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Fórum de Mitologia Grega baseado em Percy Jackson e os Olimpianos e Os Heróis do Olimpo!


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Shouto Koda

Shouto Koda
Filho(a) de Hades
Filho(a) de Hades
Nome da Narração: O Coração de Almas
Objetivo da narração: Iniciar uma série investigativa em Massachusets. Inicialmente a missão é chegar até lá.
Quantidade de desafios: Um no final da narração
Quantidade de Monstros: 2
Espécie dos monstros: Bicho Feio


Tive uns sonhos estranhos aquela noite. Não que isso fosse surpresa... Nós, semideuses, sempre tínhamos sonhos assim. Mas desta vez, eu sabia que não era só um sonho mas sim, o prelúdio de uma trama misteriosa que certamente se apresentaria para mim num futuro próximo.

E com futuro Próximo, lê-se Naquela Noite.

O dia passou bem. Como uma bruma de verão... Só que frio. O inverno havia chegado com graça ao Acampamento, e vez ou outra as fronteiras permitiam que a neve entrasse para enfeitar os campos de branco. Eu estava montando uns corvos de neve nos galhos de uma dríade quando senti um arrepio. Virei-me lentamente. Contrastando contra o laranja do céu de long island atrás de si, uma figura preta me observava. De alguma forma só de olhar para aquela forma negra eu soube que se tratava de um deus... Um deus da morte. Não tânatos, mas um de seus servos, um dos Ceifeiros.

- Shouto Koda – veio a voz do fundo daquele capuz negro – Eu tenho uma missão para você.


Uma hora depois, eu voava pelo céu noturno. O frio não afetava meu corpo de corvo, mas os ventos vez ou outra desviavam-me e me forçavam a voar mais baixo para evita-los. Estava feliz de partir em uma missão e, honestamente, aliviado de estar só depois de tanto tempo. Eu estava passando a maior parte do meu tempo com os demais guardas, sobretudo os da segunda e terceira divisão, treinando, treinando, treinando... Estudando e treinando mais um pouco. A companhia dos outros corvus não era desagradável, mas minha cota de socialização é particularmente baixa. Antes de sair tinha ido até o refeitório onde queimei uma pequena oferenda bem-montada em nome do senhor dos céus e sua esposa. O céu estivera cinzento como é de costume no inverno, mas teimara em não chover durante todo o dia. Eu esperava que continuasse assim, sem nenhum raio ou tempestade pra me arrancar dos céus, então não custava nada apelar pela disposição de quem controlava aquele domínio. Uma bela coxa, com macarrão ao molho e nuggets. Tudo de bom!.... né? E um copo com suco dos morangos mais vermelhos dos EUA. Eu esperava que isso fosse suficiente.

Quando aquele deus da morte misterioso apareceu, primeiro pensei que tinha vindo cobrar minha alma. Afinal... eu havia morrido. Duas vezes. Mas ainda estava aqui. Quando senti sua presença pensei “pronto... Tânatos percebeu que eu já devia estar no Inferno”. Mas aparentemente eu pagaria esta dívida ajudando os deuses da morte, e não sendo ceifado por eles.

O ceifador havia me entregado uma missão, por fim. Uma missão que, segundo ele, apenas um filho de Hades poderia fazer. E por isso, ele havia selecionado alguns de nós espalhados pelo país para cumprir com este papel, então eu já sabia que não era o único filho de Hades por ai buscando resolver este problema. O problema, inclusive... Se tratava do desvio em massa de almas do submundo. Depois de mortos os mortais deveriam simplesmente seguir pelo rio dos mortos guiados por Caronte, e então entrar na fila para serem julgados pelos três Juízes dos Mortos. Mas, recentemente, muitas das almas não estavam fazendo este trajeto e o mundo inferior já estava começando a sentir as consequências desta quebra de equilíbrio. A fila de julgamento estava menor, as almas a renascer estavam mais escassas, a própria estrutura do mundo inferior estava enfraquecendo lentamente. E aparentemente, eles ainda não haviam descoberto a fonte daquele desequilíbrio.

Com isto... Nós, filhotes de Hades, fomos enviados para os lugares onde o maior número de almas estava sendo desviado. Em cada lugar deste havia um ceifador responsável por gerenciar as almas, que já estava conduzindo uma investigação e aguardando a chegada dos filhos de Hades designados a cada respectivo lugar. Eu... Por estar em Long Island, fui mandado para Massachusetts.  Eu nunca tinha ido até lá, mas adorava conhecer lugares novos. Especialmente sozinho.

Ali, do céu noturno, as luzes da cidade se aproximavam rapidamente a partir do horizonte. Viajar como corvo era engraçado... Cansativo e relaxante ao mesmo tempo. Apesar de estar fazendo um certo esforço mental, eu não sentia o cansaço físico de bater as asas, ou de forçar-me contra o vento... O desgaste era mágico, espiritual. Apesar disso, ao mesmo tempo, havia uma sensação engraçada e revigorante... Eu sentia como se estivesse constantemente sendo suplementado na veia com uma solução energética. Eu sabia o que era isso;  a noite, a escuridão me fortalecendo. Eu ainda achava isso engraçado e interessante como da primeira vez que eu havia sentido esta força me preenchendo.

A viagem durou algumas horas. Por fim, li a placa na estrada muito abaixo dizendo que estava entrando no estado correto... Massachusetts. Mais especificamente, na cidade de... Espere, Springfield? Gargalhei, grasnando entre um riso e outro. Então aquela cidade existia mesmo? Os Simpsons eram meu desenho favorito, de longe, e eu estava feliz de ter sido designado àquela missão só de ter a oportunidade de passar por ali.

Fui perdendo altitude aos poucos visando pousar em algum prédio para admirar o lugar e absorver  sua organização. Talvez roubar um lanche em alguma lanchonete... Mas logo a sensação fria e perigosa da aura de monstros chegou até a mim. Aquela sensação de uma presença enrigelada se aproximando, sentindo em minha mente como se eles me tocassem mesmo à distância... Olho naquela direção e vejo com meus olhos afiados vultos cruzando o céu escuro, vindos da mesma direção que eu. Certamente tinham sentindo meu cheiro e vindo atrás de mim. Suspirei. Eu tinha conseguido viajar tranquilamente, sem tempestades ou chuva, mas... Aparentemente tem coisas que não dá para evitar.

Pousei no telhado de um edifício. E havia poucos ali. A cidade era bonita de um jeito simples; muito verde, casas bem construídas, avenidas largas. Mas sem muitos prédios. Seria difícil despistas os monstros voadores, então logo começo a me conformar que teria de me livrar deles do jeito difícil.

Voei até o chão em um parque vazio. Àquela hora da noite, passado das 1 da manhã, eu não me surpreendi que não houvesse ninguém pelas ruas. Apenas alguns jovens e bêbados, e eu esperava que nenhum viesse procurar gracinha comigo. Saí de dentro do corvo assim que este se aproximou do solo e então sentei em um balanço para fumar um cigarrinho enquanto esperava os meus convidados especiais... Que não demoraram.

Nossa, como são feios, comento com o corvo sentado numa árvore perto de mim.
De fato, respondeu ele, e enfiou a cabeça em baixo da asa.

Spoiler:

Certo. Mas o que eram aquelas aberrações? Duas delas desceram em círculos sobre o parque, certamente buscando por mim e quando a primeira me identificou, veio direto em um rasante. Suspirei. Puxei o cigarro pra dentro de minha sombra e saquei minha adaga. Continuei parado enquanto ela se aproximava sedenta e então, quando estava a alguns metros, deixei que meu corpo e as sombras na noite se tornassem um só. A criatura passou direto por mim, suas asas se chocando contra a corrente do balanço. Ela foi puxada e deu um giro de 360º no balanço, me deixando com inveja, e caiu de cara no chão.

Eu não esperava isso comentei com o corvo com um sorriso, então chiei de dor e surpresa quando senti um liquido se chocando contra meu ombro direito. Pulei para longe, mas o estrago já estava feito. Minha camisa social derretia rapidamente. O peitoral de couro fervia, e meu ombro ficou avermelhado em poucos segundos. A queimação era como se água fervente tivesse sido despejada sobre mim. Inferno! O demônio cuspiu algum tipo de ácido em mim.

Tratei de pegar uma garrafa de água em minha sombra. Recuei de costas cortando sua tampa foracom a adaga e despejando o liquido no ombro. Trinquei os dentes quando o lugar doei mais ainda e o liquido misturou-se à água, escorrendo por minhas costas, peito e costela.
Ótimo! Eu sou mesmo um gênio!, falei comigo mesmo enquanto todo o meu tronco começava a arder como se estivesse em chamas. Inferno! A luta nem tinha começado e eu já sentia vontade de me encolher no chão de tamanha dor.

O monstro que estava no ar virou-se e planou em minha direção. O liquido verde ainsa escorria de seu bico. Percebi que sua garganta se mexia e entendi quase tarde demais que ele estava preparando outro cuspe de Chernobyl em mim, mas consegui saltar pro lado pra evitar este ataque. Troquei a adaga de mão e qual ele passou voando balancei a arma jogando-a em sua direção e ondulando a corrente de forma que a lamina na ponta batesse em sua asa como um chicote. O monstro guinchou sob o toque do estígio e oscilou em seu voo, batendo as asas pra tentar ganhar altitude. O gole fora superficial demais...

Olhei pra trás e vi o que tinha caído se levantando. Ele olhou pra mim e abriu as asas pra alçar voo. Abaixei-me e toquei o solo, concentrando-me. O chão rompeu sob ele e uma estaca de pedra negra se ergueu subitamente, mas fui lento demais. O monstro já havia saltado e vinha em minha direção, sua garganta contraindo-se como a de seu colega, e tive de me jogar e rolar pra evitar seu disparo ácido. Gemi de dor no chão quando grama e terra ficaram grudados em meu ombro ferido, a esta altura já sem a primeira camada de pele. Porra! Eu conseguia ver os contornos dos músculos abaixo da epiderme! Aquilo ia me corroer de verdade se eu fosse atingido de novo. A água tinha espalhado o ácido mas ao menos retardou sua ação, diluindo-o.

Inspirei profundamente. Já chega, Koda. Você é um corvus. Haja como tal, pelo amor dos deuses. , falei por fim, duramente em minha própria consciência. Assim, aguardei ambos os monstros contornarem no ar e voltarem contra mim. Puxei da cintura minha segunda lamina e aguardei até que estivessem a 5 metros, então balancei-a com força, disparando um corte através do ar. A lamina atingiu a asa do feioso voador nº 1, que caiu rolando com vomito acido escapando do bico. O segundo disparou contra mim mas eu já não estava mais ali... Corri à toda velocidade ao seu encontro para surpreendê-lo, passando por baixo de seu disparo e, uma vez ali, saltei, fincando a adaga de estígio em seu peito e deixando que ele rasgasse sua barriga na lamina ao passar em seu trajeto voador. A criatura se desfez em pó no ar, caindo em um monte dourado.

Comida falei pro corvo, que desceu da árvore e pousou sobre o monte. Observei enquanto uma sombra se manifestava abaixo dele e então, ele a tocou com o bico, “devorando-a”.

A segunda criatura se debatia pulando no chão. Ícor dourado escorria de sua asa decepada e ele não parecia mais ansioso para me atacar. Olhava para trás enquanto pulava pelo chão na direção contrária a nós e não pude deixar de ficar de mau humor vendo aquilo. O filho da puta veio, me atacou, e agora tentava fugir... Humf!

Com uma shuriken bem arremessada acertei sua cabeça. O monstro tombou inerte e começou a se desfazer também, passo ao qual meu corvo pousou sobre ele para devorar sua sombra também. Peguei meu Diamante e concentrei-me para puxar quase que gravitacionalmente as almas das duas bestas para meu diamante, impedindo-as de retornar ao submundo.

- Bom arremesso. Mas sério que você vai desviar mais almas do submundo? – Disse uma voz.
Sim, obrigado, respondi mentalmente, dando de ombros. Então saltei pro lado de susto – meio inútil, né? – quando percebi que uma garota estava parada do meu lado.

