Nome da narração: O Enigma da Esfinge
Objetivo da narração: Introdução dos Guardiões de Pã.
Quantidade de desafios: 2. (Enigma e a Esfinge.)
Quantidade de monstros: 1
Espécie dos monstros: Esfinge.
A noite tinha tudo para ser calma e tranquila, com sonhos leves e restauradores, mas, como semideus, eu não tinha esse direito.
Estava em algum lugar na Índia. E só sabia disso por causa do trânsito. Poucos lugares do mundo tinham bicicletas misturadas a animais, elefantes e carros em suas avenidas. O fluxo era intenso e sem qualquer organização, com buzinas gritos e conversas todas ao mesmo tempo numa cacofonia sem fim. Aquele lugar só podia ser definido como...
— Caótico, não? — Disse a voz grave ao meu lado.
Eu fui tomado de surpresa e dei um passo para trás, esbarrando numa moça, que passava apressada com seu filho pelas ruas. Eles estavam sujos e pareciam famintos, as pessoas ao redor deles se afastavam e eles andavam de cabeça baixa, sem olhar para os outros. Pude ver a expressão de repulsa estampada na face dos transeuntes, como se a mulher e seu filho tivessem uma doença extremamente contagiosa, como se fossem leprosos. A mulher e seu filho andaram mais alguns passos, então caíram no chão. Não se levantaram mais, ninguém pareceu se importar.
— Sabia que o índice de acidentes de trânsito na Índia é o maior do mundo? — A voz grave continuou, sem se importar com o que havia acontecido, talvez eu tivesse ajudado a mulher, se não tivesse olhado para ele naquele momento.
Era alto, com uma barba bem alinhada, um sorriso debochado e cabelo espetado. Vestia uma camiseta preta do Link Park, jeans rasgados e coturnos escuros. Havia um bocado de caveiras de prata, o que lhe dava um ar selvagem, mas era sua aura que mais me preocupava. Era como se todo o universo estivesse clamando para que ele sumisse, uma suave distorção acontecia ao seu redor, como se um vórtice atraísse o mundo inteiro contra a sua vontade para perto dele, ou talvez fosse o mundo que habitasse ao redor dele, mesmo com todo o esforço para libertar-se.
— Sabe..O caos é necessário para fazer as pessoas mais atentas, um mundo caótico torna as pessoas mais fortes. — Ele continuou seu discurso como se estivesse dando uma palestra filosófica, eu só não estava gostando do rumo da dissertação. — Entenda que, apesar de não gostar de mim, eu sou tão vital e necessário em sua vida quanto o ar que respira. — Ele se movia de um lado para o outro da calçada apertada e movimentada, as pessoas pareciam enlouquecer ao passarem por seu vórtice.
— Quem é você? — Eu disse trêmulo, apavorado com a resposta. Aquele homem, por algum motivo, me lembrava o coringa, inimigo do Batman.
Ele riu.
— Ainda não conseguiu adivinhar? — Ele me perguntou. — Isso será um problema na missão que está por vir... — Ele ponderou, então parou de andar de um lado para o outro e se virou para mim, numa dramática pausa. — Eu sou o Chaos!
A distorção que o acompanhava se expandiu e transformou-se, conforme sua forma tremeluzia e girava num turbilhão vertiginoso. Vi prédios, carros, pessoas, céu e terra serem sugados e liquifazerem-se à partir dele, derretendo-se numa substância que podia ser névoa, fogo ou água — era impossível definir. Matéria vermelha-cinzenta se revolvia, fervente e fumegante, revirando-se como meu estômago, sugando para dentro de si tudo que originalmente lhe pertencia.
Em dado momento eu também fui sugado, dissolvendo minha existência em trilhões de moléculas, gritando eternamente dentro de meus átomos, horrorizado com a crueldade do mundo e a falta de esperança, completamente à mercê da sopa caótica que era a mais primeva das entidades.
Alguém estava gritando loucamente. Eu não conseguia entender o porque, mas parecia sair do mais profundo âmago da pessoa, um grito de puro horror. Meus braços estavam doendo, presos por alguma coisa. Não. Por alguém. Eu tentei enxergar quem, mas tudo que meus olhos embaçados conseguiam ver era o peitoral bronzeado de um de meus meio-irmãos.
