A cena que vejo é perturbadora, os sons vinham de um dos garotos, mas logo outro começa a emitir os mesmos gemidos, depois outro, e outro. Logo todo o chalé estava se contorcendo e gemendo, não... todo Acampamento estava emitindo aquele som.

Me afasto da janela, ofegante, aquilo não era boa coisa. Correr era uma opção, mas eu estava paralisado, minhas pernas não se moviam. O som de repente para, o silêncio volta a reinar, minhas pernas voltam ao meu comando. Eu deveria correr, mas minha curiosidade era maior, então volto a me aproximar da janela... uma escolha infeliz, arregalo os olhos quando eu vejo a cena dos filhos de Dionísio em pé olhando para mim em um tipo de transe, falando algo, meus ouvidos me dizem que todo o acampamento também dizia aquilo:

-Você não tem um lugar aqui pequeno, seu lugar é morto.
-Você não tem um lugar aqui pequeno, seu lugar é morto.
-Você não tem um lugar aqui pequeno, seu lugar é morto.


Morto... meu lugar era morto? Talvez fosse, nunca me encaixara direito em nenhum lugar, era sempre o estranho, o demônio... Balanço a cabeça e afasto esse pensamento, eu estava decidido que deixaria minha marca naquele local, como os heróis das histórias. Se minhas pernas ainda me obedecessem me afasto da janela. Se eles saírem do chalé, desembainho minha Espada Curta, a única arma que eu tinha, não iria lutar com eles, se desse sorte eles nem sairiam para me atacar, apenas brandiria minha espada para manter qualquer um que se aproximasse longe de mim, pediria para que eles.

Os campistas continuam repetindo aquelas palavras sem parar e então começam a caminhar em fileira para fora do chalé. O garoto percebe que todos os campistas do acampamento faziam a mesma coisa.

--Você não tem um lugar aqui pequeno, seu lugar é morto.
-Você não tem um lugar aqui pequeno, seu lugar é morto.

[i]-Você não tem um lugar aqui pequeno, seu lugar é morto.
[/i]


Eles continuam dizendo isso enquanto avançam. Por mais que fossem muitos eles não corriam nem nada, só caminhavam calmamente, como se tivessem a eternidade para alcançá-lo. A pergunta era: Quem estava fazendo isso?

Engulo em seco, eu definitivamente estava ferrado, aquilo não poderia ser apenas um passeio noturno tranquilo? Saio de onde estava, correndo para qualquer lugar onde eu pudesse esconder-me, mas ao mesmo tempo em que me permitisse ver os campistas (e não ser surpreendido). Imagino que quem quer que esteja fazendo aquilo devia estar perto, então fico atento para alguma movimentação suspeita de outra pessoa (além dos semideuses em transe que estavam querendo me matar).
Meu plano era simples: esconder-me e tentar ver/ouvir algo que me informasse sobre essa estranha situação.

A todo o momento fico atento (seja quando estiver correndo para me esconder, ou quando eu já estiver escondido) para brandir a espada e afastar algum campista em transe.

"Merda, merda, merda...". Penso enquanto adentro a floresta, estava escuro demais e por mais que gostasse daquele ambiente eu não podia me arriscar ainda mais, então paro de correr assim que passo pelas primeiras árvores, me escondo atrás de uma e respiro um fundo, ainda segurando a espada firmemente.

Volto a olhar os campistas, eu não sabia o que estava acontecendo ainda. Ninguém se revelou como o causador daquilo, então sigo com meu plano de observar e entender: continuo observando os zumbis de detrás das árvores, tento notar qualquer coisa que pudesse me ajudar: seja um padrão em seus movimentos, algo anormal em seus corpos, etc.

Paro de andar assim que chego a uma clareira. Respiro fundo, recuperando o fôlego. Atrás de mim, os campistas pararam de me seguir e de falar aquela frase, eles pareciam dormir agora. Resolvi não mexer neles, afinal poderia ser perigoso acordá-los.

A minha frente está uma casa de madeira bem danificada. Minha intuição diz para averiguar, minha curiosidade não discorda... Então vou em direção a casa, analisando-a, absorvendo o máximo de detalhes que eu puder, sei que é imprudente, mas estava sem opções.

Aperto o punho da espada, me dirijo até a porta e tento abrir ela, com muito cuidado e atenção. Se algo saísse da porta, estaria pronto para me defender. Se a porta não abrisse facilmente, procuraria um meio alternativo de abri-la, seja ele qual for.