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Fórum de Mitologia Grega baseado em Percy Jackson e os Olimpianos e Os Heróis do Olimpo!


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por Castiel Delacour 23/01/20, 05:13 pm

Castiel Delacour

Castiel Delacour
Filho(a) de Zeus
Filho(a) de Zeus


Nome da narração: O Plano
Objetivo da narração: Apresentar o personagem e sua trama.
Quantidade de desafios: 1 desafio.
Quantidade de monstros: 2.
Espécie dos monstros: Cíclopes.

Afastei levemente a persiana, olhando pela fresta da janela para o jardim bem cuidado da casa dos Sherman, a falcata de Bronze Celestial em punho, meus músculos tensos, como se preparados para começar a correr ao menor sinal de perigo.  

Deixando de focar no lado de fora, meu reflexo no vidro fumê parecia louco. Os cabelos estavam despenteados, cheios de frizz, um pouco chamuscados no lado onde a língua de chamas havia quase me transformado em churrasco durante o último encontro com meus perseguidores. Meus olhos estavam vermelhos, com pupilas dilatas e com profundas olheiras contornando-os, indicando o tanto de tempo que não conseguia dormir. Meu corpo estava lacerado, com arranhões imprimidos em minha pele por galhos, espinhos ou por garras. Um curativo no meu bíceps direito estava úmido, manchando a tala que já fora branca com meu sangue carmesim, combinando perfeitamente com as roupas rasgadas e maltrapilhas que vestia.  

Era quase como se fosse um soldado em meio a guerra...Bom...Meio que era isso mesmo.

Atrás de mim, os passos de minha mãe não me assustaram. Eu os reconheceria de longe: Sempre cuidadosos, leves e furtivos. Passos de quem se acostumara a fugir e se esconder, de uma verdadeira sobrevivente das muitas tentativas de ser comida viva por qualquer coisa saída de um livro de fantasia. Virei-me sobre os calcanhares para encará-la, esperando encontrar um olhar de urgência que me faria sair correndo pela porta dos fundos com ela em meu encalço e, provavelmente, mais alguma coisa nefasta nos perseguindo, mas seu semblante era de puro alívio.

Uma pausa. — Disse, sua voz grave e profunda, mas que saíra como um sussurro, quase inaudível. Suas palavras tiraram um pouco da tensão dos meus músculos e eu embainhei a espada que um dia fora de meu pai. Minha mãe não fez o mesmo e ergueu uma sobrancelha para o meu gesto, mas ignorei sua reprovação. Estava exausto demais de toda aquela correria sem fim.

Minha mãe franziu os lábios e abriu a geladeira da casa procurando alguma coisa que não tínhamos permissão para pegar, mas isso sempre significara pouco para Rose Delacour, uma mulher dura na queda.

Era bela, mesmo que as duras circunstâncias que nos cercavam tentassem negá-la essa dádiva, mas o calor das constantes batalhas só servia para deixar a filha de Marte ainda mais notável. Seus músculos não eram exagerados como uma halterofilista, mas eu não me atrevia a subestimá-la, nunca conseguira vencê-la durante os muitos treinamentos que tivera desde que nascera. Sua agilidade era invejável, mesmo no auge de seus 38 anos, com alguns fios grisalhos nascendo entre a cabeleira ruiva sempre presa em um coque prático. Suas roupas estavam tão destruídas quanto as minhas, mas sua expressão não era tão desesperada. Ela estava acostumada aquele tipo de situação muito antes de eu nascer.

Ex-centuriã da primeira Coorte, minha mãe teve uma carreira de sucesso e ascensão no Acampamento Júpiter, onde chegara a ser cogitada como pretora até o dia em que completou 15 anos, quando disse ter encontrado meu pai, um ser estranho que ela descrevia como “difícil de matar”. Aparentemente, durante os três anos que se seguiram ao primeiro embate, eles sempre se esbarravam em algum momento em lados opostos de uma batalha que ela não conseguia compreender totalmente. De tanto tentar matá-lo, acabou se apaixonando e, dois anos depois, eu nasci. Um semideus cuja a nacionalidade era ambígua demais para ser considerada segura.

