A noite estava escura, a pouca luz que vinha da lua iluminava a entrada do chalé de Hefesto, mesma luz que passava pela janela e chegava até cadeira na qual estava sentado. Todos os meus irmãos estavam dormindo, menos eu. Fazia um tempo que não conseguia. Minha última ida ao submundo havia me deixado assim, confuso e com muitas perguntas, mais do que eu gostaria de admitir.

Agora eu era irmão mais novo da Lhokita, ou irmã, sei lá. Eu havia recobrado grande parte da minha memória passada, havia algum tipo de profecia nas nossas cabeças que, sinceramente, eu estava cagando no momento. Agora a úncia coisa que eu conseguia pensar era na minha mãe, não minha mãe na vida passada, mas sim a que me deu a vida agora. A mulher que morreu tentando me proteger de fúrias em uma estrada abandonada pelos Deuses, sem ninguém para defende-la ou dizer que as coisas ficariam bem.

Eu nunca tinha pensando muito nela, meu tutor havia me dito que quando chegou ela já estava morta e que eu seria o próximo se ele não tivesse interferido. Esse fato moldou minha vida, não posso negar, eu sempre tentei ser muito forte para proteger aqueles que ainda não conseguiam, mas eu nunca fui atras dela. Eu fui ao submundo resgatar Vincent, agora fui ao submundo porque a Lhokita tinha me pedido mas nunca pensei em ir resgatar minha mãe.

Esse sentimento de vergonha, covardia e remorso invadiam o meu peito toda a noite e por isso eu não vinha dormindo já fazia uma semana. Eu tentava bancar o inabalável durante o dia, mas a noite o silencio me fazia desmoronar. Rezei a Hypnos nos 3 primeiros dias para me agraciar com um bom sonho, mas desiste e no quarto dia o amaldiçoei por não me conseguir algo simples.

Eu poderia pedir para um dos seus filhos fazer isso mas eu não queria demonstrar fraqueza, eu não podia. Depois que Quiron morreu o acampamento precisava de pilares forte que o erguessem novamente então os campistas mais fortes começaram a ser esses pilares. Eu como conselheiro de Hefesto fui e sou um deles, então eu não posso falar para os outros que estou com algum tipo de problema mental, isso poderia abalar a confiança que todos tinham em mim e o medo preencheria o espaço que hoje é da esperança.

Sophie repousou sua cabeça em minhas pernas, era raro os momentos em que ela demonstrava qualquer tipo de afeto, mas desde que voltamos do submundo ela começou a ficar mais apegada a mim. Passo os dedos por sua plumagem, era macia e gelada como a morte... sim, agora eu sabia como era morrer.

Eu sabia o que eu tinha que fazer para acalentar minha alma mas era uma tarefa muito difícil, talvez a mais difícil que eu podeira fazer em toda a minha vida. Me levanto da cadeira e caminho até meu armário, começo a pegar meus itens e me equipar lentamente enquanto escuto Sophie falando.

"Você vai mesmo fazer isso Johnny? Sabe que os Deuses não vão gostar de você mexendo com a morte"

"Se os Deuses se importassem comigo eu não estaria nessa situação. Eu pedi... não, eu implorei por uma benção mas tudo o que me deram foi uma trilha de corpos. Dessa vez eu irei pedir para que eles tomem no cu" -Respondi.