- Eu tenho um plano, é arriscado, mas ou a gente faz algo ou eles vão encantar todos os semideuses. - Disse Rachel baixinho para os demais, que a olhavam babando, como se fossem 4 bebês com corpos de guerreiros gregos. - Para isso, preciso que vocês se certifiquem que os grifos não me ataquem. Se a briga não continuar, eles se unirão novamente em prol da nossa destruição. Vou tentar dialogar, e caso eles tentem me atacar com algum feitiço, estarei com isso. - A filha de Atena ergueu seu escudo, esbanjando a habilidade especial que o item tinha. A menina estimulou os rapazes e lançou ordens como uma general em meio à guerra. Por mais que os estrategistas estivessem em transe, eles ergueram sua cabeça, como se recuperassem parte da sua confiança e assentiram. Orando à deusa da sabedoria, a menina se distancia um pouco e se ergue dos arbustos, revelando-se para os magos com o escudo a sua frente. Ambos tiveram reações diferentes. O mago branco soltou um "Ahn?" escondendo o livro por baixo das suas vestes e fingindo que não havia nada com ele. O mago negro se virara apontando a varinha e, instintivamente, começou a recitar algumas palavras. A menina de escudo pronto, preparou-se. De supetão, o mago branco arregalou os olhos, como se tivesse recebido um choque na espinha. Gritando, ele jogou seu corpo no braço do de vestes escuras, fazendo-o errar seu feitiço. A menina prendeu a respiração quando viu o fogo negro acertar um arbusto à alguns metros dela, imaginando o que poderia ter acontecido se tivesse sido acertada. A menina sabia que aquelas chamas não podiam ser apagadas com água e serviam um único propósito: Consumir tudo.

- Seu IDIOTA! - Xingou o mago negro, dando um soco na bochecha do seu colega.
- Você não está vendo? Olhe aquilo! - Apontou para a menina por longos segundos e a estudou, como se estivesse olhando um prato de comida pela vitrine de uma loja. De olhos atentos, ela percebia que eles não encaravam ela e sim seu escudo. Os grifos se incomodaram com a presença da menina, rosnando mais alto e batendo os cascos na grama com força. Rachel pensou que ia ser morta à bicadas pelos 6 quando as aves encararam as árvores mais à direita. A posição dos estrategistas. Era possível ouvir a corrida deles, seguindo o caminho de volta para o acampamento e atraindo os monstros consigo. Os grifos alçaram voo, deixando a menina enfim sozinha e com um problema em mãos.

- Sabe, me parece que seu amigo não confia no seu poder, grande mago. - Disse, se dirigindo ao mago negro. ele assentiu, cruzando os braços e lançando um sorriso amarelo visível por baixo do manto - Estábulos, sério? - Continuou a campista - As únicas pessoas que não veem o lugar como um castigo, são os filhos de Poseidon e cá entre nós... eles só ficam lá pelos cavalos. Não vim aqui pra lutar com vocês. Só vim trocar uma ideia antes de que um de vocês tome o acampamento. Ah, sim, UM de vocês. Eu vi no oráculo. - As palavras da menina eram ouvidas com entusiasmo pelo mago negro, que agora acariciava seu pedaço de livro. Tinha em mãos a chave para a glória que ansiava durante toda sua vida e agora a confirmação de um oráculo. O mago branco lançava olhadelas para o rosto da menina, mas estava especialmente interessada em seu escudo. - Não sabiam? Vão ter que decidir entre vocês até o amanhecer. Apenas um, ou algo muito ruim vai acontecer com os dois. E olha, se eu fosse vocês não tentaria matar uma futura aliada. - Concluiu, contente por ter conseguido finalizar tudo que planejava dizer. A ideia estava ali, implantada como se a menina fosse uma serva de éris, mas no fundo, uma estrategista. O mago negro caminhou para o lado, pensativo. Talvez decidindo se acreditava nas palavras da menina ou a transformaria em cinzas. O de vestes brancas estendia suas mãos, como se tentasse tocar a defesa da menina.
- Magia élfica. Consigo sentir. Hum. Você não sabe metade do que isso é capaz, menininha. Me dê e deixaremos você sair com vida. Eu também ouvi uma profecia e não diz isso que você está falando. Vai confiar em mim ou nela, Mathew? Acabe logo com a fedelha, mas POR...FAVOR... cuidado com o escudo - Disse, fazendo os ombros da menina desabarem e seu coração martelar no peito. O nervosismo estava fazendo sua perna tremer um pouco, mesmo que tentasse manter a calma no ápice da situação. Um passo em falso e ela estaria morta antes de conseguir sequer pensar em fugir. Havia assumido a responsabilidade de salvar o acampamento e agora não havia outra escolha senão fazẽ-lo. Matthew encarou o mago branco com uma expressão de confusão, era evidente que ele não tinha completa fé nem em rachel, nem no outro mago.

