ESCOLTA
todo mundo volta pra casa inteiro e feliz
Eu acho que esperei por um minuto. Ou talvez uma hora. É muito difícil perceber a diferença quando se está dissociando o tanto que eu estava. A questão é que eu fiquei naquele quarto, esperando, pelo que pareceu a eternidade. E a morte não veio até mim.
O que me despertou de volta à realidade não foi a urgência de um inimigo em minha frente, tampouco a medicação que eu tomaria naquele horário caso não estivesse ocupado com uma espada mágica. Na verdade, não foi sobre mim de modo algum. Eu ouvi sua voz; aterrorizada, em prantos, gritando. Agnes. Minha única família, minha única amiga, a mulher que fizera tudo a seu alcance para me proteger. E eu a esqueci no primeiro momento em que minha lealdade foi testada. Tanto passou pela minha mente no quebrar de um segundo — por que ela gritara? Estava bem? Fora atacada? Estava viva? Poderia salvá-la? E então veio a segunda voz. Horrível, mas surpreendentemente soava melhor que uma performance ao vivo de Touch My Body.
Meu primeiro instinto foi correr até a porta, mas Motley me impediu.
— Você não vai sair, rapazinho — Ele sussurrava para que não fosse ouvido. — Sua mãe sabia no que estava se metendo, e meu dever é proteger apenas você.
Enquanto ele falava, meus olhos não se desviavam da porta. Minha cabeça, a um milhão, imaginava incontáveis cenários que poderiam se desenrolar por trás dela.
— Como você ousa insinuar que a vida de Agnes não vale tanto quanto a minha? Eu não seria nada sem ela, você entende? Nada!
A voz horrível proclamou-se novamente, ameaçando a vida de Agnes. Eu não poderia esperar mais, não poderia deixá-la nas mãos daquele monstro. Então eu lembrei o que faz um herói: um quarto de coragem, e três quartos de idiotice. Eu a salvaria, ou morreria tentando.
Enquanto Motley estava distraído com os ganidos que vinham do primeiro andar, eu o empurrei para o chão, correndo para fora do quarto antes que pudesse me segurar novamente. Em meu caminho, agarrei o abajur que minhas avós nos presentearam anos antes. Corri por toda a casa, vasculhando as áreas até encontrar Agnes e o monstro que a tormentava. E então anunciei minha presença.
— Ei, sua coisa fedida! — Arremessei o abajur ao corpo do monstro, para que se irrite comigo e desvie sua atenção. — Está procurando por mim?
Imediatamente seguro a espada com as duas mãos, adotando a posição defensiva que ensaiara anteriormente. Ainda não estava certo de engajar em um combate, apenas atento para evitar ser atingido. Mas uma coisa era certa: se aquela criatura encostasse um dedo sequer em minha mãe, nada iria me parar.
- Elmo Comum
- Peitoral de Couro
- Espada Curta