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por Johan 05/11/23, 03:50 am

Johan

Johan
Filho(a) de Hefesto
Filho(a) de Hefesto
Uma nova vida, aquém de quaisquer expectativa que eu pudesse ter. Um local de muita dualidade ao meu ver. Um ambiente calmo e seguro, mas ao mesmo tempo sempre movimentado e barulhento. Não era assim por toda a parte, mas como pouco conhecia do local sendo um recém chegado, isso era tudo que eu havia observado até então.

-Então esse é o tal acampamento de que você falou mãe? - penso alto comigo mesmo, enquanto ficava deslumbrado com meus arredores - Sequer tive tempo de me despedir... será que voltaremos a nos ver? - meu humor varia entre a euforia de conhecer aquela nova realidade, e a saudade daquela que deixei para trás.

É de fato tudo muito surreal, mas ao mesmo tempo reconfortante. Todas aquelas coisas que eu ouvia e escutava, para além de qualquer explicação lógica, culminam no fato de que essa nova vida está muito além daquela lógica, da lógica mortal. Estou muito cansado, tanto fisicamente quanto mentalmente. Nunca sequer havia corrido perigo de vida até ontem, quando aquela aberração estava literalmente me caçando - tenho calafrios ao lembrar da cena.

Minha vida passa diante dos meus olhos, como se toda a informação das minhas memórias ressurgisse, como uma maneira de me lembrar de todas as vezes que tentei negar as coisas que via, os sussurros que eu escutava, os pesadelos que me assombravam... De repente tudo aquilo era demais para digerir naquele momento, algo que me drenou muito mais energia do que eu poderia imaginar.

Aqui somos agrupados de acordo com nossa ascendência, somos separados por Chalés: grandes casarões que serviam de acomodações para aqueles que eram meios-irmãos. Por esse lado me encontro parado em frente ao meu chalé, um local estranhamente cativante, como se sempre tivesse pertencido aquele lugar. Ainda não conseguia acreditar que era filho de Hefesto, e sequer sei quanto tempo demoraria até tudo aquilo se tornar realmente familiar, para além de um conforto, mas algo que eu pudesse de fato chamar de casa. Será que conseguiria um dia?

Conheço tão pouca gente aqui que posso contar nos dedos de uma só mão, e ainda sobrariam dedos. Não vi nenhum deles em meu chalé, o que indicava que nenhum deles era meus parentes. Mas isso não me incomoda realmente, afinal sempre quis saber como era ter irmãos, e agora parece que os tenho de sobra.

Percebo que estou divagando a tempo demais, já é tarde, talvez mais noite com que conseguiria perceber apenas pelo céu estrelado de uma noite de outono. Os ventos que traziam o presságio do inverno já assobiavam por ai, fazendo-me tremer um pouco a medida que se chocava com meu corpo e leves lufadas. Apesar de toda exaustão da fuga do dia anterior, e de tantas memórias da minha vida vindo a tona, minhas necessidades básicas falaram mais alto: estava faminto.

A caminho do refeitório, ao menos espero que estivesse indo ao local certo, vejo muitos outros campistas passarem por mim, mas estava absorto demais para prestar muito atenção em algum deles. O refeitório estava estranhamente vazio, talvez fosse ainda mais tarde do que eu esperava, mas ainda sim estava ali com um objetivo claro: saciar a minha fome. E assim o fiz, com pães macios, algumas salsichas, fatias de queijo e frutas. Tudo era novo, já havia comido tudo aquilo, mas não sabia como descrever aquele sabor como, por falta de palavras melhores, "mágico".

As chamas dos braseiros bruxuleavam pelo local. Me peguei encarando um deles e pensando em como eram magníficas aquelas chamas, aquela energia pura, de calor brando e acalentador. Me atrevi a movê-lo um pouco, e para minha surpresa, as labaredas dançaram de uma forma singular. Tudo aquilo era muito... muito... muito. Ao perceber que não conseguia mais sequer manter aquele pensamento, vejo que é hora de descansar e retorno ao meu chalé. Uma boa noite de sono me era merecida e necessária.

