A melodia dedilhada com perfeição ecoava pelo Acampamento, dando ao por do sol uma trilha sonora misteriosa e levemente triste. Mas ainda assim, dotada de uma beleza profunda e melancólica. As náiades estavam com as cabeças para fora d’água, os pássaros faziam silêncio completo nos bosques, os esquilos, gaivotas e corujas pontilhar a beira do lago, atraídos pela canção. Muitos estavam parados em suas atividades no Acampamento, distraídos pela música misteriosa.
Na beira do lago, uma dupla “solitária” estava cercada de ouvintes pequenos e silenciosos. O mais velho, loiro e de pele bronzeada, tocava sua lira com maestria e encanto, enquanto o outro, um garotinho de cabelos negros e pele pálida, distraidamente saboreava as notas deitado sobre o galho de uma árvore, balançando uma perna ao vento melodioso. Desde sua última missão no Acampamento, enfrentando uma anomalia mágica que havia destruído as barreiras e debilitado boa parte dos semideuses, o grão-feiticeiro havia sido chamado novamente para fornecer Pedras da Lua para a engenhoca mágica criada por Roran para reparar as barreiras.
Enquanto aguardava a noite chegar para começar seu trabalho, tinha ido de encontro ao seu velho amigo. Tão opostos, mas tão ligados; um se despedia do sol com uma canção, enquanto o outro aguardava a lua para uma saudação.
Um pássaro se aproximou e pousou sobre o joelho do garoto na árvore. Nathan reconheceu a figura como um pequeno periquito australiano. A figurinha o encarou com os olhos negros e miúdos, e voltou a observar o músico abaixo deles, sentado sobre a grama aos pés da árvore.
Observei a cena por um momento, distraído pela canção. Que ironia. Canções haviam me levado até ali, e uma canção encontrei ao chegar. E que canção… Incomodado, dei-me conta que estava, como os mortais, sujeito ao jogo das parcas. Ironia uma ova, aquilo era só mais um script nas mãos d’As Tecelãs.
Aproximei-me a passos lentos e leves. Incógnito, incólume, vazio. Passei pela plateia de esquilos sem alertá-los, embora apenas caminhasse ao seu lado. As criaturinhas jamais perceberiam minha presença. Ao som da música, me aproximei da árvore, até que senti a necessidade de parar a alguns metros dela. Olhei para o jovem em cima do galho e pude perceber, surpreso, que se eu desse apenas mais um passo, ele me notaria. Ergui uma sobrancelha, admirado mas, ainda, contrariado. Não estava acostumado a encontrar pessoas como aquelas, semideuses daquele nível. Na verdade, não estava acostumado a ser notado sequer pela maioria dos deuses… Tão poucos tinham a força de superar sua mortalidade, e tão poucos continuavam vivos depois disso… Ali, diante de mim, podia ver duas jóias esculpidas, tão brilhantes quanto as ametistas em meus jardins.
Levei a mão à cabeça e retirei meu elmo. Imediatamente, o garoto sobre a árvore ergueu o corpo, virando-se para me encarar nos olhos com um frieza afiada e calculista. O outro também se virou, sem deixar de tocar sua canção perfeitamente executada, e assim permanecemos até o fim da música, ponto em que os animais começaram a debandar, de repente livres de um transe quase enfeitiçado.
- Foi uma linda música - Falo para o jovem bronzeado sentado na grama - ela tem um nome?
Olho ao redor, suspirando profundamente. O sol se punha no horizonte junto com a melancolia deixada no ar pela música. O pequeno periquito dormia sobre o joelho do filho de Hécate, e era o último animalzinho restante da inusitada plateia que havia debandado.
Aos poucos, metro a metro, a lua subia no céu. E consigo trazia as sombras que grudam ao meu corpo quase que irritantemente.
Na beira do lago, uma dupla “solitária” estava cercada de ouvintes pequenos e silenciosos. O mais velho, loiro e de pele bronzeada, tocava sua lira com maestria e encanto, enquanto o outro, um garotinho de cabelos negros e pele pálida, distraidamente saboreava as notas deitado sobre o galho de uma árvore, balançando uma perna ao vento melodioso. Desde sua última missão no Acampamento, enfrentando uma anomalia mágica que havia destruído as barreiras e debilitado boa parte dos semideuses, o grão-feiticeiro havia sido chamado novamente para fornecer Pedras da Lua para a engenhoca mágica criada por Roran para reparar as barreiras.
Enquanto aguardava a noite chegar para começar seu trabalho, tinha ido de encontro ao seu velho amigo. Tão opostos, mas tão ligados; um se despedia do sol com uma canção, enquanto o outro aguardava a lua para uma saudação.
Um pássaro se aproximou e pousou sobre o joelho do garoto na árvore. Nathan reconheceu a figura como um pequeno periquito australiano. A figurinha o encarou com os olhos negros e miúdos, e voltou a observar o músico abaixo deles, sentado sobre a grama aos pés da árvore.
Observei a cena por um momento, distraído pela canção. Que ironia. Canções haviam me levado até ali, e uma canção encontrei ao chegar. E que canção… Incomodado, dei-me conta que estava, como os mortais, sujeito ao jogo das parcas. Ironia uma ova, aquilo era só mais um script nas mãos d’As Tecelãs.
Aproximei-me a passos lentos e leves. Incógnito, incólume, vazio. Passei pela plateia de esquilos sem alertá-los, embora apenas caminhasse ao seu lado. As criaturinhas jamais perceberiam minha presença. Ao som da música, me aproximei da árvore, até que senti a necessidade de parar a alguns metros dela. Olhei para o jovem em cima do galho e pude perceber, surpreso, que se eu desse apenas mais um passo, ele me notaria. Ergui uma sobrancelha, admirado mas, ainda, contrariado. Não estava acostumado a encontrar pessoas como aquelas, semideuses daquele nível. Na verdade, não estava acostumado a ser notado sequer pela maioria dos deuses… Tão poucos tinham a força de superar sua mortalidade, e tão poucos continuavam vivos depois disso… Ali, diante de mim, podia ver duas jóias esculpidas, tão brilhantes quanto as ametistas em meus jardins.
Levei a mão à cabeça e retirei meu elmo. Imediatamente, o garoto sobre a árvore ergueu o corpo, virando-se para me encarar nos olhos com um frieza afiada e calculista. O outro também se virou, sem deixar de tocar sua canção perfeitamente executada, e assim permanecemos até o fim da música, ponto em que os animais começaram a debandar, de repente livres de um transe quase enfeitiçado.
- Foi uma linda música - Falo para o jovem bronzeado sentado na grama - ela tem um nome?
Olho ao redor, suspirando profundamente. O sol se punha no horizonte junto com a melancolia deixada no ar pela música. O pequeno periquito dormia sobre o joelho do filho de Hécate, e era o último animalzinho restante da inusitada plateia que havia debandado.
Aos poucos, metro a metro, a lua subia no céu. E consigo trazia as sombras que grudam ao meu corpo quase que irritantemente.