Cheguei nas forjas apressado. Zoe… Zoe! Zoe havia aparecido depois de… Quantos anos, dez!? A caçadora estava jovem como sempre e… Parecia não lembrar de mim. Tentei não ficar ofendido, afinal eu fiquei feliz de ver o par de adagas em suas cinturas; uma Reta e outra Curva, forjadas nada mais nada menos que dez anos atrás. Ela ainda as usava, embora… Não lembrasse de mim.
Sem saber se chorava ou sorria, corri pra minha mesa e logo comecei a trabalhar. Prata, Bronze, Estígio, Ouro Imperial e até mesmo Ferro Mortal. Logo todos estavam no forno de fundição aquecendo rumo ao derretimento. A idéia era produzir o máximo de flechas que fosse possível ainda naquela noite, afinal, parecia que algo urgente tinha acontecido pela forma como a caçadora chegou.
Fui até em baixo de minha mesa e puxei a enorme caixa cheia de areia silicada. Comecei imediatamente a fazer moldes para flechas usando as que eu já tinha, preenchendo toda a superfície da caixa com ocos no formato de flechas. Algumas teriam o tamanho e forma padrão, outras teriam a haste e a extremidade traseira levemente maiores, para equilibrar o peso de pontas especiais. Também peguei molde das Flechas Espirais que já havia produzido.
Aguardei até que o metal derretesse e preenchi os moldes de hastes de um total de **X** flechas. Depois pensei melhor e fiz mais 100 moldes, que seriam levemente mais espessos pois seriam de ferro mortal. Deixei os moldes resfriando por um tempo. Dei uma conferida neles um a um para ver se estavam bem preenchidos e se não havia respingado nada para fora, mas parecia tudo ok. Satisfeito, fui até a mesa onde me sentei e respirei profundamente por um tempo enquanto desenhava projetos e calculava proporções de materiais e ingredientes. Depois de algum tempo, voltei até os moldes.
Uma a uma fui dando polimento e o devido acabamento a essas hastes, usando a lixa elétrica e uma chaira pra dar o formado arredondado e cilíndrico e corrigindo quaisquer erros em sua forma. No caso das flechas Espirais, um total de **100**, eu usei pedaços avulços de prata, tiras bem finas de prata amassada que fiz rapidamente com o martelo e um pouco da prata derretida resfriada rapidamente no óleo. Cortei essas pequenas tiras no formado correto, aqueci de novo e as colei na extremidade de 100 hastes.
Com uma pinça fui curvando delicadamente essas tiras, dando-lhe formato espiral em volta da haste. Um trabalho monótono mas, bem, eu adorava esse tipo de esforço.
Continuei então com a preparação das pontas especiais.
Peguei umas das minhas flechas espirais que tinha na forja. Usando-as de molde preenchi a areia silicada e usei de algumas pinças e outras coisas para corrigir imperfeições. Eu já tinah feito aquelas ali diversas vezes e logo logo a prática mostrou seus resultados, permitindo que eu ajeitasse os moldes ágilmente.
Preenchi um molde para teste e aguardei esfriar um pouco. Apressei o resfriamento mergulhando a peça no óleo e confirmei que estava ok, então passei para as próximas.
Fiz vários cilindros de bronze, pequenos e com diferentes tipos de saída. Teríam o tamanho de um dedo e ficaríam encaixados na haste e ponta das flechas. Os cilindros foram feitos em câmaras de ar apropriadas para isso, preenchendo-as com o metal lpiquido, girando para que ele se espalhasse por toda a superfície interior, e então o excesso era retirado para deixar o molde lá. Repeti o processo recobrindo o itnerior com mais uma camada isolante de Oricalco para dar mais resistência e tenacidade e por fim deixei tudo resfriando. Fiz um total de 150 cilindros.
Ems eguida, fiz os moldes de ponta de flecha adaptadas para estes cilindros. Com minha ótima visão e senso de tamanho, não precisava de muitas ferramentas como réguas e fios de medição. Bastava olhar e saber quais os ângulos e medidas corretas. Isso acelerou muito o processo, que me permitiu forjar pontas de flecha ocas, mas bem laminadas nas bordas. Em pouco mais de uma hora eu tinha 150 moldes prontos para serem preenchidos em uma caixa de areia do lado da maior.
