Heróis do Olimpo RPG - Logo
Herois do Olimpo RPG

Fórum de Mitologia Grega baseado em Percy Jackson e os Olimpianos e Os Heróis do Olimpo!


Você não está conectado. Conecte-se ou registre-se

Ver o tópico anterior Ver o tópico seguinte Ir para baixo  Mensagem [Página 1 de 1]

|Missão one-post II| Valkiria Empty |Missão one-post II| Valkiria

por Valkiria 23/11/16, 12:28 am

Valkiria

Valkiria
Filho(a) de Atena
Filho(a) de Atena

Spoiler:


O sol estava fresco naquela manha de Outono. Novamente eu me encontrava sentada sobre o galho de uma árvore, na orla do lago de canoagem. Aquele lugar havia se tornado o meu favorito em todo o acampamento – talvez até do mundo – depois que exatamente ali eu e meu irmão havíamos nos ligado para sempre. O anel dourado cintilava no meu anelar esquerdo e vindo dele podia sentir a aura e o calor de meu irmão. Ele estava bem, isso me tranquilizava. Siegfried, meu fiel companheiro, corria pela margem do lago, brincando com alguns espíritos menores, naquele momento em forma de pequenos pontos de luz. O cão tentava abocanhá-los, mas eles giravam depressa e escapavam dele, rindo e fazendo-o latir divertido.
Senti algo se aproximando e rapidamente olhei na direção, avistando um sátiro correndo na direção de Siegfried.
- Cadê a sua mestra? – ele perguntou, sem ter me notado até então.
- Aqui. – respondi, pulando para o chão.
Ele assustou-se com a minha aparição, apesar do tom tranquilo.
- Q-quíron deseja fa-alar com a senhorita. – ele gaguejou, parecia desacostumado a lidar com caçadoras. Eu não o julguei.
- Estou a caminho. – assenti com a cabeça e me virei, iniciando uma corrida até a Casa Grande.
Com um assobio, Siegfried me seguiu. Em menos de dois minutos estava na construção, avistando o centauro na varanda.
- Que bom que a encontraram, Valkiria. Preciso de seu auxilio. – o olhar dele parecia preocupado, mas eu senti que sua preocupação era mais por mim que pela situação pela qual me chamara.
- Quíron, o que houve? – perguntei, séria.
Ele suspirou.
- Alguma coisa está atacando os arredores de Manhattan. Os espíritos estão inquietos e até mesmo os mortais já notaram os acidentes e estão assustados. – ele explicou, seu tom cuidadoso, como se pisasse em um campo minado.
- Quíron, porque está usando esse tom e porque seu olhar é de preocupação com a minha reação? – perguntei direta e ele se espantou.
Suspirou novamente.
- Você cresceu em uma escola interna em Manhattan, não? – questionou, analisando-me com os olhos escuros.
Meu chão sumiu de repente e minha expressão ficou dura como pedra.
- Estou indo. – virei nos calcanhares e corri, antes mesmo que ele dissesse qualquer palavra.
Enquanto corria até o chalé de Atena, flashes de uma pequena criança de cabelos surgiram na minha mente. Lembrei-me das irmãs que haviam me criado e educado, das crianças com quem crescera, dos livros da biblioteca que devorara. Quíron estava preocupado com a minha reação e com razão. Eu nunca permitiria que um monstro machucasse qualquer um daquele lugar, nunca.
Estava descendo a Colina Meio-Sangue correndo em poucos minutos, Siegfried quieto ao meu lado. Ele podia sentir minha inquietação, meu medo. O sol agora não me parecia mais fresco, não trajando minha armadura. Eu só esperava que os mortais não a vissem.
“Mãe, me permita salvar aquele lugar, o lugar que escolheu para que eu crescesse. Permita que nenhum humano interfira, como naquele dia que me reconheceu como sua filha.” – fiz a prece, parando por um segundo para respirar fundo, já na beira da rodovia.
Peguei um dracma do bolso e joguei para o alto. Ele quicou no asfalto, uma.. duas.. Siegfreid latiu, assustado, quando o carro surgiu soltando fumaça e poeira. Entrei, sendo seguida pelo cão. As velhas começaram a reclamar, o que não dei atenção.
- O cão irá, pagarei o dobro. – joguei outro dracma para o bando da frente e elas espernearam para tentar pegar a moeda.
Disse o endereço, uma das travessas próximas à escola. Elas aceleraram imediatamente. Segurei Siegfried junto ao corpo, para que ele não caísse. Ele tremia e eu murmurei palavras de encorajamento. A viagem foi mais longa do que eu gostaria, havia transito na região próxima à escola. Ouvi pela janela comentários sobre os acontecimentos, a polícia estava a caminho para isolar a área.