Eu não tinha percebido ou sentido sua aproximação de qualquer maneira. Percebi que ela era transparente e, aos poucos, ganhava cores e forma sólida. Um capuz surgiu sobre sua cabeça e em sua mão uma foice estava segura com displicência. Ela era...

- É, olá. Você deve ser o filho de Hades que enviaram para cá para me ajudar, né... Eu esperava alguém com uma aura mais... Firme. Você é meio apagado, né?

Continuei encarando-a. O corvo voou e pousou em meu ombro, parecendo meio amedrontado com ela, mas acariciei sua cabeça para acalmá-lo.

- Ora, vamos, não vai sequer me responder? Por que todos os filhos de Hades são assim?

Suspirei profundamente. Então pedi licença ao corvinho em meu ombro para dizer;
- Krack! Caham, olá. Sou Shouto Koda, filho de Hades. Vim para ajuda-la a investigar os desvios das almas. Peço perdão por minha aparente indelicadeza. Não – krek! – é minha intenção deixa-la sem resposta. Porém, sou mudo. Espero que entenda.

Eu não costumava ser tão formal mas, bom... Depois de me esforçar tanto para ler os romances e series de investigação que eu tanto gostava, mesmo com dislexia, eu gostava de me divertir ao utilizar o modo rebuscado de falar de alguns personagens. Era... Divertido. Especialmente saindo de um corvo.

A ceifadora me encarou uns momentos, seu olhar indo do meu rosto para o corvo em silêncio. Então ela fez um ‘Kya!’, e deu de ombros.

- Claro! Por que não? Um filho de Hades com um ventríloquo corvo. Vai servir!

Equipamentos Levados:

Habilidades Usadas:

#1

Hermes

Hermes
Deus Olimpiano
Deus Olimpiano
Shouto Koda escreveu:Nome da Narração: O Coração de Almas
Objetivo da narração: Iniciar uma série investigativa em Massachusets. Inicialmente a missão é chegar até lá.
Quantidade de desafios: Um no final da narração
Quantidade de Monstros: 2
Espécie dos monstros: Bicho Feio


Tive uns sonhos estranhos aquela noite. Não que isso fosse surpresa... Nós, semideuses, sempre tínhamos sonhos assim. Mas desta vez, eu sabia que não era só um sonho mas sim, o prelúdio de uma trama misteriosa que certamente se apresentaria para mim num futuro próximo.

E com futuro Próximo, lê-se Naquela Noite.

O dia passou bem. Como uma bruma de verão... Só que frio. O inverno havia chegado com graça ao Acampamento, e vez ou outra as fronteiras permitiam que a neve entrasse para enfeitar os campos de branco. Eu estava montando uns corvos de neve nos galhos de uma dríade quando senti um arrepio. Virei-me lentamente. Contrastando contra o laranja do céu de long island atrás de si, uma figura preta me observava. De alguma forma só de olhar para aquela forma negra eu soube que se tratava de um deus... Um deus da morte. Não tânatos, mas um de seus servos, um dos Ceifeiros.


- Shouto Koda – veio a voz do fundo daquele capuz negro – Eu tenho uma missão para você.


Uma hora depois, eu voava pelo céu noturno. O frio não afetava meu corpo de corvo, mas os ventos vez ou outra desviavam-me e me forçavam a voar mais baixo para evita-los. Estava feliz de partir em uma missão e, honestamente, aliviado de estar só depois de tanto tempo. Eu estava passando a maior parte do meu tempo com os demais guardas, sobretudo os da segunda e terceira divisão, treinando, treinando, treinando... Estudando e treinando mais um pouco. A companhia dos outros corvus não era desagradável, mas minha cota de socialização é particularmente baixa. Antes de sair tinha ido até o refeitório onde queimei uma pequena oferenda bem-montada em nome do senhor dos céus e sua esposa. O céu estivera cinzento como é de costume no inverno, mas teimara em não chover durante todo o dia. Eu esperava que continuasse assim, sem nenhum raio ou tempestade pra me arrancar dos céus, então não custava nada apelar pela disposição de quem controlava aquele domínio. Uma bela coxa, com macarrão ao molho e nuggets. Tudo de bom!.... né? E um copo com suco dos morangos mais vermelhos dos EUA. Eu esperava que isso fosse suficiente.

Quando aquele deus da morte misterioso apareceu, primeiro pensei que tinha vindo cobrar minha alma. Afinal... eu havia morrido. Duas vezes. Mas ainda estava aqui. Quando senti sua presença pensei “pronto... Tânatos percebeu que eu já devia estar no Inferno”. Mas aparentemente eu pagaria esta dívida ajudando os deuses da morte, e não sendo ceifado por eles.

O ceifador havia me entregado uma missão, por fim. Uma missão que, segundo ele, apenas um filho de Hades poderia fazer. E por isso, ele havia selecionado alguns de nós espalhados pelo país para cumprir com este papel, então eu já sabia que não era o único filho de Hades por ai buscando resolver este problema. O problema, inclusive... Se tratava do desvio em massa de almas do submundo. Depois de mortos os mortais deveriam simplesmente seguir pelo rio dos mortos guiados por Caronte, e então entrar na fila para serem julgados pelos três Juízes dos Mortos. Mas, recentemente, muitas das almas não estavam fazendo este trajeto e o mundo inferior já estava começando a sentir as consequências desta quebra de equilíbrio. A fila de julgamento estava menor, as almas a renascer estavam mais escassas, a própria estrutura do mundo inferior estava enfraquecendo lentamente. E aparentemente, eles ainda não haviam descoberto a fonte daquele desequilíbrio.

Com isto... Nós, filhotes de Hades, fomos enviados para os lugares onde o maior número de almas estava sendo desviado. Em cada lugar deste havia um ceifador responsável por gerenciar as almas, que já estava conduzindo uma investigação e aguardando a chegada dos filhos de Hades designados a cada respectivo lugar. Eu... Por estar em Long Island, fui mandado para Massachusetts.  Eu nunca tinha ido até lá, mas adorava conhecer lugares novos. Especialmente sozinho.

Ali, do céu noturno, as luzes da cidade se aproximavam rapidamente a partir do horizonte. Viajar como corvo era engraçado... Cansativo e relaxante ao mesmo tempo. Apesar de estar fazendo um certo esforço mental, eu não sentia o cansaço físico de bater as asas, ou de forçar-me contra o vento... O desgaste era mágico, espiritual. Apesar disso, ao mesmo tempo, havia uma sensação engraçada e revigorante... Eu sentia como se estivesse constantemente sendo suplementado na veia com uma solução energética. Eu sabia o que era isso;  a noite, a escuridão me fortalecendo. Eu ainda achava isso engraçado e interessante como da primeira vez que eu havia sentido esta força me preenchendo.

A viagem durou algumas horas. Por fim, li a placa na estrada muito abaixo dizendo que estava entrando no estado correto... Massachusetts. Mais especificamente, na cidade de... Espere, Springfield? Gargalhei, grasnando entre um riso e outro. Então aquela cidade existia mesmo? Os Simpsons eram meu desenho favorito, de longe, e eu estava feliz de ter sido designado àquela missão só de ter a oportunidade de passar por ali.

Fui perdendo altitude aos poucos visando pousar em algum prédio para admirar o lugar e absorver  sua organização. Talvez roubar um lanche em alguma lanchonete... Mas logo a sensação fria e perigosa da aura de monstros chegou até a mim. Aquela sensação de uma presença enrigelada se aproximando, sentindo em minha mente como se eles me tocassem mesmo à distância... Olho naquela direção e vejo com meus olhos afiados vultos cruzando o céu escuro, vindos da mesma direção que eu. Certamente tinham sentindo meu cheiro e vindo atrás de mim. Suspirei. Eu tinha conseguido viajar tranquilamente, sem tempestades ou chuva, mas... Aparentemente tem coisas que não dá para evitar.

Pousei no telhado de um edifício. E havia poucos ali. A cidade era bonita de um jeito simples; muito verde, casas bem construídas, avenidas largas. Mas sem muitos prédios. Seria difícil despistas os monstros voadores, então logo começo a me conformar que teria de me livrar deles do jeito difícil.

Voei até o chão em um parque vazio. Àquela hora da noite, passado das 1 da manhã, eu não me surpreendi que não houvesse ninguém pelas ruas. Apenas alguns jovens e bêbados, e eu esperava que nenhum viesse procurar gracinha comigo. Saí de dentro do corvo assim que este se aproximou do solo e então sentei em um balanço para fumar um cigarrinho enquanto esperava os meus convidados especiais... Que não demoraram.

Nossa, como são feios, comento com o corvo sentado numa árvore perto de mim.
De fato, respondeu ele, e enfiou a cabeça em baixo da asa.

Spoiler:

Certo. Mas o que eram aquelas aberrações? Duas delas desceram em círculos sobre o parque, certamente buscando por mim e quando a primeira me identificou, veio direto em um rasante. Suspirei. Puxei o cigarro pra dentro de minha sombra e saquei minha adaga. Continuei parado enquanto ela se aproximava sedenta e então, quando estava a alguns metros, deixei que meu corpo e as sombras na noite se tornassem um só. A criatura passou direto por mim, suas asas se chocando contra a corrente do balanço. Ela foi puxada e deu um giro de 360º no balanço, me deixando com inveja, e caiu de cara no chão.

Eu não esperava isso comentei com o corvo com um sorriso, então chiei de dor e surpresa quando senti um liquido se chocando contra meu ombro direito. Pulei para longe, mas o estrago já estava feito. Minha camisa social derretia rapidamente. O peitoral de couro fervia, e meu ombro ficou avermelhado em poucos segundos. A queimação era como se água fervente tivesse sido despejada sobre mim. Inferno! O demônio cuspiu algum tipo de ácido em mim.

Tratei de pegar uma garrafa de água em minha sombra. Recuei de costas cortando sua tampa foracom a adaga e despejando o liquido no ombro. Trinquei os dentes quando o lugar doei mais ainda e o liquido misturou-se à água, escorrendo por minhas costas, peito e costela.
Ótimo! Eu sou mesmo um gênio!, falei comigo mesmo enquanto todo o meu tronco começava a arder como se estivesse em chamas. Inferno! A luta nem tinha começado e eu já sentia vontade de me encolher no chão de tamanha dor.

O monstro que estava no ar virou-se e planou em minha direção. O liquido verde ainsa escorria de seu bico. Percebi que sua garganta se mexia e entendi quase tarde demais que ele estava preparando outro cuspe de Chernobyl em mim, mas consegui saltar pro lado pra evitar este ataque. Troquei a adaga de mão e qual ele passou voando balancei a arma jogando-a em sua direção e ondulando a corrente de forma que a lamina na ponta batesse em sua asa como um chicote. O monstro guinchou sob o toque do estígio e oscilou em seu voo, batendo as asas pra tentar ganhar altitude. O gole fora superficial demais...

Olhei pra trás e vi o que tinha caído se levantando. Ele olhou pra mim e abriu as asas pra alçar voo. Abaixei-me e toquei o solo, concentrando-me. O chão rompeu sob ele e uma estaca de pedra negra se ergueu subitamente, mas fui lento demais. O monstro já havia saltado e vinha em minha direção, sua garganta contraindo-se como a de seu colega, e tive de me jogar e rolar pra evitar seu disparo ácido. Gemi de dor no chão quando grama e terra ficaram grudados em meu ombro ferido, a esta altura já sem a primeira camada de pele. Porra! Eu conseguia ver os contornos dos músculos abaixo da epiderme! Aquilo ia me corroer de verdade se eu fosse atingido de novo. A água tinha espalhado o ácido mas ao menos retardou sua ação, diluindo-o.