Era eu quem gritava, chorava e esperneava. Max estava tentando me acalmar já fazia um minuto. Ele teve que prender meus braços porque eu tentara me enforcar no meio da histeria.
Eu fui me acalmando, conforme sentia a mão pesada de meu meio-irmão subindo e descendo nas minhas costas, de uma maneira consoladora. Minha face ardia, como se tivesse levado um tapa.
— Shhhh! Já acabou, foi só um pesadelo. — Era apenas um sussurro, seus lábios colados no meu ouvido, seu hálito dando-me uma sensação de conforto impagável.
Eu comecei a soluçar, deixando de resistir ao abraço de urso que Max me dera para impedir que eu me machucasse. Ele afrouxou o aperto e me sentou em seu colo carinhosamente, enquanto eu me desmanchava em lágrimas, o horror do que vivi com Chaos ainda bem vivo em minhas células.
Eu queria explicar o motivo de eu estar naquele estado, mas era impossível controlar os soluços. Max se contentou em afagar os meus cabelos e me manter em um estado de conforto seguro, até que eu me exaurisse.
Vi que ele não fora o único a ser acordado com minha histeria, meus outros meio-irmãos estavam com expressões preocupadas estampadas em seus rostos, apreensivos com meu estado mental. Aparentemente a gritaria fora ouvida até mesmo do lado de fora do chalé, já que via campistas de outras proles ali.
Com minha calma, eles foram aos poucos se dispersando, confiantes de que as coisas estariam resolvidas a partir dali. Tenho certeza que muitos deles se perguntavam o motivo daquele ataque histérico, mas eu sabia que estavam mais aliviados por não ter sido com nenhum deles. Como semideuses, esse era um risco ocupacional.
Depois de meia hora, meus outros irmãos já tinham voltado para seus afazeres, e apenas Max ficou comigo, ainda mantendo a voz tranquilizadora e as palavras acalentadoras. Estava me sentindo um bebê chorão sendo acalmado por sua mãe, considerando o tamanho do peitoral musculoso de Max, eu bem o poderia considerar um lactante. O pensamento me fez rir e eu finalmente me desvencilhei de seu abraço, meio à contra gosto.
Respirei fundo e contei-lhe o sonho. Ele passou o braço pelo meu ombro, quando comecei a tremer ao lembrar do que Chaos era capaz de fazer — se Gaia fora uma inimiga quase impossível, o que diríamos se Chaos resolvesse levar tudo ao nada novamente. O pensamento arrepiou-me até a alma, mas preferi não compartilhar com Max.
Max não era uma pessoa qualquer em minha vida. Havíamos chegado no acampamento na mesma época e não nos desgrudamos desde então, era um bom arqueiro e um amigo sem igual, alguém de quem eu muito me orgulhava ter como companhia.
Dizer que eu o admirava era eufemismo. Era um pouco mais do que isso, mas não havia muito o que fazer a esse respeito também, eu era apenas mais um numa longa lista que se estendia a pessoas muito mais interessantes.
— Desculpa! — Eu disse, me recuperando por completo e me desvencilhando de seu abraço, eu não podia ficar ali o dia todo. — E...Obrigado. — Eu agradeci antes de me levantar.
— Ah! Se eu deixasse você morrer eu teria que limpar essa bagunça toda sozinho. — Seus lábios se curvaram numa expressão desdenhosa.
Ele estava certo, o quarto estava bagunçado. No geral, os campistas de Apolo não eram lá o exemplo de organização e, com frequência, as coisas estavam sempre espalhadas, incluindo roupa íntima. Vi uma azul no chão e tive a certeza de que era de Max, não só por já tê-la visto vestir, mas por reconhecer o cheiro dele.
— Depois você fica pelos cantos reclamando que não tem cueca. — Eu joguei a cueca para ele, que a pegou no ar.
— Não é bem isso, uma das minhas cuecas sumiu, a branca! — Ele fez uma careta ao sentir o cheiro da cueca, tive que desviar o olhar para ele não me ver corando. — Aposto que foi o Logan que pegou! — Não, não tinha sido o Logan, mas eu jamais contaria que ela estava muito bem escondida na minha mochila. Esse segredo ia comigo para o túmulo.