Praguejei. Se a policia aparecesse, a situação estaria muito mais complicada para mim. As velhas finalmente chegaram ao local onde eu ordenara e eu pulei para fora do carro, Siegfried latiu, contente em sair daquela lata velha fedorenta.
- Vamos rapaz, precisamos achar esse verme antes que a policia chegue ou que ele faça mais bagunça perto da minha escola. – falei ao cão, que balançou o rabo em contentamento.
Nós andamos depressa pela rua, evitando as poucas pessoas que andavam por elas. Os anos de caçada me deram boa experiência em perseguição, análise de rastros, mas não havia nada ali. Passos, cheiros ou sons.
Meu coração disparou quando ouvi o som de sirenes ao longe. Quando elas silenciaram, a única coisa que ouvia era o bater do sangue nos meus ouvidos.
“Maldição!” – esbravejei mentalmente, irritada por estar tão incapaz e inapta.
- Siegfried, corra em torno da próxima quadra. – apontei para a frente.
Não ouve latido de resposta, apenas o silêncio e o bater do meu coração. Olhei para o lado, o cão não estava ali.
- Sieg! – chamei, não muito alto.
O silencio permaneceu.
“Não, não, não! Onde você está?”
Paralisei. Algo estava próximo, embora eu não o visse. Mas eu sentia.
- Eu sei que está ai. – murmurei, a mão tremendo de vontade de sacar minha lança – Apareça.
“Aparecer?” – uma voz rouca e grossa ecoou e começou a rir de um jeito malicioso.
Minha cabeça girou, eu não conseguia distinguir se a voz estava na minha mente ou ecoava à minha volta.
“Eu já apareci, criança.” – a voz respondeu.
- Não sou uma criança. – trinquei os dentes, olhando com os olhos apertados à minha volta.
“Não? Pois parece, pequena órfã abandonada.”
Eu pisquei e não estava mais na rua. Estava no meio do pátio da escola. Eu não lembrava do muro ser tão alto da última vez que estivera ali.
- Hey, órfã. Pare de me ignorar! – alguém gritou comigo, empurrando-me.
Caí no chão e ouvi risadas ao meu redor. Estava cercada por crianças, elas não deviam ter mais de 8 anos.
- Você se acha importante é, sua anormal! – uma delas falou baixo, me cutucando com um graveto.
- Pare! – pedi, um desespero crescente subindo pela minha garganta e inundando meus olhos.
- Olhem só, a órfã vai começar a chorar. – zombou um garoto, fazendo os demais rirem.
Olhei para minhas mãos e braços, eu estava sem meus equipamentos, e meus dedos eram pequenos e finos, sem marcas dos anos de arco e flecha. Eu era uma criança novamente.
“Novamente? E quando você deixou de ser?” – uma voz estranha soou na minha cabeça.
Apertei os ouvidos, encolhendo-me. Eu queria sair dali, voltar para o meu quarto, para os meus livros. Eu não entendia porque eles me odiavam tanto. Era por minha aparência diferente? Era pelas minhas notas altas? Eu não queria saber, queria apenas sumir dali.
“Sumir... eu posso te garantir isto.” - a mesma voz ecoou, sibilando de forma maliciosa.
- Hey, pequena. – uma voz calma e carinhosa surgiu à minha frente.
Ergui o olhar, embaçado pelas lágrimas, e deparei-me com um rapaz de cabelos brancos. Ele sorria de forma gentil, a mão estendida para mim.
- Você tem que se levantar. – o sorriso dele aumentou, encorajando-me.
Estiquei a mão para tocá-lo. Contudo, sua imagem foi desfeita em uma névoa negra.
“Não, não... ninguém vai atrapalhar o nosso encontro, criança.” – a voz ecoou novamente, fazendo minha cabeça latejar – “Você ficará aqui comigo para sempre.”
Para sempre. Então me lembrei. Só existiam três coisas “para sempre” na minha vida.
- Eu amo minha mãe e tudo faço para lhe conceder glória e honra. – digo, secando as lágrimas do rosto.
As crianças à minha volta pararam de rir, olhando-me sem entender.
- Escolhi a caça e a virgindade eterna, a caça é minha razão de viver e não me arrependo. – levanto-me, a voz firme.
As crianças pareciam bem menores agora, olhando-me de baixo.
- E para esta eternidade de lutas, possuo apenas dois companheiros e você nunca os tomará de mim ou me fará esquecer deles. AARON! SIEGFRIED! – esbravejei.
A minha visão trincou. Os rostos e as formas das crianças trincaram e se desfizeram em pó. O muro e o prédio da escola seguiu o exemplo. Quando pisquei, estava novamente na rua onde estivera minutos antes. O latido de Siegfried me alertou de sua presença. Ele estava na minha frente, grunhindo para algo próximo.
Ali estava, afinal, meu inimigo. Sua forma era trêmula, um manto negro que parecia se dissolver no ar. Ele estava abaixado no chão, eu podia ouvir sua respiração entrecortada.