Inspirei profundamente. Já chega, Koda. Você é um corvus. Haja como tal, pelo amor dos deuses. , falei por fim, duramente em minha própria consciência. Assim, aguardei ambos os monstros contornarem no ar e voltarem contra mim. Puxei da cintura minha segunda lamina e aguardei até que estivessem a 5 metros, então balancei-a com força, disparando um corte através do ar. A lamina atingiu a asa do feioso voador nº 1, que caiu rolando com vomito acido escapando do bico. O segundo disparou contra mim mas eu já não estava mais ali... Corri à toda velocidade ao seu encontro para surpreendê-lo, passando por baixo de seu disparo e, uma vez ali, saltei, fincando a adaga de estígio em seu peito e deixando que ele rasgasse sua barriga na lamina ao passar em seu trajeto voador. A criatura se desfez em pó no ar, caindo em um monte dourado.

Comida falei pro corvo, que desceu da árvore e pousou sobre o monte. Observei enquanto uma sombra se manifestava abaixo dele e então, ele a tocou com o bico, “devorando-a”.

A segunda criatura se debatia pulando no chão. Ícor dourado escorria de sua asa decepada e ele não parecia mais ansioso para me atacar. Olhava para trás enquanto pulava pelo chão na direção contrária a nós e não pude deixar de ficar de mau humor vendo aquilo. O filho da puta veio, me atacou, e agora tentava fugir... Humf!

Com uma shuriken bem arremessada acertei sua cabeça. O monstro tombou inerte e começou a se desfazer também, passo ao qual meu corvo pousou sobre ele para devorar sua sombra também. Peguei meu Diamante e concentrei-me para puxar quase que gravitacionalmente as almas das duas bestas para meu diamante, impedindo-as de retornar ao submundo.

- Bom arremesso. Mas sério que você vai desviar mais almas do submundo? – Disse uma voz.
Sim, obrigado, respondi mentalmente, dando de ombros. Então saltei pro lado de susto – meio inútil, né? – quando percebi que uma garota estava parada do meu lado.

Eu não tinha percebido ou sentido sua aproximação de qualquer maneira. Percebi que ela era transparente e, aos poucos, ganhava cores e forma sólida. Um capuz surgiu sobre sua cabeça e em sua mão uma foice estava segura com displicência. Ela era...

- É, olá. Você deve ser o filho de Hades que enviaram para cá para me ajudar, né... Eu esperava alguém com uma aura mais... Firme. Você é meio apagado, né?

Continuei encarando-a. O corvo voou e pousou em meu ombro, parecendo meio amedrontado com ela, mas acariciei sua cabeça para acalmá-lo.

- Ora, vamos, não vai sequer me responder? Por que todos os filhos de Hades são assim?

Suspirei profundamente. Então pedi licença ao corvinho em meu ombro para dizer;
- Krack! Caham, olá. Sou Shouto Koda, filho de Hades. Vim para ajuda-la a investigar os desvios das almas. Peço perdão por minha aparente indelicadeza. Não – krek! – é minha intenção deixa-la sem resposta. Porém, sou mudo. Espero que entenda.

Eu não costumava ser tão formal mas, bom... Depois de me esforçar tanto para ler os romances e series de investigação que eu tanto gostava, mesmo com dislexia, eu gostava de me divertir ao utilizar o modo rebuscado de falar de alguns personagens. Era... Divertido. Especialmente saindo de um corvo.

A ceifadora me encarou uns momentos, seu olhar indo do meu rosto para o corvo em silêncio. Então ela fez um ‘Kya!’, e deu de ombros.

- Claro! Por que não? Um filho de Hades com um ventríloquo corvo. Vai servir!

Equipamentos Levados:

Habilidades Usadas:


||One-Post Avaliada|

Comentário: One post simples de como chegar na cidade e lutar com dois diabretes no padrão Shouto. Uma luta fácil em que ele subestima o oponente, toma um golpe pra acordar pra vida e começar a agir de forma decente. Eu como narrador não compraria Zeus só com uma coxa de frango e macarrão, vc provavelmente seria atingido por um raio, mas vou deixar passar.

Experiencia a receber: 1000
Dracmas: 500

|Atualizado|

#2

[Missão One-Post, Massachusetts] O Coração de Almas, Parte I - Shouto Koda Empty O Coração de Almas, Parte II

por Shouto Koda 09/05/21, 04:23 am

Shouto Koda

Shouto Koda
Filho(a) de Hades
Filho(a) de Hades
Nome da Narração: O Coração de Almas II
Objetivo da narração: Investigar o que está acontecendo na cidade de Springfield e o que está atraindo almas por toda ela;
Quantidade de desafios: Um no final da narração
Quantidade de Monstros: 1
Espécie dos monstros: Espectro Caçador


O nome da ceifeira era Camile, afinal. Para uma deusa da morte vestida em um capuz de sombras, ela era bastante bem-humorada, o que me fez gostar dela de cara. Pessoas excêntricas sempre são interessantes... E geralmente, as mais fortes.

Depois de eliminar aquelas duas aberrações – que ela disse serem filhotes de cocatrice, algo que eu nunca tinha ouvido falar – ela me guiou pelas ruas de Springfield. Passamos por parques e ruas vazias daquela pacata cidade até alcançar o centro do lugar onde ela me arrastou, animada, para uma cafeteria.
- Oi, Bill. Como vai a noite? – Camile cumprimentou animada o homem atrás do balcão, um senhor bem afeiçoado que sorriu radiante para ela.
- Linda noite, Mile. O de sempre?
- Sim, o de sempre.
- E para seu amigo?
- Hã, ele vai ficar com um Cappuccino extra forte – disse ela olhando pra minha cara com uma expressão engraçada.
- É pra já.

Com isso o senhor virou-se para preparar os pedidos.
- Como – Craaaa – Como você sabia? – Perguntei a ela através da voz do corvo em meu ombro.
- Ah, eu sempre sei do que as pessoas gostam – respondeu ela, num tom misterioso, mas percebi o sorriso que escondia – agora, que coisa engraçada. Eu acho que nunca vou me acostumar com este corvo falando... E ele é uma graça!

Ela esticou a mão pra acariciar o corvo no meu ombro mas dei-lhe um tapinha de leve.
- Vamos ao que interessa. O que você já descobriu sobre as almas?
- Ah, calma. Tudo a seu tempo... Não podemos apressar as coisas. Já, já teremos uma boa oportunidade. Por enquanto estou em meu horário de folga, das 20 às 22. Então eu volto ao trabalho.

Fiquei encarando-a meio bestificado com aquelas declarações. Horário de folga, sério? Deuses da morte têm folga das 20 às 22? Há!

- Então pretende ficar tomando café por mais uma hora?
- Não, eu vou te apresentar a cidade depois do café.

Revirei os olhos. Então suspirei. Tá certo, então. Se ela não tinha pressa, então por que eu teria?

- Certo. Crak. Crak. Vou adorar conhecer Springfield. Onde fica o Bar do Mou? Ele existe -crek mesmo?
Ela riu gostosamente. Como aquela garota podia ser uma ceifadora? Como aquele que havia me enviado ali... Tinha uma aura completamente diferente, um jeito completamente diferente. E agora, observando-a de perto, podia perceber como era ridiculamente linda, e olha que eu não costumo reparar nessas coisas.

- Cara, claro que o bar do Mou existe. Vamos até lá depois que terminarmos, vai ser divertido.

Conversa vai, conversa vem, nossos pedidos chegaram. O dono do lugar sorriu feliz para nós dois, e não pude deixar de sorrir de volta. Era raro alguém sorrir tão inocentemente para mim. Depois de deixar para trás minha vida mortal e começar a aprimorar meus poderes de semideus, eram raras as ocasiões de relaxamento e lazer como a que eu estava tendo naquele momento. Na maioria do tempo fora do acampamento eu andava tão tenso que minha aura gélida de filho de Hades impedia a maior parte dos mortais de se aproximar, quem dirás de me direcionar um sorriso.

- Certo. Então você é ceifadora por profissão e – craaaac- o que, viciada em café nas horas vagas?
- Mais ou menos. Eu estudo na maior parte do tempo que não estou de serviço. Mas como este é um trabalho de tempo integral, é raro eu ter folga para estudar. Um dia pretendo fazer faculdade mas, até lá, tenho alguns anos de serviço a prestar. Não estou reclamando, claro. É uma honra servir a Tânatos-sama, por mais que às vezes seja cansativo.

Engasguei com meu cappuccino quente ao ouvir Tânatos-sama. Ceifadora, linda, bem-humorada e otaku. Certo.
Conversamos por alguns longos minutos. Ela me contou sobre a rotina de direcionar almas perdidas ao submundo e exterminar monstros que tinham o hábito de caçar mortais, dando-lhes mortes prematuras. Disse que os EUA eram uma área vasta e recheada de Ceifadores... Cada um era, como ela, responsável por uma área. Uma cidade ou um Estado, e então tinha de lidar com os problemas naquele lugar e reportar as ocorrências mais graves a Thânatos. Por vezes também iam ao submundo vigiar monstros antigos aprisionados ou auxiliar a verificar as eternas construções de novas avenidas e ruas para os mortos que chegavam infindavelmente – o que achei bem curioso.

- Bom, tá na hora... Vamos nessa.
Ela levantou, deixou uma nota de vinte sobre o balcão e se despediu de Bill. Fiz um aceno pra ele e saí em seu encalço, ansioso para acender um cigarro.

- Vamos, acho que tem uma por aqui.
- Uma o que?
- Você vai ver.

Com isso ela saltou e saiu voando pro céu da noite. Ergui uma sobrancelha. Ceifadores podiam voar? Legal. Entrei no corvo e parti atrás dela, que olhou pra trás, ergueu as sobrancelhas e gargalhou.
- IRADO! – Falou, gritando sobre o vento.

Ri comigo mesmo dentro das sombras da reação da garota. Seguimos pelo céu noturno e silencioso em direção a algum lugar mais ao Norte. Ela parecia não se incomodar com o vento frio que soprava àquela altura. Me guiou até uma área mais comercial, onde comecei a ver alguns prédios e praças com estátuas, até que parou no topo de um edifício de quatro andares.

- Aqui. É aqui.

Pousei ao seu lado e olhei lá pra baixo e ao redor em busca do que ela queria dizer.
- Não está sentindo? Não consegue ouvir?

Ouvir? Agucei meus sentidos, concentrando-me. Então entendi o que ela quis dizer. Um zumbido... Um zumbido ritmado, parecendo uma corda de violão sendo tocada na afinação errada, tensa demais. Um som que parecia entrar em minha cabeça e em meu peito diretamente através da carne e dos ossos, e não pelos meus ouvidos. Saí da sombra do corvo para sentir aquilo com meu próprio corpo, e a sensação ficou duas vezes mais intensa.

Olhei para Camile, indagativo.
- É, imaginei que você conseguiria ouvir também. Seja lá o que for, eu consigo ouvir esta merda da cidade inteira. Me dá uma puta dor de cabeça às vezes... Mas esta porra sabe que eu posso ouvi-la e toda vez que eu me aproximo além deste ponto, ele para. Completamente! Certamente é algum mecanismo de defesa para não ser encontrado. Quem quer que está fazendo isso sabe que estou aqui e o que sou, e não quer que eu o encontre.

“E é aí que eu entro”, pensei.
- E é aí que você entra – disse ela – vocês, filhos de Hades, são ainda melhores que nós em se esgueirar por ai, então... Acho que há uma chance de você passar despercebido se eu estiver por perto. Então quero que explore esta área e descubra de onde vem esta parada estranha. Esta droga está acontecendo aqui em Springfield e em Boston. E lá a coisa está ainda mais intensa, então provavelmente está também sendo melhor vigiada por... Bem, por quem quer que esteja dirigindo esta bagaça. Mas, e então? Topa?

Acenei pra ela. De fato, era uma boa ideia. Eu também conseguia ouvir aquela vibração e, certamente, minha aura era menos presente do que a de um ceifador. Dentro das sombras eu talvez pudesse passar despercebido por quem quer que estivesse fazendo aquilo.

- Veja – Falou ela, apontando pra um ponto lá em baixo.
Olhei naquela direção e encontrei o que ela queria mostrar. Muito abaixo de nós uma alma solitária caminhava pela rua. Atravessou a avenida, passou por dentro de um carro e atravessou uma parede, desaparecendo.

