Alaska demorou apenas alguns instantes para perceber que seus dedos simplesmente atravessavam a imagem fantasmagórica... Mas, claro, só o fez quando já laçava o ar, as mãos completamente vazias do pulso que tentava segurar. Teve sorte de a outra parecer cooperativa: uma alma fugitiva correndo pelo acampamento era o oposto do que chamaria de "noite agradável" e agora parecia-lhe óbvio que, caso a morta decidisse correr, realmente conseguiria. Suspirou baixo, tentando não pensar no assunto enquanto o dedo da menor sumia ao toque da arma, e sorriu à desconhecida, tentando parecer encorajadora. "Aposto que deve ter doído mais que um Zé Gotinhas!" Lazl, por motivos óbvios, nunca tomara a tal vacina em gotas, mas parecia achar a prática a mais temível do mundo. Alaska também não gostava nem um pouco... Mas tentou não lembrar.
Ao invés disso, fitou diretamente os olhos do espectro, atentando-se às palavras proferidas com uma ligeira careta. O mundo semi-deus conseguia ser incrivelmente cruel, mesmo se ignorando as regras. A desconhecida apenas tentara ser filha de alguém e estava agora com o corpo em pedaços no chão. Tombou a cabeça, ligeiramente confusa com o que aquilo significava. Não sabia a quem culpar, nem se deveria tentar culpar alguém. Leis de sociabilidade não eram bem o seu forte. Deveria parecer uma boa pessoa e querer mudar o mundo? Devia aceitar como tudo funcionava? Aquele tal mundo era cheio de regras estúpidas.
— Fez o que pôde, eu acho... Já é mais do que muitos fariam. — Comentou com sinceridade, dando de ombros com um sorriso discreto. Controlou o impulso de limpar as lágrimas alheias por saber que de nada adiantaria tentar o toque... E logo a voz do Ceifador interrompeu, arrastando a ruiva novamente para o torpor. Já devia desconfiar: momentos de bondade eram sempre fruto de uma sobriedade repentina... Que logo passava. Estalou a língua no céu da boca, parecendo voltar a irreverência habitual. "Foi divertido conhecer você!" Lazl disse à fantasma que não poderia ouvi-lo, acendendo todas as cores do pequeno corpinho em despedida enquanto acenava.
A Monoke, porém, só se limitou a aceitar os pedidos que lhe eram feitos, balançando a cabeça com bondade e vez ou outra soltando algum comentário aleatório para tentar acalmar a jovem "paciente"... Até ela finalmente topar. Alaska suspirou suavemente, o nó começando a se formar na garganta com a diminuição da adrenalina no sangue... E finalmente fez o que precisava ser feito. Corte limpo, a adaga negra empurrada do lado esquerdo do peito, sobre o coração, para proporcionar uma morte rápida e o menos dolor possível. Impulso único, com ambas as mãos... E logo o corpo feminino sumia bem diante de si. Os olhos foram rapidamente ao corpo material que restara, quase que esperando uma reação.