- Nunca escaparam da minha ilusão. – ele murmurou, olhando-me com seus olhos indistinguíveis.
- Há uma primeira vez para tudo. – sorri.
No segundo seguinte meu arco estava na minha mão e eu já puxava uma flecha. Atirei, mirando na cabeça do ser, mas a flecha passou por ele e cravou-se na árvore próxima.
- Não me atingirá, semideusa. – a voz dele sibilou no final, como uma risada.
Uma névoa negra saiu debaixo de seu manto e avançou contra mim. Rolei para o lado, escapando de sua investida inicial. Mas a névoa tremeu e virou, seguindo na minha direção. Siegfried latia irritado.
- Afaste-se! – esbravejei para ele.
Levantei-me e afastei-me depressa da névoa, soltando o arco no chão.
- Para filha de quem você é, não me parece muito inteligente. – o monstro sibilou novamente, rindo daquele jeito que já estava dando-me nos nervos.
Trinquei os dentes, girando o anel prateado e dando forma à Elementus. A lâmina brilhou, flamejando em tons alaranjados.
“Mãe.. conceda-me o poder para honrá-la.” – pedi enquanto desviava de outra investida da névoa negra.
A lança brilhou por inteira por um segundo e depois voltou ao normal. Com um sorriso, parei de recuar e avancei. Pulei por sobre a névoa e com um rolamento me coloquei novamente de pé, correndo na direção do inimigo.
- Realmente não é muito inteligente. – ele comentou novamente, a voz em total descaso.
Eu senti, mas não pude agir a tempo. Era uma armadilha.
Névoas negras brotaram do chão, tirando o ar dos meus pulmões. Minha cabeça começou a girar e cai de joelhos. Senti a força dele, tentando arrastar-me novamente para outra ilusão. Ele ria na minha mente, cada vez mais poderoso.
“Há tantas coisas aqui, tantos medos, tantas incertezas. Você é praticamente um imã para mim.” – o tom foi de satisfação.
Parei por um instante, eliminando todos os pensamentos da minha mente. Deixei-a vazia como nunca antes havia feito. Não pensei em ninguém que gostava, em ninguém que queria proteger, em nada. Ali no meio do vazio, consegui respirar. Aspirei profundamente e sorri.
- Você não tem poder sobre mim!
Abri os olhos e investi com Elementus para a frente, transpassando o peito do ser.
Ele estava tão próximo, que pude ver um sorriso amarelado por baixo do capuz.
- E você não tem como me atingir, semideusa. – ele sibilou.
Eu devolvi o sorriso, sentindo um cheiro peculiar no ar.
- Eu não.. mas o fogo sim. – comentei, puxando Elementus para cima.
A lâmina de oricalco rasgou sem resistência alguma o trapo do monstro, espalhando ainda mais suas chamas.
Ele cambaleou para trás, afastando-se de mim. A névoa cobriu-o mas o fogo não abrandou. Ele não gritou, mas aos poucos vi sua forma reduzindo e um pequeno montinho de pó se formar abaixo dele.
- Pagará por isso, cria de Atena. – foi a última coisa que ele disse antes de queimar por completo.
Levantei-me, guardando a lança.
“Obrigada mãe.” – Agradeci, a mão posta sobre o peito, aliviada.
Siegfried voltou correndo para perto de mim, latindo contente. Acariciei sua cabeça, um sorriso em meu rosto. Rasgo uma tira da minha camisa e uso-a para guardar parte da poeira que permaneceu do monstro.
Sirenes tocaram ao longe e de repente notei que os sons em torno de mim haviam retornado. Entrei em uma rua transversal, antes que a viatura da policia passasse pela quadra onde eu lutara. Vi o vento levar o resto do inimigo derrotado e parti.
Um dracma jogado no chão, há algumas quadras de distancia, trouxe novamente as irmãs tagarelas e fedidas ao meu serviço. Antes que reclamassem do cão, joguei outra moeda.
Quando cheguei ao topo da Colina Meio-Sangue, percebi que o sol estava quase para se por. Perguntei-me por quantas horas aquele embate havia se estendido. Desci com calma e procurei por Quíron. Ao me ver, sua expressão assumiu uma forma preocupada.
- Está feito. – joguei o pequeno pacotinho de tecido para ele, que pegou no ar sem grandes dificuldades.
Ele abriu e analisou o pó.
- Seja lá o que for, era poderoso. – comentei, afastando-me – Mas não o bastante para mim. – completei baixo, dirigindo-me ao pavilhão de refeições.
Sentei-me entre os meus irmãos, Leonardo e Aaron.
“Está tudo bem?” – a voz calma de Aaron soou na minha mente, preocupada.
“Está... obrigada.” – respondi, deixando que um fraco sorriso se desenhasse em meus lábios.
Por fim, puxei uma grande travessa de peixe e a devorei. Ficar o dia inteiro sem comer e caçar não fazia bem para a pele.

