Kadie começa a tentar transfigurar os espinhos, porém pelo tamanho deles, sentiu que não conseguiria terminar de mudá-los a tempo, então se joga para trás do táxi bem a tempo de ver cada espinho afundando muito na terra. Sem dar tempo para o golem pensar muito, a garota invoca uma lança de fogo em suas costas, espalhando as chamas com suas habilidades. Porém algo que ela não esperava aconteceu. Assim que o Golem gritou de dor, um jato de água sai do meio da floresta e atinge suas costas, apagando todo o fogo em segundos. Com fumaça saindo das costas, o Golem dá um imenso rugido e enfia ambas as mãos no chão. Graças à sua descendência de plutão, Kadie sabe que a terra embaixo dela está se remexendo inteira.
Todas as vezes que eu me levantava da cama, me perguntava se valia a pena viver. Se a vida tinha sentido ou sabor, e se tinha, por que eu não consigo sentir? Eu sabia a resposta. Ela estava no fundo do meu coração, plantada na minha mente como uma semente açucarada e brilhante, um diamante perdido... Mas eu não conseguia alcança-la. Porque eu não tinha atitude, não era capaz de seguir em frente por mim mesma. Pois sou uma covarde que se esconde atrás de lágrimas e da dor, buscando proteção atrás das outras pessoas. Talvez haja mais dor que a minha no mundo, talvez exista maior sofrimento, mas eu não conseguia admitir que havia dor maior que a minha, pois ela doía, era uma faca nas entranhas da minha alma, e eu não conseguia gritar, ninguém me ouvia... Por isso doía. Doía pois eu me sentia incapaz, me sentia fraca. Doía pois as minhas lágrimas caiam e ninguém secava elas, doía porque eu estava enfrentando ela sozinha... Doía, porque eu lutava uma batalha que não podia vencer. E no fim de tudo, ninguém lembraria de mim, mesmo comigo fazendo meu melhor.
O que eu podia fazer além de rastejar e chorar? Me levantar era inútil, pois eu seria derrubada novamente. Lutar era desnecessário, pois no fim das contas eu ia perder de qualquer jeito. E se vencesse, quem ligaria? Não há beleza na vida, e nem na história que escrevemos, pois a caneta pinta uma folha rasgada e suja e seus traços são incertos e muitas vezes indefinidos. Mas temos que continuar escrevendo, até os dedos quebrarem, até não ter mais tinta e as unhas sangrarem. E mesmo assim doía. Não era físico, nem dentro de mim. Doía por ninguém segurar minha mão, por ninguém entender a letra que minha alma expressava. Doía porque minha única acompanhante era a minha caneta. Só ela viu minhas lágrimas, só ela entendia que eu não escolhi chorar, simplesmente aconteceu. Eu não podia lutar contra o grito que vinha dentro de mim, e como não tinha ninguém para ouvir ele eu gritava... Mas ninguém ouvia, e isso doía.
Saí de meu esconderijo, os músculos contorcidos e Lissa me provocando no fundo da alma. Minha Fênix voava desajeitada próxima à mim, ainda não tinha idade para voar perfeitamente bem mas ela tentava. Suas asas lutavam contra o vento para se manter acima do chão, ela lutava para não cair, e mesmo se caísse lutava novamente para sair dele, não importando quantas vezes ela caía. Olhei para o golem, puxando da cintura a espada negra de ferro estígio, os olhos tristes e pesados... Não era a garota amaldiçoada por Lissa quem estava ali agora, não a filha de Plutão chamada de Louca. Era a Kadie, a garota irmã de Gean, que passou a infância em uma casa simples e que adora chocolate, a que continua escrevendo e continua lutando.
- Por favor... - Falei para a criatura de madeira. O olhar perdido 5 anos atrás, na última vez que olhei para casa com um sorriso, me despedindo de minha mãe... Era vago, mas eu lembrava daquilo com carinho. - Lembre-se de mim.
Não havia raiva no meu olhar, nem rivalidade. Tentava sobreviver, me preparando para desviar de sua tentativa de fazer o mesmo, vindo ela de baixo da terra ou do ar. E fiz uma |Fenda do Tártaro| surgir em baixo dos seus pés. Sentia muito pelo golem, se isso funcionasse ele acabaria passando um longo tempo no Tártaro. Mas eu tinha que continuar escrevendo, não podia deixar ele tirar a caneta de mim.
Nível 7 - Fenda do Tártaro: O personagem abre uma fenda no chão que suga os inimigos para o Tártaro, deixando uma marca no chão. O uso desta habilidade requer 60 pontos de energia. A habilidade entrará em espera durante 7 turnos.
Fraquejando, ignorando seus instintos primais dizendo para Kadie sair dali, a semideusa faz o que tinha que fazer... O que todos os heróis são destinados a fazer. Mesmo com peso na consciência, a heroína destrói o inimigo. Mas não havia glória, não ali naquele momento.