- O movimento das almas é grande a partir daqui. São atraídas por este som, mas sempre que tentei segui-las além daqui o som para e elas perdem o rumo. Mas você talvez consiga.

Acenei novamente. De fato, entendi por que os ceifeiros estavam convocando filhos de Hades para ajudar nesta tarefa. Eu só esperava que “Eles” não tivessem se atentado a isto ainda, ou eu estaria correndo o risco de ser arrastado para uma armadilha. Teria de tomar cuidado para não ser percebido e comprometer a missão não só nesta cidade mas também em outros lugares. Inspirei profundamente, concentrando-me, e de minha sombra sobre o telhado do prédio fiz nascerem três corvos. Dou um tapinha carinhoso na cabeça de cada um.
“Você é Ichi, você é Ni, e você é San. Arigatou”. Então fiz Ichi voar até o ombro de Camile e ficar empoleirado.
- Podemos usar este carinha pra nos comunicar – Falei através dele – Vou reportar qualquer coisa por aqui. Se notar algo estranho daqui de fora, avise também. Estou indo.

Dito isso entrei no corvo que já tinha usado antes e alcei voo. Ni e San iriam dar a volta, cada um partindo por um lado do prédio, circulando aquela grande área onde podíamos ouvir o zumbido. Segui adiante tão alto quanto me arriscava, dando a volta no prédio que tinha visto a alma entrar lá em baixo. Misturado com as sombras do céu noturno, acima do halo de luz da cidade, eu esperava passar despercebido por qualquer observador lá em baixo. Senti alivio quando avistei a alma saindo do outro lado do prédio. Ela parecia parar, ouvir por um momento, e então seguir em frente corrigindo levemente seu trajeto. Não me surpreendi em ver outra alma vagando. Atrás dela, um hospital... Há! Que engraçado. Teria alguém acabado de morrer e sua pobre alma agora vagava atraída como uma mosca pelo fogo? Era até engraçado. Dei voltas pelo céu e o zumbido parecia ficar mais forte. Meus corvos já haviam circulado todo o norte da cidade, longe o suficiente para eu quase não conseguir senti-los mais. As almas seguiam na mesma direção e eu os segui sem pressa, tão longe quanto possível sem perde-las de vista para não levantar suspeitas. Um dos corvos avistou outra alma vagando, vinda sabe-se lá de onde. Caramba. Seja lá o que estiver produzindo este zumbido, vou por um no Chalé 13 e ficar catando as almas. Ia ser o máximo, pensei comigo mesmo. Então imaginei um ceifador aparecendo no meio da noite pra me empalar com uma foice e não me pareceu mais tão o máximo assim.

As duas almas que eu via começaram a se aproximar. O som também estava incomodamente alto agora. Parecia fazer minha cabeça vibrar, mesmo enquanto eu estava dentro do corvo. Percebi com uma certa surpresa e temor que eu queria ir atrás daquele som... Ele me atraía intimamente, deixando-me curioso para saber o que ele era e não era uma curiosidade natural apenas. Era induzida, implantada... Aquela coisa era forte o suficiente para me afetar também, e não somente as almas, e isso me deixou ainda mais alerta. Perdi um pouco de altitude, planando de asas abertas até pousar sobre a antena de um hotel de onde eu conseguia observar duas ruas inteiras. As almas atravessaram mais um conjunto de estabelecimentos comerciais, um posto de gasolina, uma construção e.... Só. Entraram na construção mas não saíram do outro lado. Mudei de lugar sobre o prédio pra tentar ver se saíram por outro lugar, mas nada. Aguardei alguns minutos e a alma que meu corvo tinha visto mais cedo apareceu no extremo da rua vinda da direção contrária à que as duas primeiras almas apareceram. O corvo que a seguia, San, vinha logo atrás saltando de prédio em prédio com voos curtos.
“Aí está bom. Obrigado amigo”, falei pra ele e ele ficou empoleirado em cima de um prédio.

Parei para refletir se deveria mandar um corvo ou ir em mesmo lá dentro. Decidi por mandar um corvo. Primeiro por segurança e segundo, porque ele certamente teria uma presença menos notável do que um corvo comigo possuindo-o (?). Mesmo nas sombras ainda haviam entidades capazes de identificar um filho de Hades. Além disso eu não sabia até que ponto aquela coisa podia afetar minha mente, e esperava que

Assim, concentrei-me em conectar-me com a mente de Ni, o corvinho que ainda estava voando por ai. San ficou vigiando os arredores enquanto eu estava distraído então foquei-me em manipular o corvinho à distância, enxergando através de seus olhos e ouvindo com seus ouvidos.

O fiz descer sutilmente pelo ar. A alma estava lá em baixo, indo em direção à construção. Paredes de concreto e colunas erguiam-se a esmo de um terreno cercado por um muro alto. O corvo pousou sobre uma coluna e observou a alma caminhar entre paredes, montes de areia, pedras e mais colunas e então desaparecer dentro de um recinto fechado. Num rasante silencioso e cheio de graça, entrou. O escuro não atrapalhava seus olhos. A vibração no ar afetava minha mente mesmo através do corvo, mas eu tinha certeza de que estaria me afetando mais se eu estivesse lá, o que me deixou feliz por ter decidido enviar o corvo para sondar o local. Ali a alma desapareceu atrás de uma porta. O corvo seguiu-a tão devagar quanto podia e planou no ar por um momento, observando a alma desaparecer no chão. Ou assim pareceu... Havia um buraco ali. Pousou na borda olhando para dentro com a cabeça inclinada, vendo um túnel que descia quase em 90º na terra. O ar ali chegava a tremer e ondular com o som que saia. Vrum! Vrum! Vrum! O corvinho pulou de cabeça no buraco, caindo por alguns segundos antes de abrir as asas e dar um rasante recuperando-se da queda. Lá em baixo o túnel perdia inclinação até seguir em 45º para baixo e em frente. A alma seguia flutuando rapidamente naquele sentido. O túnel ficava difuso a cada segundo e voltava ao foco, enquanto aquela batida estranha prosseguia incessantemente. Uma luz esverdeada bruxuleava no fim do corredor de pedra e terra, para onde a alma seguiu cada vez mais rápido. O corvo aguardou um pouco, pousando. O fiz seguir lentamente, caminhando pelo canto no chão... Assumo que estava com medo. Medo do que encontraria e acima disso, medo de ser encontrado de volta por aquilo que eu achasse ali naquela caverna.

Mas eu não esperava encontrar... Uma floresta. O corvo saiu em uma grande câmara no fim daquele túnel. A alma seguia à frente e agora ao invés de pedras, caminhava em meio a árvores, moitas, cipós e cristais brilhantes. Grama crescia do chão e do teto videiras caíam, roxas e com frutas brilhantes penduradas de seus ramos. Fiquei atônito vendo aquilo. Mesmo através do corpo do corvo eu conseguia sentir o cheiro daquele lugar... Uma brisa suave soprava de lá, fazendo as folhas balançarem e as penas do corvo tremularem de leve. O animalzinho caminhou lentamente e de um salto voou até o galho de uma árvore. O lugar era amplo, espaçoso... O som de diferentes animais chegavam até nós. Vi pássaros saltando entre os galhos e esquilos correndo pela grama, pegando frutinhas e perseguindo uns aos outros. A alma seguiu inabalável em direção ao fundo. O som das vibrações estava absurdo ali... O som passava pelo corpo do corvo como uma força física, vibrando-o tanto que temi que pudesse lhe causar danos. O fiz saltar e voar de galho em galho perseguindo a alma. Percebi que muitas das plantas eram... Exóticas. Cores aberrantes, cheiros estranhos, formatos que nunca vi. Tudo ali era estranho.

O corvo seguiu a alma por mais uns dois ou três minutos, até que a floresta se abriu em uma clareira. Ouvi um som... Uma melodia por entre a vibração ritmada que corria pelo ar. Então vi de onde vinha a música.

Uma figura estava sentada em um tronco no meio da clareira. O ar vibrava naquele ponto, de uma forma estranha. Mas mais estranha ainda eram as pessoas ali.

Spoiler:

As duas figuras estavam paradas sentadas no tronco. O homem tocava uma espécie de alaúde, e o som dele se misturava com as vibrações no ar criando uma melodia hipnótica e até harmoniosa. Borboletas e pássaros flutuavam ao redor. O corvo se escondeu em uma árvore observando a alma aproximar-se daquela dupla. Ele chegou perto e passou direto por eles, e foi então que vi um objeto sobre uma pedra atrás do tronco caído. Naquele momento senti um arrepio e soube que era dali que saia o som, a vibração, aquela coisa estranha que estava atraindo as almas vagantes. Observei enquanto a alma se aproximava e parava diante daquilo.

Spoiler:

Aquilo, aquela rocha que parecia, sei lá... Um coração... Vibrava a cada poucos segundos. Percebi que o som que eu ouvia na verdade eram as batidas daquilo. “Vrum! Vrum! Vrum!”. O ar ondulava à sua volta a cada pulsação. A alma parou diante daquilo e a mulher levantou-se do tronco.

- Mais uma... Mais um para nosso futuro reino.

Sua voz era suave, sedosa, mas ao mesmo tempo áspera como ade um animal, e me deixou confuso de ouvi-la. Ela se aproximou da alma e do pilar de pedra com o coração. Raízes cresciam até o objeto, envolvendo-o. Ela tocou a alma com a lança em sua mão e começou a proferir algumas palavras que não entendi mas logo supus que deveria ser algum tipo de encantamento. O corpo da alma se desfez e se envolveu na arma como uma aura esverdeada. Então ela a fincou no chão e a terra absorveu a energia. Senti algo estranho naquele momento, um sentimento ruim vindo dali, como o sentimento que tinha quando monstros estavam por perto.  A presença do homem de armadura tocando era semelhante, embora suave.

A mulher ergueu os braços balbuciando mais alguma coisa. Então voltou para perto do homem, que tinha parado de tocar para observá-la.

- Estamos cada vez mais próximos... Cada vez mais próximos de ter o poder que precisamos para tomar o que é nosso, para devolver o mundo aos verdadeiros donos... Quando nos conectarmos a nossos irmãos pelo continente, então nós-

Ela parou de falar de repente quando o homem ergueu um dedo. Ele olhou ao redor lentamente e seus olhos se fixaram em mim. Ou melhor... No corvo. A mulher acompanhou seu olhar e encontrou-o também.

- Ora. Não temos corvos aqui...
O homem ergueu a mão e um arco brotou do chã como uma planta moldando-se numa velocidade absurda. Ele o agarrou e uma flecha brotou ao lado. Ele a agarrou, mirou e disparou, mas o corvo já não estava mais lá. O animalzinho voava apressado entre as árvores. Concentrei-me e então o desfiz em sombras, fazendo-o sumir no ar.

Minha consciência voltou ao corvo no exterior da construção. O fiz inspirar profundamente para sentir e me deliciar com a sensação do ar fresco, muito agradável depois daquele lugar abafado. Virei-me e alcei voo tão rápido quanto possível na direção em que Camile estava. “Estou voltando. Eles me notaram”, mandei a mensagem através do corvo que tinha deixado com ela.
“Quem te notou?” ela respondeu.
“Eu não sei. Mas sinto perigo”.

Deixei o corvo San para trás, vigiando a entrada da construção e continuei rumando tão rápido quanto conseguia na direção de Camile. Alcancei-a em cinco minutos me esperando no mesmo lugar, acariciando a cabeça do corvo e com uma expressão preocupada. Pousei o corvo e saí de seu corpo, mentalmente exausto. Percebi que meu coração batia com força. Minha respiração estava alterada e comecei a suar frio imediatamente. Seria aquilo efeito de dividir minha consciência entre os corvos por tanto tempo ou de suportar a presença daquele coração estranho em baixo da terra?

- Eles estão em baixo de uma construção. Tem um -crek – túneo lá, que leva para uma caverna muito, muito funda. Tem uma floresta inteira -creekscendo lá em baixo. Eu...

