Caronte se manteve quieto a maior parte da viagem. Seus olhos vazios e esqueléticos encaravam o horizonte como se nunca tivesse fim, a água do rio cócito lamentava abaixo de mim, com o som de agouro de mil almas chorando e amaldiçoando suas vidas horríveis repletas de assassinatos, sonhos destruídos... E Lissa me atormentava cada vez mais. “É para cá que você vem?”. E eu não soube responder. Até que comecei a lamentar isso, lamentar o dia que vim aqui, lamentar ter matado Saito... E me vi quase afundando na tentação das lamentações, era um mar de melancolia e sofrimento. Um mar tentando me sugar para um infinito doloroso e questionador. E por alguns instantes questionei ir mesmo.
Mas antes de tomar qualquer decisão, me vi parada no barco que já chegou ao solo. Agradeci à caronte com seus prometidos Drenários, e saí em direção ao mundo da superfície. Me sentia com alguém acendendo uma luz enquanto durmo no quarto escuro. Parecia que meus olhos iriam pegar fogo, será que Mania também se sentia assim?
Quando meus olhos se acostumaram com a luz eles ainda estavam doloridos, e com dificuldades vi o instrumento de metal se materializando em minhas mãos. Não era pra ser uma lista? Que tipo de lista é aquela? Vejo algumas coordenadas. Meu peito começa a doer. Eu estava indo para o Acampamento Meio-Sangue. Será que iria encontrar Gean no caminho?... Esperava que não. Não tenho preparação para encontra-lo ainda. Não sei o que dizer, o que falar. Simplesmente ainda não consigo olhar pra ele sem me sentir o pior monstro da face da terra.
Mas agora já não posso voltar atrás. No momento que coloquei os pés dentro do palácio de meu pai eu sabia que ele iria me dar algo para fazer. Afinal, era o que eu realmente queria. Quando meus olhos se acostumam com o sol escaldante, procuro ver se estou no letreiro de Hollywood, a entrada e saída básica para vivos do submundo. Se estiver, desço e vou em busca de algum táxi. Manipulando a névoa para fingir dar-lhe dinheiro de forma que ele me leve até Nova York. Lá, chamo as irmãs cinzentas e peço uma viagem ao Acampamento Grego.
Uma abordagem secreta é impossível. Harpias, dragões, todo tipo de coisa rodeava o Acampamento. Eu tinha que ser esperta. Torço para chegar lá apenas durante o Dia. Pelo que Plutão havia me passado o inimigo é um filho de Hades, um irmão meu. Esperava que não fosse Gean. Não, impossível... Eu saberia se ele tivesse morrido e voltado, há uma espécie de ligação mágica entre nós. Era outro.
Entrando no Acampamento Grego, tento falar com o Centauro, para não pensarem que sou uma intrusa. Digo que fui enviada em missão pelo Pretor Fiuk. E que busco uma estadia por hoje no Chalé de Hades. Se ele perguntar o motivo, digo que a missão envolve sigilo. Ao fim de tudo vou ao chalé, e sento em uma cama esperando... Sentindo... Olhando para o aparelho de metal, até que algo indique, quem é meu alvo.
Considerar:
Nível 3 - Controle da Névoa [Inicial]: Magia é não apenas a deusa da Magia, mas também aquela que coordena e mantém em dia as contas da Névoa. Seus filhos possuem, então, uma afinidade incomum com este véu mágico, podendo manipulá-los ao seu bel prazer. Neste nível são capazes de mudar a sua aparência e de pequenos objetos aos olhos de mortais e/ou semideuses menos atentos, ou estonteá-los por alguns instantes.