Com um único movimento, Kadie manda seu oponente direto para o tartaro, com um buraco tão profundo quanto o vazio em seu coração.
Ninguém saberia que o golem tinha morrido, apenas Kadie...
E o dono do golem.
Um milésimo de segundo separou a alegria vazia da vitória para o desespero do desconhecido. Do chão brotam fortes raízes de madeira prendendo os pulsos, calcanhares e cintura da semideusa.
Do fundo da floresta, vem um comentário sarcástico 'Acabou com o meu bichano é? Sabia que eu fiquei acumulando poder por 3 dias e noites para invocá-lo?'
Caminhando lentamente, um homem com um sobretudo roxo e uma cartola verde sai das profundezas da floresta, caminhando em linha reta na direção da Kadie, passando por cima da cicatriz que a fenda tinha deixado no solo.
Ao chegar a 5 metros da semideusa, o homem desconhecido estala os dedos e um trono de madeira emerge do chão. Sentando-se confortavelmente, o homem pergunta para Kadie 'Qual seu nome querida, e o que faz pegando um táxi de minha companhia?'
O desafio mais fácil já havia sido superado, e quando pensei que já poderia ir embora o inesperado surge do inferno para me atormentar. Mesmo com minha capacidade de sentir o que tem em baixo da terra eu fui incapaz de ver as raízes surgindo para me prender enquanto um homem de cartola e sobretudo, ambos coloridos, surge do meio da floresta com um jeito descontraído de falar e agir.
- Acabou com o meu bichano é? Sabia que eu fiquei acumulando poder por 3 dias e noites para invocá-lo? - Não fiquei com medo, nem nervosa, apenas encarei seus olhos na estrada solitária. Como se ele não pudesse fazer nada comigo e eu não tivesse preocupação nenhuma, na verdade eu realmente não tinha.
- 3 dias? Você deve ser um mago MUITO ruim, pois eu invoco um em apenas alguns segundos se eu quiser. - Falei com um sorriso no rosto, imitando as feições irritantes que via diariamente quando convivia no Acampamento Júpiter, o sorriso sarcástico e piadista de Saito.
Com um estalo de dedos um trono se ergue do solo em minha frente, e o homem se posiciona como um rei. Será que ele sabia que meu pai também era um? Acho que deixaria ele descobrir. Assoprei a mecha irritante de cabelo para tirá-la da frente dos olhos enquanto assistia ao show inútil do que me parecia ser um feiticeiro.
- Qual seu nome querida, e o que faz pegando um táxi de minha companhia?
- Nunca ouviu falar que é falta de educação perguntar o nome dos outros, sem se apresentar?
Ao ver o sorriso de escárnio de seu oponente, Kadie começa a dialogar. '- 3 dias? Você deve ser um mago MUITO ruim, pois eu inv...' A semideusa nunca terminou essa frase. Em um segundo, a madeira que prendia seu pulso direito dá uma forçada, fazendo com que o pulso da garota seja quebrado. O grito de dor é capaz de afugentar alguns corvos que estavam ali nas redondezas.
Com uma risada sonora, o homem se ajeita mais no trono, ficando quase que deitado no mesmo.
'Ah, você quer saber meu nome? Bem... Você me conhece melhor que qualquer outra pessoa no mundo, apenas não admite... Vamos lá, teremos muito tempo nessa floresta, quer conversar o que nesse meio tempo?'
As raízes simplesmente quebraram o meu pulso. E com o corpo reagindo a minha voz se ergueu ao ponto de ecoar em um grito agudo pela floresta ao redor. A garganta chegou a arder com o esforço da voz, e meu pulso quebrado parecia ser a pior das dores que uma filha de Plutão poderia sentir. E enquanto eu ainda gritava o homem na minha frente ria, alto e forte.
- Ah, você quer saber meu nome? Bem... Você me conhece melhor que qualquer outra pessoa no mundo, apenas não admite... Vamos lá, teremos muito tempo nessa floresta, quer conversar o que nesse meio tempo?
Eu ainda gritava quando ele terminou de falar, com o rosto virado para o alto com a dor, mas bastaram alguns segundos para meu grito se revelar ser nada mais, nada menos que uma gargalhada, de pura diversão com a dor. Meus músculos, apesar de fracos, se contorceram entre as raízes enquanto ele encarava a minha versão sádica. Lissa havia despertado, não tomou o controle, apenas abriu os olhos dentro de mim. E ela estava animada. Será que ele via os meus olhos mudando? A esmeralda se manchando de sangue?
- Hahaha, você é engraçado. - O sorriso estava estampado, e se ele tentasse me causar dor ele só aumentaria. Não era algo que eu controlava, ele estava lá pois a Deusa da Loucura se pôs presente. E então, encarei-o com os olhos vermelhos. - Que tal falar sobre você? Como posso te conhecer tanto se nem sabe seu nome, e nem você o meu?