#1

|Missão one-post II| Valkiria Empty Re: |Missão one-post II| Valkiria

por Hermes 23/11/16, 12:45 am

Hermes

Hermes
Deus Olimpiano
Deus Olimpiano
Valkiria escreveu:

Spoiler:


O sol estava fresco naquela manha de Outono. Novamente eu me encontrava sentada sobre o galho de uma árvore, na orla do lago de canoagem. Aquele lugar havia se tornado o meu favorito em todo o acampamento – talvez até do mundo – depois que exatamente ali eu e meu irmão havíamos nos ligado para sempre. O anel dourado cintilava no meu anelar esquerdo e vindo dele podia sentir a aura e o calor de meu irmão. Ele estava bem, isso me tranquilizava. Siegfried, meu fiel companheiro, corria pela margem do lago, brincando com alguns espíritos menores, naquele momento em forma de pequenos pontos de luz. O cão tentava abocanhá-los, mas eles giravam depressa e escapavam dele, rindo e fazendo-o latir divertido.
Senti algo se aproximando e rapidamente olhei na direção, avistando um sátiro correndo na direção de Siegfried.
- Cadê a sua mestra? – ele perguntou, sem ter me notado até então.
- Aqui. – respondi, pulando para o chão.
Ele assustou-se com a minha aparição, apesar do tom tranquilo.
- Q-quíron deseja fa-alar com a senhorita. – ele gaguejou, parecia desacostumado a lidar com caçadoras. Eu não o julguei.
- Estou a caminho. – assenti com a cabeça e me virei, iniciando uma corrida até a Casa Grande.
Com um assobio, Siegfried me seguiu. Em menos de dois minutos estava na construção, avistando o centauro na varanda.
- Que bom que a encontraram, Valkiria. Preciso de seu auxilio. – o olhar dele parecia preocupado, mas eu senti que sua preocupação era mais por mim que pela situação pela qual me chamara.
- Quíron, o que houve? – perguntei, séria.
Ele suspirou.
- Alguma coisa está atacando os arredores de Manhattan. Os espíritos estão inquietos e até mesmo os mortais já notaram os acidentes e estão assustados. – ele explicou, seu tom cuidadoso, como se pisasse em um campo minado.
- Quíron, porque está usando esse tom e porque seu olhar é de preocupação com a minha reação? – perguntei direta e ele se espantou.
Suspirou novamente.
- Você cresceu em uma escola interna em Manhattan, não? – questionou, analisando-me com os olhos escuros.
Meu chão sumiu de repente e minha expressão ficou dura como pedra.
- Estou indo. – virei nos calcanhares e corri, antes mesmo que ele dissesse qualquer palavra.
Enquanto corria até o chalé de Atena, flashes de uma pequena criança de cabelos surgiram na minha mente. Lembrei-me das irmãs que haviam me criado e educado, das crianças com quem crescera, dos livros da biblioteca que devorara. Quíron estava preocupado com a minha reação e com razão. Eu nunca permitiria que um monstro machucasse qualquer um daquele lugar, nunca.
Estava descendo a Colina Meio-Sangue correndo em poucos minutos, Siegfried quieto ao meu lado. Ele podia sentir minha inquietação, meu medo. O sol agora não me parecia mais fresco, não trajando minha armadura. Eu só esperava que os mortais não a vissem.
“Mãe, me permita salvar aquele lugar, o lugar que escolheu para que eu crescesse. Permita que nenhum humano interfira, como naquele dia que me reconheceu como sua filha.” – fiz a prece, parando por um segundo para respirar fundo, já na beira da rodovia.
