapaz pegou sobre a pequena mesinha um par de luvas de silicone, colocou e pegou uma seringa, dentro da seringa havia um líquido verde, ele pressionou a seringa liberando uma pequena gotículas do líquido verde no ar, para demonstrar que a agulha estava furada. Segurou o pescoço do menino para o lado direito, que apenas se deixou levar ignorando qualquer senso de dor e aflição, ele sabia que essa era a hora do grande final. O liquido adentrou a veia do pescoço do rapaz, porém, nada ocorreu de imediato. O menino se debatia contra a cadeira tentado se livrar do homem, mas sua visão começou a ficar turva, tudo estava um pouco psicodélico de mais.

O sol brilhava forte na floresta. Sobre o chão William estava com a cabeça apoiada sobre uma mochila cinza do exercito, suas roupas estavam sujas de terra. O rapaz vestia uma cueca Box preta e uma camisa que mais parecia ser um vestido azul e branco típico de hospitais. Ele abriu os olhos lentamente e gemeu de dor, a claridade lhe afetava como se ele estivesse sendo atacado por vespas nos olhos. Ele tossiu livrando-se da garganta seca e obstruída. Não possuía forças para se levantar, mas mesmo assim tentou erguer o tronco. O vento soprava fraco fazendo as folhas passarem pelo chão como se fossem pequenos animais. William respirou fundo e jogou o corpo para frente ficando sentado, ele urrou de dor, parecia que suas costelas estavam quebradas, sua face doía como se tivessem vermes comendo. Nesse momento ele lembrou que havia sim vermes comendo sua face e com horror ele levou a mão até o local sentindo algo úmido e molhado, era uma pomada branca, ele esfregou os dedos um no outro e olhou para os lados a pergunta que não queria calar: Como ele havia parado ali.


Tudo rodava, era como se o menino tivesse sido atingido por um golpe na cabeça. Seu estomago roncava de fome, seus lábios estavam secos, ele suspirou e levou os dedos até a testa e respirou fundo. Quando volto a erguer a cabeça seus olhos foram de encontro com os de uma menina, seus cabelos castanhos estavam soltos, mas uma parte estava presa por pequenas tranças, sua pele era clara, porém, estava suja de terra. Suas roupas estavam desgastadas, uma calça jeans surrada, na parte superior ela usava uma regata e nos pés all star. Na sua mão esquerda ela segurava uma garrafa de água e na outra um pacote de carne seca, ela olhou para o menino e lançou os itens em sua direção. Ele agarrou os pertences antes que chegassem ao chão, abriu a garrafa de água e deu um bom gole na água, a água desceu por sua garganta como se uma navalha estivesse transpassando o local. Ele respirou fundo ao sentir que estava desobstruindo as vias.


Os olhos do menino percorreram toda a extensão do corpo da moça, devorando seu corpo como se ela fosse um pedaço de carne, ele nunca havia desejado alguém assim. William balançou a cabeça de um lado para o outro livrando-se dos pensamentos paranóicos, psicopaticos e assassinos de dominar o corpo da menina, pelo que parecia ela havia lhe salvado e ele devia isso a ela. Ele mastigou até o ultimo pedaço de carne seca e virou a face para a moça, que acabara de se sentar em uma rocha. O menino começou a sussurrar baixinho, coisas inaudíveis, ele olhava para a menina e depois balbuciava algo, era como se ele estivesse discutindo com ele mesmo.

– Olá. – Ele disse finalmente. – Onde estou? Quem é você? – Ele disparava as perguntas uma atrás da outra, sua voz era nervosa como um animal hiperativo.

A garota sentada sobre a pedra alisava a pequena lamina da adaga de prata amolando sua lâmina, o vento fazia o cabelo dela balança lentamente, seu rosto marcado e sujo escondia sua beleza. Ela ergueu a face em direção ao menino, como se estivesse saindo de um transe. Ela cravou a lâmina da adaga contra a casca da árvore e ficou de pé. Seu caminhar era lento, mas elegante.

– Olá. – Ela apenas respondeu isso. Quando ficou mais ou menos um metro de distância do menino, ela voltou a falar. – Você deu um baita trabalho moleque. Por sua causa quase fomos pegas. – A menina rosnava, ou era isso que William podia ouvir através de sua voz.

– Deixe de drama Alli. – Uma voz feminina ecoou do outro lado da mata. A morena trazia consigo uma mochila grande, algo parecido com um mapa estava preso em uma alça, em sua cintura uma pistola ficava visível. William engoliu a seco. – Sou Alex. – A menina estendeu a mão na direção do rapaz, que levou alguns segundos para processar a situação.

A garota chamada Alexandra sentou-se ao lado de William e limpou os restos de ferimentos que havia em sua face. O menino de inicio tentou recuar, porém, ela foi um tanto rígida com ele, como se fosse uma mãe talvez. Ele respirou fundo contendo seus pensamentos. Ela então colocou o kit de primeiros socorros no chão e começou a explicar tudo que havia ocorrer nas ultimas 48 horas.

