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One Post - Morte - Prólogo Empty One Post - Morte - Prólogo

por Taylor Black 17/07/22, 01:21 pm

Taylor Black

Taylor Black
Filho(a) de Atena
Filho(a) de Atena
Formulário:

Nome da narração: Morte.

Objetivo da narração: Despertar.

Quantidade de desafios: Um.

Quantidade de monstros: Um.


Espécie dos monstros: Homem.
PRÓLOGO


Nas primeiras noites eu não conseguia dormir. Esse negócio de ceifar vidas é um trabalho difícil quando você o assume depois de viver uma, afinal, os olhos assustados e o clamor por mais alguns segundos são coisas que você consegue entender.

Depois d’um tempo ficou mais fácil. Eu percebi que a minha presença era, às vezes, acalentadora. Não lhes entregava todas as respostas de imediato, porém, permitia que se livrassem daquela ideia fria e mórbida de esquecimento, d’um vazio escuro que não tem espaço para qualquer existência.

Quando eles percebem que a consciência vive além da carne uma espécie de alívio preenche seu espírito, mas, ele logo é rasgado pelo medo do julgamento. “O julgo não é meu ofício” eu costumo explicar, mas, eles nunca estão preparados para o que vem depois.

E o que vem depois? Bem...

- Você pensa demais – ele interrompeu minhas reflexões – se utilizasse menos a cabeça e mais o coração, talvez fosse mais fácil.
- Sabes que matamos pessoas, né? – lancei a ironia ao deus mórbido que, com um sorriso, sentou-se ao meu lado.

Estávamos no central park, e a tarde quente e úmida estava chegando ao seu fim. O céu alaranjado indicava que a carruagem de Apolo se aproximava do oriente, empurrando-nos ao véu estrelado.

No entanto, o rosto dele iluminava o ambiente, como sempre.

- Você tem respostas ácidas demais para alguém da sua idade – devolveu, debochando dos meus séculos.

- É que ninguém gosta de ver o patrão no meio das férias – ofereci-lhe um pão velho que tinha em minhas mãos, cujos farelos eu atirava aos pombos que pacientemente recolhiam cada migalha – a que devo?

- Nada demais... – tomou consigo um pedaço e, como eu, inundou o gramado, fazendo uma ou duas aves a mais se aproximarem – só sinto que você tem estado distante.

Na nossa frente uma planície livre de árvores se estendia por uma boa distância, e dali era possível ver algumas famílias arrumando as toalhas do piquenique enquanto preparavam-se para ir embora, alguns adolescentes praticando esportes e cães correndo atrás de seus donos.

- Somos ceifadores, né? Temos que manter as aparências. Vestir preto, ouvir AC/DC e andar sempre sozinhos – cutuquei-o com o cotovelo, rindo.

Isso era engraçado porquê os novatos pareciam sempre extremamente depressivos e tristes, perpetuando a figura gótica de servos da morte, como se fosse um dever dessa classe se portar como emos que não veem sentido na vida.

Na contramão, Thanatos era completamente diferente. Era certamente o mais vivo, gentil e humano dos deuses. Sua presença me era sempre acalentadora, como entrar em uma padaria em uma manhã de domingo e sentir o cheiro de sonhos recém assados.

- Mas você não precisa se afastar de mim – transformou o último pedaço de pão em migalhas e lançou às aves – desaparecer desse jeito por um ano, apagar sua presença como se estivesse se escondendo. Você deveria saber que não é possível fugir da morte.

- Olha... eu não sei... – suspirei – acho que eu precisava d’um tempo, sabe? Pra entender...

- A morte?

- A vida! – fiquei de pé, erguendo brevemente a voz para expressar minha indignação ao ponto de fazer os pombos se agitarem – essas pessoas, elas acreditam em tanta coisa, tentam nos decifrar, ressignificar – encarei a palma de minhas mãos, como se olhasse para a foice que corta o corpo do trigo crescente, pondo fim à sua vida – querem de mim algo que não posso dar. Tempo. Justiça. Piedade.

- E por qual motivo isso lhe aflige?

- Porque eu queria dar o que eles pedem – cerrei os punhos, lembrando-me de cada pessoa que morreu, cada um que levei para o outro lado – mas, só consigo ser isso... reles, suja, vil.

Respirando fundo ele se levanta, olha nos meus olhos, como um pai encarando uma criança que fez a centésima pergunta óbvia do dia – o que acha que somos, Taylor?

- Navalhas – eu já havia respondido isso antes, no primeiro dia, quando fui convidada para servir a morte, e assim como séculos atrás, ele riu da minha resposta – somos a tesoura de três velhas brigonas que dividem um olho e dirigem um taxi velho e fedorento.

