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Fórum de Mitologia Grega baseado em Percy Jackson e os Olimpianos e Os Heróis do Olimpo!


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Born to Be Wild Empty Born to Be Wild

por Fiuk 19/11/14, 04:29 pm

Fiuk

Fiuk
Filho(a) de Febo
Filho(a) de Febo

    Formulário:
  • Nome da narração: Nascido pra ser selvagem.
  • Objetivo da narração: Escolta, proteção e amorzinho.
  • Quantidade de desafios: Dois ao meio da narração (2).
  • Quantidade de monstros: Um.
  • Espécie dos monstros: Succubus.


Eu sempre soube que queria ter um Harley e ser famoso. E no auge dos meus dezoito anos, eu já havia conquistado os dois.

Embora eu ainda não fosse exatamente o Axl Rose da minha geração, mas isso estava em progresso. Aquele dia havia sido chato, em meio todas as minha tarefas como pretor e exercícios como campista. Eu, mais do que ninguém, precisava manter a postura de disciplina e treinamentos rígidos, mas acontece que às vezes é bom colocar os pés para cima e fumar um cigarro em silêncio. É, eu sei, fumar é errado e cigarros são proibidos no acampamento, mas se você não contar, eu também não conto.

- James? - Uma voz estranhamente familiar chega aos meus ouvidos. De primeira, achei que era minha cabeça. Estava sozinho em meu próprio escritório. Além do fato de quase ninguém me chamar de outra coisa senão Fiuk. A voz persiste, entretanto: - James.

- Que? - Respondo desinteressado, apagando o cigarro no cinzeiro que havia ganho de minha mãe. É, eu sei que não é o melhor presente para uma mãe se dar ao filho, mas ela disse que eu me lembraria dela porque aquilo era o que ela foi por muito tempo: um depósito de cinzas. Eu achei besteira e não me importei, mas agora era impossível não me lembrar da coroa e sentir uma pontada de tristeza.

- Sou eu. - A voz respondeu, ainda sem rosto. Era feminina, pelo menos. Soltei um risinho com a sua resposta.

- "Sou eu" é a resposta que qualquer um pode dar, amor. - Procurei pela origem da voz, e não precisei me esforçar muito para encontrar, seu rosto era uma imagem num bolo de fumaça solta pelo meu cigarro. Era Julia. Eu reconhecia imediatamente pelo seu nome que me lembrava uma música dos Beatles. Filha de Afrodite (E não Vênus), da época em que eu, Saito e muitos outros ainda éramos do Acampamento Meio-Sangue. Ela sorriu pra mim assim que a encontrei, e o seu sorriso era como um poema de amor escrito com o coração partido. - Eu ouvi falar de você. Hollywood, não é? A nova Hannah Montana. - Pisquei.

- Não. - A resposta foi seca, e eu mereci. Eu realmente a acompanhava e ela estava se esforçando para construir uma carreira artística sólida. Não havia nada de enlatado ou superficial em seus papéis no cinema ou na televisão. Sempre roubava a cena. Mas quem não o faria com aquele sorriso? - Eu preciso da sua ajuda, Jim.

- Desculpe, amor. Eu sou pretor agora, não posso mais te buscar no meio da noite numa balada qualquer. - Eu sempre gostei especialmente dela por nunca me chamar de Fiuk. Era um apelido estúpido, afinal de contas. - Tenho responsabilidades.

- Você com responsabilidades? - Riu, e soava como a melodia de mil anjos em harmonia. - E agora também é monogâmico também? - Foi minha vez de rir. Não era sempre que se encontrava uma filha de Afrodite esperta assim.

- Vai se foder. É sério. - Ela não aceitou bem, a expressão de riso desfez-se em preocupação rapidamente.

- É sério também, Jimmy. Alguém tá me perseguindo, e manipular a névoa não está me ajudando. Não mais. - Não sorriu, e eu lamentei por isso. Eu realmente cruzaria a Califórnia até Los Angeles só para trazer de volta o seu sorriso, mas não era piada ou desculpa barata quando dizia que não podia. Pensei em silêncio por alguns segundos, enquanto amassava o cigarro sobre o cinzeiro.