– Estávamos em Nova York, havia três meses que se mudamos para cá. Alli e eu descobrimos uma pista de onde minha mãe morava, seguimos esta pista e acabamos encontrando essa clinica clandestina. Invadimos como fazemos sempre, usamos algumas roupas encontradas na lavanderia e pegamos alguns crachás e nós nos passamos por médicas, Alli estava responsável de me da cobertura enquanto eu analisava o mapa, as coordenadas que tínhamos dava direto em uma das salas, que para sua sorte era a sua. Foi difícil, mas conseguimos lhe salvar daquele medico louco, o que diabos você estava fazendo lá? Estava sendo pago?

O menino balançou a cabeça negativamente e contraiu os lábios, ele colocou os cabelos para trás e fez um sinal para que ela prosseguisse com a história.

– E é só isso, não sei por que lhe resgatamos. Ah é mesmo, Alex que pediu. – Desse Alli com um tom rude na voz.

Alexandra ficou de pé e apoiou à mão no ombro de Alli, ela olhou para o menino dos pés a cabeça, como se estivesse analisando seu perfil, era um olhar enigmático e difícil de se saber o que ela estaria pensando sobre ele. Alli parecia estar um pouco aborrecida com o fato de Alex estar tratando o desconhecido como se eles fossem melhores amigos há muito tempo. A noite já estava caindo. A morena de regata ajoelhou sobre o solo e acendeu uma fogueira feita de pedras.

– Qual o seu nome? – Perguntou Alex por fim.

O menino parecia um animal selvagem, daqueles que acabara de ser solto em um novo habitat. Ele serrou os punhos e respirou fundo, o saco de carne seca estava sendo esmagado pelos dedos magros da mão. As veias em seu braço estavam saltadas.

– William.

Ele respondeu seco, sua voz soava como farpas sendo lançadas contra um quadro negro. Arranhada.

A menina prendeu os cabelos em um coque e sentou-se próximo a fogueira, de dentro da mochila ela retirou uma caixa de espetos prontos para assar, daqueles que compramos em supermercados. Ele esticou o palito contra o fogo fazendo o cheiro dos legumes assados tomarem conta do lugar.

– Bem Will, posso te chamar assim? – O menino balançou a cabeça positivamente. – Você tem algum familiar?

O trepidar das labaredas de fogo quebrava o silencio do lugar. William ficou pálido, como se tivesse sido atingido por uma flecha no peito. As vozes em sua cabeça gritavam para ele fugir dali, elas não podiam descobrir que ele era um criminoso, que havia matados seus pais, se elas descobrissem iram entrega-lo a policia e ele voltaria para a prisão ou na pior das hipóteses voltar para o hospício. Ele suspirou e balançou a cabeça negativamente.

– Sou órfão. – As palavras soaram para ele como uma válvula de escape, essa era a melhor solução, um órfão que não tinha ninguém. – Não tenho para onde ir, não tenho documentos, não tenho casa. – Ele usava de suas lamentações como um modo de coagir os sentimentos das duas garotas e mudar o foco sobre sua face branca, que provavelmente entregava que ele escondia algo.

– Legal. Eu estou atrás da minha. – Alex usou as pontas dos dedos para retirar uma cenourinha do palito e levou até a boca. Seus olhos agora estavam fixos nas chamas douradas.

– Você pode vim conosco. – A voz de Alli ecoou na clareira. Alex virou na direção da menina com um olhar surpreso. – Você parece ter força, acho que seria útil para nós, mas não nos atrase se não eu arranco seu fígado. – Um sorriso sínico se formou nos lábios da moça. – Você sabe atirar? Lutar?

Mais uma vez a resposta foi negativa. William não tinha conhecimento de nada, luta, manuseio de armas, apenas o que havia aprendido nos filme, mas isso não se comparava a algo real. Ele possuía a capacidade de aprender rápido as coisas, porém, nunca havia tentando aprender a lutar de verdade.

– Então amanhã começaremos seu treinamento. – Alli pegou um dos espetos e entregou ao menino. – coma e descanse amanhã será um dia cheio.

Durante a noite os pesadelos assombraram o rapaz, ele suava frio, os ferimentos em sua face estavam criando pus e cheirava mal. O suor pregava seus cabelos contra sua testa. Seu corpo se mexia de um lado ao outro sobre as folhas. Seu corpo então se chocou contra o chão e ele despertou com um susto. Ele sentia o estomago rodar, a sensação de estar caindo o deixava estranho todas as vezes que isso ocorria. Bocejando e ficando de pé William caminhou até uma das arvores, parecia que havia tomado vários litros de bebidas alcoólicas, pois ele andava cambaleando. Suas mãos envolveram a árvore, sua mão esquerda abriu o zíper da calça e com os dedos ele colocou o membro para fora e começou a urinar. Sua urina era quente e amarelada, tinha um forte cheio acre. Provavelmente derivado da injeção que levou.