Peguei um dracma do bolso e joguei para o alto. Ele quicou no asfalto, uma.. duas.. Siegfreid latiu, assustado, quando o carro surgiu soltando fumaça e poeira. Entrei, sendo seguida pelo cão. As velhas começaram a reclamar, o que não dei atenção.
- O cão irá, pagarei o dobro. – joguei outro dracma para o bando da frente e elas espernearam para tentar pegar a moeda.
Disse o endereço, uma das travessas próximas à escola. Elas aceleraram imediatamente. Segurei Siegfried junto ao corpo, para que ele não caísse. Ele tremia e eu murmurei palavras de encorajamento. A viagem foi mais longa do que eu gostaria, havia transito na região próxima à escola. Ouvi pela janela comentários sobre os acontecimentos, a polícia estava a caminho para isolar a área.
Praguejei. Se a policia aparecesse, a situação estaria muito mais complicada para mim. As velhas finalmente chegaram ao local onde eu ordenara e eu pulei para fora do carro, Siegfried latiu, contente em sair daquela lata velha fedorenta.
- Vamos rapaz, precisamos achar esse verme antes que a policia chegue ou que ele faça mais bagunça perto da minha escola. – falei ao cão, que balançou o rabo em contentamento.
Nós andamos depressa pela rua, evitando as poucas pessoas que andavam por elas. Os anos de caçada me deram boa experiência em perseguição, análise de rastros, mas não havia nada ali. Passos, cheiros ou sons.
Meu coração disparou quando ouvi o som de sirenes ao longe. Quando elas silenciaram, a única coisa que ouvia era o bater do sangue nos meus ouvidos.
“Maldição!” – esbravejei mentalmente, irritada por estar tão incapaz e inapta.
- Siegfried, corra em torno da próxima quadra. – apontei para a frente.
Não ouve latido de resposta, apenas o silêncio e o bater do meu coração. Olhei para o lado, o cão não estava ali.
- Sieg! – chamei, não muito alto.
O silencio permaneceu.
“Não, não, não! Onde você está?”
Paralisei. Algo estava próximo, embora eu não o visse. Mas eu sentia.
- Eu sei que está ai. – murmurei, a mão tremendo de vontade de sacar minha lança – Apareça.
“Aparecer?” – uma voz rouca e grossa ecoou e começou a rir de um jeito malicioso.
Minha cabeça girou, eu não conseguia distinguir se a voz estava na minha mente ou ecoava à minha volta.
“Eu já apareci, criança.” – a voz respondeu.
- Não sou uma criança. – trinquei os dentes, olhando com os olhos apertados à minha volta.
“Não? Pois parece, pequena órfã abandonada.”
Eu pisquei e não estava mais na rua. Estava no meio do pátio da escola. Eu não lembrava do muro ser tão alto da última vez que estivera ali.
- Hey, órfã. Pare de me ignorar! – alguém gritou comigo, empurrando-me.
Caí no chão e ouvi risadas ao meu redor. Estava cercada por crianças, elas não deviam ter mais de 8 anos.
- Você se acha importante é, sua anormal! – uma delas falou baixo, me cutucando com um graveto.
- Pare! – pedi, um desespero crescente subindo pela minha garganta e inundando meus olhos.
- Olhem só, a órfã vai começar a chorar. – zombou um garoto, fazendo os demais rirem.
Olhei para minhas mãos e braços, eu estava sem meus equipamentos, e meus dedos eram pequenos e finos, sem marcas dos anos de arco e flecha. Eu era uma criança novamente.
“Novamente? E quando você deixou de ser?” – uma voz estranha soou na minha cabeça.
Apertei os ouvidos, encolhendo-me. Eu queria sair dali, voltar para o meu quarto, para os meus livros. Eu não entendia porque eles me odiavam tanto. Era por minha aparência diferente? Era pelas minhas notas altas? Eu não queria saber, queria apenas sumir dali.
