Suspiro profundamente. Odiava toda aquela burocracia.mpapeis, cartas de recomendação, pedidos de escolta, relatórios de missões dos membros da primeira coorte. Não reclamava. Jamais abandonaria meu cargo só por conforto. Mas que era um pé no saco, isso era. 


Levantei a cabeça com calma quando o mensageiro chegou. Recebi sua entrega, agradecendo-o, e arqueei as sobrancelhas à medida que ia lendo o conteúdo no papel. Fiuk. A pesar de ser centurião, eu nunca havia tido muito contato com aquele pretor. O respeitava, é claro, mas minha aproximação maior sempre fora com Saito,meu companheiro de cargo, então logo estranhei o pedido. Mas, sem questionar, arrumei os papéis e pari diante de um grande mapa estampado na parede do recinto, onde observei o caminho até o meu destino. Com um suspiro, dou-me conta de que seriam 10 horas de carro. Ou 1:30 de avião. Confiro em minhas gavetas se tenho algum dinheiro mortal (centurião recebe salário?), e caso tenha me muno de meus equipamentos e parto para minha aventura, saindo do acampamento e esperando um ônibus na interestadual. Antes de sair aviso a Kadie que estaria fora, para que cuidasse das coisas por mim. 


Caso não tenha grana nenhuma... Assalto uma loja, porque sou neto de Hermes. Zoa. Vou até a principia fazer um câmbio de dracmas-dinheiro mortal

considerar que estou levando:

Wasaki media gélida
Katana "Tramontina"
Katana Ventania
Kimono
Pingente de gelo
Pocao de vida (1)
Pocao de energia (3)
Cubos de gelo na tatoo
Bota alada
Anel de gelo

Guardas... Conhecia os defensores de nosso acampamento. Gostava de sua dedicação e disciplina. Eram fáceis de lidar quando também se é dedicado e disciplinado, e por isso eu sempre havia tido uma relação amistosa com eles. Uns defendiam. Outros atacavam. Já havia considerado a hipótese de me juntar à segunda divisão, mas não fazia o meu estilo. Samurais brandem suas espadas por ideais, não por simples diversão. Ideais. Se tivéssemos no acampamento um seleto grupo de pessoas dedicadas a lutar por eles, e não pela simples glória...

Pisco com força, clareando os pensamentos. Foco, Frost. Pouso a mão sobre o volume do cartão de crédito no bolso interno do kimono. É. Me perguntava se os ônibus interestaduais aceitariam cartão... Provavelmente não. Assim, olho para os lados, conferindo se não tinha ninguém nas proximidades. Mudo a cor de meu kimono de branco para negro, para Me camuflar melhor na noite (kimono encantado por Zeus muda de cor de branco pra preto de acordo com minha vontade). Estando com a barra limpa, flexiono os joelhos e salto, alçando voo e rumando na direção da estação mais próxima. Se tiver gente olhando eu vou prum canto onde possa voar sem mortais apontando e gritando "URUBU GIGANTE".

Uma vez no mundo mortal, começo a aflorar os sentidos. Fico atento aos arredores. Sabia que monstros costumavam rondar ambos os acampamentos à espera de semideuses desavisados para virar sopa, mas eu não seria um desses coitados. A qualquer sinal de perigo eu me mantenho pronto para desviar voando, pulando ou mesmo puxando as espadas para um bloqueio.

Fico satisfeito de chegar na estação em segurança. Começo a me dirigir para uma das bilheterias quando em distraio com uma senhora. Inclino a cabeça tentando ver o que ilustra os cartazes á medida que caminho na direção da bilheteria. Lá, compro com o cartão que Fiuk me dera uma passagem para meu destino e, então, volto para perto da moça. Primeiramente, minha missão. Depois, distrações, penso. 

— Boa noite. Precisa de ajuda, senhora? — Falo. Eu não era exatamente gentil. Mas em nada me agradava ver pessoas chorando à toa por aí. Encaro-a com firmeza nos olhos, tentando lê-la como lia aos aprendizes da primeira coorte. Interpretar as expressões dos outros é uma exigência importante quando se ocupa um cargo como o meu.

Sempre me mantenho atento aos arredores e à própria mulher.

Ouço a história da mulher com expressão neutra. Talvez o tempo no acampamento tivesse me endurecido demais. Ou mesmo o tempo que havia passado com os lobos. Não... Eles não eram mais nem menos duros que a família onde eu havia crescido. 

Recebo o cartão da mulher e encaro o cartaz, tentando gravar na memória o rosto do garoto. 
— Seu filho — Pergunto a ela — Por acaso já foi diagnosticado com algum tipo de problema comportamental? Hiperatividade, defice de atenção, algo do tipo? 

A primeira coisa que viera a minha cabeça fora que o garoto poderia ser algum semideus. Depois de tanto tempo no louco mundo dos semideuses, começa-se a pensar nessas possibilidades. Especialmente depois de ela falar que ele se envolvia em brigas: nada mais comum para jovens semideuses com milênios de guerra correndo pelo sangue sem mesmo saber. 

Dou uma conferida em algum relógio da estação para ver em quanto tempo chegaria meu ônibus.

Solto um longo suspiro após a senhora ir embora, e encaro o cartaz. Enrolo-o e guardo-o dentro do kimono. Eu iria atrás do garoto, depois de completar minha missão. Você está amolecendo, Frost, é o que Lupa me diria se me visse. E então, me faria caçar 5 veados na floresta para afiar as presas. 

Vejo o ônibus chegar e me dou conta de que não havia me preparado para a viagem, distraído pela senhora. Vou a passos rápidos até a lojinha de mantimentos mais próximos onde compro jujubas, barras de cereal, água, um mapinha e duas maçãs. Se tiver, compro também um mangá. 

Então, vou para o ônibus. Ao entrar, olho todos os presentes à medida que caminho na direção do fundo do ônibus, sentando-me próximo a uma janela. Fico atento a todos que entrarem, e aos já presentes também. Uma vez sentado eu como uma maçã e uma barrinha.