Sem se deixar abater frente à versão possessa de Kadie, o homem de cartola apenas estica suas costas para trás e se acaba de gargalhar.
Ao ouvir a demônia falando, o homem apenas diz: 'Ha, eu sei que sou engraçado... E quem disse que você me conhece? Embora eu saiba muito sobre você, espero que você nunca saiba de mim.'
Com um olhar travesso, o homem fica curvado com os cotovelos em cima dos joelhos, olhando fixamente para Kadie com um olhar de escárnio.
Era estranho conversar com esse cara, ele se achava demais. Fazia pose demais, quando na verdade era só um bostinha engomadinho. Ele acha que sabe de tudo? Será que ele sabia que eu podia simplesmente invocar fogo negro e me soltar a hora que quiser? Que eu podia simplesmente incinerar o seu troninho de madeira? Não era um Deus, nem nada demais, já que precisou de 3 dias para invocar um Golem. Ele achava que estava brincando comigo, quando na verdade era só uma descontração no meio da minha missão, para tirar uma gargalhada aqui e ali.
- Ha, eu sei que sou engraçado... E quem disse que você me conhece? Embora eu saiba muito sobre você, espero que você nunca saiba de mim.
- Você é bem enrolado. Mas se sabe tanto de mim, com certeza sabe que você está interferindo em uma missão do próprio rei do submundo não é? Ou será que você só sabe se achar em um troninho de madeira?
Nível 5 – Regeneração gradual de Energia: Mesmo sem a interferência da luz da lua nova, os filhos de Magia conseguem recuperar suas energias mais rapidamente. Recebem 5 de Energia por rodada.
'Hmm... Rei do submundo? Conheço aquele otário, me deve uma cerveja.'
O homem faz uma cara de pensativo, alternando seu semblante logo em seguida, e dizendo para a semideusa: 'Fiquei bem triste que você disse que eu sou um mago ruim. Sou bom o suficiente para prender essa monstra que habita dentro de você nas profundezas do seu cérebro, para que possamos conversar só nós dois... Quer ver?'
Com um estalo de dedos, Kadie sente sua visão ficando mais limpa, e parece que um peso do tamanho do mundo sai de suas costas.
Se levantando do trono, o homem vai na direção da garota e diz 'Eaí, ta melhor agora? Podemos conversar? Quais as novidades? Faz tempo que não nos falamos.'
Kadie consegue perceber, pelo canto do olho, o céu ficando mais claro, as folhas das árvores ficando mais verdes e alguns animais andando pela floresta, assim que o desconhecido estala os dedos.
– Hmm... Rei do submundo? Conheço aquele otário, me deve uma cerveja. – Ele falava de forma simples, como se meu pai fosse um ser insignificante ou talvez de mesmo nível que ele. – Fiquei bem triste que você disse que eu sou um mago ruim. Sou bom o suficiente para prender essa monstra que habita dentro de você nas profundezas do seu cérebro, para que possamos conversar só nós dois... Quer ver?
Se um dia você carregar uma rocha enorme nas costas, vai sentir todo o peso esmagando suas costas e acabando com sua energia. Com o tempo e o passar de mais dias o peso da rocha vai continuar ali, mas você aprende a ignorá-lo e conviver com ele. Até que depois de uns anos, ele se torna insignificante apesar de ainda estar ali, pesando e atrapalhando sua vida. Quando o mago estalou os dedos, foi como se essa rocha fosse tirada das minhas costas instantaneamente.
Eu já havia esquecido como era ser normal, como era não ter uma louca gritando na sua mente o tempo inteiro, um animal rasgando o crânio por dentro enquanto ansiava por liberdade. Por isso meu corpo vacilou por um tempo, minhas pernas pareciam mais leves, minha cabeça mais silenciosa. Isso era o que eu buscava desde que entrei no Acampamento Júpiter, desde que descobri o mundo semideus.
Para o mago, talvez isso não tivesse muito significado, mas foi o suficiente pra me fazer chorar imediatamente. Assim que Lissa se silenciou na minha mente, as memórias de tudo que fiz quando dominada por ela vieram à tona. Eu era um monstro, uma criatura que deveria ser sacrificada. Eu devia ficar no submundo, onde eu realmente pertenço.
Mas apesar de estar atordoada pelo que acabara de acontecer, ainda me impressionei pelo mago, ele foi capaz de controlar uma DEUSA. Um humano é incapaz de fazer isso, e até mesmo um semideus teria dificuldade de calar a loucura com um simples estalar de dedos. Ele era algo incomum no mundo, uma presença além da realidade física. E por instantes eu me arrepiei de medo, por ter desafiado ele.
- Eaí, ta melhor agora? Podemos conversar? Quais as novidades? Faz tempo que não nos falamos.
– Quem é você? – Perguntei sem rodeios e com a voz tremendo... Se eu tivesse conhecido alguém tão poderoso eu me lembraria.
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