Logan...Já fazia algum tempo que não o via. Acho que fora em uma missão para seu patrono, Pã.
Eu gostava do deus. Era um defensor da natureza, simpatizava com a causa naturalista e concordava que a depredação humana devia ser retardada, inclusive fiz alguns trabalhos sobre isso quando estava no conservatório e, quando tive a oportunidade, fiz alguns recitais beneficentes — Tah, tinha a ver com os créditos extras que ganhava, mas mesmo assim, simpatizava com a causa. Infelizmente a história de Pã não era sobre lutas, mas sobre amores não correspondidos e o infortúnio de não ter o que se quer.
Aquela linha de raciocínio me deixou deprimido.
— Bom...vou tomar banho, você tem muita coisa para arrumar, antes de poder me dar atenção. — Ele disse, e eu devia ter me virado.
Max já costumava dormir semi-nu, apenas de cueca ou de shorts, o que era a causa de meus problemas de insônia, mas havia uma mania dele que era ainda pior. Quando ia tomar banho, ele não ia para o banheiro e lá tirava a roupa. Não. Ele tirava a roupa no quarto, se enrolando na toalha, ficando um momento inteiramente nu.
Não foi diferente dessa vez, ele tirou a cueca verde, jogou na minha cara e saiu em direção ao banheiro, dando-me o trabalho de ter que me sentar e tentar a todo custo me acalmar. Definitivamente eu tinha que tomar uma ducha fria. Muito fria.
A limpeza demorou um pouco, mas acabei um pouco antes dele sair do banho, enrolado na pesada toalha molhada que marcava facilmente sua parte mais desejável. Os cabelos molhados e o cheio de sabonete, caminhando despreocupadamente.
Eu ficava extremamente inquieto, mas dessa vez haveria troco.
Tirei a roupa no meio do quarto e passei pelado por ele, em direção ao banheiro. Não tive coragem de olhar em seus olhos para conferir sua expressão, talvez ele nem se importasse com isso.
Tomei um banho frio naquela manhã, esperando acalmar um pouco o fogo que lambia minha alma. Eu nem queria pensar na possibilidade dele ter ignorado meu corpo, foi uma ideia idiota e irracional, eu não a repetiria. Nunca mais.
Saí do banho vestido, ainda secando meus cabelos, tentando ignorar a sensação de profundo arrependimento por ter feito algo tão idiota, meu rosto queimando de tanto nervosismo.
Eu me preocupara a toa, pois Max estava com uma expressão alarmada, uma ninfa estava à seu lado. Era bela, com feições suaves e cabelos escuros, seu vestido branco esvoaçando à mercê do vento que entrava pela janela.
— Kheiron esta chamando vocês dois. — Ela disse simplesmente, sua melodiosa voz preenchendo nossos ouvidos.
Eu e Max nos entreolharmos, meu nervosismo sendo substituído pelo medo. Chaos dissera que uma missão estava por vir. Pelo visto, havia chegado.
Nós apenas acenamos afirmativamente e a seguimos para a Casa Grande.
Quando chegamos, Max se apresentou primeiro, deixando-me na sala de espera, meus dedos tamborilando uma etttude no criado mudo de carvalho da sala. Não sei quanto tempo demorou, mas Max saiu com uma expressão indecisa, parecia ponderar sobre algo.
— Ele me pediu para procurar um pacote... — Disse, após segundos me fitando. Eu acenei afirmativamente.
Eu sabia que isso queria dizer que não estávamos indo para o mesmo lugar.
— Boa sorte! — Eu falei, mesmo não esperando que fosse ter. Sorte não é exatamente o forte dos semideuses.
Ele se aproximou e deu um beijo em minha testa, dizendo que voltaria o mais rápido que pudesse para me ajudar. E saiu pela porta apressadamente. Eu sabia que aquela podia ser a última vez que nos veríamos.
Eu entrei no escritório de Kheiron com pouca cerimônia, conhecia o lugar bem o suficiente para não me distrair com a decoração brega, que parecia um vômito dos anos 60. Ele me fitou com apreensão, decidindo se eu era a melhor pessoa para o trabalho. Talvez tenha feito uma nova seleção em sua cabeça, mas deixou a ideia de lado.