Voltando a cambalear o menino ajoelhou-se diante do lago e lavou o rosto com as água, limpou a boca e fitou o horizonte alaranjado. O dia começava a se erguer e ele tinha que se erguer também. Entrelaçou os dedos uns nos outros e esticou os braços o mais alto que pode até ouvir os ossos estralando, inclinou o tronco para a esquerda e logo em seguida para a direita, depois para baixo e respirou fundo. O ar era limpo, bem diferente do ar poluído da cidade grande. Ele se perguntava onde estavam. Da ultima vez que ele teve noção de tempo e localização ele estava no Manicômio em São Francisco.

O aroma de café fresco tomou conta da clareira o vento levava o aroma agridoce do café até as narinas de William e isso o fazia sentir que estava com fome. A floresta de pinheiros se espalhava por longas milhas, a possibilidade de se perder era enorme, porém, o olfato do rapaz era peculiarmente bom, ele seguiu farejando como um cão até encontrar novamente o acampamento. Alex estava sentada sobre suas pernas segurando uma caneca que tinha a forma da cabeça do Darth Vader, Alli estava bem ao lado dela abrindo um pacote de biscoitos de chocolate. William abriu um largo sorriso e seguiu em direção a comida.

– Quem é vivo sempre aparece. – Disse Alex entregando uma caneca branca com café.

– Obrigado. – Will sentou-se e pegou alguns biscoitos. – De onde vocês tiram dinheiro para comprar tudo isso? Por acaso são ricas?

Alli soltou uma gargalhada, parecia que o menino havia contado a piada mais engraçada que já havia escutado na vida. A menina tomou um gole do café e respirou fundo contendo mais uma sequência de risos.

– Beba seu café, seu treino começa logo, logo.

– Hã. – Pigarreou um pouco. – Lembra quando disse que eu era órfão? – Ambas as meninas balançaram as cabeças positivamente. – Um pouco antes de vocês chegarem aquele homem disse que eu era... – Ele pensou em dizer a palavra “adotado”, mas lembrou que havia dito que era órfão. – Hã... Ele falou que minha mãe pode estar viva.

– Entendo, você sabe algo mais sobre ela? – A moça pegou um dos biscoitos e mastigou.

Com a boca cheia de comida William apenas balançou a cabeça negativamente, engoliu um gole do café quente tentando desengasgar.

– Não, pra mim não sei se vale apena depois de todos esses anos descobrir isso, se ela for pior que as pessoas que eu conheci?

– Nunca vai saber se não a encontrar. Acha que consegue conviver com a duvida de se você tem uma mãe viva, por que ela te abandonou? – Comentou Alex.

O ar parecia ter saído de seus pulmões, pois William ficou pálido. As vozes em sua cabeça gritavam coisas horríveis, mas ele tinha uma divida com aqueles garotas, elas haviam salvado sua vida, ele nunca havia tido alguém que cuidasse dele. Por um breve momento ele lembrou de John , seu irmão, e se questionou onde ele estaria. O silencio foi a resposta que William encontrou.

A floresta era perfeita para se esconder, havia três clareiras, mas de modo que ambas ficavam escondidas, parecia que haviam sido feitas para esse propósito: esconder. Pendurada em um tronco o saco vermelho chamou a atenção de William, ele possuía o desenho da cabeça de uma serpente de boca aberta e escrito de preto Venon. O rapaz estava sem camisa, seus músculos estavam visíveis, Alli vestia a mesma camiseta preta, porém, ela havia trocado as calças por uma espécie de cueca Box. Seu corpo era belo, feminino. O menino ficou distraído com tamanha beleza.

O sol penetrava forte na arena, era mais ou menos nove da manhã, os pássaros cantavam, borboletas voavam de um lado para o outro colhendo néctar. William levou o braço esquerdo a frente e entrelaçou com o direito fazendo um alongamento, depois fez o mesmo com o outro braço. Seguindo as instruções de Alli de como se alongar o rapaz terminou sua sequência. A moça então ordenou que ele começasse a correr em volta do lugar em sentido horário, depois ante horário, de lado, de costa, de varias formas possível, depois mandou ele tocar os calcanhares enquanto corria, logo após correr batendo os joelhos contra o peito. Todo o aquecimento levou dez minutos.

O aquecimento não foi nem de longe a coisa mais difícil que William havia feito no dia. Alli deitou no chão e começou a fazer uma sequência de abdominais remedas, ela gritou para que o menino seguisse seus movimentos e assim ele fez. 50 Abdominais remadas, 50 poli chinelos, 50 apoios de frente, 50 agachamentos, o ar estava faltando nos pulmões do menino. Seu abdômen doía, suas panturrilhas, seus braços, tudo, contudo, seu treinamento mal havia começado.