- Eu realmente não posso, Jude. - Outro trocadilho com Beatles. - A não ser que... - E então uma lâmpada acendia dentro de minha cabeça. - Você contrate os serviços dos Sons of Anarchy.

- Ah... ótimo. - Ela revirou os olhos e passou a mão sobre o rosto. - Tudo é uma piada pra você?

- Não. É sério, os Sons existem. E nós temos um serviço sério de segurança... e qualquer outra coisa que você precise, desde que pague. - Eu sequer lembrava da minha guilda, embora desfilasse com o patch por aí, exibindo os dizeres de Presidente.

- Ah é? E quando foi o último contrato? - Ela sorriu, pois sabia que havia me pego. - E eu não vou te pagar pra me ajudar. Se não quiser, ótimo. - A mensagem de Íris lentamente se desfazia, então eu tive de gritar.

- NÃO. - Mas não a impediu de lentamente se esvair. - Eu vou até aí, não se mexa. - Podia ver aquele sorriso, que qualquer homem mataria para ter, nos últimos segundos ainda restantes da mensagem. - Você pode me pagar com um beijo. - Pude ouvir a ponta de uma risada, mas então acabou. Foi-se com o vento.

Eu poderia, e talvez deveria, te contar a minha história com Julia. Mas tudo o que você precisa saber, provavelmente já sacou pela nossa conversa acima. Não foi a minha primeira paixão, e certamente não a primeira namorada. Não havia sido o "primeiro" nada, mesmo que as pessoas gostem de dizer que o primeiro era sempre o mais importante. Mas não era. Eu lembro de quando nos beijamos e eu desejei que aquele fosse o último "primeiro beijo". Não foi. Infelizmente, a vida acontecia. E por mais mágico, mítico ou lendário que o nosso estilo de vida pudesse ser, ainda assim não era um conto de fadas. A sua provavelmente também não é. Mas essas ponderações realmente não importam. Tudo o que importa é que eu deixei um bilhete para Lupa e o meu colega Saito, dizendo que tinha um trabalho a fazer, montei a minha Harley e fiz com que o acampamento se tornasse uma imagem cada vez menor sobre o meu ombro. Eu não fazia ideia de onde ela estava, mas eu tinha o endereço de seu antigo apartamento em Los Angeles. Era improvável que ela ainda vivesse ali, mas eu enfrentei mais de cinco horas de viagem pela Califórnia sem pestanejar que a encontraria lá. Já havia anoitecido quando eu cheguei, e, era óbvio, que ela não estava. Chovia, só para piorar as coisas. Desliguei a moto, procurei cobertura sobre o toldo da pequena porta que dava aos velhos apartamentos e me abracei, procurando por calor. Como eu era estúpido. Tirei do bolso de minha jaqueta uma caixa molhada de cigarros e tirei um. Estava a ponto de acender, quando uma voz me surpreendeu:

-
Tem um pra mim? - No auge do meu desespero por calor (principalmente humano) e a ansiedade por vê-la, ouviu a sua voz. Mas quando levantei o olhar, não era sequer uma mulher quem estava na minha frente. Um sorriso da parte dele, e então uma dor indescritível. As estrelas desceram à terra, e tudo ficou escuro.

Estava sendo acordado por uma batida constante sobre minha cabeça. Não doía, mas irritava. Abri os olhos lentamente, e a luz mínima que penetrou minha visão já fazia arder. Mesmo com a completa ausência de força dos golpes aplicados sobre mim, minha cabeça doía como o inferno. Tentei me concentrar, mas não conseguia. Merda, mal conseguia abrir os olhos. Desejei que fosse só uma ressaca. Quando pude abrir metade de um dos meus olhos, esforcei-me para falar. Mas o som saiu ininteligível. Lentamente, os sentidos voltavam, se espreguiçando como um gato gordo e preguiçoso. O lugar não era dos mais limpos e estava úmido, mas, mesmo assim, algo cheirava bem. Minha audição lentamente clamava por atenção, um ruído muito parecido com o que eu tinha feito antes. As batidas pararam. O tato voltou pro completo, e eu senti algo móvel sobre minhas costas. Algo tampava minha boca, e haviam feito um bom nó no meu pulso. Assim, com a visão do quadro completo, me dei conta que tinha sido raptado. Ignorei o ruído às minhas costas por alguns momentos, tentando me lembrar do que tinha acontecido. Ah, Julia. Claro, que merda. Aquele perfume era dela. "Eu vou te cobrar um extra por isso", era tudo o que eu podia pensar. A boa notícia é que eu tinha força o suficiente para quebrar as amarras, embora estivessem bem firmes, eram como barbantes para uma fração da força emprestada por Zeus. A má era que eu não poderia fazer uma piada ou soltar uma frase de efeito. Uma grande oportunidade perdida.