Apesar da certeza de que minha mãe era perdidamente apaixonada pelo meu pai, eu pouco sabia dele. Todas as vezes que tentava conseguir qualquer resíduo de informação, obtinha apenas respostas vagas, com qualidades e defeitos cuspidos de forma grosseira. Minha mãe tentava evitar visitar as lembranças do mundo de quando ele era vivo, talvez porque sofreria demais ter que encarar a dura realidade de novo, onde não podia mais estar em seus braços.

Antes de completar um ano, meu pai a visitou novamente, avisando que deveria fugir com a criança e foi quando começamos a correr por nossas vidas. Nunca ficávamos no mesmo lugar, mudando-se não apenas de bairro, mas de cidade, estado e até de país. Lembro-me que quando eu tinha dez anos, passamos alguns meses no México, mas tivemos de retornar para os EUA quando fomos subitamente perseguidos por uma matilha de chupa-cabras até o limite da fronteira. Não foi nada legal.

Demorou um pouco para que eu tivesse consciência do que eu era, mas aos cinco anos eu já sabia ser diferente das demais crianças, especialmente porque eu via coisas que ninguém mais via, fugia de coisas que todos diziam não existir. E, é claro, me tornei o esquisitão antissocial que não fazia amigos, até porque eu não ficaria por muito tempo na vizinhança.  

Durante todo meu crescimento, minha mãe me treinou, sempre forçou meus limites até que eles fossem superados, não importando o preço que fosse ser pago para isso. Nunca me defendia diante de outras crianças e me incentivava a lutar minhas próprias batalhas, nunca admitindo que eu recuasse diante de algum problema, me impelindo a avançar a, a sobreviver, a cumprir meu destino, mesmo que nunca entendesse exatamente qual era. Podia parecer duro da parte dela, mas eu sabia ser a forma de expressão máxima de seu amor. Por baixo de toda aquela educação espartana estava a seguinte mensagem: Não estarei aqui para sempre, você precisa aprender a se virar.

Minha educação formal foi basicamente em casa, mas, por sorte, sempre fui autodidata e, mesmo sem nunca ter frequentado um colégio se quer, poderia fazer a prova para a faculdade sem maiores preocupações, no entanto, isso significaria estar estagnado em um único lugar e eu sabia que isso não era permitido. Não para mim.

Minha mãe me contou tudo sobre seu mundo e, mais tarde, sobre o do meu pai, que diferia da Nova Roma, instalada Oakland Hill onde legionários adolescentes tinham um acampamento apenas para semideuses como ela. Meu pai vinha do leste de um lugar mais discreto na Costa de Long Island, com vastos campos de morango, choupanas e um clube de atividades que lembrava mesmo um acampamento de férias para semideuses. E era para lá que estávamos nos dirigindo.

Estávamos bem perto do nosso destino, talvez mais um dia ou dois se conseguíssemos manter o ritmo, mas dava para ver a apreensão no rosto de minha mãe ao olhar para o pequeno mapa estendido sobre a mesa da cozinha. No canto, um papel envelhecido escrito em letra cursiva, estava o que minha mãe chamava de “O plano”. E ele parecia me encarar acusatoriamente, quase como se gritasse para mim que tinha razão, embora eu jamais fosse admitir isso.

A única coisa indiscutível no meu relacionamento com minha mãe era “O Plano”. 3 simples instruções deixadas pelo meu pai antes de sua morte. Minha mãe há muito me fizera memorizá-las para que eu sempre soubesse o que fazer caso alguma coisa acontecesse com ela.  

“ 1 — Quando eu disser, fuja.

2 — NÃO o leve para o Acampamento Júpiter.

3 — Leve-o para Long Island quando o Makhai aparecer


Sinceramente, sempre achei idiotice nos privar de um lugar seguro para viver, especialmente depois que completei 13 anos, quando os ataques se tornaram ininterruptos, mas minha mãe insistia que meu pai sempre tinha razão e se tornava irredutível sobre esse assunto, não importava o quanto discutíssemos. Com o tempo, desisti de argumentar e aguardei que a terceira predição do meu pai se realizasse. Não devia ter ficado tão ansioso por isso.

Temos que nos mover! — Ela disse, recolhendo o que podia da geladeira e dos armários e enfiando nas mochilas.

