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Fórum de Mitologia Grega baseado em Percy Jackson e os Olimpianos e Os Heróis do Olimpo!


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Tamara Meyers

Tamara Meyers
Indefinido (Romano)
Indefinido (Romano)

O INÍCIO
Nome da narração: O Início - Cheiro Forte
Objetivo da narração: Nesta narração o objetivo será apresentar à trama o primeiro momento em que o cheiro de semideus de Tamara ficou forte o suficiente para ser sentido por monstros. Introduzir Tamara em uma aula de defesa pessoal
Quantidade de desafios: Desafio só no meio da narração (1)
Quantidade de monstros: 1
Espécie dos monstros: Reanimado Fujão (Zumbi)



Última edição por Tamara Meyers em 18/11/21, 01:44 am, editado 4 vez(es)

#1

Tamara Meyers

Tamara Meyers
Indefinido (Romano)
Indefinido (Romano)


O INÍCIO- CHEIRO FORTE

Arizona, Phoenix.
2017

Era mais uma tarde quente em Phoenix, o que transformava a sala de estar em uma sauna; o sofá em uma frigideira e a mim mesma em uma massa de panqueca que precisa ser virada para não queimar. Do lado de fora as cigarras cantavam intensamente, e do lado de dentro minha mãe era a única que ainda apresentava alguma força de vontade para fazer o que precisava ser feito.

— Me lembra de novo... porque eu não posso ter um smartphone? — Tinha mais ou menos uma semana que alguns amigos da escola haviam ganhado seus celulares high tech, mas minha mãe era relutante com isso.

— Porque vocês, crianças, não têm discernimento do que é certo acessar e o que não é. — Ela falou alto, da cozinha. Abri a boca para responder, mas me calei. Mudei de ideia uma vez mais e repliquei.

— Eu não sou como todo mundo! — Ouvi Dana fechando a torneira e seus passos vindo até a sala.

— Realmente, não. Você é agressiva e temperamental. Muitas vezes acha que sair no soco é a melhor opção. — Ela tomou uma postura mais ríspida, o que fazia meu sangue ferver.

— Entendi... ainda tá brava comigo por eu ter mostrado pro Miguel que ele tava errado. — Disse sem desviar os olhos da televisão. Eram apenas imagens desconexas e coloridas de um cartoon tosco. Não que eu conseguisse focar muito tempo pra pegar a história direito.

— Mostrar?! Tammy, você quebrou uns dois dentes dele! — Suspirou pesado.

— E ele aprendeu que não deve mais ficar falando merda dos outros pela escola. — Minha mãe agiu como se eu a tivesse dado um tabefe.

— Tamara Meyers! Olha essa boca!

— Tá, tá... — Puxei uma nota de um dólar, de dentro de meu bolso, e a estendi para cima. Minha mãe imediatamente pegou o dinheiro e colocou na jarra de “Xingamentos”.

— Com quem você está andando? Eu não te ensinei a ser assim... — Ela começou a voltar para a cozinha. Ela tinha o dom de me deixar com a consciência pesada.

— Desculpa... eu só estou com calor. — Deixei um suspiro e, neste suspiro que virou sopro, fiz o ar subir, levando um fio laranja para longe de meu rosto. — E, por isso, irritada.

— Porque você não monta a piscina e convida alguns amigos para virem? — A torneira voltou a ser aberta e mais sons de louças sendo lavadas ganhou o ar.

— A Annye tem uma piscina em casa e convidou todo mundo... por smartphone. Pelo menos os que tinham um. — Minha mãe ficou em silêncio. — Eu... posso ir ao shopping?

— Com quem? — Revirei os olhos. Não poderia ir sozinha, obviamente. A superproteção da Dana era mais sufocante que os 104 F que estavam fazendo do lado de fora.

— Vou convidar a Carol, se ela não estiver na casa da Annye. — Pisquei devagar. O calor era terrível.

— Ok. Deixa que eu ligo para ela e falo com a mãe dela. Antes das 6 da noite quero você em casa, mocinha.

Não a respondi, apenas esperando os minutos seguintes se concluírem com a mesma velocidade que o muro de plástico da nossa vizinha derretia sob o sol impiedoso daquele dia maçante de verão.

----------------------------------------------------------

Carol era uma menina baixinha e de corpo esguio, cabelos loiros escorridos e olhos verdes inquietos, que eram auxiliados por um par de óculos de armação vermelha. Seus movimentos eram exagerados, ela era espalhafatosa e muito enérgica, mas talvez aquele fosse o motivo de eu gostar dela: Ela não tinha medo de dizer o que pensava nem fazer o que realmente queria fazer só porque um bando de gente acharia “Vergonhoso” ou “Não aprovaria”. Eu podia dizer que ela era a minha melhor amiga, no fim das contas.