Nos segundos seguintes, estava livre das amarras. Embora eu tivesse ficado quase tão forte quanto um filho de Marte por alguns segundos, minha pele ainda era macia como a de um bom filho de Apolo. Ardia onde as cordas foram arrebentadas. Libertei-me do tecido que cobria minha boca e me coloquei à soltar Julia. Mesmo sem ver a sua boca, os seus olhos sorriam. Tinham a mesma cor que seus cabelos, embora num tom brevemente divergente. Senti que estávamos perdidos. Um no olhar do outro. Durou só um segundo. Um segundo que, na verdade, deve ter sido uma eternidade, pois só fui desperto quando a porta se abriu. Reconheci, ainda que brevemente, aquele sujeito. Era alto, usava roupas bregas esportivas e não tinha cabelo. Os traços eram brutos e comuns do leste europeu. Era o mesmo que tinha me acertado na cabeça. E atrás dele, estavam mais cinco ou seis caras. E eu sequer tinha soltado Julia.

- Antes que a gente comece... - Levantei-me e estralei todos os dedos de minha mão. Não havia outras armas ali além destas. - Eu queria dizer que te daria um cigarro. - Ele sorriu.

A dança começou. Não precisava ser um detetive para sacar que aqueles caras eram capangas. Brutamontes que tinham o mesmo QI que um chimpanzé. Não serviriam para resolver um problema de segunda séria, mas brigar era a especialidade deles. E, bem, eles batiam forte. Vieram os sete como uma massa humana de suor, feromônios e testosterona. Tomei alguns socos na barriga, no queixo, no braço. Ficaria roxo por semanas. Eram desorganizados, entretanto. No meio da confusão, consegui ver um ou outro socar um companheiro por engano. Depois da primeira onda, eles se afastaram. Eu havia conseguido bater também, mas foi muito pouco se comparado ao que recebi. Tomei o único segundo que tive de descanso para respirar fundo, mas até respirar doía. Avancei, então. O maior dos capangas fez o mesmo, o que incentivou todos os outros. Gritava e corria como um maldito kamikaze pronto para explodir todos aqueles infelizes. Entretanto, aproveitei-me da lentidão de raciocínio deles para sair do caminho no último momento. Os três da frente tentaram parar, mas o resto, que estavam atrás, sequer perceberam. Caíram quase todos, uns enrolados nos outros. E eu não pude evitar de rir. Parecia uma cena de comédia besteirol. Um sequer tropeçou, era o último, e usou disso para avançar com fúria. Socou-me a bochecha direita e eu tinha a suspeita que tinha perdido um dente, ou pelo menos algum pedaço de um. Devolvi o soco. Não era conhecedor ou praticante de nenhuma arte marcial ou coisa parecida, mas os treinamentos de combate e a disciplina do Acampamento Júpiter fazia minha técnica ser muito superior ao babaca. Um soco no ponto certo e ele hesitou, dando espaço e tempo para um próximo ataque. Um chute rápido e com força na parte de trás do seu joelho. Ele se dobrava em dor, e então uma última pancada na cara. Não acordaria tão cedo. A dança continuo por alguns minutos. Eu terminei machucado, dolorido e sangrando. Mas eles terminaram no chão. Era justo, eu acho.

Foi só depois da adrenalina da batalha ter escapado completamente de meu corpo que lembrei de Julia, ainda amarrada. E ela não se agradou por ter deixado-a naquela condição, ainda mais fora da briga. Odiava ser a donzela em perigo. E aquilo só me fazia gostar mais.

- Obrigado, Jim. Por vir. - Ela finalmente disse, depois da discussão que eu prefiro que você fique de fora. As palavras saíram como um suspiro de quem finalmente encontra oxigênio depois de tanto tempo sem ar.

