Os olhos de Satoru demoraram a entender que aquele cara estranho era uma espécie de versão mais bizarra dele mesmo. Porém é claro, aquela pessoa na sua frente se vestia de forma completamente diferente, e o mais chamativo em sua roupa era o sobretudo de cor roxa escurecida pelo sangue derramado nela. Há quem diga que isso era bizarro, mas para os amantes da luta, aquele cara poderia ser um dos poucos que entendem da arte da guerra.
- Me esperando? Quem é você na real e pra onde levou a Juliet? - Disse Satoru com a espada em sua bainha.
- Como assim você não lembra de mim? - O homem pálido andava com um jeito descontraído pela caverna, como uma criança de braços abertos e dando passos maiores que a perna, pulando e girando. - Eu sempre estive com você, embora você estivesse sempre com os olhos fechados. Não! Não!!! Você sempre foi cego, a vida inteira, e continua sendo. Quem você pensa que eu sou? Alguém comeu suas memórias? HAHAHAA - Ele ria como se tivesse algo consumindo seu pulmão agora mesmo, um bicho mastigando toda a sua saúde. E tossia a cada gargalhada. - Mas sabe? Eu não lembraria também... Lembrar das coisas é perigoso. As memórias podem ser vis, repulsivas, brutais...como crianças! Mas podemos viver sem elas? A razão se sustenta nelas. Não encarar as memórias é o mesmo que negar a razão. Mas e daí? Quem nos obriga a ser racionais? Não há cláusula de sanidade. Assim, quando você estiver dentro de um desagradável trem de recordações, seguindo para lugares do seu passado onde o grito é insuportável, lembre-se, sempre há loucura. - De repente, a caverna parecia em movimento, ilusória, falsa. A névoa que cercava a realidade tremia no lugar e Satoru não tinha certeza de estar realmente ali. - Você pode simplesmente pisar lá fora, fechar a porta e todas as coisas horríveis que aconteceram podem ser trancadas... Loucura, é a saída de emergência. - E aí começou, a gargalhada infernal, visões do futuro, profecias, missões cheias de falhas e mortes. Vindas com a gargalhada daquele que estava na frente do garoto.
A caverna tinha em seus cantos imagens borradas, como milhões de telões. Satoru via várias portas para o futuro, imagens enlouquecedoras, uma vida cheia de dor e tristeza. Solidão, sofrimento, eram coisas constantes em todas as imagens. Ele soube, que estava amaldiçoado. E na caverna, agora iluminada pelo caos de seu futuro, o garoto viu o palhaço na sua frente tirar da manga uma adaga negra, e correr na sua direção. O cão corria atrás dele, pronto para partir o asiático no meio.
- O QUE VOCÊ VAI FAZER??? - Gritava a imitação louca de Satoru.