Solto um suspiro quando abro os olhos e percebo que não estou onde deveria estar. Bem... Ao menos minha mente estava onde não deveria estar. Cocei minha cabeça com preguiça e olhei ao redor em busca de qualquer propósito em minha ida até ali, e não pude deixar de notara janela brilhando solitária em meio a tanta morte. Ou a tanta vida.Eu não saberia dizer.

Caminhando pelos corredores do castelo moribundo em direção à torre, perguntava a mim mesmo o que estaria me esperando. quem seria o responsável pela trama da vez. Quem precisava de um semideus para explorar. Quando alcancei meu "destino", pude ver o homem deitado. Ele era bonito, eu acho. Há algum tempo não conseguia determinar um conceito de beleza quando se trata de pessoas.Talvez estivesse passando tempo demais com máquinas.

-- Lindo, não é? -- Falou uma voz atrás de mim. Acompanhei a mulher pelo recinto, sentindo minha pele formigar com sua presença. Ela também parecia ser bonita.

Apenas respirei enquanto ela caminhava e postava-se afetuosamente ao lado do homem deitado. Por um momento, pensei que ele fosse despertar com seu toque, mas apenas remexeu-se e continou dormindo, o que, por algum motivo, pareceu deixar a mulher triste.

-- Com todo respeito -- digo -- o que a senhora precisa que eu faça? Sejamos rápidos.

Encaro-a com curiosidade. Uma deusa, certamente. Se eu estava ali, é porque ela queria algo. Sempre assim. O que me interessava, é o que eu receberia em troca -- se é que teria algum pagamento por fazer o que quer que fosse.

Apenas concentro-me em não parecer idiota, respirando calmamente enquanto aguardo pela história, pelo pedido e pelo perigo.

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Enquanto ouvia as palavras da deusa eu ia erguendo minha sobrancelha, indignado.

Primeiro - Por alguém desperdiçaria um desejo divino com uma soneca eterna? Aquele cara é burro?

Segundo - Por que aquela puta egoísta e louca queria jogar fora o desejo do cara de dormir para sempre, acordando-o?

Cogitei fazer ambos os questionamentos em voz alta, mas achei mais saudável não fazê-lo. Os deuses são como crianças mimadas que se ofendem facilmente. Mas são crianças minadas com superpoderes do tipo vou-te-transformar-em-pó. Então apenas aceno em consentimento antes de abrir os olhos encarando o teto do chalé. Eu podia sentir algo incomodando na minha perna. Algo dentro do meu bolso que não estava lá quando eu fui dormir, e não precisei nem de 3 segundos para perceber que era a pedra mágica que a deusa me dera no sonho.

Com um suspiro, me levantei,apoiando-me no braço, e acabei me jogando para o outro lado. Olhei pro braço esquerdo. Ainda não estava costumado com meu novo membro. Enquanto olhava para meu braço metálico, eu conseguia lembrar e sentir a dor do momento em que o membro original fora arrancado de mim. O momento em que uma forja deu errado pela primeira vez... E já causara tanto estrago. Mas eu não tinha arrependimentos em meu coração, nem dúvidas em minha mente. O avanço não para - e eu, também não.

Levanto da cama e reúno meus pertences. Em alguns minutos eu estava dentro de minha armadura completa, que não mais cobria o braço esquerdo, e com tudo o que iria precisar em mãos. Saí do chalé, na madruga boladão,e fui até seus fundos, onde meu bebê estava me esperando.

Paro um momento olhando orgulhoso para Thinker Bell, minha belíssima criação suprema. Caminho a passos largos até ela, abro-a tocando seu vidro com a mão, e então entro, feliz, sentando-me e acomodando-me em seu banco da frente, deixando minha mochila no banco de trás. Acionei o painel da nave e, em seguida, seu modo de camuflagem, deixando-na semi-invisível. A onde quer que eu estivesse indo,poderia não ser bem-vindo, e gostaria de não ser notado de imediato.

Do cinto, tirei uma pedrinha vermelha como sangue. Aperto-a na mão.

-- Leve-me para onde tenho de ir -- Digo.

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