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O sonho - Owen e Sun Empty O sonho - Owen e Sun

por Nico Di Angelo 23/07/22, 05:40 pm

Nico Di Angelo

Nico Di Angelo
SUN

Sonhos sempre possuem algum significado para semideuses, no entanto, filhos de Hipnos tendem a ter experiências no mínimo diferentes quando viajam ao mundo onírico. Isso em razão do controle demasiado sobrenatural que possuem das paredes que cerceiam a realidade do sono.

Eles conseguem, por vezes, decifrar mensagens enviadas pelas parcas, e ler por detrás das cortinas que mascaram os desejos divinos, mastigando o verdadeiro significado da noite como uma carne salgada e cheia de nervos que luta contra os dentes do inteligismo.
Este, no entanto, foi diferente.

Soube que era um sonho, mas, soube também que ele foi construído para assim não parecer. Como um teatro de efeitos especiais capaz de enganar o mais cético dos espectadores, mas, não aqueles acostumados a atuar por trás dos bastidores.
Saber, porém, não foi suficiente para impedir a afetação de seus sentidos.

Sun levantou o rosto da lama fétida e cuspiu água podre. Seus braços desapareciam no lamaçal na altura dos cotovelos, com uma grossa gosma escorrendo. Ela cuspiu outra vez, os dentes raspando a lama de sua língua.

Uma teia onírica enrolava-a em experiências que nunca antes havia apreciado, mas que certamente se pareciam com aquilo que imaginava que seria. O pútrido odor de cada poça movediça, cada atoleiro, atingindo-a em níveis sensitivos tão profundos que a fez desconfiar estar com seu corpo físico perdido em um pântano exatamente semelhante àquele.

Tentou acordar. Expulsar sua consciência daquele pesadelo indesejado. Não conseguiu.
Concentrando-se, porém, podia inda sentir, embaixo do odor de morte que parecia impregnar suas narinas naquele pesadelo, um levíssimo cheiro almíscar e chocolate que banhava o chalé do Deus dos Sonhos. Seu corpo estava bem.

Vislumbrou, por entre vinhas que pareciam vivas, a figura d’um garoto com cabelos escuros, corpo magro e pele pálida, também atolado no lamaçal e, ao contrário da filha de Hypnos, menos propenso à consciência naquele pântano mental que estavam mergulhados.
Viu-o sonhar, acreditando naquela realidade cinzenta.
OWEN

Ele estava cercado de podridão. O pântano repleto de desejos pútridos era sua sina, a mais doentia delas. Tratava-se da materialização de sua moral, que tentava arranhar o céu com árvores pantanosas e secas, como dedos magros, pontudos e doentes, igual ao seu espírito.

Levantou o rosto do lamaçal que entupia seus sentidos, e vomitou parte do lodo preto que havia preenchido sua garganta. Parecia estar ali haviam semanas. Certamente, um lugar adequado para uma criatura como Owen, nada mais justo para si do que apodrecer cercados de rãs, minhocas e aves pernaltas. Reuniu força suficiente para se debater a um terreno mais sólido, um pequeno monte que se elevava na lama.

O céu trazia a lembrança de azul, desbotado, como se houvesse ficado muito tempo no sol. Ele deitava de costas, ciente das mil picadas de mosquito que coçavam por baixo de suas roupas enxarcadas. Um gemido escapou. Dor. Quando um filho de Hades usa poder demais, quando a morte se extingue deles, resta apenas a dor para preencher o vazio. Afinal, a vida é isso. Dor.

“Maldito” ouviu os sussurros do pântano. Seus músculos rangiam uns sobre os outros, como ferro, fazendo a dor lhe atingir em ondas, como se estivesse sendo mastigado por sua própria mente.

Um corvo o observava, preto e brilhante, empoleirado na pedra que marcava o ponto alto daquele monte de terra.

O corvo falou, um grasnido rouco que assumiu significado de um segundo para o outro. “Não é a dor que afasta os filhos de Hades da vida. Não é isso que os mantêm tão distantes – o máximo a que podem chegar sem perder o controle sobre ela. São as lembranças.”.
As palavras saíram do bico do corvo, mas eram de seu irmão, anos atrás, quando Daniel o ensinou pela primeira vez sobre o que era ser jurado pela morte. Sentiu vontade de rosnar, mas, as lembranças vazaram por trás de seus olhos, como pus de uma ferida, inchando onde os dedos apertam.

Lembrou-se da criança que assassinou a pedido da rainha do Olimpo.

O corvo o observou. Por baixo de suas garras, finas e apertadas, a pedra estava respingada de líquen, manchada de laranja opaco e verde desbotado, como se estivesse doente. O pássaro lhe encarou, com os olhos pretos e brilhantes. “Nenhum filho de Hades realmente sabe o que espera por ele ao atravessar o caminho cinzento até as terras mortas.”. Em seguida, ele grasnou, rouco e breve, como a voz dos corvos devem ser, antes de retornar à voz de seu irmão e suas lições. “Cada um deles tem seus motivos, geralmente motivos terríveis que revirariam os estômagos de seus semelhantes, mas não importam suas motivações – por mais estranhas e frias que suas mentes sejam, eles não sabem ao que deram início. Se lhes fosse explicado previamente, mostrado em uma tela podre, nenhum deles, nem mesmo o pior de todos, daria o primeiro passo.”.

Ele não mentiu. Era a mais pura verdade. Mas palavras são apenas palavras e elas raramente desviam alguém de seu caminho, a menos que ele queira ser desviado. O espírito da criança assassinada havia lambido e cuspido na alma de Owen, e parte de suas lembranças foram absorvidas. Sentiu a insegurança do nascer, o calor do útero se esvaindo, a incapacidade de compreender aquela nova realidade. Lembrou-se de chorar, era a única habilidade que possuía, e usou-a com fulgor. Queria voltar para o calor, para o escuro.

“Não” Owen rejeitou aquela memória, não era sua.

“É apenas vida, Owen”. O pássaro soou contente. “Deixe-a entrar”.

Por trás de olhos bem fechados, as imagens lutaram por seu momento, para prender a atenção dele mesmo que só por um instante, antes que a onda de lembranças as varresse para o lado. O corvo voou da pedra, e pousou num corpo largado no pântano nojento.
Cravou seu bico na carne podre, pintando sua cabeça de vermelho.

“A vida é doce.” Novamente o grasnido. “Saboreie-a”.

Só aí percebeu ser aquele o corpo da criança assassinada, e, em raiva, foi para cima do corvo. Dando um bote com sua mão entrevada de dor se estendendo. Apenas para não o encontrar. Nenhuma batida de asa, nenhuma voz repressora vinda do alto, apenas uma pena quebrada e suja, como se isso fosse tudo que sempre houve.
SUN

A filha de Hipnos havia visto tudo aquilo. Percebeu, finalmente, que aquele sonho ao qual havia sido empurrada contra sua vontade não era seu, mas, do filho de Hades, que agora segurava uma pena quebrada e encarava-a com ódio.

Por certo, seu rancor o fez pensar que ela era a responsável por aquele pesadelo.
A pena quebrada estendeu-se e firmou-se, crescendo e esfriando ao ponto de lançar vapor naquele lugar quente, assumindo a forma d’uma das temíveis espadas de estígio.

“Vai embora” algo sussurrou, e não foi o filho de Hades, embora seus olhos parecessem prestes a lhe dizer exatamente isso.
OWEN

O corvo havia assumido forma d’uma mulher. Era por certo ela quem o havia prendido naquele pântano maldito. E algo lhe afirmava que, para dali sair, ele haveria de a matar.

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