- No final, eu sempre venho, não é? - E sempre me arrependo também, mas decidi que essa parte ficaria só entre eu e você. Ela não precisava saber. - Quem são eles? - Eu geralmente gosto das pessoas, e meu carisma natural e indomável faz com que elas gostem de mim, mas eu definitivamente não gostava daqueles caras. Nos prenderam, me socaram e estavam à ponto de desmontar minha moto.

- Não me faça perguntas e eu não te conto mentiras. - Recitou, e eu sorri, mesmo não satisfeito. Ela sorriu de volta, e era ainda melhor do que antes fora. - Você vai me ajudar? - Perguntou depois de um longo tempo de silêncio, enquanto eu me certificava que estávamos sozinhos.

- Sim. - Embora eu não soubesse exatamente no que. Já me sentia parte do problema, e, de fato, devia ser. Era uma espécie de garagem ou mesmo a memória de uma oficina. Procurei pela chave da porta para trancar os capangas na sala em que nos prendeu, mas não achei nada além de alguns dólares em seus bolsos. Guardei-os para mim. Pedi ajuda de Julia para obstruir a porta com todos os móveis velhos possíveis e tirar os celulares deles. Às vezes perdia a força enquanto carregava, só de imaginar como teriam de fazer pra sair e a garota brigava comigo. Por que ela precisava ser tão séria?

- Hoje à noite... - Ela começou, mas foi interrompida pelo barulho metálico do portão de correr. Tinha finalmente terminado ali e poderíamos seguir, para onde quer que fosse o destino. Terminei de abrir e a encarei, esperando que continuasse: - Vai ter um baile. Eu preciso que você me ajuda com isso. Existe um cofre no escritório do anfitrião que tem algo que eu preciso. - Sorri enquanto vestia novamente a minha jaqueta, recuperando minha fiel faca de arremesso.

- Por que não ligou para o Saito? Ele é um ladrão melhor que eu, você sabe. - Foi a vez dela sorrir e colocar o cabelo por trás da orelha enquanto pegava o capacete e o colocava. Eu nunca usava, assim como quase sempre dispensava armaduras além de um peitoral simples. Viver perigosamente, é o meu lema. - E eu não estou vestido pra um baile, boneca.

- Ainda tem roupas suas na minha casa. - Foi a única resposta que eu tive, e, de alguma forma, eu senti que fosse o suficiente.

Eu queria ao menos dormir um pouco, mas passamos o resto da tarde repassando um plano maluco e tentando, de alguma forma, disfarçar todos os machucados que havia ganho pela manhã. Ela era boa nisso, ao menos. Eu nunca tinha visitado aquela casa, um loft em Hollywood, mas de fato havia roupas minhas. Uma gaveta com vestimentas que eu pensei ter perdido. Algumas tinha o seu cheiro, outras era só sabão em pó.

- Vamos repassar o plano. - Ela sugeriu, no banco de trás da limousine particular. Vestia um sobretudo branco para ocultar o seu traje, sequer me deixou ver.

- Que plano? Não é uma missão, e, mesmo se fosse, não temos um filho de Atena. Nós vamos entrar, eu vou descer o cacete em todo mundo e... - Dizia tudo sorrindo, sem olha-lha, enquanto alisava o terno com a mão. Era antigo e estava um pouco curto.

- Não em todo mundo. - Ela me interrompeu e isso me fez ter curiosidade, mas me contive. Ela não responderia, pelo menos não agora. - E você não vai bater em ninguém, vai...

- Vou me apresentar, causar uma confusão. Eu lembro do seu plano, coração. - Passei os dedos ternamente sobre a sua pele macia, e ela devolveu a caricia com o rosto e um sorriso.

- Pânico. Você quer causar pânico. Gritaria, desespero. Pessoas correndo. Enquanto eu dou meu jeito durante tudo isso.- Estávamos chegando, a limousine começa a parar lentamente e o sobretudo começa a se abrir revelando um decote.

- Então enquanto eu levo uma surra... você... - Eu realmente tinha algo para falar, mas me perdi com a visão do seu decote. É, as garotas tem esse efeito em mim.

- Ei, meus olhos estão aqui em cima, Jim. - Sorri e me recolhi no meu canto do banco, como se o banco fosse pequeno.