A tensão tomou conta de minha musculatura quase imediatamente diante da fala da minha mãe e eu voltei a checar o jardim de entrada. Não havia qualquer mudança da nossa condição de minutos atrás, mas, se minha mãe dizia que era hora de levantar acampamento, eu atava minha mochila nas costas, desembainhava a espada, e começava a correr.  

Cruzei a sala sem me importar com as luzes apagadas, evitando quinas de sofá, criados mudos e desníveis por puro instinto, me dirigindo para os fundos da casa dos Sherman, invejando por alguns segundos suas vidas normais com seu labrador de olhos grandes e suas fotos em família onde todos os seus membros estavam presentes e vivos, limpos, bem vestidos e em vários locais diferentes, mesmo que não estivessem constantemente correndo por suas vidas, mas aproveitando o que aquelas paisagens tinham de melhor para oferecer.  

Havia deixado um pedido de desculpas no espelho do banheiro social escrito com um batom vermelho que encontrei em uma das gavetas de maquiagem, apenas para limpar a minha consciência do arrombamento, invasão e roubo. Pequenos delitos, mas que poderiam deixar a família aterrorizada por dias, imaginando que voltaríamos para pilhar a casa quando eles estivessem nela.  

Os fundos da casa tinham piscina, churrasqueira, um belo jardim e algumas esculturas espalhadas pela grama bem aparada. Uma cerca de madeira separava a casa de um beco, nos fundos de um velho armazém. Cruzamos a área como gatos, correndo sem que nossos pés fizessem barulho, embora eu tivesse certeza de que os olhos daquelas estátuas de mármore estavam nos acompanhando. Saltamos o muro como dois acrobatas, pousando com um giro do outro lado da cerca, encarando uma pequena porta de metal trancada com cadeado numa parede de tijolos de cor terrosa, como das fábricas antigas. Pude ouvir um carro passando pela avenida à nossa esquerda quando meus pés tocaram o asfalto, mas, na falta de um segundo automóvel, concluí que era uma rua de pouca movimentação. Ótimo. Um pouco de sorte, para variar.

Dei dois passos em direção a avenida quando percebi que minha mãe não me acompanhava. Virei-me sobre os calcanhares para encontrá-la tensa com sua falcata de ouro imperial de costas para mim, concentrada em três figuras que saíam de um portão de carga e descarga no final do beco.  

Tinham pelo menos três metros, vestindo macacões de operários mais sujos que a lixeira próxima da escada de emergência, localizada a poucos metros de onde as figuras saíam. Seus rostos eram grotescos, encaroçados e deformados, como se fossem uma espécie de saco de pancadas de lutadores de MMA. Tinham barbas ralas e falhadas e, como maior atrativo, apenas um olho piscava acima do nariz de batata das criaturas. Ciclopes.

Minha mãe deu dois passos para traz, já se preparando para fuga, mas tínhamos um problema.

Entrada bloqueada. — Eu disse, estranhando a rouquidão de desuso com que minha voz ecoou pelo beco. Virando a rua, dois ciclopes ligeiramente maiores do que os outros bloqueavam a saída com seus sorrisos desdentados e amarelados.

Olha que sorte, teremos um jantar farto essa noite. — Falou um deles, sorrindo feito bobo, esfregando as mãos ensebadas. — Vou testar meu molho de frango teryaky! — Sua língua se moveu rapidamente pelos lábios já degustando seu futuro jantar.

Molho Teryaky. Mais um para a lista.  

As receitas dos monstros de como servir semideuses no jantar, almoço e café da manhã eram as mais diversas.  Em todos esses anos correndo e enfrentando essas criaturas eu já fora cogitado como um leve petisco, entrada, prato principal e acompanhamento. Em sua maioria, monstros gostavam de cozidos de semideuses, acompanhados de vegetais comuns ao estado em que habitavam. A mais inusitada iguaria que quiseram preparar com minha carne ossuda foi um churrasco com molho barbecue. Pode não parecer exatamente inusitado já que estava no Texas, mas a iguaria fora ideia de um Minotauro. Ver uma vaca preparando molho para churrasco era aterrador, especialmente quando se está preso com correntes enquanto assiste o bovino afiar a faca que tiraria os filés de suas pernas. Por sorte, minha mãe me encontrara antes dele ter a oportunidade de tirar a primeira fatia.