Olhei para o Norte. Meu corvo estava morto, e eu nem vi o que o matou. O outro corvo, Ni, ainda rodava pelos céus, próximo àquele lugar estranho. Vi um vulto pelo céu através de seus olhos, e dois olhos brilharam em sua direção. A criatura desapareceu mas sua presença ainda se esgueirava ao redor. Então Ni também desapareceu.

- Algo está vindo – falou Camile, levantando-se e olhando na mesma direção eu eu.
- Eu sei, mas... Não consegui ver o que era.
- Vamos. Não podemos lutar aqui.
- Se esconda.
- O que?
- Se esconda. Será pior se eles souberem que você sabe sobre eles. Craaak. Se esconda! Eu cuido da criatura!

Ela me encarou por um longo momento, claramente indecisa. Então sorriu e acenou, desaparecendo diante de meus olhos.

Virei e saltei do prédio. O corvo me acompanhou e adentrei sua sombra, voando tão rápido quanto possível indo na direção contrária. Bati as asas fortemente. A sensação fria e incomoda de estar sendo observado, de estar sendo perseguido me cercava de todos os lados. Tentei voar mais rápido mas já estava no limite. A presença se intensificou ao meu lado e no momento seguinte vi um vulto negro materializar-se... Aquela coisa certamente não era um monstro comum. Sua cabeça parecia a de um cavalo, mas... Canídea? Possuia um corpo semelhante ao de uma cobra ou lagarto, mas seus braços eram longos como galhos de uma árvore e seus dedos estendiam-se em garras mortalmente afiadas.

Spoiler:

De olhar eu soube que aquela aberração era algum tipo de espírito. Um espírito completamente ruim, não natural, uma aberração que aquela mulher na caverna havia criado de alguma forma. Magia negra, talvez!? Bah. No momento isso não importava... O importante era aquela coisa chegando cada vez mais perto e pronto para fatiar o pobre corvo onde eu estava escondido. Meus sentidos me alertaram que não deveria confiar na intangibilidade do corpo de sombra dos corvos desta vez, afinal os outros tinham sido dissipados. Então me forcei a continuar o voo até que ele estivesse perto de me alcançar e então descer embicado para baixo, saindo de seu alcance de subido. Mas a criatura era rápida e mergulhou atrás de mim, seguindo-me de perto. Eu conseguia ver uma praça mais á frente. Vazia e com algumas árvore se uma fonte. Aquilo teria de servir para lutar... poderia usar a sombra das árvores, projetadas pelos postes de luz e pela lua para ganhar alguma vantagem, mas será que eu conseguiria primeiro chegar até lá?

A resposta foi não. Senti uma dor aguda nas costas, pego de surpresa. O corvo começou a se desfazer e me vi sendo expulso das sombras ainda a cinco metros do chão. Preparei-me pro impacto começando a sentir o vento passando em minha pele quando o corvo se desfez finalmente e caí rolando para tentar amenizar o impacto e poupar meus tornozelos. Funcionou: meus pés estavam bem. Mas meu choquei meu cotovelo com força na calçada ao cair e um forte choque percorreu meu braço direito, deixando-o dormente e imóvel. Com um certo temor percebi que não conseguiria segurar uma adaga com meu braço dominante tão cedo.

Levantei-me tão rápido quanto pude depois de rolar. A fera mal me deu tempo de cair e já estava armando outro ataque, suas garras já vinham mais uma vez em minha direção, me obrigando a me abaixar para evita-las, mas ao arquear as costas senti uma nova onda de dor. O filho da puta tinha mesmo me cortado enquanto estava nas sombras! Aquilo nunca tinha acontecido. Podia sentir o sangue quente escorrendo pelas costas em contraste com o frio que fazia naquela noite.

Recuperei-me recuando e puxando a adaga da cintura com a mão esquerda. A adaga prateada de Diorito. Balancei-a num golpe amplo, lançando uma lamina de vento certeira contra seu rosto. O cuzão vinha direto contra mim como se nada tivesse a temer, como se me matar fosse sua única razão de viver, a única coisa em sua mente. Para meu desespero a lamina de vento atingiu seu rosto em cheio, afundando suas feições e abrindo um talho, mas o lugar se regenerou em apenas alguns segundos. Evitei suas garras de um salto dando meu melhor para evadir suas garras. Um, dois ataques foram evitados, mas um corte em meu rosto me causou dor pela terceira vez. Suas garras abriram talhos em meu peitoral, provando seu poder, e por pouco não fora meu peito a ser estripado. Saltei para trás e arremessei a adaga diretamente contra seu peito. A lâmina fincou-se ali, mas ele apenas gemeu e a ignorou, voltando a vir em minha direção.

Mas que PORRA É ISSO!? eu gritava em minha mente enquanto saltava em zigue-zague pra manter-me fora do alcance de suas garras que cortavam o ar freneticamente.

Isso é um espectro.

A voz de Camile me pegou de surpresa. Ela... Ela ainda estava com o corvo! Onde quer que estivesse, o corvo “Ichi” ainda estava com ela, ouvindo sua voz.

Isso é um espectro, um espírito caçador. Eles são criados a partir da fusão de almas, para perseguir e caçar algo ou alguém... Muito provavelmente eles identificaram sua aura ou seu cheiro e o mandaram atrás de ti. Você não poderá feri-lo por modos convencionais.

Ah, jura!? Eu percebi! Cortei a cara dele em duas e ele mal piscou. O que eu faço?

Mesmo curta a conversa me custou um foco precioso. A aberração, o tal do espectro, golpeou com as garras enormes. Sério, aquelas coisas tinham o tamanho de minha adaga longa! E tive de erguer o braço direito para bloqueá-las. Já machucado, o braço protestou da dor, mas ao menos não foi ferido graças às braçadeiras nele.

Dã!? Ele é um bando de almas incorporadas por magia negra... E você, é um filho de Hades. Então...?

Quase xinguei a Deusa da Morte de coisas que poderiam ter custado minha alma. Eu não estava com paciência nem com tempo para enigmas naquele momento, mas me forcei a refletir.

Oh, pensei. Então saquei minha adaga de ferro estígio e aguardei o monstro se aproximar. Quando ele ergueu o braço pra atacar eu girei a corrente e pulei baixo, num salto rasante passando por ele usando de um Movimento ecoante. A corrente enrolou-se em seu braço, e então lancei a adaga girando a corrente, fazendo-a se envolver no tronco e pescoço da criatura, prendendo seu braço ao corpo. Ele esperneou e se debateu, mas sob o toque do ferro estígio seu corpo negro começou a assumir um som acinzentado e a perder cor. Certo... Agora eu ao menos sabia como feri-lo. Mas isso não o intimidou. O filho da mãe avançou e eu me abaixei quando ele golpeou minha cabeça com a mão livre. Aproveitei que estava abaixado e peguei impulso pra saltar pra longe, mas negligenciei meus arredores, dando de costas em um poste de luz e vendo estrelas com a dor em minhas costas. Isso tinha de acabar.

Forcei o braço machucado ao limite. Aguardei o monstro enquanto transformava as tiras enroladas em meu braço em sua forma original de duas braçadeiras de estígio. Quando o monstro se aproximou mais de 3m, ergui o braço direito para bloquear o seu esquerdo livre e avancei. O choque do seu golpe contra a braçadeira no braço espalhou uma onda fria de dor pelo membro com câimbra. Mordi a língua, sentindo o gosto metálico de sangue na boca, mas não parei. Aquilo precisava acabar, e rápido! Soquei seu peito com toda a força ejetando a lamina da katar neste momento. O ferro negro entrou em sua carne, acinzentando-a de imediato, e então usei o peso de meu corpo para forçar a lamina para baixo, rasgando-o. A criatura emitiu um grito agudo em vários tons diferentes, e então se desfez no ar. Enquanto se desfazia pude notar as formas de quatro almas se dissipando.
Ah, não vão não pensei e ergui meu diamante. As quatro espiralaram no ar enquanto eu me concentrava em traga-las para o infinito vazio da pedra roxa.

- Olha, isso foi bem legal. Mas você podia ter sido mais esperto, né?
Camile surgiu do meu lado do nada. Apontei para a poça de sombras que sobrara do monstro no chão, onde cinzas ainda flutuavam no ar, e o corvo pulou de seu ombro para devorá-las.

- Ok. Acho que depois dessa nós merecemos um café.


Eu não esperava que Camile tivesse um apartamento. Ainda mais um tão bem organizado e limpo. Ela me ajudou a tratar minhas feridas depois da batalha... Um pouco de Ambrosia, uma limpeza nas feridas em minhas costas e logo, logo eu conseguia andar quase tranquilamente, muito embora meu braço direito ainda estivesse dormente e eu não conseguisse levantá-lo além da altura do peito.

Assim que chegamos Camile preparou um café e sentamos em sua sacada para que eu pudesse relatá-la o que encontrei lá dentro. Ela balançou a mão e biscoitos e torrada vieram voando da cozinha, o que eu achei o máximo mas não comentei. Olhei para o céu da noite várias vezes, temendo que outro espectro pudesse surgir para caçar-me mais uma vez.

- Relaxa, cara. Você está seguro aqui. É minha casa, afinal. E se outro daqueles estiver por ai, eu vou saber.
Olhei pra ela e peguei uma torrada, satisfeito. Ela tinha substituído o manto negro e a foice por uma camiseta, shorts curtos e meias de caveirinhas. Suspirei sorrindo enquanto colocava as ideias em ordem. O corvo Ichi parecia ter gostado dela, pois estava empoleirado em sua cabeça enquanto ela lhe oferecia torradas.

- Crak! Posso tomar um banho antes de começarmos?
Ela assentiu e me indicou o banheiro. Lá dentro soltei alguns gemidos indignos enquanto tirava a roupa. Apesar da ambrosia minhas costas ainda ardiam como o diabo depois do golpe do monstro .Meu peitoral tinha três talhos abertos na frente, e meu rosto agora tinha uma nova cicatriz. Ótimo, pensei. Daqui a pouco vou estar parecendo um maldito Filho de Ares com mais cicatrizes do que pele íntegra no corpo.

O banho frio foi reconfortante. Lembrei-me da caverna e de como era sinistra lá dentro... Apesar de parecer uma linda e mágica floresta encantada, eu tinha certeza de que aquilo não era nenhum tipo de paraíso. Nada de bom sairia dali.
Terminei meu banho e me enxuguei com uma toalha que Camile jogou par dentro do banheiro. Logo eu estava sentado com ela tomando um café e torradas enquanto contava através de ichi sobre tudo que vi lá dentro.
Camile ficou em silêncio por um longo minuto depois que eu terminei. Sua expressão ficou mortalmente séria, pela primeira vez desde que eu a tinha visto. Enquanto ela observava o trânsito lento lá em baixo através das grades da sacada eu novamente não consegui deixar de me admirar em como ela era bonita. Um contraste absurdo com a natureza de seu ser... A Deusa da Morte era a pessoa... Ou melhor, a entidade mais bela que eu já tinha visto em minha vida. Mais bonita do que qualquer filha de Afrodite no acampamento. Seus olhos eram de um verde tão profundo que lembravam um pântano profundo. Sua pele era pálida, mas as bochechas tinham um tom róseo. A boca e o nariz encaixavam-se no quadro com curvas perfeitas, me distraindo enquanto os observava.

Balancei a cabeça. Há! Só o que me faltava. Eu iria me apaixonar por Camile? Nah... Não era muito minha cara ficar de paixonites. Mas que ela era linda, isso era.

- Isso é mais grave do que eu esperava. Ela disse que há outros lugares como aquele?
- Bom... -crkak-disse que quando se conectassem com seus irmãos pelo continente, então... Então alguma coisa. Disse [kreeeeek- que o mundo seria devolvido a seus verdadeiros donos.
- E ela tinha uma lança, penas na cabeça e vestia couro... E o homem parecia feito de plantas?
- É.
- Pelo Hades...