Ao lado do centauro entrevado em uma cadeira de rodas, estava Alex Armstrong, meu irmão, líder dos Guardiões de Pã.
— Tem certeza? — Ele voltou os olhos para o loiro, que deu de ombros, como se não dispusesse de maiores opções. Pelo visto eu era sua última escolha.
— Não me pergunte porque, mas Aron deve se encarregar disso. — Falou sem mais.
Eu aguardei. Imagino que tenham tido aquela conversa um milhão de vezes, mas o impasse se mantivera. O ciclope deixou seus ombros caírem não tendo maiores argumentos.
Ele me entregou o rolo e eu vi apenas uma mensagem autoritária: Um de meus seguidos desapareceu. Vá procurá-lo.
Segundo o centauro, era Logan o tal seguidor desaparecido e a ultima vez que seus amigos receberam notícias dele foi quando estava no Deserto do Atacama, uma apressada mensagem de Íris, que fora interrompida antes que ele pudesse dizer maiores detalhes. Muito, muito longe de onde ele deveria estar. A preocupação tomou conta do meu ser e me vi tamborilando uma das composições de Rachmaninnoff por puro reflexo.
— Vou procurá-lo! — Eu disse firme, levantando-me da cadeira. Tinha preparativos para fazer.
***
Era o início da noite, quando eu cobri minha cabeça com o capuz, deixando meu rosto oculto nas sombras que começavam a serem lançadas pela parca iluminação dos postes. Um carro ou outro passava pela estrada correndo à velocidades absurdas.
Max já havia partido fazia tempo, aparentemente havia um reforço na missão dele, um filho de Afrodite com um poderoso pégasus. Não que me importasse como quanto o garoto era bonito ou o fato dele ser bem mais interessante que eu. Isso não me incomodava nenhum pouco.
Ouvi o grito agudo do grifo prateado descendo pelo céu e sorri. Grey sabia fazer uma entrada triunfa. Ele pousou pousou a dez metros de mim, eu podia discernir a figura dentro de uma capa preta semelhante a minha.
— Está atrasada. — Eu disse, meu sorriso totalmente aberto.
Ela abaixou o capuz, revelando como eu seria se eu fosse mulher. Cristie, minha irmã gêmea, afagava com um sorriso atrás da cabeça de Gray, seu grifo de estimação. A criatura era magestosa, maior que eu, mas um doce de pessoa, pelo menos para aqueles que minha reconhecia como aliados.
— Tive um pequeno contratempo. — E seu sorriso conspiratório apareceu de imediato.
Foi um encontro cheio de abraços e beijos, com nós dois tentando atualizar tudo o que havia acontecido desde que ela havia me deixado na colina meio sangue, onde eu começara minha aventura.
Eu havia mandado uma mensagem de íris para minha irmã, apenas uma carona até o deserto, que estava muito longe de minha atual posição. Nas costas de Gray a viagem seria muito mais rápida. Ela também estava em uma missão e faria um pequeno desvio apenas para me ajudar.
— Vamos? — Ela disse finalmente, enquanto montava no grifo.
Eu hesitei por um instante, mas tratei de me aventurar nas costas felinas do animal. Levantamos vôo em seguida, o vento gelado fazendo questão de entrar por dentro de minha capa. O céu estava estrelado, com a lua brilhando a vontade.
Abaixo de nós as paisagens passavam em alta velocidade. Postes, florestas, estradas e lagos, tudo passava em instantes, sem deixar que meus olhos se fixassem mais que poucos segundos. Eu aproveitei para matar as saudades de minha irmã- ela não me revelou sua missão, eu não queria revelar a minha. Sabíamos que preocupações desnecessárias poderiam atrapalhar ambos e não queríamos pôr nenhum de nós em risco.
As belezas exuberantes foram, aos poucos, sendo substituídas pela vastidão desértica, conforme nos aproximávamos das últimas coordenadas de Logan. As estrelas no céu eram lindas, completamente diferentes de qualquer outro lugar que eu já vira, mas os quilômetros desabitados me pareciam desolador.
