Era bem cedo quando Saito acordou para arrumar alguns documentos. Com Fiuk fora por dias indeterminados, sua função ficou mais fácil e mais difícil ao mesmo tempo. Abriu o computador e chegou seu email (?), depois checou seu celular e tinha uma mensagem, simples até. Com poucas palavras Quíron dizia: Polifemo está de volta. Por um momento Saito atazanou o homem, porque ele não precisaria mandar uma mensagem, cedo ou tarde ele mesmo saberia e encarregaria algum fedelho para cuidar disso. Mas hoje foi diferente.

Saito levantou entusiasmado da cadeira, bateu com as duas mãos na mesa de madeira de carvalho e disse:

— Hoje eu mesmo mato ele... — disse para si mesmo, mesmo que tenha soado alto o bastante para que outros escutassem.

Saiu do escritório e uma voz representante de seu subconsciente soprou em sua mente, proferindo palavras e direções. Saito era normal? Ninguém sabia... Você é o Pretor, então você mesmo se decida... disse a voz do seu subconsciente pouco máscula. Saito ficou parado na soleira da porta do hall, fitando o sol que surgira a poucos minutos.

Pretor se ajeitou, pegando todo o necessário e até o desnecessário, já que sua bolsa mágica poderia comportar o mundo dentro — até comida o necessitado levou na bolsa. Sua píton — grande, grossa e comprida — ficou dentro de sua armadura, roçando em sua pele. Se o animal fosse uma mulher (ou outro), Saito pensaria que ela estava bolinando-o, gostava até.

Saiu do acampamento voando com suas botas aladas, não seria uma viagem tão longa, tanto porque não é tão distante comparado a outros lugares que semideuses vão, quanto porque ele é um filho de Mercúrio e certamente é bem rápido, claro não tanto quando em terra.

No meio do caminho Saito sentiu um forte vento contra sua direção. As nuvens estavam negras adiante, mas nenhum indício de chuva. O vento certamente não atrapalhou o semideus, mas ele pôde sentir a ferocidade. Subitamente Saito sentiu um fio prateado passar a quase 1 centímetro de seu braço. Mesmo não percebendo, o jovem conseguiu se esquivar de um golpe vindo de alguém desconhecido. Ele olha para os lados, quando de repente se depara com uma criatura estranha, ambos parados no ar a mesma altura do semideus.

Saito fita a criatura, não era um monstro, pelo menos não parecia, mas era estranhamente semelhante a um humano, porém seu corpo não era feito de carne, e sim composto por vento. Junto ao corpo estavam equipados armaduras que refletiam os poucos raios solares que ainda restavam das nuvens negras. Era quase uma armadura completa, por assim dizer, ornada a prata e ouro branco, era linda. Uma parte de seu peito estava “desprotegido”, e um brilho suave emanava de alguma pedra dentro da massa de ar, que poderia ser chamada de tórax.

Ambos ficaram fitando uns aos outros por alguns instantes. Saito pode perceber que a tempestade vinha chegando e ficava cada vez mais feia, as nuvens cada vez mais densas. Saito podia perceber o ar circulando a volta deles.

Saito avança contra o venti, mas certamente o venti recuo tão rápido quanto poderia ser o vento. Virou uma cambalhota para trás, jogando-se para trás a metros de distância, e ao mesmo tempo jogando para frente rajadas de ventos em Saito, que não surtiu tanto efeito. Quando o Pretor arremessou a bomba não foi bem o esperado. A bomba foi lançada, e antes que chegasse perto do venti, antes mesmo que saísse a centímetros da mão do Saito, ela foi arremessada para trás com total furor, a rajada de vento contínua arremessou a esfera a metros atrás de Saito antes que ela explodisse. Em seguida ela explodiu, fazendo uma grande explosão a metros atrás de Saito, que recebeu a onde de choque, tendo seu corpo arremessado para frente no ar a poucos metros.

Venti ficou olhando Saito enfurecido, ele estava praticamente a quase 15 metros do semideus a essa altura. A rajada de vento era inútil no semideus enquanto ele corria, mas no momento ele não estava fazendo nada do tipo, e de repente seu corpo começou a ser jogado para trás, direto no fogo que ainda consumia o ar. Saito rolou no ar e foi para baixo, escapando parcialmente, mas subitamente, na mesma rajada contínua, o jovem começou a sentir beliscões. Venti lançava junto às rajadas um vento cortante. Fazia corte superficial em toda a pele desprotegida do semideus, e arranhava sua armadura, deixando leves marcas.

