Nome da narração: Em Busca Das Raízes | PARTE II
Objetivo da narração: Desenvolver personagem e ganhar um bônus em XP E descobrir pistas sobre o paradeiro do pai
Quantidade de desafios: 2
Quantidade de monstros: 2
Espécie dos monstros: Orcs
- Seção I - Inconveniente:
- Ahmar caminha pela Via Principalis observando as tendas dos vendedores buscando algo que ainda não decidira ao certo. O pretor desejava comprar algo naquela manhã para não sair de mãos vazias e, talvez, iniciar nos estudos sobre poções; afinal, a matéria líquida ainda não era seu forte comparado aos demais semideuses mais empenhados em tal arte. No entanto, a semelhança de uma pessoa avistada em sua visão periférica lembrou ao líder dos legionários as palavras proferidas por Lucius naquele encontro inusitado com os parlamentares dizendo para se encontrar com Adelaide, a bibliotecária, e pedir-lhe o livro citando quem o indicara a ele. É fato que se passara tempo desde o ocorrido e as possibilidades da indicação expirar ou o livro não estar disponível vinha a sua mente, mas quem não arrisca não petisca. O rapaz precisava tentar e isso era o bastante para ele dirigir-se à Biblioteca Pública Civil de Nova Roma.
O prédio ostentava a sabedoria de séculos em cada traço da arquitetura exibida nos pilares exteriores assim como no interior abobadado para aproveitar o máximo de luz natural. O legionário considerava incrível como mantinham a tradição romana bem preservada ao longo dos séculos de catalogação. Sentada atrás do balcão de mogno no amplo salão de entrada, uma senhora de cabelos loiro-acinzentados o encarava por trás dos óculos pontudos de cor preta.
- Hellen, assuma meu lugar. Voltarei mais tarde. - ela ordenou a uma garota desajeitada passando com vários livros em seus braços. Andando em direção a Ahmar, a senhora inquiriu a pergunta com tom quase azedo e velho na voz: - Sou Adelaide, a responsável por cuidar deste santuário do saber. O que deseja, pretor?
De imediato o filho de Magia aprumou a postura e assumiu o tom rígido que usava ao administrar uma missão a outro semideus em reação à fala da bibliotecária.
- Lucius me enviou em busca do Histórias e Começos Eternos: as fases da Lua.
"Aquele velho traiçoeiro", pôde ouvi-la sussurrar após um "Venha" apressado enquanto andava ligeiramente através dos infinitos corredores de estantes lotadas que pareciam todos iguais. Os saltos finos ecoavam o "toc toc toc" por onde passavam. O jovem perdera as contas de quantas vezes entraram em portas de madeira antiga ou viraram em esquinas de salas de leitura, ou subiram e desceram escadarias de mármore até chegarem numa saleta adornada diferente das demais por apresentar uma decoração da época vitoriana. As cadeiras acolchoadas estavam convidativas após tanto caminhar pelo edifício clássico, mas o que veio a seguir foi mais atrativo que sentar entediado e aguardar a próxima caminhada.
Pegando um livro de capa dura em couro vermelho, Adelaide tirou um pedaço de grafite do bolso escondido em sua saia e iniciou a escrita do que pareciam runas na amarelada página central. Ela desenhava precisamente cada seção do suposto encantamento sussurrando palavras em latim e devolvendo os itens aos lugares que foram retirados. Dois segundos depois uma passagem secreta se revelava da estante indicando a direção que deveria ser percorrida.
- Antes que pergunte, não é um livro: se trata de um código que Lucius, Peter e eu criamos na juventude para o caso de nos afastarmos do objetivo. Como Lucius te enviou aqui de Nova Roma, creio que o problema seja com Peter. Não poderei acompanhá-lo em sua jornada daqui em diante. Boa estratégia.
O garoto estava perplexo com tantas informações vindas de uma única vez pela mulher que conhecera a poucos instantes que seu raciocínio travara por um momento. Sua reação se resumia em ficar parado encarando Adelaide e só uma frase lhe passava pela mente:
- V...você conhece meu pai. - a mulher suspirava em descrédito por ter de aturar aquela situação. - Ele nunca falou sobre seus amigos.
- Anda, garoto lerdo, o tempo está passando. - ela o agarrou pelo braço com suas mãos esguias e o empurrou porta a dentro. A passagem atrás de Ahmar desliza rapidamente e se fecha barulhosa deixando-o à deriva na escuridão.
- Seção II - O Salão Inimaginável:
Por alguns minutos o pretor sente a opressão daquele lugar desconhecido invadindo todos os seus sentidos enquanto ele está imerso em seus pensamentos tentando compreender os momentos anteriores que o levaram à situação atual. Sozinho com a própria sorte deveria escolher o que fazer para desenvolver qual fosse sua jornada. Ao retornar o que poderia considerar como estado normal de sua mente, três esferas flutuantes de chama azul surgem pairando em derredor para iluminar o curto raio de visão revelando um corredor de pedras cobertas por musgo e umidade. O cheiro de mofo combinado ao chão frio debaixo de seus calçados mantinha a estranha sensação de algo faltando naquele lugar, um pouco de calor, quem sabe; ou vida.