A estrada serpenteava pelo deserto e, quando passamos por uma parte da estrada, próximos a uma formação rochosa estranha, eu tive uma espécie de visão. Não sei explicar bem, parecia que eu era o Logan e estava correndo por ali. Pedi para Cristie posar Gray.
Pousamos na estrada, vendo nada mais que deserto para todos os lados. Eu devia estar maluco em fazer qualquer coisa naquele lugar, se eu estivesse errado provavelmente nunca conseguiria sair dali, não havia uma viva alma a quilômetros de distância, mas resolvi seguir meus instintos.
— Obrigado, Cristie. — Eu agradeci, indicando que aquele era o ponto que nos separávamos, mas ela não gostou da ideia.
— Aron, não tem ninguém aqui, talvez se dermos uma volt... — Eu não deixei ela terminar. Eu sabia que ela também estava correndo contra o tempo.
Chaos tinha aparecido especificamente para mim, só eu poderia realizar aquela missão, só eu poderia achar o caminho, mesmo que tivesse a chance de alguém me ajudar, provavelmente as coisas acabariam muito mal. Não que fossem acabar bem de qualquer forma.
— É aqui, eu tenho certeza. — Minha determinação ja a vencera inúmeras vezes. E ela sabia que, às vezes, eu tinha uma espécie de sexto sentido que me guiava.
Ela abriu e fechou a boca mais algumas vezes, sem conseguir argumentar com minha decisão. Finalmente me deu um abraço resignado.
— Cuide-se. — Ela disse, os olhos marejando.
— Volto inteiro para casa! — Eu não tinha tanta certeza.
Fiquei observando-a montar no grifo e levantar vôo, rumando para o sul. Não sabia em que tipo de missão ela estava envolvida, mas pelo menos, já sabia qual era a direção de seu paradeiro, caso precisasse procurá-la. Tremi com essa possibilidade.
Olhei ao meu redor, tentando entender para onde eu deveria ir. Observei bem as formações rochosas que me cercavam, pareciam a quilômetros de distância, a mais próxima era o pico alto e íngreme que se erguia há pelo menos quinze metros de altura. Era de rocha calcária e sua base era menor que seu pico, me fazendo acreditar que cairia sobre minha cabeça.
Decidi me conectar com a tal visão anterior, mas aquilo fora apenas um auxílio do meu pai. Vez ou outra ele fazia aquilo para me guiar, mas acho que já havia gasto minhas fichas.
Apesar da escuridão da noite, a lua, alta e cheia, parecia iluminar como o sol de dia. Selene parecia estar particularmente inspirada naquela noite. Resolvi que ficar parado não me faria chegar a lugar algum, por isso, comecei a andar.
Minhas botas afundavam na areia e eu olhava para o lugar com profundo interesse. A vegetação era escassa e seca, meio amarelada. Com galhos secos quebrados pelo que parecia um caminhão.
Caminhão??!
Olhei a estrada muito distante para que um caminhão resolvesse rumar para aquele lugar no meio do nada. Não podia ser um caminhão. Me senti um caçador procurando rastros.
Não tinha pegadas, as areias dançantes do deserto já deviam tê-las coberto, mas o traço de destruição na vegetação rala do deserto era de algo grande. Procurei imaginar a situação, enquanto olhava para as possíveis direcões. Era o pico. Só podia ser.
Por puro reflexo olhei às minhas costas, não havia ninguém me perseguindo, mas agora eu conhecia o local, sabia exatamente para onde ir. Me dirigi para a Rocha.
Ainda não entendia bem o porquê de eu estar seguindo instruções tão repentinas, mas minha intuição estava fortemente me mandando seguir em frente e eu geralmente seguia minhas intuições.
Ao me aproximar da Rocha calcária, vi um amontoado de pedras em formato triangular, o que era bem esquisito. Uma delas parecia ter sido marcada com ferro em brasa, desses que se usa para marcar o gado.
Não havia o menor sentido naquelas marcas, mas, nessa vida de semideus, aprendi que não há nada tão estranho que não possa ficar ainda pior.
Eu toquei a pedra e, como num passe de mágica, uma saliência se abriu na rocha calcária, quase como se fosse uma parede de tijolos se desfazendo, revelando uma entrada, que eu não sabia para onde me levava. Eu fui burro o suficiente para entrar.
