Adentrei o local, controlando minha respiração, estava escuro e se não fosse a luz que entrava por frestas do telhado eu não estaria enxergando. Mas felizmente a luz me possibilitou de ver uma coisa... por sinal bem estranha... um garoto sobre um altar de pedra, repetindo as mesmas palavras que os campistas zumbis falavam para mim, e parecia estar no mesmo transe que eles. Reconheci o garoto, já o vira uma vez ou outra no Acampamento, era um filho de Hypnos chamado Tyler. Diziam que ele era meio "problemático" mas não pensei que chegasse ao ponto de fazer um exercito de sonâmbulos... bem ao menos eu imaginava que fosse ele.

De qualquer jeito, não podia ficar ali só olhando, precisava fazer algo. Me aproximo com cuidado do garoto, atento a alguma surpresa desagradável. Ao chegar a uns dois metros dele o chamo, talvez fosse imprudente mas na situação em que estava era o único modo de descobrir o que estava acontecendo.

-Tyler! Hey cara, acorda! -Elevo um pouco minha voz. Caso ele acordasse e tentasse assumir uma posição ofensiva estaria pronto para defender-me, mesmo que precariamente. Caso ele simplesmente acorde daquele "transe" sem demonstrar agressividade, peço uma explicação. Em nenhum momento baixo minha guarda, mesmo com medo, deveria estar atento e pronto para qualquer coisa.

Meus olhos pesaram ao se aproximar dele, a vontade de dormir se instalara na minha mente vinda do nada... Ou melhor, vindo de Tyler, ele era filho do deus do sono e minha repentina vontade de dormir devia ser culpa dele.

Tentaria resistir ao sono, me aproximando mais dele, tentaria cutucá-lo e chamar seu nome (talvez desse algum resultado). Se eu percebesse que não dava mais pra me aproximar por conta do sono, me afastaria o mais rápido que pudesse e tentaria acertar ele com uma pedrinha, um graveto, ou qualquer coisa que achasse no chão.

Caso eu consegua me aproximar, tentaria além de acordá-lo, observar bem o garoto e tentar analisar a situação em que ele se encontrava. Se não conseguisse me aproximar, de longe, eu o analisaria.

Nota mental: não tocar tentar acordar um filho de Hypnos enquanto ele dorme, é treta.

De repente o mundo escureceu e eu perdi o chão, literalmente. Enquanto eu caia na escuridão, fechava os olhos e pensava se era assim que eu ia terminar, caindo num abismo sem fundo... Parece que não, pois sinto meus pés tocarem o chão e o mundo entrar em foco... Um foco bem estranho, escadarias, corredores, teto, chão...tudo parecia se misturar e desafiar as leis da física naquele lugar, lembro-me de um quadro que já vi uma vez, não lembro o nome nem o artista, nunca achara a arte relevante e nunca pensei que pararia dentro de um quadro/dimensão/ seja lá o que for. Depois de uns minutos de análises, sinto algo estranho, como uma presença. Faço o mais sensato, ou não, a sigo.

Depois de andar por todo aquele labirinto, chego a um lugar, parecia um pedacinho de uma vila e seria agradável se não fosse uma garota estar mantendo cativo o filho de Hypnos, em uma cruz... E correntes. Ou ele tinha sérios problemas com sadomasoquismo ou estava tentando matá-lo.

-Não devia mesmo... Nem meu amigo aí, se puder soltá-lo eu certamente irei sem te causar problemas. - Falo em um tom frio, porém não desrespeitoso, não sabia realmente quem a garota era. Fico atento para desviar de algum ataque dela, do melhor modo que eu puder.

-A... mente dele?
Olho ao redor, o lugar era um caos... Senti pena de Tyler, devia ser difícil viver com uma cabeça tão conturbara. Olho para a garota, ainda incrédulo. -Como o prendeu em sua própria mente? - Noto Tyler chorando, então naquele momento minha mente clareou. A garota devia ser a personificação do caos e coisas ruins de Tyler. E quem estava preso era sua parte que resistia, que queria se ver livre de seus problemas, o bem e a sanidade que restavam no garoto.

O caos estava mantendo o que restava de bom de Tyler preso e queria assumir de vez sua mente e seu corpo. Bem, ao menos era assim que eu pensava.
Esperaria a garota responder minha pergunta e confirmar (ou negar) minha suspeita, enquanto analisaria a cruz e a corrente que mantinham o filho de Hypnos preso. Não abaixaria a guarda hora nenhuma, mas também ainda não agiria, precisava de mais informações.

Aquelas correntes vindo em minha direção me aterrorizaram mas antes que eu pudesse desviar, elas atravessaram meu corpo, mas não foram capazes de me ferir, elas passaram por meu corpo como se eu fosse um... Fantasma? Uma sombra? Uma miragem?  Eu não sabia bem, diversas suposições invadem minha cabeça, mas eu afasto as mais absurdas... Meu corpo físico não estava na mente dele literalmente, ao menos eu achava isso, talvez as correntes não pudessem me tocar por isso...  Ainda sim, a parte sobre eu não ter virado um sonâmbulo zumbi ainda era um mistério para mim. Mas não daria a vantagem para el... Não deixaria ela saber que sou inexperiente, teria que blefar.

Primeiro, dou um sorriso como se eu estivesse divertindo-me com a situação. -Bem, digamos que eu já havia sentido que algo assim iria acontecer então tomei as necessárias precauções para não cair em truques como os seus... Bem, ainda não nos apresentamos não é? - Começo a andar vagarosamente em sua direção, a espada em riste. -Qual seu nome, e quem ou o quê é você?

Meu plano era arriscado, mas a garota não sabia quem eu era realmente, então poderia até dar certo. Caso eu conseguisse chegar perto dela, estocaria com a espada em alguma parte de seu corpo que estivesse próxima a mim e que estivesse exposta, eu queria saber se eu era capaz de tocá-la. Caso ela lance algum ataque contra mim enquanto me aproximo, tento desviar e continuar com meu plano para testar se ela era tangível para mim.

A todo momento tento soar confiante e frio, tento também controlar meu medo, eu realmente temia aquela garota... Mas ela não precisava saber disso. Não baixaria a guarda em momento algum, e sempre tomaria cuidado para desviar de algum ataque seu, tentaria desviar do melhor jeito que eu pudesse.