Achei engraçado vê-la praguejar com o nome de meu pai. Como será que ele estaria agora? O que estaria fazendo? Será que estava nos observando? O pensamento me deixou inquieto.
- A mulher e o homem que você viu provavelmente são druidas. Feiticeiros das florestas, dominadores de espíritos, mestres da magia da natureza... Controlam espíritos dos mortos e espíritos vivos como as ninfas, as náiades... São criaturas bem idiotas, em minha opinião. Alguns vivem em paz nas florestas como protetores. Mas alguns... Alguns são bem extremos. Defendem uma ideia de que o mundo falhou, que a humanidade e os deuses que a guiam falharam com o planeta, e que ele deveria voltar a ser uma selva, um caos de natureza desenfreada. Ah, esses caras... nunca estudaram Sucessão ecológica na escola.

Absorvi o que ela falava enquanto mastigava uma torrada. Legal, druidas, como nos RPG’s. Só que estes eram maus... Bem maus, pelo que pude ver.  

- E então, o que fazemos? – perguntei para ela – agora que você sabe onde estão -craaa, crak – o que fará? Podemos tentar ruir a caverna.
- Hm... é uma possibilidade. Mas isso não resolveria o problema. Nós precisamos recuperar o coração. Ele é o problema.
- Por que? O que é aquilo?

Camile suspirou por um momento e então me olhou nos olhos, séria, me deixando desconfortável.

- Aquilo, Shouto... É o coração de um ceifador.
Com essa declaração feliz eu mastiguei minha torrada, mais confuso que nunca.
- Ah – respondi.



- Aquisições:
+4 almas para Diamante
+1 Stack (ou 4?) para as Katar
+1 Sombra para Devorasombras
-1 Pedaço de Ambrosia

Equipamentos:

Habilidades Usadas:

#3

Plutão

Plutão
Deus Olimpiano
Deus Olimpiano
Shouto Koda escreveu:Nome da Narração: O Coração de Almas II
Objetivo da narração: Investigar o que está acontecendo na cidade de Springfield e o que está atraindo almas por toda ela;
Quantidade de desafios: Um no final da narração
Quantidade de Monstros: 1
Espécie dos monstros: Espectro Caçador


O nome da ceifeira era Camile, afinal. Para uma deusa da morte vestida em um capuz de sombras, ela era bastante bem-humorada, o que me fez gostar dela de cara. Pessoas excêntricas sempre são interessantes... E geralmente, as mais fortes.

Depois de eliminar aquelas duas aberrações – que ela disse serem filhotes de cocatrice, algo que eu nunca tinha ouvido falar – ela me guiou pelas ruas de Springfield. Passamos por parques e ruas vazias daquela pacata cidade até alcançar o centro do lugar onde ela me arrastou, animada, para uma cafeteria.
- Oi, Bill. Como vai a noite? – Camile cumprimentou animada o homem atrás do balcão, um senhor bem afeiçoado que sorriu radiante para ela.
- Linda noite, Mile. O de sempre?
- Sim, o de sempre.
- E para seu amigo?
- Hã, ele vai ficar com um Cappuccino extra forte – disse ela olhando pra minha cara com uma expressão engraçada.
- É pra já.

Com isso o senhor virou-se para preparar os pedidos.
- Como – Craaaa – Como você sabia? – Perguntei a ela através da voz do corvo em meu ombro.
- Ah, eu sempre sei do que as pessoas gostam – respondeu ela, num tom misterioso, mas percebi o sorriso que escondia – agora, que coisa engraçada. Eu acho que nunca vou me acostumar com este corvo falando... E ele é uma graça!

Ela esticou a mão pra acariciar o corvo no meu ombro mas dei-lhe um tapinha de leve.
- Vamos ao que interessa. O que você já descobriu sobre as almas?
- Ah, calma. Tudo a seu tempo... Não podemos apressar as coisas. Já, já teremos uma boa oportunidade. Por enquanto estou em meu horário de folga, das 20 às 22. Então eu volto ao trabalho.

Fiquei encarando-a meio bestificado com aquelas declarações. Horário de folga, sério? Deuses da morte têm folga das 20 às 22? Há!

- Então pretende ficar tomando café por mais uma hora?
- Não, eu vou te apresentar a cidade depois do café.

Revirei os olhos. Então suspirei. Tá certo, então. Se ela não tinha pressa, então por que eu teria?

- Certo. Crak. Crak. Vou adorar conhecer Springfield. Onde fica o Bar do Mou? Ele existe -crek mesmo?
Ela riu gostosamente. Como aquela garota podia ser uma ceifadora? Como aquele que havia me enviado ali... Tinha uma aura completamente diferente, um jeito completamente diferente. E agora, observando-a de perto, podia perceber como era ridiculamente linda, e olha que eu não costumo reparar nessas coisas.

- Cara, claro que o bar do Mou existe. Vamos até lá depois que terminarmos, vai ser divertido.

Conversa vai, conversa vem, nossos pedidos chegaram. O dono do lugar sorriu feliz para nós dois, e não pude deixar de sorrir de volta. Era raro alguém sorrir tão inocentemente para mim. Depois de deixar para trás minha vida mortal e começar a aprimorar meus poderes de semideus, eram raras as ocasiões de relaxamento e lazer como a que eu estava tendo naquele momento. Na maioria do tempo fora do acampamento eu andava tão tenso que minha aura gélida de filho de Hades impedia a maior parte dos mortais de se aproximar, quem dirás de me direcionar um sorriso.

- Certo. Então você é ceifadora por profissão e – craaaac- o que, viciada em café nas horas vagas?
- Mais ou menos. Eu estudo na maior parte do tempo que não estou de serviço. Mas como este é um trabalho de tempo integral, é raro eu ter folga para estudar. Um dia pretendo fazer faculdade mas, até lá, tenho alguns anos de serviço a prestar. Não estou reclamando, claro. É uma honra servir a Tânatos-sama, por mais que às vezes seja cansativo.

Engasguei com meu cappuccino quente ao ouvir Tânatos-sama. Ceifadora, linda, bem-humorada e otaku. Certo.
Conversamos por alguns longos minutos. Ela me contou sobre a rotina de direcionar almas perdidas ao submundo e exterminar monstros que tinham o hábito de caçar mortais, dando-lhes mortes prematuras. Disse que os EUA eram uma área vasta e recheada de Ceifadores... Cada um era, como ela, responsável por uma área. Uma cidade ou um Estado, e então tinha de lidar com os problemas naquele lugar e reportar as ocorrências mais graves a Thânatos. Por vezes também iam ao submundo vigiar monstros antigos aprisionados ou auxiliar a verificar as eternas construções de novas avenidas e ruas para os mortos que chegavam infindavelmente – o que achei bem curioso.

- Bom, tá na hora... Vamos nessa.
Ela levantou, deixou uma nota de vinte sobre o balcão e se despediu de Bill. Fiz um aceno pra ele e saí em seu encalço, ansioso para acender um cigarro.

- Vamos, acho que tem uma por aqui.
- Uma o que?
- Você vai ver.

Com isso ela saltou e saiu voando pro céu da noite. Ergui uma sobrancelha. Ceifadores podiam voar? Legal. Entrei no corvo e parti atrás dela, que olhou pra trás, ergueu as sobrancelhas e gargalhou.
- IRADO! – Falou, gritando sobre o vento.

Ri comigo mesmo dentro das sombras da reação da garota. Seguimos pelo céu noturno e silencioso em direção a algum lugar mais ao Norte. Ela parecia não se incomodar com o vento frio que soprava àquela altura. Me guiou até uma área mais comercial, onde comecei a ver alguns prédios e praças com estátuas, até que parou no topo de um edifício de quatro andares.

- Aqui. É aqui.

Pousei ao seu lado e olhei lá pra baixo e ao redor em busca do que ela queria dizer.
- Não está sentindo? Não consegue ouvir?

Ouvir? Agucei meus sentidos, concentrando-me. Então entendi o que ela quis dizer. Um zumbido... Um zumbido ritmado, parecendo uma corda de violão sendo tocada na afinação errada, tensa demais. Um som que parecia entrar em minha cabeça e em meu peito diretamente através da carne e dos ossos, e não pelos meus ouvidos. Saí da sombra do corvo para sentir aquilo com meu próprio corpo, e a sensação ficou duas vezes mais intensa.

Olhei para Camile, indagativo.
- É, imaginei que você conseguiria ouvir também. Seja lá o que for, eu consigo ouvir esta merda da cidade inteira. Me dá uma puta dor de cabeça às vezes... Mas esta porra sabe que eu posso ouvi-la e toda vez que eu me aproximo além deste ponto, ele para. Completamente! Certamente é algum mecanismo de defesa para não ser encontrado. Quem quer que está fazendo isso sabe que estou aqui e o que sou, e não quer que eu o encontre.

“E é aí que eu entro”, pensei.
- E é aí que você entra – disse ela – vocês, filhos de Hades, são ainda melhores que nós em se esgueirar por ai, então... Acho que há uma chance de você passar despercebido se eu estiver por perto. Então quero que explore esta área e descubra de onde vem esta parada estranha. Esta droga está acontecendo aqui em Springfield e em Boston. E lá a coisa está ainda mais intensa, então provavelmente está também sendo melhor vigiada por... Bem, por quem quer que esteja dirigindo esta bagaça. Mas, e então? Topa?

Acenei pra ela. De fato, era uma boa ideia. Eu também conseguia ouvir aquela vibração e, certamente, minha aura era menos presente do que a de um ceifador. Dentro das sombras eu talvez pudesse passar despercebido por quem quer que estivesse fazendo aquilo.

- Veja – Falou ela, apontando pra um ponto lá em baixo.
Olhei naquela direção e encontrei o que ela queria mostrar. Muito abaixo de nós uma alma solitária caminhava pela rua. Atravessou a avenida, passou por dentro de um carro e atravessou uma parede, desaparecendo.

- O movimento das almas é grande a partir daqui. São atraídas por este som, mas sempre que tentei segui-las além daqui o som para e elas perdem o rumo. Mas você talvez consiga.

Acenei novamente. De fato, entendi por que os ceifeiros estavam convocando filhos de Hades para ajudar nesta tarefa. Eu só esperava que “Eles” não tivessem se atentado a isto ainda, ou eu estaria correndo o risco de ser arrastado para uma armadilha. Teria de tomar cuidado para não ser percebido e comprometer a missão não só nesta cidade mas também em outros lugares. Inspirei profundamente, concentrando-me, e de minha sombra sobre o telhado do prédio fiz nascerem três corvos. Dou um tapinha carinhoso na cabeça de cada um.
“Você é Ichi, você é Ni, e você é San. Arigatou”. Então fiz Ichi voar até o ombro de Camile e ficar empoleirado.
- Podemos usar este carinha pra nos comunicar – Falei através dele – Vou reportar qualquer coisa por aqui. Se notar algo estranho daqui de fora, avise também. Estou indo.

Dito isso entrei no corvo que já tinha usado antes e alcei voo. Ni e San iriam dar a volta, cada um partindo por um lado do prédio, circulando aquela grande área onde podíamos ouvir o zumbido. Segui adiante tão alto quanto me arriscava, dando a volta no prédio que tinha visto a alma entrar lá em baixo. Misturado com as sombras do céu noturno, acima do halo de luz da cidade, eu esperava passar despercebido por qualquer observador lá em baixo. Senti alivio quando avistei a alma saindo do outro lado do prédio. Ela parecia parar, ouvir por um momento, e então seguir em frente corrigindo levemente seu trajeto. Não me surpreendi em ver outra alma vagando. Atrás dela, um hospital... Há! Que engraçado. Teria alguém acabado de morrer e sua pobre alma agora vagava atraída como uma mosca pelo fogo? Era até engraçado. Dei voltas pelo céu e o zumbido parecia ficar mais forte. Meus corvos já haviam circulado todo o norte da cidade, longe o suficiente para eu quase não conseguir senti-los mais. As almas seguiam na mesma direção e eu os segui sem pressa, tão longe quanto possível sem perde-las de vista para não levantar suspeitas. Um dos corvos avistou outra alma vagando, vinda sabe-se lá de onde. Caramba. Seja lá o que estiver produzindo este zumbido, vou por um no Chalé 13 e ficar catando as almas. Ia ser o máximo, pensei comigo mesmo. Então imaginei um ceifador aparecendo no meio da noite pra me empalar com uma foice e não me pareceu mais tão o máximo assim.