Quando entrei, a entrada se fechou e tochas nas paredes acenderam-se magicamente. Ciente de que não voltaria por onde eu vim, segui pelo único caminho que se abrira para mim.
O caminho seguia reto, inclinando-se levemente para baixo, entrando nas profundezas da terra, eu não via o fim do corredor, a iluminação era parca e pouco eu poderia perceber do local, mas a pedra fora trabalhada, mágica ou humanamente? Eu não sabia dizer, mas as paredes eram milimetricamente lisas, sem qualquer imperfeição ou barriga nelas.
Enquanto seguia meu caminho claustrofóbico, tive tempo para me preocupar com Max e Cristie, talvez eu nunca mais os visse, esperava que nenhum deles fosse burro o suficiente para me seguir até ali. Porque sinceramente, eu já imaginava que aquela fosse a minha tumba.
Tentei me lembrar quanto tempo Logan estava desaparecido. Ele saíra há duas semanas, mas apenas a três dias os Guardiões deram falta dele. Será que ele estava morto? Não. Ele não poderia estar morto, do contrário Pã não me mandaria atrás dele, me mandaria? Eu não conhecia o deus, mas a imagem que eu fazia dele não correspondia com uma sádica que mandaria um campista para uma missão suicida. No entanto, podia ser que Chaos o fizesse, afinal, meu sonho fora com ele.
Em dado momento parei e tomei um pouco de água, que estava na sacola que eu preparara para a viagem. Sentei um pouco e acho que dormi alguns minutos, ou foram horas? Eu já não sabia dizer quanto tempo estava andando.
Demorou mais uma hora, ou pelo menos fora o que parecera aos meus pés cansados, andando até que finalmente cheguei num corredor amplo, com pé direito alto, a iluminação parca vinda unicamente da chama das tochas nas paredes.
Segui pelo corredor com cautela, mas não havia qualquer habitante naquele lugar. Dessa vez o caminho parara de descer e apenas prosseguia a oeste de onde eu havia passado. Não apressei o passo, permaneci firme, não sabia por mais quanto tempo eu prossegui pelo túnel, minha mente sendo invadida pelas visões de perseguição.
O túnel se abriu em uma câmara ampla. Um hangar grande, poderia caber um avião, mal iluminado pelas tochas nas paredes de rocha negra. O ar era mal cheiroso e atacaria a alergia de qualquer um, mas o chão era firme, o que queria dizer que eu não cairia em uma armadilha tão cedo.
Fiquei imediatamente em estado de alerta, prescrutando todos os cantos da câmara até o momento que encontrei. Estava confortavelmente sentada à frente da porta. Cabelos castanhos e olhos felinos, por trás de lentes quadradas. Essa era a única parte de seu corpo que era humana, pois o resto era como uma leão. Me olhava com interesse e eu por pouco não molhei minhas calças.
— Olá semideus, veio para libertar seu amigo? — Ela perguntou, meio ronronando.
Eu não sabia qual era o propósito dela mantê-lo preso, mas talvez ela só precisasse dele, o que queria dizer que eu era totalmente desnecessário.
— Vim... — Eu disse, inseguro. — ...Você se importaria? — Eu devolvi a pergunta.
Ela riu, ou ronronou, não dava para diferenciar.
— Nenhum pouco, mas... — Ela se ergueu, espreguiçando-se felinamente. — Terá que responder um enigma. Se acertar, a porta se abre, se errar, eu te devoro. — Seu sorriso se alargou, mostrando as presas felinas.
As palavras dela caíram pesadamente em mim. Então era por isso que ela estava mantendo Logan preso? Só para ficar fazendo charadas para o seu jantar? Monstros...
Não havia muito o que fazer, ela não me permitiria sair dali de qualquer jeito, então talvez, só talvez, ela mantesse sua palavra e eu conseguisse resolver a charada sem maiores problemas e conseguisse salvar Logan.
— Tudo bem, qual é a charada?
Ela fez uma expressão misteriosa enquanto recitava o enigma.
Nenhum homem me viu, mas todo homem me conhece.
Mais leve que o ar, mais mortal que uma espada.