Acordei com o raiar do sol, frestas de luz esguias encontraram seu caminho até meus olhos. Normalmente me sentiria incomodado com aquilo, mas parece que o sono beneficiou também o meu humor, pelo menos um pouco.

Decidi que hoje era dia de explorar, mas antes disso precisava de um banho e uma refeição. De banho tomado, segui em direção ao refeitório, muito mais movimentado em comparação a noite anterior, mas fiz o que pude para não chamar atenção, ainda não estava exatamente confortável naquele lugar, ainda mais com tantos outros no local. Fiz minha refeição de forma rápida e discreta, ainda confuso com aquele sentimento, não me sentia bem para convívio social. Sigo para uma área mais reservada, uma floresta densa mas bela, imponente mas gentil. Nunca havia prestado atenção em como a natureza pode ser deslumbrante daquela forma.

Meu objetivo foi concluído de certa forma, explorei, mas o que exatamente eu faço no meio da floresta? Pensativo, vou adentrando ainda mais naquele mar de árvores, aproveitando enquanto a relva era baixa, quando me peguei todo tenso por puro reflexo. Olhei rapidamente de uma lado para o outro de maneira instintiva até ver um vulto correr por entre árvores, indo para um local de vegetação mais densa. Coço os olhos como quem não queria acreditar no que havia acontecido, claramente já fiz isso antes, mas agora que sei como tudo aquilo era estranhamente real, não pude deixar de ficar pendendo entra curiosidade e apreensão. Infelizmente a curiosidade tomou as rédeas do meu julgamento, e eu corri atrás daquilo, seja lá o que for.

Não entendi muito bem o que estava fazendo, mas quando me dei por conta, a vegetação já me tocava o joelho. Para alguém que sabia nada sobre aquele local, ou como sobreviver nele, meu instinto de sobrevivência me guiou para fora dali, ou pelo menos tentou, já que no momento que eu virei as costas para voltar por onde vim, algo se esbarrou em com rapidez, tropeçando em uma raíz, estava agora caído no chão com as mãos tateando a vegetação, e meus braços sustentando meu corpo para que não desse de cara com o chão.

Pânico. Era tudo que eu sentia naquela momento. Aquele não era um local seguro? Seria aquilo só algum tipo de trote? Sem tempo para ficar perdido em meus pensamentos aquilo voltou a se locomover por entre as árvores, de maneira mais ágil do que poderia compreender ainda meio em choque com a súbita realização de que eu corria perigo. Tentando me acalmar um pouco, levantei do chão e segurei meu martelo de forma que as pontas dos dedos estavam já esbranquiçadas, claramente usei uma força desproporcional com tamanha insegurança que tilintava naquela situação.

Focando na minha respiração tentando me recompor, percebi que algo ali estava estragado, um cheiro pútrido se apossou do meu olfato, o que me fez pensar se aquilo era o território de caça de alguma criatura, me fazendo ficar ainda mais inquieto: precisava sair dali imediatamente!

Na esperança de voltar ao acampamento, corri. Mas não como quem está se exercitando pelas manhãs. Corri como se minha vida dependesse disso, o que talvez não for apenas um cenário hipotético, já que aquela criatura, numa investida mais rápida do que eu consegui notar, me desferiu um golpe no braço esquerdo que fez um pouco de sangue escorrer da ferida.

Parei instintivamente de volta procurando a criatura de forma desesperada. O que quer que fosse aquilo, estava ciente de estava disposto a me matar. Buscando meus arredores de forma assustada porém com tamanha adrenalina que eu sequer sentia o arranhão em meu braço, tive pela primeira vez uma imagem que não fosse um borrão da criatura, esgueirada atrás de uma árvore: tinha a pele em carne viva, ou pelo menos havia carne ali apesar de pouca. Uma criatura que já me assombrou em meus pesadelos, algo que não havia explicação lógica para saber seu nome: um carniçal.

A criatura humanoide era ágil, porém exalava um cheiro forte de algo morto, a carne que havia ao redor dos ossos já não mais espesso que uma blusa leve de lá fina, e hoje já é algo quase decomposto por completo. Tinha olhos escarlate vívidos, e salivava loucamente o que me dera uma informação crucial: a criatura tinha fome, e eu era sua refeição.