Com o canto dos olhos, vi minha mãe erguer dois dedos sem se virar para mim. Dois minutos. Era o tempo que tínhamos para acabar com aqueles caras ou iniciar uma fuga.

Meus passos seguiram na direção dos dois ciclopes que tapavam a entrada. Julgando a situação era aquele lado que tinha que ser limpo, não importasse o preço.  

Eu tinha impressão de que ficara com os mais burros. Eles se apressaram na minha direção com seus passos pesados e lentos e usei a proximidade deles como uma forma de atrapalhá-los, caindo para o lado direito. O que estava no lado esquerdo foi bloqueado por seu companheiro, esbarrando em suas costas e o fazendo tropeçar levemente, mas fora o suficiente para que ele errasse feio o soco que tinha minha testa como alvo. Ao invés disso, passou direto por cima da minha cabeça e a abertura criada me permitiu penetrar seu rim com facilidade, cravando a lâmina até a guarda e a arrancando rapidamente, girando o corpo de forma que a lâmina saísse mais rápido para encontrar, de forma rápida e letal, a base das costas do segundo ciclope, me afastando em seguida antes de levar um tapa. Os urros das criaturas cortaram a noite, junto com o de seus companheiros metros à baixo.

Com minha movimentação, nossas posições estavam invertidas e agora eu podia ver todo o beco. Atrás de meus alvos primários, minha mãe parecia ter finalizado o primeiro dos três ciclopes que enfrentara, sua poeira dourada se espalhando pelo chão do beco e agarrando-se nas frestas dos tijolos da loja. A lata de lixo parecia ter sido jogada contra a escada de emergência e a estrutura parecia prestes a se soltar do prédio, ameaçando cair sobre minha mãe.

Minha atenção se voltou para os dois que me encaravam furiosamente, ikhor dourado saindo de seus ferimentos recentes pressionando-os com as mãos, seus olhos únicos furiosos voltados em minha direção. Pareciam mais atentos, menos confiantes de sua superioridade numérica o que queria dizer que sua guarda estaria mais alta que antes. Precisava de uma distração e já sabia como a conseguiria.

Lancei um olhar conspiratório para trás deles, fiz sinal com a cabeça como se conversasse com o ar, mas eles sabiam que minha mãe estava atrás deles e era possível que ela tivesse terminado com os demais e agora vinha para um ataque surpresa pelas costas. Alarmados, eles olharam para trás. Perfeito.

Antes que a percepção de que se tratava de uma armadilha os alcançasse, finquei a falcata na dobra que deveria ser o pescoço do monstro, que se desfez em pó dourado, cobrindo meu campo de visão por não mais que um segundo. Tempo suficiente para tomar um soco desavisado no centro do peito que roubou o ar dos meus pulmões e me lançou sobre o duro asfalto. No segundo seguinte as mãos ensebadas estavam se fechando sobre minha traqueia, enquanto o pesado corpo da criatura prendia o meu no chão. Sua expressão era de contentamento, conforme meu rosto ganhava uma coloração tão avermelhada quanto meus cabelos. Achei que seria o fim, mas a ponta da lâmina de minha mãe atravessou o peito do ciclope e ele se desfez em poeira dourada.

Eu tossi freneticamente, enquanto minha mãe me puxava pela alça da mochila de volta ao beco, o que não fazia o menor sentido. Tínhamos liberado a passagem, não? Minha visão ainda estava bagunçada e meu organismo lutava para se recuperar da falta de oxigênio. Senti algo quente descer por minha garganta e imediatamente o calor se espalhou pelo meu corpo, fazendo meus sentidos voltarem a funcionar.  

Quando a terra parou de girar e meu ouvido de zunir, percebi que a entrada do beco estava novamente cercada, dessa vez por esqueletos vermelhos. Trajavam armaduras rubras, quase como se feitas de sangue, perigosamente armados. No buraco onde deveriam ficar seus olhos, um brilho sinistro nos encarava, como se prontos para tornar suas armaduras ainda mais rubras.

