Há certa beleza na solidão do deserto. Longe de todas as fontes de vida, o homem se vê diante de sua fragilidade. O sol consome sua pele, e seu corpo desiste de lutar. A areia lhe engole e assim como a memória de sua existência, aqueles que desafiam a imensidão dourada desaparecem.
Raphael havia sonhado com o deserto essa noite. O sol ardendo no topo do céu, mesmo ele, filho de Hermes estava tão exausto. Sua mente pregava-lhe peças, seu corpo suava, sua pele ardia... ele estava ficando tão vermelho que provavelmente não conseguiria deitar em uma cama sem ter desconfortos por várias noites.
No mar de areia, longe, onde o sol brilhava forte demais para que se pudesse ver com clareza, um homem estava de costas para o filho de Hermes. Ele tinha a pele escura como ébano, mas o que mais chamava atenção era sua cabeça, que era semelhante à de um falcão. ‘Semelhante’ é a palavra correta, pois naquele momento os olhos do garoto não eram confiáveis, sua mente já não era confiável.
- Vá para casa. Você não é bem vindo aqui. - Disse-lhe.
Raphael sentiu um frio na espinha, e virou-se para trás. Do outro lado do deserto havia um palácio, ou era uma cidade? Não sabia diferenciar, sua mente estava muito confusa. Atrás da cidade, ao longe, uma tempestade se aproximava. Algo ia acontecer naquela cidade, e o campista não podia deixar isso acontecer. Deu um passo à frente, e o sol ficou vermelho como sangue. As areias refletiam a cor da esfera carmesim, que brilhava com uma maldade irônica em um céu azulado e sem nuvens. O homem com cabeça de falcão surgiu do seu lado, e tornou a repetir...
- Você não é bem vindo aqui.
Respirando tão forte e tão rápido quanto podia, o campista acordou de seu sonho. Seus dedos estavam desconfortáveis, e quando recuperava a consciência dessa estranha experiência, notou que sua cama estava cheia de areia, ela entrava em sua roupa, grudava em seu cabelo suado e aquecia sua pele ao ponto de causar pequenas queimaduras.
“Você sabe para onde ir...” sussurrou uma voz feminina em seu ouvido. “Vá...”