Era cedo da manhã, o clima estava agradável, eu e meu pai íamos sair para acampar hoje, minha maior preocupação até ontem era se iria chover, porque a chuva iria adiar nossos planos, mas outro evento cancelou permanentemente todos os nossos planejamentos juntos. A morte de meu pai foi uma coisa que eu não esperava, embora minha maior vontade agora seja entrar em luto e ficar lembrando dos momentos bons que passamos juntos, não posso. Infelizmente agora o clima não chega nem perto do topo da minha lista de preocupações, tenho quase certeza de que seja lá quem ou o que matou meu pai, vai vir atrás de mim, inclusive acho eu era o verdadeiro alvo, meu pai apenas estava no caminho.
Desde que saímos do Brasil meu pai me fala desse acampamento para pessoas como eu, já sabia que hoje iria para um acampamento, mas não para um feito para filhos de deuses, mesmo que tenha ouvido sobre isso há três anos atrás ainda não consigo acreditar que realmente sou filho de uma deusa, é insano. Meu pai é uma ótima pessoa, embora obrigar um menino de 9 anos a treinar usar uma espada até cair de exaustão não seja o melhor dos programas de pais e filhos que exista. Era difícil e complicado conviver com ele, mas eu o amava.
O acampamento fica em Nova Iorque, eu estou em Palo Alto (se meu pai realmente achava que lá é um lugar tão seguro assim, porque ele veio morar em do outro lado do pais? e ainda por cima o dinheiro de emergência que ele havia reservado nem dá para ir da maneira mais rápida para lá). Mas ao mesmo tempo que meu pai era uma pessoa muito inteligente, muitas vezes eu não entendia o porquê de ele fazer algumas coisas, como não me falar quem é minha mãe, desde que soube de minha parte divina tento arrancar esta informação dele, mas quando ele era muito cabeça dura e falava que apenas quando eu fizesse 18 ele me falaria.
Estou na rua me encaminhando para a rodoviária, acho incrível como eu vou passando pelas pessoas e ninguém repara em uma criança de 12 anos andando sozinha com uma armadura grega e uma espada na cintura. Meu pai me avisou que algo assim poderia acontecer, mas quando se vê esse tipo de coisa na prática, é um pouco mais impressionante do que só imaginar.
Quando chego na rodoviária, vou na bilheteria e peço uma passagem para Austin no Texas, afinal, meu pai sempre me ensinou que em emergências eu deveria fazer caminhos improvisados e inusitados evitando assim possíveis perseguições, então ao invés de pegar um ônibus direto para NY, eu pretendo ir para o Texas de lá para Atlanta, depois Washington e então finalmente chegar ao meu destino. Tenho que admitir que não foi um caminho tão aleatório assim, eu sempre quis visitar essas cidades, mas não lembro de já ter contado isso a alguém.
Se tiver uma livraria na rodoviária eu vou comprar algum livro que fale sobre os deuses gregos, quero fazer suposições sobre quem poderia ser a minha mãe, afinal, não quero ter tempo de pensar na morte de meu pai. Se tudo ocorrer bem, subo no ônibus e tento sentar o mais para trás possível, e prestarei atenção em cada pessoa que embarcar, em busca de sinais estranhos.