- Sabe Matthew, por muito tempo você ficou as sombras de seu companheiro. Quantas vezes você sentiu o gosto da glória? - Incitou a menina encarando o feiticeiro, com um vigor ainda maior após ter sido menosprezada pelo mago branco. - Eu posso te ajudar a alcançar a nobreza, fortuna, poder. Como pode ver, tenho um presente Élfico. Fui escolhida e abençoada por uma magia que você não deveria ignorar a importância. Nossos destinos estão cruzados - O mago se via sem escolhas. De um lado seu companheiro lhe oferecendo os estábulos. Do outro Rachel lhe dava uma alternativa de glória. A filha de atena dá um passo a frente e começa seu discurso com um sorriso no rosto. Não havia charme em suas palavras ou qualquer magia, mas havia algo ainda mais poderoso e que não precisaria de esforço ou energia: Inteligência.

- Sabedoria, Matthew. Você precisa dela ao seu lado. Não esse que acha que é seu amigo. Acha mesmo que o famoso mago da luz, lhe daria a chance de triunfar como igual? Oh sim,todos o conhecem, mas poucos sabem da sua grandiosa existência, milorde. - Negou com a cabeça Aoós se oferecer como guia da vitória do mago, Rachel percebe que seu plano ia perfeitamente como esperado. A menina já não estava mais nervosa como antes e parecia ter completo controle da situação. Foi aí que as frases de Mattheu fizeram seus ombros cair e ela ter de forçar sua boca para que o sorriso não saísse do seu rosto.
- Preciso de uma prova de lealdade. Jure pelo rio estige. Jure que quando eu chamá-la, você virá em meu auxílio. Jure que me ajudará a conquistar a glória que mereço. - Falou estendendo as mãos. O mago da luz permanecia com os olhos vidrados na garota, com um ódio visível e transbordando pelas suas vestes. Era quase possível ver sua pele brilhar mais forte, temendo estar perdendo a discussão e sem conseguir soltar nenhum argumento para retrucar. O mago negro esperava uma prova concreta de que a menina não estava mentindo e oferecera o juramento mais poderoso existente. O que Rachel faria? Ali próximo ela ouviu o movimento nas árvores, mas parecia ser tão suave que poderia facilmente ter vindo de algum animal qualquer. Nada que nenhum deles realmente ligou diante do momento de tensão.

A menina desconfiava do movimento nas árvores e tinha de ganhar tempo. Não podia jurar pelo estige algo com aquilo, seu objetivo era salvar o acampamento e não ajudar a destruí-lo. Foi aí que ela decidiu apostar numa estratégia arriscada.

- É claro, extremamente importante, senhor, uma prova, muito bem pensado... é realmente o escolhido... Me dê um momento para uma oração élfica antiga, para selar o juramento com chave de ouro. Eu, Rachel Constantine... - A garota começa a murmurar algumas palavras aleatórias em élfico, buscando descobrir de alguma coisa por entre as árvores. Enxergando claro como dia, a menina vira o rosto para trás e vê um dos estrategistas esgueirando-se ao lado de uma árvore. Connor observava tudo ali de braços cruzados e mesmo vendo a dificuldade da menina nesse momento, o menino não parecia ter qualquer interesse em ir ajudá-la. Era incerto se era devido à maldição, mas de qualquer forma, a menina estava por conta própria.

Ela resolve então observar a área afetada pelo fogo negro no começo do diálogo. Onde antes havia um arbusto, agora não existia sequer as cinzas dos galhos e folhas. As chamas escuras havia desintegrado tudo. A menina até agora havia tentado explorar o desentendimento entre eles, mas estava deixando algo passar. Viajou em seus pensamentos para alguns momentos antes, tentando raciocinar em algo que pudesse lhe auxiliar nesse momento. Minutos atrás, enquanto assistia tudo junto aos estrategistas, Matthew havia sacado a sua varinha para o mago branco, mas, mesmo com a visível intenção de atacá-lo com as chamas,não o fez. A filha da deusa da sabedoria então idealizou o porquê. O fogo negro consumiria o livro e sem o grimório inteiro, seu plano estaria em ruínas.

De repente, a explosão de luz interrompeu o cântico elfico da menina. Um clarão ofuscou todo o cenário a sua frente, como se uma estrela tivesse surgido no centro da clareira. Instintivamente, a filha de Atena posicionou o escudo a frente do seu corpo em um ato de precaução. Ela desconfiava do que viria em seguida. A única coisa que se ouvira antes do inevitável confronto se iniciar foi o grito de Matthew revelando o nome do outro feiticeiro

- Caim! Não! -   Todo o corpo da meio-sangue sentiu impacto de algo se chocando contra a sua defesa. A força tinha sido suficiente para a arrastar alguns metros na direção das árvores. A semideusa se sentia perdida, mas tudo que conseguia visualizar era uma forte luz à sua frente, provavelmente vinda do mago Caim. As pancadas continuaram a vir, menos potentes, porém sucessivas e ainda mais rápidas, obrigando a menina a se manter na defensiva todo o tempo e fazer de tudo para não ser acertada. Mesmo que o mago negro houvesse a considerado uma aliada instantes antes, ele nada fazia. Se Rachel estivesse correta, mesmo que ele desejasse ajudar a garota, ao atacar seu aliado estaria queimando o livro junto.

