Mantinha os dedos ao redor da minha flauta, minha tigresa, Happy, deitava ao meu lado enquanto o clima de melancolia prevalecia. Estava em uma parte desconhecida por muitos da floresta, sentado sobre um penhasco com uma cachoeira metros ao meu lado, que em um tecido azulado e frio, caía até onde a visão poderia alcançar. Conseguia ouvir as ninfas sussurrando atrás de mim, coisas como "Sátiro esquisito" e "Guardião inútil". Meu cabelo era bagunçado pelo vento, que parecia me empurrar do penhasco, como se sussurrasse que eu deveria morrer de uma vez. Afastando tais pensamentos da mente, coloquei os lábios nas fissuras da flauta e toquei com toda minha experiência e calor, colocando todo meu sentimento na música.



Ao terminar... A floresta me abraça, como em uma união breve entre meus sentimentos e os espíritos antigos, que iam além das ninfas que eu encontrava atualmente. Uma chama de Paz acendeu dentro de mim e sorri, naquele momento eu poderia dizer com fervor que era feliz, até o instante em que as memórias estraçalharam novamente meu coração com o motivo de eu estar ali. Havia recebido uma mensagem, as ninfas que me criaram haviam morrido, anciãs tão fortes e belas, falecendo por causas que eu não sabia quais eram.

Mas de algo eu tinha certeza, suas mortes foram causadas pela minha fraqueza. Não fui capaz de ir lá e protegê-las, eu fora incapaz de provar que havia me tornado alguém respeitável. Eu falhei. Sempre me ensinaram a manter a paz acima de qualquer coisa, que uma música ao lado de amigos poderia por fim a guerras consideradas imparáveis. Ensinavam-me que as trevas nascem em uma criatura, quando ela decide erguer uma arma contra outros. Nesse momento, a luz que guiaria a vida de um ser, se tornaria fraca e vaga.

-- Infelizmente... -- Disse fazendo um símbolo com 3 dedos em forma de garra sobre meu peito. -- A luz não mais existe... É o momento de abraçar a escuridão -- Perfurei superficialmente a pele do peito com os dedos, deixando realmente uma cicatriz de garra sobre ele. -- Me tornarei mais forte... Juro pelo Rio Estige.

Vaguei pela floresta, em busca de desafio...

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A sensação de dominância me deixava em êxtase! Ele gritava de dor e medo enquanto eu lentamente abria suas tripas com a espada, mantendo seu corpo imóvel. Segurava-o pelo pescoço enquanto puxava parte dos seus órgãos para fora antes que ele morresse... Já estava completamente suja de sangue. Meus braços cheiravam a podre com o líquido quente e viscoso que escorria pela minha pele.

-- Aguente firme!!!! Me diga! Me diga!!! -- Um sorriso cruel dançou pelo meu rosto quando larguei a espada e com um rápido movimento, perfurei seu peito arrancando fora o pequeno e frágil coração do coelho, devorando ali mesmo, enquanto batia na minha boca e garganta. Fazendo a criatura soltar um último guincho de dor. -- Você... Tem medo de mim? -- Perguntei, como se obrigasse o cadáver do animal a me responder.

Ouvia os sussurros das pessoas, as que observavam aos poucos criavam uma roda ao meu redor enquanto comentavam com voz assustada. "Ela é Louca!!" Pareciam não ter criatividade alguma para ofender alguém. Após a euforia abandonar minha mente, eu voltei a me tornar a garota frágil, tímida e gentil, pouco tempo antes de Quíron aparecer em minha frente devido ao chamado dos observadores.

Mesmo acompanhando o Centauro, as pessoas me olhavam de forma que fazia eu me sentir um monstro... Com as bochechas infladas de ar, como uma criança comum fazendo birra, lágrimas encharcaram meus olhos. Não era culpa minha ser dessa forma, eu apenas tinha... Uma personalidade que não controlava. Era tudo culpa de Phobos!! Se ele não houvesse feito-me, eu jamais machucaria pessoas ou, coelhos como aconteceu hoje. Eu vivia na beira do precipício em que vivia a loucura, o medo dos que eu encontrava pelo caminho era um empurrão forte demais para resistir. Eu simplesmente era assim!

O coordenador pediu que eu tomasse um banho, e o fiz. Deixando a banheira vermelha em uma mistura de sangue e água. Coloquei um vestido infantil gótico, e ele me repreendeu, disse que precisava descontar essa sede de sangue em inimigos que realmente apresentassem ameaça para ela e seus amigos. "Amigos", a única coisa que ela sabia sobre esse tipo de relacionamento, era a palavra, sequer entendia seu significado. Então Quíron disse com a voz firme.

-- Lire, para que você possa conhecer melhor o acampamento sugiro que hoje, no lugar do treino de espadas você fique um pouco em uma de nossas atribuições para arrecadar verba: a plantação de morangos. Para te fazer companhia pedi que Ryan te encontrasse lá em 30 minutos. -- Ele sorriu, mas pude ver a apreensão em seu rosto. Não estava sendo enviada para conhecer o acampamento. Estava sendo vigiada.

Caminhei ao encontro daquele garoto, fui até a plantação de morango e esperei os 30 minutos.

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O acampamento andava pacífico. A floresta, que servia de cortina para um mundo sombrio e perigoso dentro do acampamento, era um dos locais que mais me lembravam de casa. Sabia que eu poderia ter escolhido um lugar mais belo para passar as tardes, agarrando-me às memórias. Mas a escuridão oculta pela grande quantidade de árvores, me lembrava dos mistérios que guardava meu pai.

Quando eu era criança, ele me ensinava a tratar as plantas como seres com alma e sentimentos, sendo delicado ao cuidar de cada folha e flor. Meu pai amava apenas eu, acima das plantas, talvez fosse daí que o amor entre ele e Deméter surgiu. Pensar nisso fazia eu me sentir bem, até que Quíron me encontrou e pediu para cuidar de uma garota filha de Phobos. Aceitei, marcando para nos encontrarmos na plantação de morangos em 30 minutos.

Durante todo esse tempo eu continuei viajando, até perceber que havia perdido as horas. Me levantei, e corri na direção da plantação, ao chegar lá a garota já esperava. Era uma criança de vestido negro, que encarava estaticamente o céu. Ela não parecia ser uma filha de Phobos, muito pelo contrário, eu poderia confundir ela com uma das descendentes de Hécate ou de Afrodite, mas com o tempo aprendi a não duvidar das diferenças entre os descendentes das divindades.

No começo, tratei ela com timidez, e durante todo o tempo que passamos ali, ela não abriu a boca para nada, a não ser quando pedi que ela cuidasse de um jovem ramo, que estava em um vasinho, pronto para crescer. Ela regava-o com cautela e um sorriso gentil no rosto, parecia realmente determinada a cuidar da plantinha quando me aproximei.

-- Você gostou dela? -- Perguntei com um sorriso, e ela respondeu com um aceno de cabeça. Utilizando minhas habilidades como descendente da Deusa da Agricultura, falei com a planta e disse. -- Ela também gosta de você. -- Após eu falar isso, a garota ficou com as bochechas coradas.

Cuidei dela por um tempo, até que o gosto de sangue escorreu como néctar pela minha língua. Havia um tempo que eu não ia na Arena, e só de pensar nela o desejo de visitá-la parecia ficar constante. Mas tinha que cuidar da garota, droga!!

Sabendo das consequências que enfrentaria com Quíron, fui até a filha de Phobos e com um sorriso mais gentil que poderia forjar, perguntei para ela.

-- Deseja visitar a arena comigo... Lire? -- A garota assentiu.

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