Seus avós moravam em uma antiga comunidade hippie transformada em abrigo para animais, seu pai passava mais tempo participando de protestos no exterior do que em casa e sua mãe era uma figura que nunca conheceu - uma ativista, também, pelo pouco que sabia. Talvez estivesse presa em algum lugar do mundo tentando resgatar baleias ou salvar criancinhas. Não importava. O fato era que duas gerações da família Velázques dedicaram suas vidas a fazer daquele mundo um lugar melhor, mas nada parecia ser o bastante - das guerras no oriente aos cachorros na rua, sempre havia uma nova luta para enfrentar.

Aquilo não era novidade para Moonbean - ela já tinha aceitado como normal, aprendido com os avós a tomar prazer nos pequenos gestos que conseguia fazer para ajudar, mas tornou-se difícil ver as coisas em perspectiva quando começou a sofrer bullying na escola e seu pai não estava presente. Ele, que apoiava tantas causas, não tinha tempo para só mais essa.

Algumas das implicâncias eram esperadas, quase normais, como as piadas com seu nome, mas outras nem mesmo a garota conseguia explicar. Coisas estranhas aconteciam com ela - pessoas que podia jurar conhecer desapareciam, árvores pareciam se mover, adolescentes comiam latas de refrigerante... E ninguém mais parecia ver essas coisas. Alguns começaram a chamá-la de louca - "Moony the Loony". Eventualmente o assunto chegou na coordenação da escola, e portanto aos avós de Moonbean. Eles seguiram a recomendação de levar a garota a um psicólogo e transferiram-na para outra instituição. Ao que seu pai voltou da quinquagésima viagem tudo já estava resolvido. Aquele evento, no entanto, marcou a garota. Era a morte de um otimismo cego e o nascimento de sua nova concepção de mundo. Ainda havia a mesma quantidade de gentileza idealista na menina, mas agora sem o filtro colorido em que cada uma de suas ações importava. O cinismo tomou seu lugar e mostrou-lhe o mundo como um mar de decadência que as pessoas tentavam enfeitar.

Não conversava em suas terapias, com medo de ser julgada louca, então ela acabou tomando um rumo diferente: o do desenho e da pintura. Nisso Moon achou certa paz. Isto é, até o terapeuta tentar comê-la - literalmente. Desde então Moonbean soube que não era ela quem estava errada sobre as aparições.