No primeiro dia de treino Alli ensinou como se desferia o golpes Jeb, direto e cruzado. Golpes simples que seriam fundamentais para o treino. Ela ainda acrescentou que seriam usados chutes, joelhadas e é claro cotovelada. O primeiro treino foi simples, alguns socos contra o saco, sequêcias compostas por: Jeb, Jeb. Jeb, direto. Jeb, direto e cruzado. Três sequências bem simples que aplicadas de modo correto surtiria um efeito poderoso contra o adversário, que naquela manhã era o saco de pancadas.

Naquele mesmo dia Alex ensinou como manusear uma arma de fogo. O menino estava completamente atrapalhado com o objeto, se machucou com o primeiro ricocheteio da arma fazendo um pequeno corte na mão. Alex era uma boa tutora, paciente, dedicada, em nenhum momento sentiu vontade de socar a cara do menino, diferente de Alli que quase dava um soco na face dele por ele ficar soltando piadinhas sobre como ela estava vestida.

A semana parecia voar, durante três dias o jovem William aprendeu a lutar, atirar com arma de fogo, arco e flecha e até mesmo manusear espadas e atirar adagas. Ele havia adquirido mais massa muscular devido aos treinos puxados de Allison, também havia ficado mais ágil com os treinamentos de Alexandra. Tudo estava indo conforme elas queriam, ele aprendia muito rápido.

Era quinta feira, William encontrava-se no meio da arena olhando na face de Allison, a jovem de cabelos castanhos analisava o menino como se ele fosse uma presa pronta para ser devorada. O loiro mexia seu corpo para frente e para trás, com a guarda levantada e os olhos fixos em sua adversária. A distância entre os dois diminuía a cada segundo. A garota desferiu um cruzado de esquerda contra a face do rapaz que no mesmo instante esquivou seu corpo fugindo do pêndulo, seu corpo foi impulsionado para frente desferindo um direto contra o abdômen livre da menina. Allison deu um pulo para trás e respirou fundo.

A moça por sua vez com sua perna esquerda desferiu um chute circular contra a parte interna da coxa do menino, o osso de sua perna penetrou contra o músculo do menino o fazendo contrair a perna e assim liberar um gemido de dor. Ainda aproveitando o descuido ela aproveitou para dar dois jeb seguidos contra o rosto do rapaz. William cambaleou para trás, sua visão ficou turva e ele caiu de bunda no chão, com as mãos apoiadas contra o chão ele inclinou a cabeça e cuspiu no chão uma boa quantidade de sangue, sua gengiva havia rompido um pequeno corte, ele passou a língua nos dentes e cuspiu novamente.

Voltando a ficar de pé era hora do segundo round, Allison pulava para frente e para trás sempre mantendo um ritmo constante, ela desferiu alguns jeb e diretos contra o ar, como se estivesse se aquecendo. Willim socou com um UP contra a menina que tapando a guarda se protegeu contra o forte golpe, aproveitando essa defesa e vendo que ela deixou seu tronco livre o loiro usou seu membro inferior e colidiu seu pé contra a barriga da moça, a força da escora lateral fez com que Allison fosse para trás, mais outro chute contra a costela, Allison caiu de joelhos no chão e fez um gesto com a mão para que Will parasse. Ela serrou os punhos, fez cara de brava e voltou a ficar de pé.

O sol queimava a pele nua de ambos, o vento estava fraco, mas era o suficiente para refrescar um pouco. O suor fazia os cabelos castanhos de Allison grudar contra sua face, a pele do menino brilhava como se ele tivesse passado óleo contra o corpo, seu abdômen definido estava evidentemente belo. Um sorriso sinistro surgiu em sua face, seus olhos se estreitaram e ele já não era mais ele. Seus olhos percorriam todo o corpo da moça, analisando cada passo que ela dava, seu modo de respirar, seus movimentos ao atacá-lo. Quando ela atacou novamente ele esquivou dos dois jeb e do direto dela, sua perna foi ágil ao se livrar do chute frontal.

Era como se dois animais selvagens estivessem lutando um contra o outro. William golpeou com dois chutes circulares, um com a perna esquerda contra a costela e outro com a direita contra a parte externa da coxa, contudo, o primeiro golpe foi bloqueado por Allison que puxou a perna do rapaz para junto do seu corpo, com um direto contra o ombro dele ela o desequilibrou o fazendo cair de costas no chão, todavia, ele segurou contra a gola da camisa da moça a puxando contra seu corpo a fazendo cair sobre ele, peito com peito, face com face. William girou e ficou sentado sobre a oponente.

Allison tentou se soltar, porém, a adrenalina que corria nas veias de William o deixava forte. O menino olhava para moça como se ela fosse um pedaço de bolo, então ele a beijou, quando os lábios do rapaz tocaram os dela suas pupilas se dilataram de surpresa , ele soltou os braços dela e ela ficou sem reação, o beijo foi curto e ao mesmo tempo quente. Quando Allison se deu conta de si ela empurrou William e com um pontapé acertou um chute conta a cara do menino, o golpe foi tão forte que o fez cambalear, sangue escorria de sua boca, ele então desabou desmaiado no chão.