A explosão tomava força com o vento contínuo, mas aos poucos ela ia se dissipando até que por fim sumiu sem deixar vestígios. O oponente, agora parado, levanta as mãos para os céus e as nuvens do local começam girar, formando um funil acima de sua cabeça, e subitamente o funil começa a tomar forma de um furacão. Saito conseguiu ouvir o rugido dos ventos fortes que rodavam entre si. Em segundos o tornado estaria formado.

Saito foi esperto, fez o que tinha que ter feito antes. Lembrou-se do lugar que parecia o ponto fraco do venti, e aproveitou-se dessa oportunidade. Teleportou-se a centímetros do venti e cravou sua espada na parte desprotegida de seu peito, enterrando-a no cristal que havia ali dentro, preso pela massa de ar. Saito pensou na força que usou para conseguir que sua espada encostasse ao cristal, e viu que em outras circunstâncias, isso poderia ser mais difícil.

Assim que a lâmina encostou fazendo força suficiente para rachar o cristal, ele começou a emanar um brilho branco, era como se tudo acontecesse em câmera lenta, e então ele começou a rachar por completo, até se desfazer em farelo de cristal. Ao mesmo tempo, toda a armadura do venti tornou-se vento. Saito estava com sua Katana ligada no cristal, e não havia nada com que a fizesse soltar dali. Em instantes o jovem sentiu tudo tremer, o ar a sua volta estava tremendo, e então o corpo do venti explodiu numa ferocidade violenta. Saito foi arremessado no ar a alguns metros de distância.

Saito via o mundo girar a sua volta. Foi como se todo o ar a sua volta tivesse expandido numa explosão. O semideus parava no ar aliviado enquanto recobrava os sentidos, pois seu ouvido estava zunindo um barulho tão agudo quanto poderia ser, e sua visão girava a qualquer movimento que ele fazia. Esperou poucos segundos e então estava pronto para continuar viagem. Saito continuou voando até a ilha.

Depois de alguns minutos finalmente Saito avista terra firme. De longe a ilha parecia irregular, com cadeias montanhosas no norte, e muita vegetação cobrindo todo o centro oeste, sul e leste da ilha. O único lugar da ilha que livre de vegetação era o oeste, era ficava a grande praia, e as cadeias de montanhas.

A poucos quilômetros para chegar a ilha, Saito avista de longe um helicóptero caindo descontroladamente sob o céu. Rodopiava no ar como se fosse um brinquedo. Sua hélice mal girava, e Saito podia ver a fumaça negra saindo do objeto. O jovem pretor olhou com cara de preocupado, nunca tinha visto nada parecido, pensou no seu senso de dever. Então alguns segundos depois, o helicóptero afundou dentro da floresta, uma alta vegetação, bastante densa, perto da praia, e nada mais conseguiu ver a não ser a fumaça negra que continuava saindo de onde o helicóptero havia desaparecido.

Saito então pousou na praia, que ficava no oeste da ilha. A fumaça não estava tão perto, mas comparando com a ilha, esse conceito poderia ser diferente. Agora que o pretor olhava a ilha por dentro, percebia que ela não era simplesmente grande e espaçoso, mas também alta com suas cadeias montanhosas.

Saito levanta voo e pega um coco para saciar a sede. Depois de terminar de beber a água do coco , o jovem sobe ainda mais indo ao local do helicóptero caído. De cima não dava para ver muita coisa, apenas a fumaça negra passava pelos topos das árvores. Saito era rápido o bastante para fugir se algo desse errado, então decide descer e procurar sobreviventes. Saito tinha um objetivo naquela ilha, matar Polifemo. Mas ele também tem dever dentro de sua humanidade, mesmo que ela seja instável.

Saito desce e tudo o que encontra é o helicóptero quebrado. As chamas não sobreviveram, apenas os resquícios delas, folhas e alguns galhos queimados. A hélice ainda girava lentamente. Tudo tinha acabado de acontecer. Saito via que não tinha perigo e olha dentro do helicóptero. Nenhum sinal de vida. Apenas sangue. Levantou os olhos por cima do ombro quando escutou um barulho de galho quebrar. Não tinha nada ao seu redor, talvez fosse apenas algum animal. Mas antes que fosse partir, Saito deu uma melhor olhada no chão, e encontrou o que poderia estar procurando. A causa do acidente?

Desde a entrada do helicóptero para metros depois do semideus, tinha uma trilha de sangue. Tinha um rastro, como se alguém tivesse sido arrastado por ali, ou, se arrastou dali para procurar ajuda. Saito perseguiu a trilha com os olhos, mas as árvores tampavam o resto.