Ela me contava sobre o videogame que seu pai havia comprado e deixava ela jogar, animada, enquanto caminhava se equilibrando no cordão dos canteiros de plantas das ruas de Phoenix que galgávamos até o shopping.

— E o Xbox é o videogame mais legal dessa geração! — Saltou para outro canteiro, quase perdendo o equilíbrio, mas retomando-o sem grandes problemas. — Nele dá pra jogar Plants versus Zombies!

— E como diabos você coloca uma planta a lutar contra um zumbi? — Soltei uma risada debochada. — Os Zumbis simplesmente pisoteariam todo o gramado.

— É aí que você se engana, sujeitinha de pouca fé! — Ela abruptamente me encarou, o que fez seus óculos escorregarem até a ponta do nariz. Acabei rindo da sua atuação. — Essas plantas cospem sementes! As pimentas jalapeñas queimam os zumbis e os transformam em cinzas! E as plantas carnívoras devoram os zumbis por inteiro!

— Super realista... — Disse entre risadinhas, e Carol concordou.

— É! Super realista!

Chegamos em frente ao shopping e quando passamos pela porta fomos abraçadas pelo ar gelado de todos aqueles ares condicionados. Era quase tão bom quanto ir na casa da debochada da Annye para tomar banho de piscina. Ali dava pra respirar sem queimar as narinas.

— Acho que você gostaria de jogar Tomb Raider. — Carol passou a andar do meu lado, ligeiramente mais comportada, por estar no shopping. — Ela é bastante atlética! E forte! Parecida com você. — Ficou me observando alguns segundos apenas para concluir. — Só que a Lara Croft não tem esse seu cabelo cor de cenoura.

— Ah é?! Que pena pra ela, porque ele é superlegal! — Nós duas rimos juntas. — E está bem na moda!

— É, você fica bem de ruiva. Nunca pinte o seu cabelo!

— Não pretendo. — Quase não consegui terminar de falar, pois Carol viu o Burger King e me puxou pelo braço.

— Anda! Vamos lá comprar umas casquinhas!

Ficamos mais duas horas zanzando pelo shopping a ponto de sentirmos um pouco de frio por estarmos com roupas curtas, para o calor, enquanto o shopping devia estar fazendo uns 68°F. Finalmente fomos para o fliperama, onde haviam outras crianças da nossa mesma idade, mas o que mais me chamou a atenção foi um homem, parado perto de um carrinho de pipoca. Ele segurava um saquinho pequeno de pipoca e colocava-as lentamente na boca, como se não estivesse realmente gostando daquilo. Lançava olhares com bastante frequência para mim e Carol.

Freak. — Disse baixinho, enquanto o observava por cima do ombro. — Não sai de perto de mim, tá, Carol?

— Aham! Aham! — Ela falou, animada, enquanto acertava com um porrete acolchoado bichinhos eletrônicos que saíam de buracos de dentro de uma das máquinas de jogos do fliperama.

Fiquei tranquila que ela pareceu não notar aquele desgraçado. Como minha mãe sempre me disse para observar a todos em um local, assim que chegasse, para ter uma noção de quem poderia me causar problemas, não tive dificuldade de ver aquele homem parado no canto. Agora que já o tinha detectado, podia simplesmente ficar de prontidão.

— AAAAAAAH! GANHEI! — O grito de Carol me fez dar um pulinho de susto. Com a mão no peito, e um pouco ofegante, observei-a e sorri.

— Ah! Que bom! — Toquei seu ombro. — Eu já estou ficando com um pouco de frio... podemos ir para casa?

Carol parou e me observou desconfiada. Seus olhos inquietos me olhando de cima a baixo, estudando minha expressão. Eu não podia olhar agora para o homem estranho, ou ela me acompanharia e veria que estávamos sendo observadas. E eu não queria alarmá-la. Às vezes a chave para não ser sequestrada é não deixar que o agressor saiba que você o viu.

— Você não costuma ficar com frio antes de mim. — Dei de ombros para aquela afirmação, como se não fizesse ideia de quem ficava com frio primeiro. — Tudo bem, vamos indo. Eu preciso ir ao banheiro, antes.

Bosta! Meu plano era uma fuga até em casa, ou até um táxi para irmos direto. Eu não me importava de fazer minha mãe pagar quando chegasse em casa, e sabia que ela também não ligaria, dadas as atuais circunstâncias, mas essa ida ao banheiro por parte de Carol me quebrou. Eu sabia que seríamos seguidas e, assim que saíssemos do banheiro, seríamos pegas.

— Tá, vamos. — Precisava pensar em uma forma de incapacitar aquele homem para que pudéssemos escapar.

Assim como suspeitei, quando nos pusemos a caminhar em direção ao banheiro, saindo do fliperama, o homem largou seu saco de pipoca e passou a caminhar, mais atrás, tentando não ser visto, mas eu consegui vê-lo pelo reflexo de um espelho, de dentro de uma das lojas próximas. As coisas iam ficar intensas dentro de alguns minutos.

------------------------------------------------------------------------------

Carol havia entrado no banheiro, mas eu ficara escorada no canto interno da dobra do corredor, encarando a passagem que dava para a entrada dos banheiros e uma das saídas de emergência. Meu coração batia acelerado e parecia haver algo formigando em meus pulsos, que se estendia até a ponta dos dedos. Estava gelada, porém, suava levemente. A ponto de sentir uma gota escorrer pelas costas.

Quando achei que minha preocupação era demais, aquele cara dobrou no corredor que desemboca nos banheiros. Estava a mais ou menos 5 metros quando notou o canto da minha cabeça e, provavelmente, meus olhos afiados o encarando. Ele cessou sua caminhada e, agora, eu pude dar uma boa olhada nele:  pele muito pálida, olhos ligeiramente leitosos e algumas veias escuras lhe riscavam o rosto e o pescoço. Parecia bem doente, pois os lábios estavam da mesma cor do rosto, só que... tinha alguma coisa errada.

[ONE-POST LIVRE] | O INÍCIO - CHEIRO FORTE | TAMARA MEYERS In-the-flesh

Quando o observava com o canto dos olhos, ele parecia normal, mas quando focava nele, podia ver que na verdade tinha um aspecto doentio.

— Quem é você?

— Eu...? — Ele balbuciou, inclinando de leve a cabeça para a direita. — Seu... cheiro é... muito gostoso...

— Ugh... gross. — Fiz uma expressão de nojo. No fim, talvez, fosse apenas um pervertido.

— É... diferente... — Acho que estava drogado. — Me dá... fome...

— É melhor você dar meia volta e ir embora, weirdo. — Me posicionei de frente para ele, no corredor, mas estrategicamente parada ao lado do extintor de incêndio. — A polícia detesta gente como você.

— Como... eu...? — Ele começou a fazer uma expressão de dor? Tristeza? Não sabia dizer.

— É... malditos pedófilos. — Estava fechando os punhos com tanta força que minha pele ardia.

— Esse... cheiro... forte... A fome... dói... — Ele soltou estas últimas palavras com uma voz que não cabia naquele corpo.

Seus olhos assumiram uma cor vermelha pútrida e correu para cima de mim, dando um grito digno de filmes de terror. Meu coração disparou na iminência da luta que eu estava entrando, mas eu nunca fora do tipo medrosa. Ele poderia até me pegar ali, mas a minha função estava clara em minha mente: Manter Carol segura para que ela fosse buscar ajuda.

Em um movimento rápido peguei o extintor e o acionei no rosto daquele homem. O atordoamento breve que a espuma causou foi o suficiente para que eu descesse o metal pesado em seu pé. Ossos se partiram, eu pude ouvir! Mas o desgraçado sequer fez menção de que estava doendo. Suas mãos buscaram meu pescoço e, como se eu fosse uma boneca, ele me levantou do chão e me colocou contra a parede. Tentei me empurrar com os pés, mas meus calcanhares escorregaram na lajota lisa do shopping.

— Você vai... se arrepender... — Era difícil falar e, então, ele avançou com a boca aberta para cima de mim, do meu rosto. Instintivamente levei a mão esquerda para me proteger, o que não foi muito bom, mas era a melhor alternativa que eu tinha.

Seus dentes se fecharam em meus dedos mínimo e anelar e a dor foi excruciante. Eu podia dizer com propriedade que aquela estava sendo a pior dor que sentira na vida. Eu senti vontade de gritar, mas suas mãos ainda prendiam meu pescoço e então minha visão ficou turva. Eu senti que desmaiaria, mas vê-lo puxando meu dedo anelar para fora da minha mão me encheu de adrenalina.

Desferi um soco potente em sua têmpora e consegui uma abertura para colocar o pé direito em seu peito. Com toda a minha força o empurrei para o outro lado do corredor. Suas unhas deixaram arranhões em meu pescoço, mas só havia doído na hora. Agora eu não sentia nem a dor excruciante de minha mão mutilada. Aliás, minha raiva só aumentava mais, principalmente ao vê-lo mastigando meu dedo.

— Ah... gostoso... — Ele revirou os olhos, o que me fez odiá-lo ainda mais.

Olhei para minha mão apenas para ver sangue gotejando da falange que ficou para trás. Gritei, mas um grito de raiva que ecoou pelo corredor. Com a mão direita peguei o extintor caído no chão e, em dois passos, estava na distância certa para um golpe em arco com a arma improvisada. Acertei-o no braço esquerdo, na altura do cotovelo, e pude ouvir mais ossos se partindo. Eu não sabia dizer se eram os dele ou os do meu dedo entre seus dentes.

Não me contive e o acertei na barriga, agora usando o extintor como um aríete. O impacto o fez se curvar para frente e, então, o chutei na lateral do rosto logo após me afastar para o lado. Um chute meio desajeitado, com a sola do pé. Ele caiu no chão bem no momento em que Carol dobrava o corredor.

— Mas que barulheira é essa? — Seus olhos foram para o homem deitado no chão e, antes que pudesse formular uma pergunta, olhou o sangue pelo chão, e minha mão. Tudo em um mísero segundo. Eu estava vendo minha amiga prestes a desmoronar, pois suas pernas bambearam.

— CAROL! VAI CHAMAR AJUDA! — Corri e chutei o queixo do homem, que tentava se levantar com um dos braços visivelmente quebrado.

— Não! Vem comigo! — Ela começou a me puxar e eu deixei que me levasse, afinal, eu queria estar com ela. Queria protegê-la daquele maníaco.

Corremos pelos corredores do shopping, Carol gritava por ajuda, desesperada. Não demorou para juntar alguns adultos à nossa volta e, só então, a minha melhor amiga conseguiu ver o estado em que me encontrava. Quando seus olhos bateram em meu dedo anelar canhoto amputado, suas pernas fraquejaram e ela caiu, desmaiada. A comoção foi tamanha que nos tiraram dali imediatamente, direto para a frente do shopping, onde já chamavam uma ambulância para nos atender

------------------------------------------------------------------------------


Ali na parte traseira da ambulância, na frente do shopping, haviam algumas pessoas conversando com policiais enquanto alguns paramédicos me atendiam com curativos e aplicavam remédios em meus ferimentos. Agora eu podia dizer, com a adrenalina baixa, que a dor era terrível. Minha mão tremia sem eu mandar e algumas lágrimas riscavam minhas bochechas. Carol estava do meu lado, segurando minha mão boa.

— Você foi muito corajosa. — Disse o paramédico, que fazia um curativo que mais parecia uma luva.

— Eu não... sinto que venci... — Disse, entre uma fungada e outra. Eu odiava chorar, mas aquela dor era demais para mim.

— Bobagem. Sua amiga disse que você segurou o maníaco, impedindo que ele entrasse no banheiro. — Colocou a mão em meu ombro. — Você foi uma heroína hoje. — Olhei para minha mão, ainda dolorida, por mais que ele já tivesse aplicado alguns anestésicos.

— Porque ele fez isso? — Eu sabia que ele, provavelmente, era algum doente, mas porque eu? Era o que ressoava em minha mente.

— Quem sabe o que se passou na cabeça dele? Às vezes perguntas assim não têm resposta... simplesmente são. — Afagou minha cabeça de forma carinhosa. — O que importa é que você segurou ele e protegeu sua amiga.

Concordei com a cabeça e, então, fiquei ali sentada, até Carol me chamar.

— Tammy, me desculpa. — Olhei para Carol, um pouco confusa, e ligeiramente dopada pelos anestésicos. — Se fôssemos embora como você disse, nada disso teria acontecido.

— Hey, relaxa. — Deixei a cabeça cair e escorar em seu ombro. — No fim, eu fiquei feliz, porque meu objetivo, desde o começo, era proteger você... e você está bem.

Ela falou mais algumas coisas que não consegui assimilar, e tudo parecia distante, como um sonho, inclusive ver minha mãe chegar de carro junto com a mãe da Carol, ambas vindo correndo em nossa direção. O mundo parecia distante naquela hora, por mais que minha mãe forçasse meu rosto para eu olhá-la em seus olhos e me perguntasse coisas, apressada. Eu estava cansada, possivelmente dopada, e não conseguia focar no que ela me dizia. O mundo parecia cinza e eu só queria ir para casa descansar.

E assim aconteceu e, naquele dia, não ouvimos mais falar do homem maníaco que atacou duas garotinhas na porta do banheiro e, brutalmente, arrancou a mordidas o dedo de uma delas. Ele não havia sido preso, tampouco encontrado ou visto novamente. Apenas no dia seguinte minha mãe viria conversar comigo sobre eu ter aulas de defesa pessoal.

Seria necessário aprender a forma mais eficaz de me defender.

#2

Plutão

Plutão
Deus Olimpiano
Deus Olimpiano
Tamara Meyers escreveu:


O INÍCIO- CHEIRO FORTE

Arizona, Phoenix.
2017

Era mais uma tarde quente em Phoenix, o que transformava a sala de estar em uma sauna; o sofá em uma frigideira e a mim mesma em uma massa de panqueca que precisa ser virada para não queimar. Do lado de fora as cigarras cantavam intensamente, e do lado de dentro minha mãe era a única que ainda apresentava alguma força de vontade para fazer o que precisava ser feito.

— Me lembra de novo... porque eu não posso ter um smartphone? — Tinha mais ou menos uma semana que alguns amigos da escola haviam ganhado seus celulares high tech, mas minha mãe era relutante com isso.

— Porque vocês, crianças, não têm discernimento do que é certo acessar e o que não é. — Ela falou alto, da cozinha. Abri a boca para responder, mas me calei. Mudei de ideia uma vez mais e repliquei.

— Eu não sou como todo mundo! — Ouvi Dana fechando a torneira e seus passos vindo até a sala.

— Realmente, não. Você é agressiva e temperamental. Muitas vezes acha que sair no soco é a melhor opção. — Ela tomou uma postura mais ríspida, o que fazia meu sangue ferver.

— Entendi... ainda tá brava comigo por eu ter mostrado pro Miguel que ele tava errado. — Disse sem desviar os olhos da televisão. Eram apenas imagens desconexas e coloridas de um cartoon tosco. Não que eu conseguisse focar muito tempo pra pegar a história direito.

— Mostrar?! Tammy, você quebrou uns dois dentes dele! — Suspirou pesado.

— E ele aprendeu que não deve mais ficar falando merda dos outros pela escola. — Minha mãe agiu como se eu a tivesse dado um tabefe.

— Tamara Meyers! Olha essa boca!

— Tá, tá... — Puxei uma nota de um dólar, de dentro de meu bolso, e a estendi para cima. Minha mãe imediatamente pegou o dinheiro e colocou na jarra de “Xingamentos”.

— Com quem você está andando? Eu não te ensinei a ser assim... — Ela começou a voltar para a cozinha. Ela tinha o dom de me deixar com a consciência pesada.

— Desculpa... eu só estou com calor. — Deixei um suspiro e, neste suspiro que virou sopro, fiz o ar subir, levando um fio laranja para longe de meu rosto. — E, por isso, irritada.

— Porque você não monta a piscina e convida alguns amigos para virem? — A torneira voltou a ser aberta e mais sons de louças sendo lavadas ganhou o ar.

— A Annye tem uma piscina em casa e convidou todo mundo... por smartphone. Pelo menos os que tinham um. — Minha mãe ficou em silêncio. — Eu... posso ir ao shopping?

— Com quem? — Revirei os olhos. Não poderia ir sozinha, obviamente. A superproteção da Dana era mais sufocante que os 104 F que estavam fazendo do lado de fora.

— Vou convidar a Carol, se ela não estiver na casa da Annye. — Pisquei devagar. O calor era terrível.

— Ok. Deixa que eu ligo para ela e falo com a mãe dela. Antes das 6 da noite quero você em casa, mocinha.

Não a respondi, apenas esperando os minutos seguintes se concluírem com a mesma velocidade que o muro de plástico da nossa vizinha derretia sob o sol impiedoso daquele dia maçante de verão.

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Carol era uma menina baixinha e de corpo esguio, cabelos loiros escorridos e olhos verdes inquietos, que eram auxiliados por um par de óculos de armação vermelha. Seus movimentos eram exagerados, ela era espalhafatosa e muito enérgica, mas talvez aquele fosse o motivo de eu gostar dela: Ela não tinha medo de dizer o que pensava nem fazer o que realmente queria fazer só porque um bando de gente acharia “Vergonhoso” ou “Não aprovaria”. Eu podia dizer que ela era a minha melhor amiga, no fim das contas.

Ela me contava sobre o videogame que seu pai havia comprado e deixava ela jogar, animada, enquanto caminhava se equilibrando no cordão dos canteiros de plantas das ruas de Phoenix que galgávamos até o shopping.

— E o Xbox é o videogame mais legal dessa geração! — Saltou para outro canteiro, quase perdendo o equilíbrio, mas retomando-o sem grandes problemas. — Nele dá pra jogar Plants versus Zombies!

— E como diabos você coloca uma planta a lutar contra um zumbi? — Soltei uma risada debochada. — Os Zumbis simplesmente pisoteariam todo o gramado.

— É aí que você se engana, sujeitinha de pouca fé! — Ela abruptamente me encarou, o que fez seus óculos escorregarem até a ponta do nariz. Acabei rindo da sua atuação. — Essas plantas cospem sementes! As pimentas jalapeñas queimam os zumbis e os transformam em cinzas! E as plantas carnívoras devoram os zumbis por inteiro!

— Super realista... — Disse entre risadinhas, e Carol concordou.

— É! Super realista!

Chegamos em frente ao shopping e quando passamos pela porta fomos abraçadas pelo ar gelado de todos aqueles ares condicionados. Era quase tão bom quanto ir na casa da debochada da Annye para tomar banho de piscina. Ali dava pra respirar sem queimar as narinas.

— Acho que você gostaria de jogar Tomb Raider. — Carol passou a andar do meu lado, ligeiramente mais comportada, por estar no shopping. — Ela é bastante atlética! E forte! Parecida com você. — Ficou me observando alguns segundos apenas para concluir. — Só que a Lara Croft não tem esse seu cabelo cor de cenoura.

— Ah é?! Que pena pra ela, porque ele é superlegal! — Nós duas rimos juntas. — E está bem na moda!

— É, você fica bem de ruiva. Nunca pinte o seu cabelo!

— Não pretendo. — Quase não consegui terminar de falar, pois Carol viu o Burger King e me puxou pelo braço.

— Anda! Vamos lá comprar umas casquinhas!

Ficamos mais duas horas zanzando pelo shopping a ponto de sentirmos um pouco de frio por estarmos com roupas curtas, para o calor, enquanto o shopping devia estar fazendo uns 68°F. Finalmente fomos para o fliperama, onde haviam outras crianças da nossa mesma idade, mas o que mais me chamou a atenção foi um homem, parado perto de um carrinho de pipoca. Ele segurava um saquinho pequeno de pipoca e colocava-as lentamente na boca, como se não estivesse realmente gostando daquilo. Lançava olhares com bastante frequência para mim e Carol.

Freak. — Disse baixinho, enquanto o observava por cima do ombro. — Não sai de perto de mim, tá, Carol?

— Aham! Aham! — Ela falou, animada, enquanto acertava com um porrete acolchoado bichinhos eletrônicos que saíam de buracos de dentro de uma das máquinas de jogos do fliperama.

Fiquei tranquila que ela pareceu não notar aquele desgraçado. Como minha mãe sempre me disse para observar a todos em um local, assim que chegasse, para ter uma noção de quem poderia me causar problemas, não tive dificuldade de ver aquele homem parado no canto. Agora que já o tinha detectado, podia simplesmente ficar de prontidão.

— AAAAAAAH! GANHEI! — O grito de Carol me fez dar um pulinho de susto. Com a mão no peito, e um pouco ofegante, observei-a e sorri.

— Ah! Que bom! — Toquei seu ombro. — Eu já estou ficando com um pouco de frio... podemos ir para casa?

Carol parou e me observou desconfiada. Seus olhos inquietos me olhando de cima a baixo, estudando minha expressão. Eu não podia olhar agora para o homem estranho, ou ela me acompanharia e veria que estávamos sendo observadas. E eu não queria alarmá-la. Às vezes a chave para não ser sequestrada é não deixar que o agressor saiba que você o viu.

— Você não costuma ficar com frio antes de mim. — Dei de ombros para aquela afirmação, como se não fizesse ideia de quem ficava com frio primeiro. — Tudo bem, vamos indo. Eu preciso ir ao banheiro, antes.

Bosta! Meu plano era uma fuga até em casa, ou até um táxi para irmos direto. Eu não me importava de fazer minha mãe pagar quando chegasse em casa, e sabia que ela também não ligaria, dadas as atuais circunstâncias, mas essa ida ao banheiro por parte de Carol me quebrou. Eu sabia que seríamos seguidas e, assim que saíssemos do banheiro, seríamos pegas.

— Tá, vamos. — Precisava pensar em uma forma de incapacitar aquele homem para que pudéssemos escapar.

Assim como suspeitei, quando nos pusemos a caminhar em direção ao banheiro, saindo do fliperama, o homem largou seu saco de pipoca e passou a caminhar, mais atrás, tentando não ser visto, mas eu consegui vê-lo pelo reflexo de um espelho, de dentro de uma das lojas próximas. As coisas iam ficar intensas dentro de alguns minutos.

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Carol havia entrado no banheiro, mas eu ficara escorada no canto interno da dobra do corredor, encarando a passagem que dava para a entrada dos banheiros e uma das saídas de emergência. Meu coração batia acelerado e parecia haver algo formigando em meus pulsos, que se estendia até a ponta dos dedos. Estava gelada, porém, suava levemente. A ponto de sentir uma gota escorrer pelas costas.

Quando achei que minha preocupação era demais, aquele cara dobrou no corredor que desemboca nos banheiros. Estava a mais ou menos 5 metros quando notou o canto da minha cabeça e, provavelmente, meus olhos afiados o encarando. Ele cessou sua caminhada e, agora, eu pude dar uma boa olhada nele:  pele muito pálida, olhos ligeiramente leitosos e algumas veias escuras lhe riscavam o rosto e o pescoço. Parecia bem doente, pois os lábios estavam da mesma cor do rosto, só que... tinha alguma coisa errada.

[ONE-POST LIVRE] | O INÍCIO - CHEIRO FORTE | TAMARA MEYERS In-the-flesh

Quando o observava com o canto dos olhos, ele parecia normal, mas quando focava nele, podia ver que na verdade tinha um aspecto doentio.

— Quem é você?

— Eu...? — Ele balbuciou, inclinando de leve a cabeça para a direita. — Seu... cheiro é... muito gostoso...

— Ugh... gross. — Fiz uma expressão de nojo. No fim, talvez, fosse apenas um pervertido.

— É... diferente... — Acho que estava drogado. — Me dá... fome...

— É melhor você dar meia volta e ir embora, weirdo. — Me posicionei de frente para ele, no corredor, mas estrategicamente parada ao lado do extintor de incêndio. — A polícia detesta gente como você.

— Como... eu...? — Ele começou a fazer uma expressão de dor? Tristeza? Não sabia dizer.

— É... malditos pedófilos. — Estava fechando os punhos com tanta força que minha pele ardia.

— Esse... cheiro... forte... A fome... dói... — Ele soltou estas últimas palavras com uma voz que não cabia naquele corpo.

Seus olhos assumiram uma cor vermelha pútrida e correu para cima de mim, dando um grito digno de filmes de terror. Meu coração disparou na iminência da luta que eu estava entrando, mas eu nunca fora do tipo medrosa. Ele poderia até me pegar ali, mas a minha função estava clara em minha mente: Manter Carol segura para que ela fosse buscar ajuda.

Em um movimento rápido peguei o extintor e o acionei no rosto daquele homem. O atordoamento breve que a espuma causou foi o suficiente para que eu descesse o metal pesado em seu pé. Ossos se partiram, eu pude ouvir! Mas o desgraçado sequer fez menção de que estava doendo. Suas mãos buscaram meu pescoço e, como se eu fosse uma boneca, ele me levantou do chão e me colocou contra a parede. Tentei me empurrar com os pés, mas meus calcanhares escorregaram na lajota lisa do shopping.

— Você vai... se arrepender... — Era difícil falar e, então, ele avançou com a boca aberta para cima de mim, do meu rosto. Instintivamente levei a mão esquerda para me proteger, o que não foi muito bom, mas era a melhor alternativa que eu tinha.

Seus dentes se fecharam em meus dedos mínimo e anelar e a dor foi excruciante. Eu podia dizer com propriedade que aquela estava sendo a pior dor que sentira na vida. Eu senti vontade de gritar, mas suas mãos ainda prendiam meu pescoço e então minha visão ficou turva. Eu senti que desmaiaria, mas vê-lo puxando meu dedo anelar para fora da minha mão me encheu de adrenalina.

Desferi um soco potente em sua têmpora e consegui uma abertura para colocar o pé direito em seu peito. Com toda a minha força o empurrei para o outro lado do corredor. Suas unhas deixaram arranhões em meu pescoço, mas só havia doído na hora. Agora eu não sentia nem a dor excruciante de minha mão mutilada. Aliás, minha raiva só aumentava mais, principalmente ao vê-lo mastigando meu dedo.

— Ah... gostoso... — Ele revirou os olhos, o que me fez odiá-lo ainda mais.

Olhei para minha mão apenas para ver sangue gotejando da falange que ficou para trás. Gritei, mas um grito de raiva que ecoou pelo corredor. Com a mão direita peguei o extintor caído no chão e, em dois passos, estava na distância certa para um golpe em arco com a arma improvisada. Acertei-o no braço esquerdo, na altura do cotovelo, e pude ouvir mais ossos se partindo. Eu não sabia dizer se eram os dele ou os do meu dedo entre seus dentes.

Não me contive e o acertei na barriga, agora usando o extintor como um aríete. O impacto o fez se curvar para frente e, então, o chutei na lateral do rosto logo após me afastar para o lado. Um chute meio desajeitado, com a sola do pé. Ele caiu no chão bem no momento em que Carol dobrava o corredor.

— Mas que barulheira é essa? — Seus olhos foram para o homem deitado no chão e, antes que pudesse formular uma pergunta, olhou o sangue pelo chão, e minha mão. Tudo em um mísero segundo. Eu estava vendo minha amiga prestes a desmoronar, pois suas pernas bambearam.

— CAROL! VAI CHAMAR AJUDA! — Corri e chutei o queixo do homem, que tentava se levantar com um dos braços visivelmente quebrado.

— Não! Vem comigo! — Ela começou a me puxar e eu deixei que me levasse, afinal, eu queria estar com ela. Queria protegê-la daquele maníaco.

Corremos pelos corredores do shopping, Carol gritava por ajuda, desesperada. Não demorou para juntar alguns adultos à nossa volta e, só então, a minha melhor amiga conseguiu ver o estado em que me encontrava. Quando seus olhos bateram em meu dedo anelar canhoto amputado, suas pernas fraquejaram e ela caiu, desmaiada. A comoção foi tamanha que nos tiraram dali imediatamente, direto para a frente do shopping, onde já chamavam uma ambulância para nos atender

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Ali na parte traseira da ambulância, na frente do shopping, haviam algumas pessoas conversando com policiais enquanto alguns paramédicos me atendiam com curativos e aplicavam remédios em meus ferimentos. Agora eu podia dizer, com a adrenalina baixa, que a dor era terrível. Minha mão tremia sem eu mandar e algumas lágrimas riscavam minhas bochechas. Carol estava do meu lado, segurando minha mão boa.

— Você foi muito corajosa. — Disse o paramédico, que fazia um curativo que mais parecia uma luva.

— Eu não... sinto que venci... — Disse, entre uma fungada e outra. Eu odiava chorar, mas aquela dor era demais para mim.

— Bobagem. Sua amiga disse que você segurou o maníaco, impedindo que ele entrasse no banheiro. — Colocou a mão em meu ombro. — Você foi uma heroína hoje. — Olhei para minha mão, ainda dolorida, por mais que ele já tivesse aplicado alguns anestésicos.

— Porque ele fez isso? — Eu sabia que ele, provavelmente, era algum doente, mas porque eu? Era o que ressoava em minha mente.

— Quem sabe o que se passou na cabeça dele? Às vezes perguntas assim não têm resposta... simplesmente são. — Afagou minha cabeça de forma carinhosa. — O que importa é que você segurou ele e protegeu sua amiga.

Concordei com a cabeça e, então, fiquei ali sentada, até Carol me chamar.

— Tammy, me desculpa. — Olhei para Carol, um pouco confusa, e ligeiramente dopada pelos anestésicos. — Se fôssemos embora como você disse, nada disso teria acontecido.

— Hey, relaxa. — Deixei a cabeça cair e escorar em seu ombro. — No fim, eu fiquei feliz, porque meu objetivo, desde o começo, era proteger você... e você está bem.

Ela falou mais algumas coisas que não consegui assimilar, e tudo parecia distante, como um sonho, inclusive ver minha mãe chegar de carro junto com a mãe da Carol, ambas vindo correndo em nossa direção. O mundo parecia distante naquela hora, por mais que minha mãe forçasse meu rosto para eu olhá-la em seus olhos e me perguntasse coisas, apressada. Eu estava cansada, possivelmente dopada, e não conseguia focar no que ela me dizia. O mundo parecia cinza e eu só queria ir para casa descansar.

E assim aconteceu e, naquele dia, não ouvimos mais falar do homem maníaco que atacou duas garotinhas na porta do banheiro e, brutalmente, arrancou a mordidas o dedo de uma delas. Ele não havia sido preso, tampouco encontrado ou visto novamente. Apenas no dia seguinte minha mãe viria conversar comigo sobre eu ter aulas de defesa pessoal.

Seria necessário aprender a forma mais eficaz de me defender.



Avaliado!
Gostei da forma simples e clara que escreve sendo a leitura bem suave. Traz mais estórias para nos divertirmos juntos. Manolo

Experiência Recebida
600 XP

Dracmas Recebidas
300 §

Ocorrências para a ficha
Dedo anelar esquerdo amputado

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