Venho de lugar nenhum, mas apareço em todo o lugar
E, numa reviravolta cruel, farei cair o mais poderoso dos exércitos.
Quem sou eu?
Mais leve que o ar, mais mortal que uma espada.
Venho de lugar nenhum, mas apareço em todo o lugar
E, numa reviravolta cruel, farei cair o mais poderoso dos exércitos.
Quem sou eu?
Eu fiquei absolutamente confuso, naquele momento eu me preparei para o pior, jamais conseguiria saber do que se tratava.
— Não responda sem antes pensar, enigmas devem ser degustados. — Ela disse e se sentou com uma expressão paciente no rosto.
Entendi que ela não me devoraria por demorar a responder sua charada, então baixei minha guarda. Tinha que começar a pensar.
O fato de ser mais leve que o ar, significa que estávamos falando de um conceito, não de um elemento ou algo físico. Era algo que todos, sem nenhuma, exceção conhecem, algo perigoso e poderoso o suficiente para fazer um exército inteiro cair.
O sonho com Chaos me veio à mente e quase respondi que era dele que estávamos falando, mas percebi que tinha algo mais fundamental na questão. A mulher e o filho que caíram nas ruas pareciam famintos. Não existe ferida mais incapacitante que a fome.
— Você é a fome! — Eu respondi, após um bom tempo de reflexão.
Ouvi o trinco destrancar e a porta atrás da Esfinge se abriu. Eu teria corrido em sua direção, se a mulher não tivesse se erguido e avançado na minha direção. Só naquele momento eu percebi que ela dissera que a porta se abriria, não que ela não me devoraria.
Comecei a recuar enquanto ela avançava. Tirei o arco, que estava guardado no ombro e armei a primeira flecha, já aquecida pelo calor solar fincando-se em seu braço, mas não a impediu de avançar. Ela vinha na minha direção como um trem descarrilhado e eu quase não tive como me desviar das poderosas garrar que arranharam meu braço superficialmente.
Eu aproveitei o momento para atirar uma nova flecha, mas ela saltou para o lado com sua agilidade felina. Eu disparei mais duas, com meus saques velozes, mas ela se esquivou como um verdadeiro gato.
Eu pus uma nova flecha no arco, nervoso com o fato de que a cada esquiva ela parecia mais próxima de mim. Era óbvio que o ouro derretido da flecha estava incomodando-a, mas não seria algo tão fácil derrotá-la.
Por fim, eu tensiômetro a flecha e me concentrei, sem ter pressa no disparo. A flecha fora aquecida e eu fiz com que ela saísse girando do arco. A flecha perseguiu seu caminho até o ombro da criatura e cravou-se atravessando.
Infelizmente aquilo não a parou e, como eu havia me demorado no disparo, ela conseguiu me alcançar, as garras fincando-se dolorosamente no meu braço esquerdo, o impacto me levando longe.
Eu queria gritar de dor, mas a adrenalina estava me inundando, junto com o medo e a necessidade de reação. Imediatamente eu saquei a minha espada e a aqueci com o calor solar gingando-a em minhas mãos. O monstro não se importou em fazer cerimônia e esperar eu me recuperar, avançando contra mim com fúria, a flecha que eu atravessara em seu ombro derramando ikhor. Ela não estava tão bem quanto parecia.
A pata esquerda dela estava pronta para arrancar meu braço fora, mas eu girei a espada com força e peguei a pata no momento oportuno. O bronze celestial super aquecido decepou o membro do animal que recuou de dor, me dando a oportunidade de avançar contra ela pronto para perfurar o peito do monstro.
Engano o meu achar que o recuo ia pará-la. Ela, mesmo mancando de uma pata, com a fúria saltando os olhos, abocanhou meu lado direito, fazendo eu soltar um grito mais agudo do que eimaginaa ser possível. Em resposta, mais pelo desespero do que por um ato de heroísmo, eu cravei a espada mais de uma vez onde encontrei: Pescoço, peito, costas. Quando percebi ela já tinha virado pó dourado.
Eu cambaleei para a porta, apreensivo se Logan ainda estava vivo, meu sangue escorrendo mais do que devia, com toda certeza eu desmaiaria dentro de momentos. Toquei minha lira, esperando que pudesse, ao menos, amenizar a dor.