A passos lentos temendo que seu radar mágico falhasse contra alguma armadilha oculta ele inicia seu percurso contando que a genética o ajudasse a alinhar ambas visões no terreno a sua volta. O que poderia denominar de túnel se diferenciava das demais construções de pregresso contato. As pedras ressoavam numa frequência externa, assim como o ar vibrava em sintonia de Névoa distinta. Ahmar sente o solo revolver-se anômalo como reagindo à sua presença em fluidez a caminhada, ele sente as ondas mágicas indo mais fundo no corredor e deseja saber em qual lugar elas quebram. Depois de alguns minutos andando em silêncio pode escutar um leve chiado de eletricidade acompanhado de um feixe de luz piscando a 10 metros acima de uma porta, as iniciais ALP reluziam no led.
As três letras poderiam significar as iniciais da tríade que acabara de conhecer, o semideus começa a suspeitar que seu pai e os amigos tinham algo a esconder. Talvez fosse o motivo de Peter não falar muito sobre o passado da família ou amigos próximos, ainda menos sobre a vida de semideus quando o revelara a Ahmar. ALP = Adelaide, Lucius, Peter. Mas não deixava de associar a algo que seu pai falava quando deixava escapar a empolgação de seu trabalho como bioengenheiro. Alkaline Phosphatase, uma enzima capaz de dissolver a gordura e de especial presença no fígado, um órgão regenerativo. A impressão de regenerar com as palavras de Adelaide sobre "para o caso de nos afastarmos do objetivo" associavam em sua mente a necessidade de recuperar seu parente do que estivesse enfrentando; ainda que houvessem os meio-irmãos no acampamento e todos os legionários, ele era sua família mais próxima.
Independente de qual das duas opções significassem as siglas, o pretor tinha a intuição voltada para o sangue. Nele estaria presente tanto a enzima e o resultado de um sangue saudável como o DNA de um dos três. Era um baita chute a esmo quando poderia simplesmente derrubar a porta com seus poderes, mas caso não funcionasse teria uma espécie de vínculo para melhorar a análise tendo o líquido como catalisador do radar mágico e também potencializar o impacto caso viesse utilizar das outras habilidades. Após furar o dedo com a espada e encostá-lo na porta, um chiado ecoa e a luz do led apaga, a porta se abre com um rangido revelando uma sala circular iluminada por tochas.
No centro do salão obscuro, um círculo prateado brilha no chão emanando uma forte energia mística atraindo o olhar curioso de Ahmar. Cada molécula de seu corpo parecia ser puxada até ali, contudo, ele resistia impulso de correr ao centro e simplesmente sentar observando o que aconteceria a seguir. O legionário fica parado no que parecia tempo interminável na luta por autocontrole e um passo involuntário foi dado em direção àquele círculo enquanto cerrava os punhos na tentativa de amenizar a coceira mágica em suas mãos como um sintoma da ansiedade que o acometera. Utilizando da força de vontade que ainda lhe restava o filho de Magia convoca o solo aos seus pés para mantê-lo no lugar, até que subitamente parou. Enfim, ele pôde respirar aliviado depois da tensão. O círculo à sua frente parou de brilhar e um pedestal de ouro elevou-se no aguardo dele.
Livre de outras influências, Ahmar caminha em direção ao objeto e vê o espaço de uma mão para ativar o que fosse. Ele não sentia nenhuma ameaça emanando dali, entretanto, se mantinha receoso em por a mão ali. De certo, o que acontecesse só ocorreria após colocar a mão dele e assim o fez esperando não petrificar ali. O espaço abaixo de sua mão aqueceu levemente e brilhou azulado antes da base girar e o cenário ao redor mudar para um campo. O pedestal retornou a sua origem e a 10 metros dois humanoides esverdeados, armados com machadinhas e espadas encaram o rapaz ao saltarem de uma fenda que logo desapareceu.
- Eu não vim lutar contra vocês, basta revelarem onde está o meu pai e os deixo ir. Se não concordarem, serei forçado a lutar.
Eles responderam com grunhidos ininteligíveis e o pretor pôde deduzir que não se tratavam de pessoas normais, mas monstros como golens. Na tentativa de finalizar aquela etapa rapidamente, Ahmar manipula a terra para empalar os caras com estacas de pedra. Sim, a tentativa funciona, mas o cenário não muda. Emergindo do solo, alguém que reconhece imediatamente do tempo pré-acampamento ergue a mão em sua direção.
- Pai? - pergunta ainda sem acreditar no que vê.
Sem respostas, o homem que o criara murmurou um feitiço e o expulsa dali através das linhas da Névoa. O semideus tinha muitas perguntas para fazer, porém todas elas foram abafadas por um único grito de frustração e raiva enquanto é jogado para longe e o cenário em derredor se retorce em tons esquisitos. Ao bater a cabeça em algo ele sente o enjoo e tudo escurece.
Em um sobressalto e gritando como reflexo inconcluso, Ahmar acorda no meio dos Campos de Marte. Desorientado pela vertigem de sua viagem forçada, tenta distinguir se havia alguém por perto na noite de vento gelado. Uma coruja pia ao longe e ele tem um mal pressentimento sobre o que ocorrerá dali em diante. Raiva e angústia se misturam a outras emoções que já habitavam no âmago de seu ser. O rapaz sente que deveria se preparar para uma guerra ainda silenciosa caso desejasse sobreviver e proteger os que o cercam - independente dos meios que forem necessários. Pelo jeito como havia sido rechaçado, por mais frio que fosse tratado na infância por Peter, aquele homem talvez não fosse seu pai. Não mais. Sacudindo a poeira de suas roupas, segue de rosto fechado a Pretoria disposto a reunir toda informação que conseguisse sobre seu pai e amigos, além de quaisquer indícios de uma insurgência.