Oh.
A conformação e o pavor de perceber que eu já estava morto - e da pior das formas possíveis, diga-se de passagem - me assolou com como um avalanche descendo uma montanha. Confusão, Pavor, um Medo excruciante e, por fim, Ódio. Enquanto encarava aquele olho enorme e único, enfiado em um rosto irrelevante, todos estes sentimentos cruzaram minha mente, e meu corpo, e por um momento eles eram tudo o que havia em meu ser; sentimentos puros e frios, guiados pelo mais puro instinto do animal que agora eu entendia que era. Um animal. Em uma Cadeia Alimentar. Ali, enquanto o pavor e o medo cruzavam meu corpo quase como uma corrente elétrica, fazendo tudo se contrair até doer, tudo o que eu pensava era em como tinha de sair dali. De fugir, Eu sou uma presa, e não um predador intocado como nós, humanos, fomos ensinados que éramos. Eu sou um animal, e o Mundo, era uma Selva. Aquele, diante de mim, era um Predador. Um monstro comedor de homens, e eu, porra, era um homem. Um semideus, sua presa favorita, como ele tinha dito em seu ultimo encontro comigo. onde quase me comera, e aquele filho de Hipnos idiota em seu ombro havia me salvado.
Grande merda. Minha mãe era uma pobre louca e meu pai era um deus escroto.
Grande merda.
Grande merda, grande merda! O ódio, que veio por último, foi tudo o que permaneceu, porém. Eu nunca fui do tipo que se pergunta muito o porquê das coisas. Do tipo justinho, ou moralista. Eu só seguia o fluxo. Me misturava na sombra dos outros e vivia como fosse necessário. Eu tirava notas boas, porque é o que esperavam de mim na escola. Eu cozinhava e lavava em casa, porque achava que era o apropriado, pois era o que os adultos faziam. Eu saía à noite para entregar drogas porque era o que meus vizinhos - assim, bem persuasivos - queriam. Uma garça no meio das garças, uma sombra no meio das sombras. Mas ali... Naquele momento... Naquela selva que eu me via... O que esperavam de mim, é que fosse uma presa, nascida e criada como um porco para o abate. Naquele grande olho nojento e melequento o que eu via era
fome. E aquilo, finalmente, foi esperar demais de mim.
Puxo um trago profundo do cigarro. Fecho meu olho esquerdo. Dou uma última olhada naquele olho único encarando o meu. Ele com fome. Eu, com ódio. Balanço o cigarro com os lábios, derrubando a camada de cinzas em sua ponta, deixando sua extremidade acesa bem exposta. Então, assopro com força, tentando disparar o cigarro aceso contra seu rosto, junto com uma baforada de fumaça.
Enfim, abaixo-me levemente, segurando a ponta do meu skate apoiado na mochila na cabine, e levanto-o num movimento brusco junto do corpo, tentando acertar o queixo, olho ou rosto do ciclope com a borda ou rodas do skate. Então arremesso-o contra a lâmpada, ou tento atingí-la pulando sobre o vaso e então pulando pra atingi-la.
Caso consiga, puxo a bandana em meu pescoço para cobrir meu rosto [Como no avatar]. Me esgueirando pelo escuro eu já tinha percebido que meu rosto, ou mesmo o de outras pessoas com pele tão pálida, costumava atrapalhar na hora de se esconder, então era meu método de me camuflar melhor. Abro o olho esquerdo, fechado antes para ter alguns segundos de vantagem em se adaptar ao escuro. Então, aproveitando da confusão do ciclope, eu tento evadir-me dali, esgueirando-me pela lateral do monstro, sem tocá-lo, ou caso vá ter de tocá-lo, faço-o com força, empurrando com toda minha força e peso ao passar.
Se tudo der certo e eu conseguir fugir, caralho, apenas corro pra sair do lugar, e analisar o ambiente ao redor. Caço algum canto onde eu possa me enfiar rapidamente, me esconder e aguardar para ver o que ele faria. O filho de Hipnos ainda estava lá dentro, com ele, afinal, e o garoto era um semideus, como eu. Eu esperava que a criatura viesse atrás de mim, mas e se decidisse me deixar pra depois e comer primeiro aquele que já tinha capturado? O cara tinha salvo minha vida uma vez, e isso era o que me impedia de correr para longe dali.
Caso eu veja enquanto me escondo algo que possa usar como arma, como uma pá, barra de ferro, vibrador ou até mesmo facas e talheres em restaurantes, eu tento pegar, se estiver ao alcance, porém priorizo me esconder a tempo.
Mas porra, voltando pra realidade, se algo der errado lá dentro, enquanto tento fugir, em qualquer um dos passos, faço meu melhor para reagir me adaptando à situação. Caso ele não se assuste com o cigarro e a fumaça em seu olho eu tento desviar do socão que eu previa que viria contra mim. Eu já tinha levado um golpe daquela criatura antes, e não queria passar por aquilo de novo. Minhas costelas ainda doíam quando eu tossia, graças ao dia em que aquela aberração tinha me espancado. Eu
definitivamente não queria passar por aquilo de novo. Assim, se eu conseguir evitar algum golpe e ver alguma abertura, tento prosseguir com meu planod e fuga, apenas passando por ele se tiver oportunidade, atingindo-o com o skate como citado antyes, ou atingindo a lâmpada, para obscurecer a visão dele por alguns segundos, ganhando tempo de me mover pelas sombras pra fugir, contando como sempre com minhas vestes escuras pra me camuflar melhor.
Dando tudo errado só me encolho enquanto sou espancado de novo