“Sumir... eu posso te garantir isto.” - a mesma voz ecoou, sibilando de forma maliciosa.
- Hey, pequena. – uma voz calma e carinhosa surgiu à minha frente.
Ergui o olhar, embaçado pelas lágrimas, e deparei-me com um rapaz de cabelos brancos. Ele sorria de forma gentil, a mão estendida para mim.
- Você tem que se levantar. – o sorriso dele aumentou, encorajando-me.
Estiquei a mão para tocá-lo. Contudo, sua imagem foi desfeita em uma névoa negra.
“Não, não... ninguém vai atrapalhar o nosso encontro, criança.” – a voz ecoou novamente, fazendo minha cabeça latejar – “Você ficará aqui comigo para sempre.”
Para sempre. Então me lembrei. Só existiam três coisas “para sempre” na minha vida.
- Eu amo minha mãe e tudo faço para lhe conceder glória e honra. – digo, secando as lágrimas do rosto.
As crianças à minha volta pararam de rir, olhando-me sem entender.
- Escolhi a caça e a virgindade eterna, a caça é minha razão de viver e não me arrependo. – levanto-me, a voz firme.
As crianças pareciam bem menores agora, olhando-me de baixo.
- E para esta eternidade de lutas, possuo apenas dois companheiros e você nunca os tomará de mim ou me fará esquecer deles. AARON! SIEGFRIED! – esbravejei.
A minha visão trincou. Os rostos e as formas das crianças trincaram e se desfizeram em pó. O muro e o prédio da escola seguiu o exemplo. Quando pisquei, estava novamente na rua onde estivera minutos antes. O latido de Siegfried me alertou de sua presença. Ele estava na minha frente, grunhindo para algo próximo.
Ali estava, afinal, meu inimigo. Sua forma era trêmula, um manto negro que parecia se dissolver no ar. Ele estava abaixado no chão, eu podia ouvir sua respiração entrecortada.
- Nunca escaparam da minha ilusão. – ele murmurou, olhando-me com seus olhos indistinguíveis.
- Há uma primeira vez para tudo. – sorri.
No segundo seguinte meu arco estava na minha mão e eu já puxava uma flecha. Atirei, mirando na cabeça do ser, mas a flecha passou por ele e cravou-se na árvore próxima.
- Não me atingirá, semideusa. – a voz dele sibilou no final, como uma risada.
Uma névoa negra saiu debaixo de seu manto e avançou contra mim. Rolei para o lado, escapando de sua investida inicial. Mas a névoa tremeu e virou, seguindo na minha direção. Siegfried latia irritado.
- Afaste-se! – esbravejei para ele.
Levantei-me e afastei-me depressa da névoa, soltando o arco no chão.
- Para filha de quem você é, não me parece muito inteligente. – o monstro sibilou novamente, rindo daquele jeito que já estava dando-me nos nervos.
Trinquei os dentes, girando o anel prateado e dando forma à Elementus. A lâmina brilhou, flamejando em tons alaranjados.
“Mãe.. conceda-me o poder para honrá-la.” – pedi enquanto desviava de outra investida da névoa negra.
A lança brilhou por inteira por um segundo e depois voltou ao normal. Com um sorriso, parei de recuar e avancei. Pulei por sobre a névoa e com um rolamento me coloquei novamente de pé, correndo na direção do inimigo.
- Realmente não é muito inteligente. – ele comentou novamente, a voz em total descaso.
Eu senti, mas não pude agir a tempo. Era uma armadilha.
Névoas negras brotaram do chão, tirando o ar dos meus pulmões. Minha cabeça começou a girar e cai de joelhos. Senti a força dele, tentando arrastar-me novamente para outra ilusão. Ele ria na minha mente, cada vez mais poderoso.