- É, é. Eu já te vi pelada antes. - Respondo, desviando o olhar para a janela, mas rapidamente minha atenção é roubada novamente pelo seu riso melódico.

- Mas eu não tô pelada. E isso... - Ela se livrou do sobretudo e revelava um vestido vermelho. - Isso você nunca viu. - E eu não poderia dizer se o vestido foi feito pra ela ou ela feita ao vestido, mas que ambos eram trabalhos divinos. Credo, isso soou extremamente gay, mesmo sendo algo pervertido.

Mas ela estava estonteante. Para algum desavisado poderia se passar pela imagem da própria mãe. Saímos da limousine de mãos dadas e nos receberam com gracejos, 'uau's e flashes. Seria matéria em todas as colunas de fofoca, e eu me sentia bem com isso. A melhor parte de sair com alguém tão bonita era contar vantagem, embora com Julia isso nunca aconteceu. Não sei dizer porque. Todos sabem o quanto eu gosto do som da minha própria voz e de relatar minhas conquistas.

Entramos no salão e eu logo fui capaz de reconhecer o organizador, mesmo não o encontrado por ali. Sergei Khitrova. Era famoso pelos seus filmes "americanos com todo o quê europeu" que era o delírio dos hipsters e babacas de todo o tipo. Se não me engano, minha mãe quase foi protagonista de um dos filmes, mas nutria um ódio ao homem. Naquele momento, eu quis ainda mais transformar aquela festa em uma balbúrdia. A banda tocava uma música animada, e os olhares rapidamente viam até nós. Eu beijei a mão de minha dama.

- Danse avec moi? - Devo admitir que gostei de sua expressão de surpresa com o meu francês, sorri como o cara que acabou de ganhar o mundo e me afastei, subindo até o palco. Dei uma última olhada para Julia e ela me encarava. Pisquei com um sorriso, e ela se foi. Era a minha deixa. - Amigão, será que eu posso tocar só uma música? - O homem tomou um susto me vendo, e foi correndo perguntar pra quem realmente tinha autoridade para autorizar. Voltou com um sorriso, liberando o palco para mim.

Não me preocupei em invocar a minha guitarra em pública, a névoa faria o seu trabalho. Ajustei o microfone à minha altura. Todos haviam interrompido a sua conversa e parado de dançar para me observar. Soltei alguns acordes, me certificando da afinação do instrumento e sorri ao público. - Tudo puta e veado. - Eles riram, e então a música começou.

No refrão "Go, go, Johnny, go/ Go, Johnny B. Goode" uma mensagem era passada. E as pessoas, até os executivos engravatados e gordos, dançavam como se não houvesse amanhã. Sem se importar com nada além da música e aquele momento. Teria de agradecer mais tarde o meu pai por aquele talento. Nem mesmo os seguranças e funcionários se seguraram, e observei Julia entrando em algum corredor agora com falha na segurança. Todos voltaram ao normal com o fim da canção e palmas que não pareciam ter fim me saudaram. Levantei a guitarra, que desapareceu depois de alguns segundos, e me sentia o maior rockstar do mundo. Tocava boa música, cativava multidões, saía no braço com os vilões e no final ficava com a garota. Eu era um herói de verdade, não era? Desci do palco, sendo elogiado por todos, não segurava o sorriso e algumas piadas. Alguns produtores me ofereceram papéis em filmes, e um havia dito que queria fazer o meu novo álbum, como se eu sequer já tivesse gravado algum. Tudo o que eu tinha era canções no youtube. Toda aquela massagem de ego era muito boa, mas o que eu realmente procurava era Julia e a sua resposta para minha pergunta em francês.

Encontrei então, no meio da multidão. Entretanto, não era ela. Tinha os cabelos louros e os olhos claros, e sorria de maneira provocante. Era um contraste gigante ao sorriso de meu par naquela noite. Aquele tinha malícia e até erótico. Não, mentira, era só o celular no meu bolso.

- Você é bom, Jimmy boy. - A voz excessivamente açucarada só me fazia a querer mais. Me aproximei e nossos corpos se colaram. Olhei em seus olhos e lentamente bailávamos ao som da música. Encostei a minha testa sobre a sua, e então senti a necessidade de seu beijo. Era o fim. Fechei os olhos e me entreguei ao paraíso.