Na manhã seguinte nenhum dos dois jovens tocaram no assunto sobre o beijo. William achou melhor ocultar a situação e aparentemente Allison havia feito o mesmo. O menino se sentia envergonhado pela sua atitude vulgar, mas ele havia pagado um preço alto por aquilo sua mandíbula ainda doía, ele mal conseguia mastigar.

As nuvens cobriam a clareira, era um dia sombrio, como se alguém tivesse morrido. O rapaz imaginava que esse alguém deveria ter sido sua conduta ou sua dignidade. Para ele apanhar de uma garota era motivo de cometer haraquiri, contudo, ele tinha prometido a si mesmo a não recordar o dia anterior. O garoto abaixou-se diante do solo e pegou um bastão de madeira, ele girou o objeto ao redor do corpo e analisou sua adversária, desta vez era Alexandra.

A morena estava com o cabelo amarrado em um rabo de cavalo, ela se alongou e pegou o bastão no chão, apoiou a ponta conta o solo e analisou seu oponente, o garoto loiro usava uma bermuda surrada que Allison havia arrumado, onde ninguém sabe, sem camisa, seus cabelos estavam presos em um coque samurai, desde o manicômio ele não havia cortado o cabelo nenhuma vez.

O vento soprou e as garrafas penduradas em uma das arvores fizeram um som tilintante, era o sinal que indicava para começar a luta. O rapaz girou seu bastão 360º sobre sua cabeça e correu na direção da menina e desferiu um golpe transversal a moça por sua vez segurou o bastão horizontalmente bloqueando o golpe, com o pé ela chutou a barriga do menino o empurrando para trás. Ela estralou o pescoço.

Com a ponta do bastão Alex golpeou o rosto de William causando um corte contra sua bochecha, que aproposito já estava quase curada dos vermes. O menino levou a mão até o local recém machucado e sentiu o sangue escorrer entre os dedos, ele trincou os dentes e rosnou como um animal selvagem. Ele respirou fundo e correu na direção da menina se jogou no chão e deslizou pela terra acertando as pernas da garota em uma rasteira, ela tombou para o lado fazendo a poeira subir. William ficou de pé, limpou o sujo das calças e bateu com o bastão contra a costela de Alex, ela rolou no chão, por fim deu uma cambalhota e voltou a ficar de pé.

Com a ponta do bastão a moça arrastou o instrumento contra o solo e lançou um punhado de terra contra a face do adversário, a areia foi direto nos olhos de menino o deixando agoniado, ele coçava os olhos, ela então chutou com a perna esquerda contra o rosto dele acertando o ferimento. William urrou de dor. Alex esboçou um sorriso ela parecia outra pessoa quando estava lutando, alguém feroz, alguém sombrio, alguém infernal.

A menina correu na direção do menino que começou a caminhar para trás tentando fugir, ela girou o bastão e lançou contra as pernas do rapaz que caiu de cara no chão, rolando feito uma bola de neve. Ele se arrastava para trás tentando evitar os golpes da menina, ela abaixou e pegou seu bastão, depois golpeou os dois lados das costelas do menino e por fim bateu com a ponta do bastão contra seu peito. O menino olhava para a garota espantado. Ela não havia demonstrado nem metade do que sabia, apenas com golpes simples havia derrotando-o.

A noite estava chuvosa, os três aventureiros pegaram o metrô indo em direção a Nova Iorque, onde Alexandra e Allison possuíam uma casa, local que serviria de refugio durante alguns dias. A viagem foi tranqüila, William tirou um cochilo, fazia dias que ele não sentia o conforto de bancos de couro. A ultima parada era em Nova Iorque, eles pegaram um taxi e seguiram até a velha casa.

Era manhã, sábado para ser mais exato, fazia frio na grande cidade. Allison como sempre trouxa algo para comer, três cafés expressos com rosquinhas, para Alex ela trouxa um potinho de lanche vegetariano. Durante todo o fim de semana os jovens se focaram em seus treinamentos forçados. Alexandra tentava ensinar mais algumas armas para William assim como Allison tentava ensinar Jiu-Jítsu, porém, a moça havia prometido quebrar o pescoço dele caso ele voltasse a beijá-la.


A noite caiu rápido. Alexandra estava sentada a mesa, com vários papeis espalhados sobre a mesma, a garota manipulava um objeto dourado e redondo contra as mãos, parecia um relógio. William sentou-se ao seu lado e apoiou as mãos sobre a mesa, seus olhos analisavam papel por papel, cada fragmento de texto que ele conseguia traduzir era formado um quebra cabeça gigante em sua mente. Os dois se entreolharam e Alex entregou o objeto para ele, era uma bússola de ouro. William arqueou uma sobrancelha ao ver o ponteiro negro apontar para a direção oposta ao Norte.