A menina crava seu escudo no chão, deixando-o estável em meio as pancadas que recebia. Rachel se agacha cautelosamente, tentando lidar com o que parecia não ter saída. Não conseguia visualizar seu oponente e atacar às cegas seria suicídio.

- Está vendo? É isso que Caim fará com seus aliados, Matthew. Tentará nos destruir para que você não triunfe! - Gritou a filha de Atena enquanto quebrava sua cabeça idealizando uma outra maneira de agir. A campista então toca o chão, na esperança de que suas habilidades lhe dissessem algo a respeito da localização do mago, mas tudo que consegue são informações a respeito da grama ou da terra em si oriundas de livros que já leu. Mesmo assim, o ato não foi de todo inútil. Não havia qualquer tremor no chão ou sinal de movimento além das pancadas. Era como se o mago sequer estivesse tocando o solo. Estava flutuando? O clarão aparentava que jamais fosse diminuir, mas dessa vez havia conseguido irritar Mathew. Ela escuta alguns grunhidos e o som de capuzes balançando contra o ar. De alguma maneira, surge uma mancha negra, lutando contra a própria luz no centro da clareira. A garota se permitiu olhar diretamente por cima da sua defesa e deu um sorriso, percebendo que tinha acabado de manipular o mago novamente. Aos poucos a luminosidade começa a diminuir e é possível visualizar o ambiente novamente. Alguns metros adiante, Caim se empenhava em esquivar com saltos laterais a medida que Mathew o pressionava com socos e pontapés. A primeira vista, o duelo parecia estar bem equilibrado para ambos os lados. Mas, sem querer, Rachel praticamente decidiu o confronto. Mathew desvia o olhar para a menina , mostrando um mix de dor e satisfação, talvez feliz por impedir a destruição da sua nova aliada. Explorando a brecha, o mago branco se arremessou para frente, segurando o pulso do adversário e tomando a varinha para si. Nessa hora, a filha de Atena sentiu como se o próprio tempo ficasse mais lento e o seu coração parasse. O feiticeiro das trevas tenta alcançar sua arma, gritando para que Caim parasse. Um semblante de felicidade surgiu no rosto do homem de vestes brancas e em poucos segundos, a campista observava o fogo negro consumir o seu antigo "parceiro" de fora para dentro, o destruindo da pele aos ossos. Mesmo que não houvesse outra escolha, ela ainda sentia um aperto no peito. Carregaria a responsabilidade da morte dele para sempre. Em suas mãos, as páginas do livro que ele protegia se esvaiam pouco e a pouco para no fim nada mais restar.

Um silêncio se estendeu até o momento em que o feiticeiro notou as consequências do que havia feito, entrando em desespero. Caim gritou, desabando de joelhos no chão e socando o solo com ambas as mãos. As lágrimas desciam do seu rosto enquanto ele soluçava alto, como se tivesse perdido um ente querido. Em um ato de revolta, o homem quebrou a varinha em dois pedaços e a arremessou longe. A semideusa sabia que a tristeza do feiticeiro não era pela morte do seu amigo e sim pela destruição do fragmento restante. A garota suspira, percebendo que a sua ideia maluca havia resultado em sucesso. A coragem e inteligência de Rachel tinha acabado de salvar o acampamento meio-sangue.

O mago a encarou por longos instantes, com a respiração ofegante e os punhos cerrados. Dessa vez não havia luz brilhando em sua pele ou qualquer sinal de algum clarão, o que só tornava a situação ainda mais macabra.

- A culpa... sniff... é... SUA - Grunhiu com a voz trêmula. A hiperatividade da menina atacou mais forte, como se seus próprios instintos a alertassem que o mago a atacaria novamente em seguida.

Rachel se levanta, puxando seu escudo e preparando sua espada, caminhando calmamente em meia lua, estudando a defesa do mago da luz.

- Não, não é minha culpa, Caim. É sua. - Disse com certo pesar nas palavras. - Mas isso pode ser perdoado... você pode ser o novo esc-
- Quieta! - Cortou-a, se levantando e caminhando na sua direção. Agora estando ainda mais próximos, a meio-sangue conseguia ver que o feiticeiro mancava um pouco com a perna esquerda, talvez alguma consequência dos golpes de Mathew. Era visível que Caim não queria ouvir outra opinião ou sequer estava interessado em alguma promessa de redenção. Tudo que ele queria era sangue. O sangue dela.
O feiticeiro elevou as mãos aos céus, fazendo seus pés deixarem o chão e flutuarem a quase meio metro do solo. Em cada uma de suas mãos uma espada do mesmo porte que da menina se materializou, feita inteiramente de energia luminosa. Estudando os movimentos do seu adversário com uma habilidade digna de sua ligação divina, Rachel conseguia prever que ele investiria contra o seu pescoço em seguida.

- Últimas palavras? - Veias saltavam de seu pescoço e da sua testa, como se ele estivesse consumido pelo ódio. Não apresentava qualquer sinal de que agiria com cautela. Nesse ponto a campista tinha vantagem.