Balançando a cabeça e olhando para baixo, ele ri da resposta como se soubesse de todas as verdades e não ousasse contar. - Por que não me acompanha enquanto trabalho?

Assim que ele terminou de falar uma bola de futebol cortou o ar do parque, mirando minha cabeça. Antes que ela me atingisse, parei-a no ar com minhas mãos. O som fez os pombos ao nosso redor alçarem voo.

- Ei gatinha... – um garoto de regata amarela corre em minha direção – desculpa, acabei chutando muito forte - entreguei-o a bola, e o garoto, louro e bonito sorriu para mim – Ei! Você é muito linda, sabia? Tá afim de me encontrar qualquer dia desses?

- Não se preocupa, Fred, vamos nos ver logo – eu lhe disse enquanto sentia a mão de Thanatos tocando meu ombro, independentemente d’eu aceitar seu convite.

- Haha, sério? Mas, espera como você que eu me chamo... – ao piscar de seus olhos, já não estávamos mais ali – ...Fred?
------
Sem emitir qualquer som, viajamos. Nenhuma cabeça se voltou para testemunhar a repentina aparição no centro da cidade. A multidão, em alvoroço, sequer percebia que abria alas para nos deixar passar, olhando para qualquer lugar, exceto nós dois. No mundo dos despertos, dos vivos, avançamos em silêncio como uma brisa gelada.

Ao passarmos pelas pessoas seus olhares se voltam para longe, e, às vezes conseguimos ouvir alguns murmúrios. “Cara... parece que pisaram no meu túmulo” brincou um adolescente.

Após alguns minutos andando, paramos em frente a um prédio velho, não tão pobre. A porta estava trancada, mas, a morte é implacável, como um trovão, e a maçaneta da entrada do edifício se comportou como um servo, dando passagem ao deus obscuro, abrindo-se e fechando-se logo em seguida, voltando-se às suas trancas como se nunca tivesse sido aberta.

Subimos dois lances de escadas e entramos em um apartamento pouco cuidado. Uma música escapava pelas paredes lá de dentro.

Entramos.

Um homem, gordo e alto, com cabelos brancos e ressecados, sentava-se à mesa de sua cozinha pequena enquanto cantarolava a canção que escapava de seu rádio obsoleto. Virou-se para nós.

- Opa! Eu não vi ninguém entrar... – levantava-se para nos receber, estranhando nossas faces logo em seguida – quem são vocês?

- Você sabe quem eu sou, Peter.

- Você? Oh não! Você é... – seu rosto encheu-se de espanto – por favor, ainda não. Sim, eu sei quem você é – respirou fundo – oh céus... logo agora que veria meus filhos, depois de longos anos sozinho, meus amados bebês... – em prantos, a carne vazia de um homem que um dia amou sua prole caía ao chão, enquanto seu espírito agora encarava o corpo antes habitado – o que vem agora?

- Agora? Agora você descobre o que vem depois. – Ele o traz para perto de si. Das trevas, ouço o farfalhar de suas asas.

Era mais uma morte, nada de novo naquilo e, ao invés de continuar nossa conversa Thanatos quedou silente, comentando – ele era simpático, não? – eu não escolheria essa palavra.

De repente, estávamos já noutro lugar.

Era um quarto azul, pequeno, onde balançava um berço aconchegante deixado por uma mãe que saía em busca da mamadeira de sua criança. Com ternura, a alma do há pouco nascido levou-se ao colo do deus que, balançando-o ouviu dizer.

- Foi só isso? Coube-me tão pouco?

- Sim.
Farfalharam as asas.
Em segundos, estávamos noutro lugar.

Eu conhecia aquele som. Os aparelhos, os passos apressados. Hospitais eram constantemente visitados por nós, e alguns de seus funcionários reconheciam o frio na espinha de quando atravessávamos aquele corredor.

Thanatos entrou em um quarto grande, cercado de máquinas ligadas a um homem de meia-idade. Ele respirava com dificuldade, e um tubo invadia sua garganta impedindo-o de falar.

Quando tocado, sua alma abandonou ao corpo mórbido, e a sala foi invadida por médicos e enfermeiros.
- Eu não quero ir – o medo em seu rosto era tamanho que ele agarrava a vida miserável, por mais humilhante que fosse. Um dos médicos massageava seu peito, forçava-lhe a respiração e induzia o corpo sem alma à vida – deixe-me voltar, por favor.

Ele implorava, mas, não era nossa escolha a ser feita.