– Esta quebrada? – Questionou.

– Não sei dizer ao certo. Desde que lhe resgatamos e encontramos ela, ela aponta para direções estranhas como se estivesse nos guiando a algo. – A menina calou-se por alguns segundos e pegou um dos papeis amarelados sobre a mesa e abriu. – Nessa carta minha mãe diz que a verdade surge em formas diferentes, ela dizer que meus instintos vai me guiar. – Ela limpou a garganta e tomou posse da bússola novamente. – E meus instintos dizem para eu seguir esse instrumento.

O menino passou uma mão contra a outra aquecendo-se contra o frio, soprou os dedos e apoiou os cotovelos contra a mesa, sua face estava direcionada para a face da menina, seu cabelos loiros caiam sobre sua face. Ele sorriu de modo gentil, como nunca havia sorrido antes.

– Se você acha que pode estar certa então deve seguir. – Ele respirou fundo. – Desde aquele dia que você me perguntou sobre se eu queria saber mais sobre minha mãe isso martela em minha cabeça, eu quero muito saber quem ela é, isso pode ser as respostas necessárias para vários problemas da minha vida. Talvez possa ser até um novo recomeço.

Alex não expressou nada, apenas pegou no ombro do menino e disse-lhe para descansar, pois partiriam cedo.

As ruas de Nova Iorque sempre movimentadas, taxis amarelos corriam de um lado ao outro. Pedestres caminhavam com seus cafés nas mãos, outros com livros ou pastas. Mulheres bem vestidas e homens bem arrumados, era lindo de se ver de vários aspectos.

Do outro lado da rua Alexandra estendia seu braço em direção da pista dando sinal para um dos taxis, ela e os outros dois entraram no veiculo. William sentou-se no banco da frente e a menina pediu que o motorista seguisse viagem, ela guiava o homem como se estivesse usando um GPS. A viagem parecia durar anos, pois entravam em uma rua e saia em outra, passaram por cantos nunca vistos antes, parecia que a bússola estava fazendo algum tipo de jogo até que seu ponteiro parou de trepidar. O enorme prédio se estendia cortando o céu, o maior arranha céu dos E.U.A Allison pagou o taxista e os três jovens ficaram frente a frente com o prédio.

– O que vamos fazer agora? – perguntou William. – Não podemos simplesmente entrar, nossas roupas estão horríveis.

Os jovens caminharam até a porta dos fundos, mas não havia porta dos fundos, apenas um estacionamento. Eles subiram a rampa, o local estava escuro. Havia carros por todos os lados, o local era úmido e obscuro. Allison pegou uma lanterna na mochila e a ligou iluminando o lugar. Eles caminharam durante um bom tempo, Alex estancou seus passos e olhou para seus dois companheiros.

– O que foi. – Disse Allison.

– Tem algo errado. A bússola esta nos mandando descer. – A menina arqueou a sobrancelha. – Como vamos descer?

William apontou para um elevador que havia no estacionamento e sorriu.

– Talvez assim.

Sorrateiramente foram em direção ao elevador. Havia dois guardas de branco em pé em um dos pilares. Alexandra arrumou a postura e caminhou como se estivesse apenas indo ao trabalho, sua sobretudo cinza cobria as roupas inapropriadas para uma empresa, do mesmo modo ocorria com os outros dois. William olhou na direção do guarda como se ele sentisse um peso sobre seu corpo e o menino engoliu a seco ao ver a córnea do homem ficar negra.

– Corra. – Ele disse.

O homem correu na direção dos dois, depois o outro guarda também. O Elevador abriu e todos entraram.

– Vamos, Vamos, fecha! – Disse Alex apertando o botão de fechar diversas vezes.

William chutou o peito de um dos guardas que tentava agarrá-lo a todo custo. Allison socou o rosto do outro e Alexandra correu para fora. Um dos homens pegou um radio comunicador e avisou sobre uma invasão de algo que William não pode entender.

A porta ao norte abriu e vários homens de branco, guardas, correram na direção dos jovens, todos com olhos demoníacos. Allison retirou duas adagas das botas, Alexandra uma pistola e William uma adaga de mão. Eles desciam as escadas em alta velocidade, um dos homens correu tão rápido quanto um vulto e golpeou William na perna, o menino caiu de joelhos no chão e urrou de dor, sua perna havia sido ferida como se tivesse levado uma mordida de um cachorro.

Allison que estava um pouco próxima do rapaz cravou uma das suas adagas no olho do homem e o chutou no peito empurrando-o para longe, ela segurou na mão de William e o arrastou escada a baixo.

– Estamos pertos? – Ele perguntou. Alexandra balbucio algo.