O corredor que se revelou a mim era escuro e mal iluminado, mas seguia reto. Não era tão longo como os outros, mas tão claustrofóbico quanto.
Mais uma vez eu estava numa câmara, semelhante à anterior, mas bem menor. Logan estava deitado no centro dela, aparentando estar fraco, mas vivo. Logan estava vivo.
— Logan! — Eu chamei fracamente e vi a dificuldade com que ele olhou na minha direção, mas havia alívio nela, junto com preocupação.
— Graças a Pã! — Ele falou quase sem mover os lábios.
Agora que eu estava ali, poderíamos tentar fazer o caminho de volta, mas duvidava muito que ele fosse se abrir para nós, mesmo com a esfinge derrotada. Aparentemente o mecanismo só funcionava pelo lado de fora, talvez tivesse uma segunda entrada daquele lugar.
Explorei a câmara e achei uma abertura na rocha, algo como a saliência que tinha na entrada. Procurei pela câmara até encontrar uma nova chave. Um símbolo triangular queimado na rocha, como o da entrada. Toquei a pedra e vi o mesmo efeito de tijolos se desfazendo que antes e tive certeza de que era uma saída.
Passei o braço dele pelas meu ombro e o apoiei. Estava fraco demais para andar sozinho, mas, mesmo com todos os meus ferimentos, ele ainda parecia pior do que eu. Eu tinha que carregá-lo para casa. Eu estava perto do fim daquele pesadelo.
Atravessamos a passagem e uma luz cegante nos impediu de ver qualquer coisa. Saímos em algum lugar no bosque do acampamento. Estávamos salvos.
Logan pediu para uma ninfa que estava por perto para avisar ao acampamento e logo uma equipe de resgate apareceu. Eu havia sobrevivido aquilo.
- Observação:
- — Gostaria de receber pontos de perícia também.
- Equipamentos:
- - Elmo Comum
- Peitoral de Couro
- Espada Curta
- Arco Curto
- Flechas de Ouro [45x]
- Flecha Sonica [Comum] [5x]
- Lira
- Aljava de Couro [Grande]
- Poção de Cura [Heroico][x2]
- Poção de Energia [Heroico][x2]
- Poderes Passivos:
- Nível 1 - Relógio Solar: O filho do Deus-Sol consegue determinar o horário baseado na posição do Astro-Rei com uma margem de erro de quinze minutos.
Nível 1 - Habilidades Musicais: O personagem possui dons musicais natos, fazendo com que cante ou toque qualquer musica em instrumento simples com facilidade. (+5 WIS)
Nível 3 - Perícia com Arco e Flechas [Inicial]: O herói possui uma mira quase impecável, a melhor dentre todos os semideuses (+5 MIRA). Tem efeito da habilidade ativa Flecha Certeira [Inicial]. Permite que o herói treine suas demais perícias até o nível [Inicial].
Nível 4 - Flecha Veloz: Sua flecha se move numa velocidade superior ao normal, deixando menos tempo para o alvo se esquivar. (+3 MIRA)
Nível 5 - Visão Aguçada: A visão dos filhos de Apolo é apurada, facilitando a mira com o arco e flecha.(+5 MIRA)
Nível 5 - Audição aguçada: Os filhos de Apolo são capazes de distinguir cada som e semitom de qualquer música. Essa capacidade os concede uma audição mais apurada que o normal.
- Poderes Ativos:
- Calor Solar: O filho de Apolo usa esta habilidade para aquecer algum objeto que ele tocar. Porém, eles também se tornam levemente luminosos, causando dificuldade de esconder-se no escuro. O uso da habilidade requer 15 pontos de energia.
Música Relaxante: Ao tocar a música, os companheiros do personagem se sentem relaxados e revigorados, recuperando-se mais rápido (25 HP e MP). Gasta 15 pontos de energia para ativar, mais 10 pontos para cada aliado.
Flecha Giratória [Inicial]: O filho de Apolo lança UMA FLECHA que segue girando em torno do próprio eixo, causando maior perfuração ao alvo ao atingi-lo, facilitando a penetração em escudos e armaduras. O uso da habilidade requer 15 pontos de energia. A habilidade entrará em espera durante 2 rodada.