- SOCORRO! - gritei com a maior força que consegui reunir em meus pulmões, mas algo em mim dizia que era um esforço inútil.

No instante seguinte na minha tentativa de clamar por ajuda, a criatura sumiu de minha vista, estava agora agilmente, me circulando, se refugiando por entre as arvores e arbustos. Mas aquele cheiro, aquele cheiro era dela, então talvez pudesse saber onde estava pela intensidade do fedor.

Enquanto tentava seguir a criatura pelo seu cheiro e pelo farfalhar de folhas, ela tomou a iniciativa em mais uma investida, dessa vez muito mais voraz, meu braço esquerdo agora tinha marcas de dentes, que latejavam de dor. A criatura faminta tentara dar início ao banquete. A medida que a dor atenuava, meu braço ficava dormente. Minha situação era ainda pior do que eu esperava: a criatura possuía algum tipo veneno paralisante.

Tentei reunir as poucas informações que eu tinha quase que instintivamente: era rápida, tinha um fedor pútrido, garras afiadas e dentes tão afiados quanto além de venenosos. Minha situação só piora a cada momento que passa. As folhas se agitam novamente e por reflexo balancei meu martelo meio sem jeito na direção do barulho e, antes mesmo que pudesse ver sua investida, ela aparou o golpe do meu martelo, que o mandaria aos ares se eu não estivesse segurando-o com tamanha força devido ao medo e adrenalina do momento.

A criatura sumira da minha visão novamente, mas me dando pouco tempo para reagir ela já vinha em minha direção novamente, porém dessa vez dando um golpe baixo. A criatura havia mordido a batata da minha perna direta, o que me levou a ajoelhar de dor, sem saber se ela havia apenas mordido ou arrancado um pedaço, como quem morde a carne para fora do osso de uma coxa de frango. Urro de dor e medo quando vejo a criatura saltar em minha direção e pular em cima de mim.

Arremessado para trás, agora com as costas contra uma árvore, a criatura estava determinada a provar mais do que apenas o meu sangue, fincando com força os dentes em meu braço esquerdo, me fazendo perder qualquer movimento do mesmo. O veneno muito intenso começara a se alastrar até meu ombro esquerdo, o que me deixava tempo nenhum para pensar, e assim não o fiz. Dei-lhe um murro já que meu martelo estava um pouco a frente, sequer percebi que o havia largado. Mas a criatura mordeu ainda mais forte que me fez ferver de dor, ódio e repulsa. O medo ainda estava presente, mas naquele instante não me era mais útil, precisava sobreviver a qualquer custo. Continuei socando a criatura que não cedia a minha tentativa inútil de livrar meu braço de sua abocanhada. No terceiro soco, sinto meu punho quente como a brasa da lareira, deixando uma marca queimada do meu punho em seu rosto. No quarto estava com o Punho em Chamas, o que fez eu finalmente me libertar da criatura que agora compartilhava um pouco da minha dor. Seu olho esquerdo agora carbonizado pelo meu golpe incandescente, mas a dor logo me obrigou a lembrá-la, como centenas de agulhas atravessando a minha carne, meu braço agora completamente paralisado com o veneno, me nutria um nível de dor que jamais havia sentido.

A criatura agora, além de faminta ensandecida de dor, veio correndo novamente na minha direção e num movimento involuntário, estiquei meu braço direito com palma aberta em sua direção afim de me defender, mesmo sabendo que pouco efetivo seria minha mão ante a criatura sedenta. Nos instantes que deram sequência, a criatura pulando em minha direção e eu esticando meu braço em sua direção numa tentativa fútil de defesa, lembrei da sensação das chamas em meu punho instantes atrás. Não foi uma alucinação, posso estar com medo, com dor, desesperado, mas acima de tudo estava são! Naquele momento lembrei o que eu era. Era um semideus, um filho de Hefesto, deus do fogo. Então como se o tempo tivesse dobrado e tudo se movia lentamente, uma bola de fogo se formou na palma de minha mão que logo seguiu em direção ao peito da criatura que a essa altura já estava no ar dando um bote faminto em minha direção.