As escadas chegaram ao fim dando lugar a um largo corredor, ao norte podia se ver uma porta larga de madeira grossa, uma luz saia de suas bordas. Os três se entreolharam e correram na direção da porta. Diante deles surgiram três guardas de olhos negros, eles puderam jurar que das costas dos homens brotavam asas como de animais, Alex atirou contra um deles, o tiro acertou contra a perna do ser causando vários furos, porém, não fazia com que ele parasse. Os homens atacavam de todos os jeitos, William usava todas suas habilidades de muay thai para golpear o homem, assim como as duas meninas.

– Eu cuido deles, vão. – Disse Allisson.

– Não, você vai conosco. – Afirmou Alexandra.

– Deixem de gracinha e vamos logo.
William atingiu a costela de um dos seres o fazendo cair no chão e assim abrindo uma brecha, Allison cortou a garganta do outro, mas não surtiu efeito e por fim deu dois jeb contra a face do ser que cambaleou para trás. Alex disparou contra o ser até que a ultima bala do pente saísse. Eles correram como se não houvesse amanhã. Atrás deles vinham dezenas de guardas, eles empurraram a porta de madeira com força e a forte luz tomou conta deles como se estivessem entrando em um portal.

O salão estava lotado, mas ninguém disse nada. Homens e mulheres se entreolhavam, alguém ao fundo sussurrou algo como “como eles entraram aqui”, o silencio foi quebrado com os sons dos passos dos guardas demônios adentrando a sala.

Uma mulher muito bela levantou-se espantada. Olhou para o homem que estava de pé, ele tinha cabelos negros como os delas e uma postura sombria e poderosa.

– Hades. – Disse a mulher olhando nos olhos dele. O homem balançou a cabeça positivamente. E a mulher voltou a falar, mas desta vez em uma língua que poucos conheciam. – Στο όνομα της θεάς του Μαγγίνα έχω εντολή κολαστήρια θηρία : Γύρνα πίσω στα σπίτια τους .

Um forte vento soprou, os guardas gritaram como se queimassem ao fogo. Seus corpos foram atirados para trás. William sentiu seu corpo ser puxado então ele segurou-se em Allison e Alexandra pareceu fazer o mesmo. Seu estomago revirava e por fim o susto ao ouvir o estrondo da porta de madeira se fechar atrás deles.

O homem caminhou de um lado ao outro, passou a mão uma na outra e sorriu para seus convidados.

– Senhoras e senhores peço desculpa, mas teremos que adiar nossa reunião para uma outra hora.

Depois de ter dito isso a maioria dos membros presentes sumiram como se estivessem sendo desintegrados. William olhou para a situação como se estivesse presenciando algum tipo de show de mágica.

– Que incrível. – Disse ele batendo palmas. – Vocês são de mais, serio.
– Cale-se William. – Disse o homem em um tom serio. Ele colocou os dedos nas têmporas e caminho em direção aos invasores.

William olhou para as duas meninas surpreso e ambas olharam para ele com mais surpresa ainda, então ele desferiu um olhar “Não me olha assim não sei nem quem é esse louco.” O menino movimentou as mãos e pediu desculpa por terem invadido, depois explicou que estavam sendo perseguidos. O homem chamado de Hades pediu que o rapaz não dissesse mais nenhuma palavra. A mulher ao fundo olhava para o rapaz como se ele fosse um brinquedo antigo que ela havia reencontrado havia anos. Uma sensação estranha subiu pela barriga de William, os olhos da mulher eram como um raio-x que lia todo seu ser, aqueles olhos eram um tanto assustadores, mas ao mesmo tempo reconfortante, como se fossem um regaço acolhedor.

– Ora, ora, ora, o que temos aqui. Alexandra, que bom revela. – Disse o homem com um pouco de amargura na voz. – Vocês foram muito audaciosos de terem a coragem de virem até aqui sem ser convidados, eles poderiam muito bem ter devorado vocês, mas parece que as Parcas não querem tê-los tão cedo.


Parcas? Que diabos esse louco estava falando. William se sentia confuso, não entendia como aquele desconhecido sabia tanto sobre eles, seus nomes e tudo mais. O menino ouvi as vozes em sua cabeça gritar, ele sentia todos os sentimentos misturados em um só. Ele sentia vontade de matar todos os presentes no local, ele sentia vontade de fugir, sentia vontade de ter as respostas. Ele sentia as veias em sua testa pulsarem, seu coração acelerar, ele sentia a adrenalina correndo em suas veias, ele serrou os punhos e fitou o homem com um olhar doentio.

Então a mulher que outra ora estava no fundo aproximou-se de Hades, colocou a mão no ombro do homem e olhou para William com um olhar estranho, parecia que ela entendia tudo que se passava na mente do rapaz.

– Acalme-se William. – Disse a mulher vendo que ele estava prestes a explodir. – Respire fundo, você não pode explodir assim.

Ele engoliu a seco o que a mulher disse. O espanto tomou conta do menino novamente, como ela conseguia fazer isso. Sua respiração ficou mais compassada, seu olhar mudou e pouco a pouco voltou ao seu estado de sanidade normal, ou quase.