Não. Um soco na minha cara e o barulho de um tapa com alguma força. Doeu, mas eu não havia sequer caído. Abri os olhos, esfregando a bochecha para aplacar a dor, e então lá estava Julia. O coração rosa ao seu ombro direito desnudo pareceu pulsar quando um chicote apareceu em suas mãos, e, com um movimento hábil, condenou a loura à perdição. Eu já não entendia. Duas gatas brigando por causa de mim era ok, mas se matarem? Era outro nível.

- Você é meu. - Ela disse, me batendo de novo, e depois um abraço. Quase pedi pra ela se decidir entre a violência ou o carinho, mas percebi que mataria todo o clima. - E é um babaca por ser pego por uma Succubus. - É, aquilo fazia sentido. Ela esticou-se para me beijar, mas o grito de "peguem ela" a fez errar o alvo e acertar o meu pescoço. Corríamos logo em seguida, e eu me perguntava como ela conseguia de salto alto.

Corremos por dois ou três quarteirões até acharmos um táxi. Os russos foram aplacados pela multidão de paparazzis e afins. Pelo menos agora a sorte estava ao nosso favor. E, finalmente, podíamos respirar tranquilos. Eu fiquei um tanto quanto bravo ao perceber o cofre em suas mãos. Era menor do que qualquer livro escrito pelo George R.R Martin, e não servia para guardar documentos também. Tudo isso por... aquilo?. Não importou, no final das contas. Ela beijou novamente o meu pescoço dentro do táxi, e eu achei estranho. Talvez ela não tenha errado da primeira vez.

- Você pode ir pro acampamento comigo. Nós podemos viver em Nova Roma, sabe? É legal por lá. - Eu queria ver novamente o seu sorriso iluminar o dia, mas não pude encara-la. Eu sabia qual seria a resposta, e não queria vê-la dizendo não. Ouvir já era demais.

- E sermos felizes para sempre? - Senti o seu calor se aproximando, e a carícia dos seus dedos nos meus cabelos. - Você não mudou nada, Jimmy. - E talvez fosse verdade. Naquele momento, eu voltei a ser o mesmo garoto de quatro anos atrás, que vivia no Acampamento Meio Sangue, achava que era imortal e que teria uma vida como a dos livros. Olhei para ela, finalmente, e ela não teve tempo de iluminar o mundo com o seu sorriso. Nos beijamos, e nada mais importava.


-


- Eu te ligo. - Era o que eu sempre dizia. Eu não podia ligar, pra início de conversa, não tinha telefones e isso atraia monstros. Mas eu daria o meu jeito. Ou não. Ou a vida passaria por cima dos meus planos e aquilo terminaria ali.

- Me dá uma carona até o centro da cidade? - Ela não precisava perguntar, e eu não precisei responder. Já encaixava o capacete como se fosse seu. E era.

- O que você tinha com Sergei? - Não sei porque aquilo agora. Agora já não importava, mas mesmo assim foi levado ao impulso de fazer a pergunta. Tive a noite toda para perguntar, mas estava com a boca cheia. Se é que me entendem.

- Ele... é meu tio. Eu sei, parece O Poderoso Chefão, mas ele controla o crime organizado em toda Califórnia. Meu pai era o braço direito dele, burro como uma porta, mas esculpido pelos anjos. Não daria um bom pai, minha mãe devia saber disso, e certamente não era um bom amante para além de uma noite. Mas eu acho que às vezes até uma deusa pode descobrir que se sente insegura e solitária. É... desumano e nojento o que eles fazem com as pessoas. - Então, no final das contas, Julia Khitrova abraçou a minha cintura, esperando que eu dessa partida. Mas eu ainda tinha mais uma pergunta.

- E o que tinha naquele cofre tão pequeno? - Perguntei, olhando por cima do ombro. Ela mantinha aquele sorriso.

- Não me faça perguntas e eu não te conto mentiras.

E com seus cabelos ruivos ao vento, ela se agarrava em mim como se eu fosse tudo o que ela precisava, como uma última folha numa árvore morta. Montávamos em minha Harley pelas ruas de Los Angeles e éramos perfeitos. Duas metades de um mesmo erro. Nós poderíamos derrotar o mundo. Éramos heróis, mas só por um dia.


6000 XP - 4500 Dracmas

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