“Há tantas coisas aqui, tantos medos, tantas incertezas. Você é praticamente um imã para mim.” – o tom foi de satisfação.
Parei por um instante, eliminando todos os pensamentos da minha mente. Deixei-a vazia como nunca antes havia feito. Não pensei em ninguém que gostava, em ninguém que queria proteger, em nada. Ali no meio do vazio, consegui respirar. Aspirei profundamente e sorri.
- Você não tem poder sobre mim!
Abri os olhos e investi com Elementus para a frente, transpassando o peito do ser.
Ele estava tão próximo, que pude ver um sorriso amarelado por baixo do capuz.
- E você não tem como me atingir, semideusa. – ele sibilou.
Eu devolvi o sorriso, sentindo um cheiro peculiar no ar.
- Eu não.. mas o fogo sim. – comentei, puxando Elementus para cima.
A lâmina de oricalco rasgou sem resistência alguma o trapo do monstro, espalhando ainda mais suas chamas.
Ele cambaleou para trás, afastando-se de mim. A névoa cobriu-o mas o fogo não abrandou. Ele não gritou, mas aos poucos vi sua forma reduzindo e um pequeno montinho de pó se formar abaixo dele.
- Pagará por isso, cria de Atena. – foi a última coisa que ele disse antes de queimar por completo.
Levantei-me, guardando a lança.
“Obrigada mãe.” – Agradeci, a mão posta sobre o peito, aliviada.
Siegfried voltou correndo para perto de mim, latindo contente. Acariciei sua cabeça, um sorriso em meu rosto. Rasgo uma tira da minha camisa e uso-a para guardar parte da poeira que permaneceu do monstro.
Sirenes tocaram ao longe e de repente notei que os sons em torno de mim haviam retornado. Entrei em uma rua transversal, antes que a viatura da policia passasse pela quadra onde eu lutara. Vi o vento levar o resto do inimigo derrotado e parti.
Um dracma jogado no chão, há algumas quadras de distancia, trouxe novamente as irmãs tagarelas e fedidas ao meu serviço. Antes que reclamassem do cão, joguei outra moeda.
Quando cheguei ao topo da Colina Meio-Sangue, percebi que o sol estava quase para se por. Perguntei-me por quantas horas aquele embate havia se estendido. Desci com calma e procurei por Quíron. Ao me ver, sua expressão assumiu uma forma preocupada.
- Está feito. – joguei o pequeno pacotinho de tecido para ele, que pegou no ar sem grandes dificuldades.
Ele abriu e analisou o pó.
- Seja lá o que for, era poderoso. – comentei, afastando-me – Mas não o bastante para mim. – completei baixo, dirigindo-me ao pavilhão de refeições.
Sentei-me entre os meus irmãos, Leonardo e Aaron.
“Está tudo bem?” – a voz calma de Aaron soou na minha mente, preocupada.
“Está... obrigada.” – respondi, deixando que um fraco sorriso se desenhasse em meus lábios.
Por fim, puxei uma grande travessa de peixe e a devorei. Ficar o dia inteiro sem comer e caçar não fazia bem para a pele.


|MISSÃO ACEITA|

Experiência a Receber: 3000
Dracmas a Receber: 1600

Observações: Muito interessantes e criativas as questões de retorno ao passado, ilusões quase reais e o fato de aparecer um inimigo que não era atingido fisicamente, sendo necessária a magia elementar para derrota-lo. Foi uma ótima One-Post e aguardo pelas próximas :=Dy:

|ATUALIZADO|

#2

Ver o tópico anterior Ver o tópico seguinte Ir para o topo  Mensagem [Página 1 de 1]

Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos