Por um momento quase aceitei que ia morrer. E enquanto corria em vão, a voz do pretor estourou como um trovão pelo acampamento romano. E como um servo fiel, como fosse destinado à obedecer ele, eu simplesmente fiquei parado e não fiz nada. Me odiei, pois havia perdido uma luta contra alguém que sequer usou todo seu poder contra mim. No fim, eu estava vivo por piedade. Com o rosto inchado, amaldiçoei cada momento daquele dia.
 
Legionários nos cercaram e como se estivesse se tele transportando o Pretor voltou para o prédio. Todas as minhas células gritavam, de ódio. Preferia morrer que ser digno da pena do homem que me separou da minha irmã. Odiava aqueles romanos. Ah Deuses como eu tinha nojo desses caras. Com a voz séria, e sem o sarcasmo que manteve por quase toda a batalha, Saito ordenou que fôssemos para o Acampamento grego. Na passagem, eu e Taylor só obedecemos.
 
– Atravessem! – Nos ordenaram. Não vi relutância, nem medo nos olhos de Taylor. Talvez ela estivesse aliviada.
 
Tentei entrar na passagem sem reclamar, mas lá dentro. Tomado pelo ódio e raiva. Talvez não do Pretor e sim da minha fraqueza, eu me ajoelhei no chão. E senti meus lábios tremendo. O calor do meu rosto era enorme, e nem minha pele gélida parecia cobri-lo. Meus olhos ardiam. Minha voz não saia. Quando dei por mim, estava chorando. Com toda a força que me restou, ergui a mão e soquei o chão. De novo, de novo, de novo, até sangrarem. Até adormecerem e não conseguir sentir meus ossos.
 
– Droga! – Falei como uma criança chorando. – Eu... Eu não fui forte... Eu não sou forte. – Assim como no dia em que os ciclopes nos atacaram no acampamento, eu não tinha conseguido proteger minha irmã. Eu sequer sabia como reagir diante daqueles inimigos. Naquela vez, um sátiro havia me salvado. E desta vez meu próprio adversário tinha poupado minha vida.
 
Não queria me levantar, não queria voltar pro Acampamento e entrar no chalé de Hades sozinho. Não queria ficar sem minha irmã, não de novo. Eu precisava abraça-la novamente, precisava dela comigo. Mas o maldito pretor havia deixado ela louca. Kadie estava machucada, estava sozinha. Eu sei, no fundo eu sei que se ela estivesse pensando com sanidade ela voltaria para mim. O Castellan estava com certeza usando sua magia com ela. O que mais ele deveria fazer enquanto estivesse com ela hipnotizada? Estuprá-la? Maltratá-la? Voltei a socar o chão. Comecei a gritar, a chorar o mais alto que podia. E então, com a voz rouca e a garganta seca eu falei.
 
– Eu vou... EU VOU ACABAR COM ELES!!!! Juro pelo rio Estige que vou trazer minha irmã de volta, vou levar ela pra casa. Nem que pra isso eu tenha que matar todo romano do mundo.
 
Me levantei, e sequei a lágrima dos olhos. Prometendo para mim mesmo, que essa seria a última vez que choraria por tristeza. Guardaria minhas lágrimas para quando voltasse a abraçar minha irmã. Eu ia ficar mais forte, montar meu próprio exército e marchar contra os romanos. E nem os Deuses iriam me impedir. Então, com a feição gélida. Mais frio do que nunca e com os olhos vazios como de um tubarão, eu falei.
 

– Vamos, Taylor... Temos que reportar nossa missão.

Na hora que ele gritou “Basta”, eu falei todos os palavrões existentes em 12 línguas em apenas 5 segundos. Respirei com alívio e olhei para os céus de olhos fechados.
 
– Di Immortalis, graças aos Deuses! – Falei baixinho, para que Gean não ouvisse, mas pelo menos estávamos vivos.
 
Os legionários nos cercaram e nos levaram para a passagem entre acampamentos. Carreguei Hefes no colo, afinal, estávamos todos cansados. No fim das contas isso foi muito divertido. Eu não tinha medo de morrer já que, depois de alguns meses eu iria voltar à vida. Mas vai por mim, é muito chato ser materializada a partir de poeira dourada. O Tártaro é um lugar muito irritante.
 
Dentro da passagem, Gean teve um ataque em fúria e por um momento estremeci quando ele fez um juramento em nome do Estige. Imaginei se por ser filho de Hades ele seria perdoado pelos Deuses, mas no fundo sabia que isso era impossível. Tanto recuperar sua irmã, quanto ser perdoado por um juramento ao rio negro. Durante um juramento, palavras devem ser medidas meticulosamente ou coisas piores que a morte podem acontecer. Eu sei disso, já vi a sombra que paira sobre aqueles que quebram um juramento em nome do Estige e ela é pior do que a aura de Thanatos.
 
Quando Gean se levantou e disse para reportarmos a missão, senti como se um inimigo estivesse diante de mim. Da mesma forma que quando encontramos um cão infernal durante alguma missão. Quase esqueci que tudo isso era apenas uma caçada para derrotar Procrusto. Tive vontade de rir, mas não parecia o momento adequado. Não falei nada, não discordei nem concordei. Pois apesar de saber que a irmã de Gean não tinha escolha, e que o culpado não era o Pretor. Qualquer coisa que eu falasse não iria chegar em seu coração. Algo diferente tinha que alcança-lo, algo bom... E eu não tinha isso em mim.
 
A partir de agora, Gean estava seguindo seu próprio caminho e eu não podia interferir. Por isso, caminhei ao seu lado até o acampamento sem sequer falar uma única palavra. E mantive o desejo de que ao chegar no Acampamento Meio-Sangue, reportaria toda a nossa missão para Quíron, sem fala nada sobre o incidente com os romanos. Afinal, ele não tinha que saber disso, e se tivesse, já estaria sabendo.