Minha mãe me arrastava para o portão de onde os ciclopes tinham saído e, mesmo quase morto, meu corpo respondia arrastando as pernas na intenção de ajudar minha mãe. Acima de nós, a escada parecia ter deslizado ainda um pouco mais desde a última vez que vi e o asfalto estava salpicado de poeira dourada. Acima da cerca, Homados nos encarava com um sorriso cruel.

Então, acho que ganhei o pique-pega. — Disse, estreitando seus olhos vermelhos na nossa direção. Estávamos perdidos.

Poderia muito bem ser confundido com um galã adolescente. Tinha cabelos louros encaracolados com cachos abertos que se acomodavam ao redor da coroa da coroa de flores vermelho sangue. Seus olhos rubros tinham uma intensidade arrebatadora e seu sorriso perfeito só servia para ornar o rosto com feições simétricas. Sua armadura vermelha parecia feita de um material desconhecido, mas estava ornada com notas musicais dançando por sobre as placas, como se fosse uma grande partitura escrita a sangue. As ombreiras da armadura eram adornadas com trombetas e, nas costas, a armadura estampava asas de querubim e eu sabia que não se tratavam apenas de adereços.

Homados era um makhai, um espírito da batalha. A maior parte das lendas o retratava como sendo apenas filho de Éris e, como seus irmãos, estavam sempre associados a batalhas violentas. Havia aparecido há uma semana atrás, quando quase me matara ao explodir a casa que havíamos alugado em Edison na Pensilvânia, onde escapamos por pouco de virar churrasco e, desde então, corríamos por nossas vidas em direção a Costa de Long Island, onde meu pai prometera que estaríamos seguros.

Agora que não tem mais saída, acho que finalmente podemos dar um fim a toda essa história, não é irmã? — Sorriu pra minha mãe. Era a segunda vez que ele a chamava de irmã. Eu chegara a questionar isso antes, mas minha mãe disse também não saber do que o makhai falava.

Parecia mesmo um beco sem saída, mas minha mente se recusou a desistir. Meus olhos procuraram uma rota de fuga e, ao verem a forma irregular com que a escada de incêndio se dependurava parcamente com um parafuso grosso que ameaçava se soltar com qualquer impacto, soube que ainda tínhamos chance.

Mãe. — A chamei, entre uma tosse e outra, minha voz ainda esganiçada por causa do recente trauma. — Ali — Apontei, enquanto me levantava.

Homados seguiu meu olhar, mas levou meio segundo a mais para entender o que eu estava pensando. Tarde demais. Um dos machados de arremesso da minha mãe já estava cravado na falha da estrutura. O ferro gemeu com a falta de equilíbrio e despencou no mesmo momento em que corremos para dentro do prédio, poeira subiu quando a escada desceu na direção da casa dos Sherman e eu tive a certeza de que agora eles não aceitariam meu pedido de desculpas mesmo.  

Não paramos. Sabíamos que aquilo tinha sido um pequeno contratempo para o Fragor da Batalha e atravessamos a velha fábrica abandonada com pressa. Aparentemente era alguma tecelagem de roupas, maquinas de costura estavam espalhadas por todo o local assim como tecidos já puídos e comidos por traças. Não paramos para assimilar muitos detalhes e minha mãe jogou uma das maquinas que conseguiu levantar por uma das janelas e saltamos para o lado de fora.

Um carro freou a nossa frente no exato momento que ouvimos passos pela fábrica abandonada. O motorista nos xingou. Nós olhamos um para o outro. Mais um delito para minha ficha criminal.

Minha mãe alcançou o motorista com uma velocidade singular, abrindo a porta, soltando o cinto e o tirando antes que ele pudesse reclamar. Deslizei pela janela do carona em um salto rápido, enquanto minha mãe acelerava na pista, o pneu cantando enquanto o veículo disparava pela avenida.  

Ao olhar para trás, vi quando Homados explodiu a parede da janela por onde havíamos saído e o prédio parecia vibrar, como se prestes a desmoronar. Atrás deles, uma horda de esqueletos se espalhava pela rua. Uma trombeta apareceu em sua mão e eu fiz um barulho indigno, quase como se fosse um cachorro cujo o rabo fora pisoteado por um transeunte.