As duas almas que eu via começaram a se aproximar. O som também estava incomodamente alto agora. Parecia fazer minha cabeça vibrar, mesmo enquanto eu estava dentro do corvo. Percebi com uma certa surpresa e temor que eu queria ir atrás daquele som... Ele me atraía intimamente, deixando-me curioso para saber o que ele era e não era uma curiosidade natural apenas. Era induzida, implantada... Aquela coisa era forte o suficiente para me afetar também, e não somente as almas, e isso me deixou ainda mais alerta. Perdi um pouco de altitude, planando de asas abertas até pousar sobre a antena de um hotel de onde eu conseguia observar duas ruas inteiras. As almas atravessaram mais um conjunto de estabelecimentos comerciais, um posto de gasolina, uma construção e.... Só. Entraram na construção mas não saíram do outro lado. Mudei de lugar sobre o prédio pra tentar ver se saíram por outro lugar, mas nada. Aguardei alguns minutos e a alma que meu corvo tinha visto mais cedo apareceu no extremo da rua vinda da direção contrária à que as duas primeiras almas apareceram. O corvo que a seguia, San, vinha logo atrás saltando de prédio em prédio com voos curtos.
“Aí está bom. Obrigado amigo”, falei pra ele e ele ficou empoleirado em cima de um prédio.

Parei para refletir se deveria mandar um corvo ou ir em mesmo lá dentro. Decidi por mandar um corvo. Primeiro por segurança e segundo, porque ele certamente teria uma presença menos notável do que um corvo comigo possuindo-o (?). Mesmo nas sombras ainda haviam entidades capazes de identificar um filho de Hades. Além disso eu não sabia até que ponto aquela coisa podia afetar minha mente, e esperava que

Assim, concentrei-me em conectar-me com a mente de Ni, o corvinho que ainda estava voando por ai. San ficou vigiando os arredores enquanto eu estava distraído então foquei-me em manipular o corvinho à distância, enxergando através de seus olhos e ouvindo com seus ouvidos.

O fiz descer sutilmente pelo ar. A alma estava lá em baixo, indo em direção à construção. Paredes de concreto e colunas erguiam-se a esmo de um terreno cercado por um muro alto. O corvo pousou sobre uma coluna e observou a alma caminhar entre paredes, montes de areia, pedras e mais colunas e então desaparecer dentro de um recinto fechado. Num rasante silencioso e cheio de graça, entrou. O escuro não atrapalhava seus olhos. A vibração no ar afetava minha mente mesmo através do corvo, mas eu tinha certeza de que estaria me afetando mais se eu estivesse lá, o que me deixou feliz por ter decidido enviar o corvo para sondar o local. Ali a alma desapareceu atrás de uma porta. O corvo seguiu-a tão devagar quanto podia e planou no ar por um momento, observando a alma desaparecer no chão. Ou assim pareceu... Havia um buraco ali. Pousou na borda olhando para dentro com a cabeça inclinada, vendo um túnel que descia quase em 90º na terra. O ar ali chegava a tremer e ondular com o som que saia. Vrum! Vrum! Vrum! O corvinho pulou de cabeça no buraco, caindo por alguns segundos antes de abrir as asas e dar um rasante recuperando-se da queda. Lá em baixo o túnel perdia inclinação até seguir em 45º para baixo e em frente. A alma seguia flutuando rapidamente naquele sentido. O túnel ficava difuso a cada segundo e voltava ao foco, enquanto aquela batida estranha prosseguia incessantemente. Uma luz esverdeada bruxuleava no fim do corredor de pedra e terra, para onde a alma seguiu cada vez mais rápido. O corvo aguardou um pouco, pousando. O fiz seguir lentamente, caminhando pelo canto no chão... Assumo que estava com medo. Medo do que encontraria e acima disso, medo de ser encontrado de volta por aquilo que eu achasse ali naquela caverna.

Mas eu não esperava encontrar... Uma floresta. O corvo saiu em uma grande câmara no fim daquele túnel. A alma seguia à frente e agora ao invés de pedras, caminhava em meio a árvores, moitas, cipós e cristais brilhantes. Grama crescia do chão e do teto videiras caíam, roxas e com frutas brilhantes penduradas de seus ramos. Fiquei atônito vendo aquilo. Mesmo através do corpo do corvo eu conseguia sentir o cheiro daquele lugar... Uma brisa suave soprava de lá, fazendo as folhas balançarem e as penas do corvo tremularem de leve. O animalzinho caminhou lentamente e de um salto voou até o galho de uma árvore. O lugar era amplo, espaçoso... O som de diferentes animais chegavam até nós. Vi pássaros saltando entre os galhos e esquilos correndo pela grama, pegando frutinhas e perseguindo uns aos outros. A alma seguiu inabalável em direção ao fundo. O som das vibrações estava absurdo ali... O som passava pelo corpo do corvo como uma força física, vibrando-o tanto que temi que pudesse lhe causar danos. O fiz saltar e voar de galho em galho perseguindo a alma. Percebi que muitas das plantas eram... Exóticas. Cores aberrantes, cheiros estranhos, formatos que nunca vi. Tudo ali era estranho.

O corvo seguiu a alma por mais uns dois ou três minutos, até que a floresta se abriu em uma clareira. Ouvi um som... Uma melodia por entre a vibração ritmada que corria pelo ar. Então vi de onde vinha a música.

Uma figura estava sentada em um tronco no meio da clareira. O ar vibrava naquele ponto, de uma forma estranha. Mas mais estranha ainda eram as pessoas ali.

Spoiler:

As duas figuras estavam paradas sentadas no tronco. O homem tocava uma espécie de alaúde, e o som dele se misturava com as vibrações no ar criando uma melodia hipnótica e até harmoniosa. Borboletas e pássaros flutuavam ao redor. O corvo se escondeu em uma árvore observando a alma aproximar-se daquela dupla. Ele chegou perto e passou direto por eles, e foi então que vi um objeto sobre uma pedra atrás do tronco caído. Naquele momento senti um arrepio e soube que era dali que saia o som, a vibração, aquela coisa estranha que estava atraindo as almas vagantes. Observei enquanto a alma se aproximava e parava diante daquilo.

Spoiler:

Aquilo, aquela rocha que parecia, sei lá... Um coração... Vibrava a cada poucos segundos. Percebi que o som que eu ouvia na verdade eram as batidas daquilo. “Vrum! Vrum! Vrum!”. O ar ondulava à sua volta a cada pulsação. A alma parou diante daquilo e a mulher levantou-se do tronco.

- Mais uma... Mais um para nosso futuro reino.

Sua voz era suave, sedosa, mas ao mesmo tempo áspera como ade um animal, e me deixou confuso de ouvi-la. Ela se aproximou da alma e do pilar de pedra com o coração. Raízes cresciam até o objeto, envolvendo-o. Ela tocou a alma com a lança em sua mão e começou a proferir algumas palavras que não entendi mas logo supus que deveria ser algum tipo de encantamento. O corpo da alma se desfez e se envolveu na arma como uma aura esverdeada. Então ela a fincou no chão e a terra absorveu a energia. Senti algo estranho naquele momento, um sentimento ruim vindo dali, como o sentimento que tinha quando monstros estavam por perto.  A presença do homem de armadura tocando era semelhante, embora suave.

A mulher ergueu os braços balbuciando mais alguma coisa. Então voltou para perto do homem, que tinha parado de tocar para observá-la.

- Estamos cada vez mais próximos... Cada vez mais próximos de ter o poder que precisamos para tomar o que é nosso, para devolver o mundo aos verdadeiros donos... Quando nos conectarmos a nossos irmãos pelo continente, então nós-

Ela parou de falar de repente quando o homem ergueu um dedo. Ele olhou ao redor lentamente e seus olhos se fixaram em mim. Ou melhor... No corvo. A mulher acompanhou seu olhar e encontrou-o também.

- Ora. Não temos corvos aqui...
O homem ergueu a mão e um arco brotou do chã como uma planta moldando-se numa velocidade absurda. Ele o agarrou e uma flecha brotou ao lado. Ele a agarrou, mirou e disparou, mas o corvo já não estava mais lá. O animalzinho voava apressado entre as árvores. Concentrei-me e então o desfiz em sombras, fazendo-o sumir no ar.

Minha consciência voltou ao corvo no exterior da construção. O fiz inspirar profundamente para sentir e me deliciar com a sensação do ar fresco, muito agradável depois daquele lugar abafado. Virei-me e alcei voo tão rápido quanto possível na direção em que Camile estava. “Estou voltando. Eles me notaram”, mandei a mensagem através do corvo que tinha deixado com ela.
“Quem te notou?” ela respondeu.
“Eu não sei. Mas sinto perigo”.

Deixei o corvo San para trás, vigiando a entrada da construção e continuei rumando tão rápido quanto conseguia na direção de Camile. Alcancei-a em cinco minutos me esperando no mesmo lugar, acariciando a cabeça do corvo e com uma expressão preocupada. Pousei o corvo e saí de seu corpo, mentalmente exausto. Percebi que meu coração batia com força. Minha respiração estava alterada e comecei a suar frio imediatamente. Seria aquilo efeito de dividir minha consciência entre os corvos por tanto tempo ou de suportar a presença daquele coração estranho em baixo da terra?

- Eles estão em baixo de uma construção. Tem um -crek – túneo lá, que leva para uma caverna muito, muito funda. Tem uma floresta inteira -creekscendo lá em baixo. Eu...

Olhei para o Norte. Meu corvo estava morto, e eu nem vi o que o matou. O outro corvo, Ni, ainda rodava pelos céus, próximo àquele lugar estranho. Vi um vulto pelo céu através de seus olhos, e dois olhos brilharam em sua direção. A criatura desapareceu mas sua presença ainda se esgueirava ao redor. Então Ni também desapareceu.

- Algo está vindo – falou Camile, levantando-se e olhando na mesma direção eu eu.
- Eu sei, mas... Não consegui ver o que era.
- Vamos. Não podemos lutar aqui.
- Se esconda.
- O que?
- Se esconda. Será pior se eles souberem que você sabe sobre eles. Craaak. Se esconda! Eu cuido da criatura!

Ela me encarou por um longo momento, claramente indecisa. Então sorriu e acenou, desaparecendo diante de meus olhos.

Virei e saltei do prédio. O corvo me acompanhou e adentrei sua sombra, voando tão rápido quanto possível indo na direção contrária. Bati as asas fortemente. A sensação fria e incomoda de estar sendo observado, de estar sendo perseguido me cercava de todos os lados. Tentei voar mais rápido mas já estava no limite. A presença se intensificou ao meu lado e no momento seguinte vi um vulto negro materializar-se... Aquela coisa certamente não era um monstro comum. Sua cabeça parecia a de um cavalo, mas... Canídea? Possuia um corpo semelhante ao de uma cobra ou lagarto, mas seus braços eram longos como galhos de uma árvore e seus dedos estendiam-se em garras mortalmente afiadas.

Spoiler:

De olhar eu soube que aquela aberração era algum tipo de espírito. Um espírito completamente ruim, não natural, uma aberração que aquela mulher na caverna havia criado de alguma forma. Magia negra, talvez!? Bah. No momento isso não importava... O importante era aquela coisa chegando cada vez mais perto e pronto para fatiar o pobre corvo onde eu estava escondido. Meus sentidos me alertaram que não deveria confiar na intangibilidade do corpo de sombra dos corvos desta vez, afinal os outros tinham sido dissipados. Então me forcei a continuar o voo até que ele estivesse perto de me alcançar e então descer embicado para baixo, saindo de seu alcance de subido. Mas a criatura era rápida e mergulhou atrás de mim, seguindo-me de perto. Eu conseguia ver uma praça mais á frente. Vazia e com algumas árvore se uma fonte. Aquilo teria de servir para lutar... poderia usar a sombra das árvores, projetadas pelos postes de luz e pela lua para ganhar alguma vantagem, mas será que eu conseguiria primeiro chegar até lá?

