Os ventos cantavam com os pássaros, mas não havia felicidade nisso. Não passava de um lamurio distante das aves que uma última vez emitiam sons, e caiam podres no solo quente. Na terra, as plantas cadavéricas cabisbaixas mostravam melancolia enquanto se rebaixavam perante o sol raivoso. A fúria dos céus era inigualável, nem as nuvens ousavam se colocar em seu caminho. Os uivos de dores das ninfas ecoavam pela floresta agora banhada de luz, como se clamassem por água. E o mar do acampamento meio-sangue parecia fugir para baixo da terra.
O chalé de Quione era o lugar mais refrescante de toda Nova York, e mesmo assim não parecia resistir aos malditos raios solares. Os únicos alegres com isso eram os filhos de Apolo, que gargalhavam e festejavam como se tivessem o diabo no corpo. Mas a realidade era que eles sempre foram assim, meio largados na vida. Desligados para o que tinha ao seu redor. Apesar de sempre estarem a disposição quando alguém estava ferido, tirando Enzo, o peixinho solitário, eles eram muito felizes.
Dentro da casa para os filhos do Deus do Sol, Alice festejava com seus irmãos, bebendo chá ao invés de refrigerante e bebidas alcoólicas. Mesmo se ela quisesse, não pegaria uma taça de vinho sem ser repreendida pelos seus irmãos. Ela sempre foi, e parecia ser destinada a sempre ser a queridinha do acampamento, como a criança que jamais se tornaria adulta. A anjinha. Cabia a ela decidir como se sentia perante isso, afinal, uma criança não conseguiria atirar uma flecha a quilômetros de distância.
Mas o céu sabia, Apolo conhecia a filha mais do que ninguém pois centenas de vezes a sua luz a alimentava e salvava durante as batalhas. E talvez, a fúria desse dia fosse ele dizendo “Alice, vai lá e mostra pra eles que você é forte demais pra esses machistas otários”. Ou talvez “Terminei com a namorada e quero parecer machão, mas vai lá e luta mesmo assim”. Ninguém saberia dizer, afinal, nada é mais imprevisível que o deus do Sol.
Alice pegou seus equipamentos e subiu a colina na direção da arena, passando pelos chalés quase derretidos – Alguns, como o de Quione e Poseidon, pareciam estar derretendo – e diante da grande porta de metal ela se preparou para lutar.
Ao entrar na Arena, deu de cara com o deserto arenoso e seco, sem nenhuma sombra e rodeado por cadeiras fantasmas. O portão do outro lado da área com 50 metros de diâmetro parecia não ser afetado pelo calor excruciante. Então, em um baque surdo e o som enferrujado de correntes movendo engrenagens quebradas, o vento se amedrontou e fugiu.
Por um instante, a garota sentiu como se todo o ar desaparecesse do mundo e tomasse a forma de uma adaga perfurando suas costas. Mas notou, que era apenas uma impressão causada por aquilo que atravessava os portões.
Com a benção das trevas, os portões apodreceram. Como uvas podres eles murcharam, caíram e se tornaram pó. Antes que os portões atrás dela se fechassem, um garoto atravessou correndo inundando a arena com uma leve aura refrescante. Ela encarou seu rosto com desgosto, quase vomitando com a repugnância do homem. Era óbvio que era um filho de Poseidon, não que ela tivesse preconceito mas... Bem, ele era homem.
Os dois mantiveram sua atenção nas portas podres, e da escuridão. Uma criatura rastejou das profundezas do inferno. Seus olhos eram tão profundos como um abismo do tártaro. Eles se viram diante de um dos reis das trevas, ou ao menos era o que parecia... Alice se lembrou de Taylor, sua amiga ceifadora falando sobre demônios, e a imagem em sua frente era a descrição exata, porém mais assustadora, de belzebu.
O medo fez os campistas estremecerem. E o solo fez o mesmo, criando rachaduras ao redor dos dois. Delas, dois pilares negros se ergueram com um forte zumbido... Eram mais que isso, era um enxame de moscas.
- Enemy:
Belzebu – 100 hp (10 metros deles)
Moscas – 100 % (cercando-os)