Vira. Vira. Vira. — Foi o que consegui dizer, antes do som grave tomar aos meus ouvidos. Parecia tremer o mundo e minha mãe conseguiu virar em uma avenida, entrando na contra mão, no exato momento em que vidros se estilhaçaram e prédios velhos implodiram com a vibração das notas.

Costuramos pela rua loucamente, numa velocidade perigosíssima, mas conseguimos despistar o makhai. Ao menos era o que imaginávamos.

Mudança de planos — E virou em uma avenida tão rápido que meu estômago ficou no cruzamento. Estávamos em um sedã bem conservado, que possivelmente nunca tinha estado em ação antes, mas respondia bem aos comandos ensandecidos de Rosie, que parecia até uma piloto de fuga de uma gangue de ladrões de banco. Não. Nunca roubamos um banco. Ao menos, não que me lembre.

Como assim? — Ainda não sabia nem que planos estávamos seguindo, que dirá o que nele iria mudar.

Tenho que te levar para o acampamento agora — Ela disse, trocando de marcha com habilidade, enquanto o sedan costurava pelo trânsito com uma pressa renovada. Passamos por várias viaturas, mas ou elas nem conseguiam enxergar o carro, ou eram tão surpreendidas que quando pensavam em nos perseguir já havíamos virado a rua.

A fala da minha mãe me assustou. Ela estava considerando que eu chegaria a salvo no acampamento, não ela. Era como se estivesse aceitando sua última missão, o último objetivo de vida antes que sua vida se esvaísse. Eu a encarei sobressaltado, mas ela parecia ignorar completamente minha incredulidade.  

Em menos tempo do que imaginei ser possível, a paisagem mudara. A selva de pedra se transformara em propriedades maiores, cercada por verde. Minha mãe não diminuiu nem por um segundo, mas o indicador de gasolina estava baixando rapidamente. Não vimos outros monstros, nem mesmo conversamos muito sobre o que estava acontecendo. Avançávamos em silêncio em direção a Mountauk.

Mãe. — Eu disse, minha voz estava quase chorosa, mas eu aproveitei meu recente ferimento para disfarçar. Ela não me olhou, sua atenção voltada para a estrada, seu semblante imutável. — Você virá comigo, certo? — Meus olhos queriam lacrimejar, mas eu estava fazendo de tudo para me controlar. Ela não aprovaria esse tipo de comportamento.

Vou tentar. — Ela disse, a voz grave, mas eu podia jurar que existia um tremor em seu maxilar. — Mas se eu não conseguir...Eu te treinei para isso também. — Revelou e eu assenti, meus lábios tremiam, uma lágrima escorreu pelo meu olho esquerdo e, para minha surpresa, ela secou. Suas mãos eram calosas, com muitas lacerações e áspera como uma licha, mas nunca em minha vida tinha sentido tanta ternura em apenas um toque. Seus olhos estavam vermelhos. — Eu te treinei bem, certo...? — Era pra sair como uma afirmação, mas, por um segundo, ela ficou em dúvida.

Eu queria reclamar dos treinamentos, dizer que eram muito duros, que ela podia ter sido um pouco mais amorosa, ter me abraçado mais vezes...Ter me deixado dormir em sua cama quando os pesadelos começaram, ao invés de me fazer encarar a madrugada com medo seja lá do que estava espreitando embaixo da cama ou dentro do meu armário...Que queria ter feito amigos, ter brincado com eles, me mantido no mesmo lugar por tempo suficiente para me sentir parte de uma comunidade...E mais tantas outras coisas que um menino normal podia querer, mas...

Não poderia ter feito melhor. — Respondi, contendo a emoção.  

Escute, soldado. — Era raro ela me chamar dessa forma, mas quando fazia a intenção era clara: Não deveria ser questionada ou desobedecida. — Se eu der a ordem para correr, quero que não olhe para traz, não importa o que acontecer. — Ela disse, pensei em protestar, mas sua expressão não me permitiria. Ela levou sua mão até o painel e pegou sua falcata. — Esse é meu presente para você. Assim como o seu pai deixou a dele, eu também vou deixar a minha. — Minha visão embaçou quando eu peguei a falcata de ouro imperial e a guardei junto da minha. — Eu te amo! Assim como o seu pai! Não desperdice nossos esforços. — Ela falou e olhava diretamente para mim, esperando que eu mostrasse algum sinal de que a contrariava. Se encontrou, ignorou, pois voltou-se para a estrada satisfeita, acelerando enquanto as plantações passavam na nossa lateral como um raio.