A resposta foi não. Senti uma dor aguda nas costas, pego de surpresa. O corvo começou a se desfazer e me vi sendo expulso das sombras ainda a cinco metros do chão. Preparei-me pro impacto começando a sentir o vento passando em minha pele quando o corvo se desfez finalmente e caí rolando para tentar amenizar o impacto e poupar meus tornozelos. Funcionou: meus pés estavam bem. Mas meu choquei meu cotovelo com força na calçada ao cair e um forte choque percorreu meu braço direito, deixando-o dormente e imóvel. Com um certo temor percebi que não conseguiria segurar uma adaga com meu braço dominante tão cedo.

Levantei-me tão rápido quanto pude depois de rolar. A fera mal me deu tempo de cair e já estava armando outro ataque, suas garras já vinham mais uma vez em minha direção, me obrigando a me abaixar para evita-las, mas ao arquear as costas senti uma nova onda de dor. O filho da puta tinha mesmo me cortado enquanto estava nas sombras! Aquilo nunca tinha acontecido. Podia sentir o sangue quente escorrendo pelas costas em contraste com o frio que fazia naquela noite.

Recuperei-me recuando e puxando a adaga da cintura com a mão esquerda. A adaga prateada de Diorito. Balancei-a num golpe amplo, lançando uma lamina de vento certeira contra seu rosto. O cuzão vinha direto contra mim como se nada tivesse a temer, como se me matar fosse sua única razão de viver, a única coisa em sua mente. Para meu desespero a lamina de vento atingiu seu rosto em cheio, afundando suas feições e abrindo um talho, mas o lugar se regenerou em apenas alguns segundos. Evitei suas garras de um salto dando meu melhor para evadir suas garras. Um, dois ataques foram evitados, mas um corte em meu rosto me causou dor pela terceira vez. Suas garras abriram talhos em meu peitoral, provando seu poder, e por pouco não fora meu peito a ser estripado. Saltei para trás e arremessei a adaga diretamente contra seu peito. A lâmina fincou-se ali, mas ele apenas gemeu e a ignorou, voltando a vir em minha direção.

Mas que PORRA É ISSO!? eu gritava em minha mente enquanto saltava em zigue-zague pra manter-me fora do alcance de suas garras que cortavam o ar freneticamente.

Isso é um espectro.

A voz de Camile me pegou de surpresa. Ela... Ela ainda estava com o corvo! Onde quer que estivesse, o corvo “Ichi” ainda estava com ela, ouvindo sua voz.

Isso é um espectro, um espírito caçador. Eles são criados a partir da fusão de almas, para perseguir e caçar algo ou alguém... Muito provavelmente eles identificaram sua aura ou seu cheiro e o mandaram atrás de ti. Você não poderá feri-lo por modos convencionais.

Ah, jura!? Eu percebi! Cortei a cara dele em duas e ele mal piscou. O que eu faço?

Mesmo curta a conversa me custou um foco precioso. A aberração, o tal do espectro, golpeou com as garras enormes. Sério, aquelas coisas tinham o tamanho de minha adaga longa! E tive de erguer o braço direito para bloqueá-las. Já machucado, o braço protestou da dor, mas ao menos não foi ferido graças às braçadeiras nele.

Dã!? Ele é um bando de almas incorporadas por magia negra... E você, é um filho de Hades. Então...?

Quase xinguei a Deusa da Morte de coisas que poderiam ter custado minha alma. Eu não estava com paciência nem com tempo para enigmas naquele momento, mas me forcei a refletir.

Oh, pensei. Então saquei minha adaga de ferro estígio e aguardei o monstro se aproximar. Quando ele ergueu o braço pra atacar eu girei a corrente e pulei baixo, num salto rasante passando por ele usando de um Movimento ecoante. A corrente enrolou-se em seu braço, e então lancei a adaga girando a corrente, fazendo-a se envolver no tronco e pescoço da criatura, prendendo seu braço ao corpo. Ele esperneou e se debateu, mas sob o toque do ferro estígio seu corpo negro começou a assumir um som acinzentado e a perder cor. Certo... Agora eu ao menos sabia como feri-lo. Mas isso não o intimidou. O filho da mãe avançou e eu me abaixei quando ele golpeou minha cabeça com a mão livre. Aproveitei que estava abaixado e peguei impulso pra saltar pra longe, mas negligenciei meus arredores, dando de costas em um poste de luz e vendo estrelas com a dor em minhas costas. Isso tinha de acabar.

Forcei o braço machucado ao limite. Aguardei o monstro enquanto transformava as tiras enroladas em meu braço em sua forma original de duas braçadeiras de estígio. Quando o monstro se aproximou mais de 3m, ergui o braço direito para bloquear o seu esquerdo livre e avancei. O choque do seu golpe contra a braçadeira no braço espalhou uma onda fria de dor pelo membro com câimbra. Mordi a língua, sentindo o gosto metálico de sangue na boca, mas não parei. Aquilo precisava acabar, e rápido! Soquei seu peito com toda a força ejetando a lamina da katar neste momento. O ferro negro entrou em sua carne, acinzentando-a de imediato, e então usei o peso de meu corpo para forçar a lamina para baixo, rasgando-o. A criatura emitiu um grito agudo em vários tons diferentes, e então se desfez no ar. Enquanto se desfazia pude notar as formas de quatro almas se dissipando.
Ah, não vão não pensei e ergui meu diamante. As quatro espiralaram no ar enquanto eu me concentrava em traga-las para o infinito vazio da pedra roxa.

- Olha, isso foi bem legal. Mas você podia ter sido mais esperto, né?
Camile surgiu do meu lado do nada. Apontei para a poça de sombras que sobrara do monstro no chão, onde cinzas ainda flutuavam no ar, e o corvo pulou de seu ombro para devorá-las.

- Ok. Acho que depois dessa nós merecemos um café.


Eu não esperava que Camile tivesse um apartamento. Ainda mais um tão bem organizado e limpo. Ela me ajudou a tratar minhas feridas depois da batalha... Um pouco de Ambrosia, uma limpeza nas feridas em minhas costas e logo, logo eu conseguia andar quase tranquilamente, muito embora meu braço direito ainda estivesse dormente e eu não conseguisse levantá-lo além da altura do peito.

Assim que chegamos Camile preparou um café e sentamos em sua sacada para que eu pudesse relatá-la o que encontrei lá dentro. Ela balançou a mão e biscoitos e torrada vieram voando da cozinha, o que eu achei o máximo mas não comentei. Olhei para o céu da noite várias vezes, temendo que outro espectro pudesse surgir para caçar-me mais uma vez.

- Relaxa, cara. Você está seguro aqui. É minha casa, afinal. E se outro daqueles estiver por ai, eu vou saber.
Olhei pra ela e peguei uma torrada, satisfeito. Ela tinha substituído o manto negro e a foice por uma camiseta, shorts curtos e meias de caveirinhas. Suspirei sorrindo enquanto colocava as ideias em ordem. O corvo Ichi parecia ter gostado dela, pois estava empoleirado em sua cabeça enquanto ela lhe oferecia torradas.

- Crak! Posso tomar um banho antes de começarmos?
Ela assentiu e me indicou o banheiro. Lá dentro soltei alguns gemidos indignos enquanto tirava a roupa. Apesar da ambrosia minhas costas ainda ardiam como o diabo depois do golpe do monstro .Meu peitoral tinha três talhos abertos na frente, e meu rosto agora tinha uma nova cicatriz. Ótimo, pensei. Daqui a pouco vou estar parecendo um maldito Filho de Ares com mais cicatrizes do que pele íntegra no corpo.

O banho frio foi reconfortante. Lembrei-me da caverna e de como era sinistra lá dentro... Apesar de parecer uma linda e mágica floresta encantada, eu tinha certeza de que aquilo não era nenhum tipo de paraíso. Nada de bom sairia dali.
Terminei meu banho e me enxuguei com uma toalha que Camile jogou par dentro do banheiro. Logo eu estava sentado com ela tomando um café e torradas enquanto contava através de ichi sobre tudo que vi lá dentro.
Camile ficou em silêncio por um longo minuto depois que eu terminei. Sua expressão ficou mortalmente séria, pela primeira vez desde que eu a tinha visto. Enquanto ela observava o trânsito lento lá em baixo através das grades da sacada eu novamente não consegui deixar de me admirar em como ela era bonita. Um contraste absurdo com a natureza de seu ser... A Deusa da Morte era a pessoa... Ou melhor, a entidade mais bela que eu já tinha visto em minha vida. Mais bonita do que qualquer filha de Afrodite no acampamento. Seus olhos eram de um verde tão profundo que lembravam um pântano profundo. Sua pele era pálida, mas as bochechas tinham um tom róseo. A boca e o nariz encaixavam-se no quadro com curvas perfeitas, me distraindo enquanto os observava.

Balancei a cabeça. Há! Só o que me faltava. Eu iria me apaixonar por Camile? Nah... Não era muito minha cara ficar de paixonites. Mas que ela era linda, isso era.

- Isso é mais grave do que eu esperava. Ela disse que há outros lugares como aquele?
- Bom... -crkak-disse que quando se conectassem com seus irmãos pelo continente, então... Então alguma coisa. Disse [kreeeeek- que o mundo seria devolvido a seus verdadeiros donos.
- E ela tinha uma lança, penas na cabeça e vestia couro... E o homem parecia feito de plantas?
- É.
- Pelo Hades...

Achei engraçado vê-la praguejar com o nome de meu pai. Como será que ele estaria agora? O que estaria fazendo? Será que estava nos observando? O pensamento me deixou inquieto.
- A mulher e o homem que você viu provavelmente são druidas. Feiticeiros das florestas, dominadores de espíritos, mestres da magia da natureza... Controlam espíritos dos mortos e espíritos vivos como as ninfas, as náiades... São criaturas bem idiotas, em minha opinião. Alguns vivem em paz nas florestas como protetores. Mas alguns... Alguns são bem extremos. Defendem uma ideia de que o mundo falhou, que a humanidade e os deuses que a guiam falharam com o planeta, e que ele deveria voltar a ser uma selva, um caos de natureza desenfreada. Ah, esses caras... nunca estudaram Sucessão ecológica na escola.

Absorvi o que ela falava enquanto mastigava uma torrada. Legal, druidas, como nos RPG’s. Só que estes eram maus... Bem maus, pelo que pude ver.  

- E então, o que fazemos? – perguntei para ela – agora que você sabe onde estão -craaa, crak – o que fará? Podemos tentar ruir a caverna.
- Hm... é uma possibilidade. Mas isso não resolveria o problema. Nós precisamos recuperar o coração. Ele é o problema.
- Por que? O que é aquilo?

Camile suspirou por um momento e então me olhou nos olhos, séria, me deixando desconfortável.

- Aquilo, Shouto... É o coração de um ceifador.
Com essa declaração feliz eu mastiguei minha torrada, mais confuso que nunca.
- Ah – respondi.



- Aquisições:
+4 almas para Diamante
+1 Stack (ou 4?) para as Katar
+1 Sombra para Devorasombras
-1 Pedaço de Ambrosia

Equipamentos:

Habilidades Usadas:

Avaliado!
Narração com objetivo claro e escrita fluida com margem para vontinuações [Missão One-Post, Massachusetts] O Coração de Almas, Parte I - Shouto Koda 1989789370 . Ressalva apenas em trecho cujo pensamento fora interrompido (creio ter sido na hora de colar o texto na postagem) mas sem prejuízo à trama. Continue trazendo novas memórias, jovem escritor. All Right

Experiência Recebida
1.000 XP

Dracmas Recebidos
500§

Aquisições permitidas

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Conteúdo patrocinado


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