Ali, parada, eu pude jurar por alguns segundos que todos os rostos dos funcionários daquele lugar me encararam, com ódio. Minha mente ficou turva. Médicos... Eu odiava essa raça.

- Por que eles insistem tanto?

- Porque eles acreditam que entendem – o deus não deu nova chance ao desgraçado que, em um farfalhar, deixou os trabalhadores batalhando por mais alguns minutos em vão.

E viajamos novamente. E novamente. Vi-o ceifar crianças, velhos, jovens e pessoas de idade indecifrável. Foi, infelizmente, dia da morte d’um semideus que, guerreando com um ciclope teve a cabeça esmagada contra uma pedra gigante. Sequer soube quem era seu pai. Questionou-nos do porquê daquela vida maldita e, sem resposta, atravessou.

Essas viagens e mortes, lembraram-me d’uma coisa. De como esse trabalho é difícil. E de como Thanatos conseguiria fazer tudo sozinho e não precisaria de servos para seu ofício.

- Por que você precisa de mim?

- Eu não preciso – estávamos de volta ao central park, dessa vez a noite já tomava o céu e não havia ninguém na planície. Caminhamos.

- Então... por que? Qual o propósito de tudo isso?

- Propósito? – depois de uma pequena caminhada, paramos em um corredor de árvores atravessado por um ar frio, a lua iluminava o rosto da morte sem fazer sombra, banhando-o em prata - Escuta... Taylor, mesmo agora, enquanto conversamos, estou perto de velhos, de crianças, d'inocentes e culpados, de quem morre acompanhado e de quem morre sozinho. Estou em carros, barcos e aviões; em hospitais, florestas, matadouros. Há gente chamando-me de libertação, outros cospem como se eu fosse uma abominação. Alguns imploram por mais tempo, outros gritam em agonia, implorando que eu chegue mais cedo. Mas, no fim, eu chego para todos – abriu os braços, como um maestro Taylor, na ásia uma família está sendo massacrada por traficantes e eu estou lá. Em um planeta distante, os filhos d'um deus solar estão morrendo queimados para saciar a fome de vitalidade do astro vermelho, e eu estou lá. Eu estou em todos esses lugares e também estou aqui. Mas... não sou a sua morte, e nunca serei. Eu estive aqui quando o primeiro Deus veio ao mundo, quando o primeiro ser vivo respirou, e desde então estive esperando. Quando o último ser vivo morrer, colocarei as cadeiras sobre as mesas, apagarei as luzes, trancarei a porta do universo e desaparecerei - tocou meu ombro - Deuses, imortalidade, tudo isso um dia terá um fim, e eu estarei lá – ele respirou fundo – não somos navalhas, Taylor, somos o sussurro no ouvido das parcas que as indica a hora de cortar os fios.

- E eu...? – perguntei

- Você e eu não somos nada além de faxineiros. Não há imortalidade no que fazemos, pois, morrer não nos significa coisa alguma para nós além de trabalho. Seremos esquecidos, e, com isso, esqueceremos também – ele olhou para a lua – até sermos lembrados novamente, até que um dia, no vazio algo novamente ordenará que se faça luz, e estaremos lá – ele sorriu – não há propósito no que fazemos Taylor, apenas no que eles fazem. A vida é um dom maravilhoso, e eles se esquecem disso. Mas, você lembrou. Séculos atrás, recordou-se do seu valor. E te chamei para comigo, pois, decifrar o código da existência é algo que nem deuses fizeram, e, eu queria alguém que entendesse.

- Eu... Eu acho que me esqueci – olhei para o chão, a grama foi substituída por asfalto sujo. Sirenes gritavam ao fundo e meu rosto era iluminado por artifícios vermelhos e azuis. Um homem, com regata amarela e cabelos louros estava deitado ao chão enquanto uma bola de futebol rolava pela estrada. Seu espírito agora, ao meu lado, encarava a plácida face d’um corpo atropelado e que antes foi seu receptáculo.


- Ei... gatinha... quando me disse que íamos nos ver logo, não imaginei que fosse assim... – olhou para mim.


- Está tudo bem, Fred.

- E agora?...


- Agora você descobre o que vem depois.


Trouxe-o para perto de mim. Em um farfalhar de asas, a escuridão nos engoliu.

#1

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por Hades 17/07/22, 10:30 pm

Hades

Hades
Deus Olimpiano
Deus Olimpiano
|One-Post Aceita|
Escrita impecável, excelente interpretação - tanto sua, quanto do deus.
RIP Fred

XP Base: 300
Experiência Recebida: 660
Dracmas Recebidos: 660

|Atualizado|

#2

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