Não demorou para que chegássemos a nosso destino. Minha mãe apontou para uma colina em que nos aproximávamos rapidamente. Parecia que finalmente estaríamos a salvo, mas não seria assim tão fácil.

A coisa atravessou na frente do carro com tanta velocidade que não deu tempo da minha mãe frear. Foi por puro reflexo que levei meus braços ao rosto, instantes antes de ser arremessado pelo vidro do sedan negro, rolando pela rua como se não tivesse ossos ou membros. Não tive tempo de gritar ou de me lamentar pelo acontecido, apenas esperei a inércia deixar de fazer efeito sobre o meu corpo. O que aconteceu quando eu já estava dentro de um arbusto selvagem.

Meu corpo reclamava e se recusava a se levantar, me dando como castigo a impotência de assistir a cena a minha frente sem poder, se quer, gritar contra o salafrário.

A tal coisa que havíamos batido era ninguém mais, ninguém menos, que o próprio Homados, com sua armadura vermelha e seu pequeno séquito de esqueletos vermelhos, que cercavam o corpo semiconsciente de minha mãe com pouca ou nenhuma cautela, já antevendo sua morte. O maldito deus olhou ao redor, provavelmente me procurando, mas o arbusto havia me coberto muito bem, muito mais do que eu gostaria. Estar visível poderia dividir a atenção de minha mãe e, talvez, com um novo plano engenhoso pudéssemos contornar aquela situação.

Acima de minha posição, eu podia ouvir os passos pesados de um grupo de pessoas. A julgar pelo cenário, provavelmente tratava-se da patrulha do acampamento que ouvira a confusão em seu território e viera averiguar, mas eu duvidava que pudessem fazer qualquer coisa contra o demônio.  

Minha mãe deve ter percebido que mais pessoas estavam para se juntar a festa, porque a vi abrir um sorriso louco, com um pino entre os dentes. Adivinhei o que se sucederia instantes antes de perder a consciência graças a um estilhaço da granada que voara na minha testa. Minha mãe havia se explodido.

***


Acordei na enfermaria do acampamento meio-sangue no dia seguinte, cercado por alguns curandeiros que pareciam felizes com minha recuperação. Minhas espadas, a lembrança de que meus pais existiram estavam no criado-mudo ao lado da minha cama, junto a mochila e as roupas maltrapilhas com que havia sido resgatado. Ah. E o trompete.

Quando inquerira sobre Homados, a equipe de patrulha dissera que não entrara nada no local da explosão, apenas um trompete que, a pessoa soubesse ou não, tocava a marcha fúnebre Meu nome estava gravado nele.


PS: Não me decidi ainda quem será meu progenitor divino, então pretendo ficar indefinido por um tempo. Pelo que entendi do sistema, vou precisar de pontos de perícia para avançar, por isso peço que se lembre de dar os que identificar na história.

#1

OP Livre - O Plano Empty Re: OP Livre - O Plano

por Hera 24/01/20, 11:07 am

Hera

Hera
Deusa Olimpiana
Deusa Olimpiana
Aprovada

Exp Recebida: 500
Dracmas Recebidos: 300
Item Recebido: Falcata Romana [Ouro Imperial]
Perícia com Espadas [Inicial] - 100


Observações: Gostaria de deixar bem claro que eu adorei! Não existiu ponto defeituoso, principalmente quando se trata de linguística e ambientação, você realmente tem talento pra isso.

Observações²: O único fator, entretanto, que teve influência na sua Exp e que poderia ser melhorado é a luta. Não vou dizer que não adorei, na verdade achei muito bem descrita e bem feita. Mas achei rápida demais, principalmente considerando que são dois ciclopes. Mesmo assim, ainda achei interessante ver você fazendo uso da Lore do personagem e de sua interação com a mãe, sendo assim não vi como um problema, apenas uma circunstância a ser levada em consideração na avaliação.

Observações³: Nunca gostei tanto de uma One-Post. Parabéns.



OP Livre - O Plano Sem_ty10
You keep me under your spell...
#2

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