Um estrondo, seguido por um urro estridente de dor, a criatura havia recebido um golpe direto e caiu para trás com o impacto repentino das chamas. No instante seguinte olhei para palma da minha mão, ainda incrédulo com o meu feito e fitei um anel no meu dedo indicador, algo incomum já que eu não usava anéis. Uma lembrança se fez presente em mim cabeça da espada que Satoru havia me dado anteontem. Transmutei o anel em uma espada, surpreendentemente leve, mas o momento de realização me custou a razão, a criatura estava com os dentes fincados no meu ombro direito, por pouco não era minha garganta.

O pânico foi tanto que não houve tempo para sentir dor, para me preocupar, para pensar em algo, para nada. Reagi de forma tão instintiva ao início daquela sensação de formigamento, que agora descia pelo meu braço direito e subia para o meu pescoço, fazendo com que fosse difícil de respirar normalmente, que quase parecia como um espasmo. Num floreio frio e rápido, recostando a cabeça para trás, a lâmina da espada atravessou o pescoço da criatura, que agora decepada, jazia morta em meu colo.

Não consegui conter minha consciência e logo desmaiei, não sabia dizer se por cansaço ou perda de sangue ou os dois.

Meu corpo estava dolorido, em especial minha perna direita, meu braço esquerdo e meu obro direito, que latejavam. Abri os olhos com dificuldade e me deparei com Angie ao lado da cama onde eu estava. Ela logo percebeu que eu havia despertado por me disse categoricamente:

-Você não deve se mexer, seus ferimentos eram profundos, apenas descanse. - o tom de sua voz era gentil e afável

Assenti com a cabeça e ela logo me ofereceu um frasco com um líquido vermelho:

-Tome essa poção, irá te ajudar.

Seguindo a instrução tomei a poção e logo em seguida ela pousou as mãos em meu braço esquerdo, e um calor reconfortante começou a emanar de suas mãos. Em poucos instantes fiquei deslumbrado com aquele milagre, já não sentia mais dor, e meus ferimentos: curados.

-Muito obrigado Angie - digo a ela com tom surpreso e aliviado - não sabia que a veria tão cedo depois que chegamos no acampamento, tampouco pensei que seria comigo acamado após sem emboscado por um carniçal. - digo com uma expressão derrotada

Não prestei atenção no que ela disse em seguida:

-Me desculpe não entendi. - disse a ela recobrando a minha atenção para nossa conversa.

-Quíron pediu que o encontrasse quando acordasse. - disse ela com um quê de incômodo por eu não ter prestado atenção em sua fala anterior.

Assenti e me levantei da cama e seguindo em direção a saída, olho para Angie uma última vez e digo:

-Obrigado pelos seus cuidado e hospitalidade. - Faço uma pequena reverência com a cabeça.

Sigo em direção ao escritório de Quíron. Observando o local a minha volta, mas distraído demais para focar em algo. Eram muitos os campistas que estava por la, indo e vindo de lugares que eu ainda nem imaginava, e talvez, devesse ir acompanhado para explorar. Dou um riso meio decepcionado com esse último pensamento, mas logo vejo que já cheguei ao meu destino. Quanto tempo eu estava perdido em meus pensamentos na frente da porta? Nunca saberia dizer.

Relatei a Quíron os meus infortúnios, com a quantidade de detalhes que julguei necessário para aquela formalidade, sendo interrogado de forma mais precisa em algumas partes quando o Centauro me fazia algumas perguntas. O processo for tedioso, mas ligeiramente rápido. Me despedi de Quíron e segui ao meu chalé, claramente precisava de um banho.

Carniçal:

Ativas:

#1

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por Hades 05/11/23, 08:50 am

Hades

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Deus Olimpiano
Deus Olimpiano
|One-Post Aceita|
Multiplicador-Base: 200
Experiência Recebida: 400
Dracmas Recebidos: 400
+ Dente de Carniçal [Venenoso][Item de Forja]

Excelente interpretação dos sentimentos de um come lixo recém-chegado. retratou bem as
dificuldades da niexperiência em uma batalha, com uma vitória ajudada pela sorte - o que
é bem clássico no começo da vida dos semideuses.

Interpretação: 2






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#2

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