A mulher aproximou-se do menino com uma velocidade extrema, tocou as têmporas e ele revirou os olhos, como se estivesse sendo possuído por um demônio, seu corpo se remexia, da mulher emanava uma energia roxa, e seus dedos brilhavam em branco forte. O menino gritou de dor e por fim se calou ao cessar o toque da moça. O corpo do menino caiu ao chão como se ele fosse um saco de batata.

Meia hora depois o rapaz estava sentado em uma cadeira, havia uma tatuagem em seu corpo que queimava, uma serpente engolindo sua própria calda. Ele arqueou a sobrancelha e tudo passou como um flash back em sua mente, ele compreendeu que aquela era sua mãe, Hécate, a deusa da magia, suas paranóias haviam diminuído, mas não acabado. Ele compreendeu também que era hora de ir para o acampamento, como no sonho que teve ao ser tocado sua mãe lhe explicou tudo sobre semideuses e deuses e a importância do acampamento, então ele ficou de pé, olhou para Alexandra que conversava com o homem estranho e por fim voltou a olhar para Hécate, a deusa movimentou as mãos e uma nevoa roxa tomou conta do corpo do rapaz, ele por sua vez apareceu diante de uma enorme pedra em forma de arco onde havia entalhado de Grego: Acampamento meio sangue. Ele respirou fundo e caminhou para dentro do acampamento, na entrada o alarme soou e dois garotos surgiram fortemente armados, era hora de conversar com Quiron.


Quiron caminhava de um lado para o outro trotando. Seus olhos escuros percorriam a sala de modo analitico, o centauro sorriu e Dionísio bufou.

- Chega dessa cordialidade. - Reclalou o Deus da orgia. - Bem vindo William, suas atitudes brutais do passado seram julgadas pela deusa da justiça Nemeses ao fim da tarde onde será levado em consideração tudo o que fez. Por hora. - O Deus respirou fundo e grituou. - Amélia venha.

Uma menina de cabelos claros e olhos penetrantes caminhou em direção ao Deus. Pela camisa podia se ver de quem era filha, filha de Hebe a Deusa da beleza.

- Diga senhor. - Ela ajeitou o cabelo caido da testa e sorriu. O Deus por sua vez ordenou para que ela levasse o novato para seu alojamento.

O chalé de Hécate era um tanto sombrio, ele era bem escondido e havia vidros opacos, feito de madeira de carvalho duro, os degraus estavam recentemente polidos. William subiu cada um deles ao lado de Amélia.

Jogou sua mochila sobre a cama que lhe foi designado. Ele respirou fundo e olhou Amélia, que estava de pé, com as mãos de trás das costas em posição ereta.

– Boa sorte novato. - Disse ela lhe entregando um papel branco. – Aqui está seu horário. Tome um banho e vá ao refeitório na fogueira.

William agradeceu e observou a menina sair do chalé. O cheiro de panos lavados adentrava as narinas do menino que se agarrava a travesseiro enquanto lia seu quadro de horários. Sua mente doía, ele desmaiou.

[...] = SELO VULCANO DE CENSURA.



Última edição por Vulcano em 05/08/20, 10:24 am, editado 1 vez(es) (Motivo da edição : Adição do Selo Vulcano de Censura)

#1

[Missão OP — Contem gatilhos] Empty Re: [Missão OP — Contem gatilhos]

por Vulcano 04/08/20, 05:51 pm

Vulcano

Vulcano
Deus Olimpiano
Deus Olimpiano
| ONE-POST AVALIADA |


Xp Recebido:
650*3=1950
Dracmas: 975
Observações na ficha:


- William é procurado no mundo mortal por assassinato e pode ser reconhecido e preso em missões.
- O semideus tem gatilhos relacionados ao abuso de ambos os pais e aos assassinatos que cometeu, podendo ter surtos psicóticos relativos ao tema.


Comentários
Essa foi a one-post que mais me deixou sem palavras Que Te pedi para fazer algumas interações devido aos gatilhos e algumas regras sobre certos temas e detalhes, mas, cara, sensacional. A forma como você descreveu os fatos e as características do personagens. Pude perceber que seu personagem é bastante traumatizado, mas não se tornou em nenhum momento mais forte do que seria um mortal comum ou semideus comum. Todos esses fatores me fizeram a adotar interpretação 3 pra você, a pontuação máxima. Qualquer um que ler o tópico vai entender que não tem como atribuir outra pontuação. O xp vou te dar com base nos desafios enfrentados e a dificuldade que você teve tanto pra criar o texto quanto o seu personagem em si. No mais, adicionei algumas observações no seu personagem devido ao enredo e as consequências dele.
OBS: Adicionado o Selo Vulcano de Censura para as partes que são MUITO pesadas e detalhadas de maneira excessiva. ( Selo= [...])

ATT

#2

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