Fiz também 100 moldes de flechas normais. Pontas triangulares afiadas e um pouco grossas, pois eu iria compactá-las posteriormente à base de marteladas para aumentar sua densidade e capacidade de perfuração.
Peguei os recipientes de bronze derretido e comecei a preencher os moldes das caixas. Um a um, fui usando um funil para preenchê-los cuidadosamente, pacientemente, usando com precisão o funil para distribuir o metal líquido uniformemente pelo interior dos moldes.
Horas depois eu estava exausto, mas cheio de energia. Vai entender. Sentei-me na cadeira e suspirei com as costas doendo de ficar inclinado sobre a caixa de areia enquanto preenchia os moldes. O martelinho flutuou do meu lado e encostou a cabeça na minha, me fazendo rir.
— Sim, sim. Ainda temos trabalho a fazer.
Comecei então a trablhar com os “pormenores”. Escamas de dragão de Raio, escamas de dragão de fogo, ouro imperial, prata e bradium em pó e outros materiais. Comecei aquecendo e macerando as escamas até serem um pó bem fino. Depois peguei o ouro imperial e usei de minha habilidade de Rearranjo para sentir o metal e modificar sua estrutura, tornando-o uma espécie de areia dourada.
Em seguida foi a vez da Prata e do Bradium. Com Rearranjo afetei os dois metais para que se transformassem em líquido, num total de 2 kgs de cada. Então peguei os cilindros que tinha preparado anteriormente e comecei a preenchê-los com o bradium e a prata, num total de 50 cilindros com prata líquida e **50** cilindros com bradium. Em seguida os vedei e calibrei certinho para dispersarem o conteúdo no momento certo. No momento do impacto a flecha apertaria um mecanismo no interior que giraria uma ou mais pequenas válvulas nos cilindros, liberando o conteúdo deles diretamente no interior do alvo.
Continuei então com as escamas de dragão de fogo e o Ouro Imperial em pó. Misturei os dois materiais e então os uni em **50** cilindros. Logo fiz um pequeno mecanismo semelhante ao de isqueiros, capaz de produzir uma faísca no interior para incinerar as escamas e, por tabela, o outro, rompendo suas moléculas e liberando a energia contida dentro deste material, irradiando-a em uma explosão. Uni essas pontas de flecha a hastes de ferro mortal.
Recolhi 50 hastes já empenadas de uma das caixas e as deixei sobre a minha mesa. Iria utilizá-las como astes de flechas incendiárias. Como o único propósito delas era atear fogo a tudo, não havia necessidade da flechada em si causar danos.
Peguei meus apetrechos de qúimica e comecei a trabalhar então no próximo projeto; criar um líquido inflamável. Para isso usaria gasolina, um pouco de óleo e novamente o mecanismo de ignição que produziria uma faísca para incendiar isso tudo. Os cilindros que iriam armazenar este líquido seriam adaptados; eles teriam mais de uma saída, para garantir que fosse bem espalhado por uma área, e também teria mais pressão no interior para melhorar este efeito. Então perdi um tempo ajustando os cilindros que iria utilizar, num total de **50**, antes de começar a preenchê-los com a mistura inflamável e encaixá-los cuidadosamente nas pontas de flecha adaptadas. Uma a uma, fui soldando as pontas incendiárias em hastes de aço.
Novamente, tirei quinze minutinhos para descanso e reflexão. Minha mente borbulhava com ideias. eu estava me sentindo gostosamente nostalgico… Olhando aquelas centenas de flechas empilhadas, os moldes de hastes na caixa de prata e diversas pontas de flecha em produção, eu me lembrava de meus primeiros meses no Acampamento. Minha primeira produção em massa foi exatamente daquele tipo; flechas. Tinha sido meio que uma especialidade, o pontapé para que eu me interessasse tanto por forjas. Eu tinha conseguido algum dinheiro vendendo flechas especiais para filhos de Apolo e Caçadoras, e agora eu me via novamente produzindo um grande carregamento de projéteis para as arqueiras prateadas. Inspiro profundamente, inspirado. Desta vez… Desta vez eu sabia umas coisas a mais. Desta vez eu podia fazer flechas boas de verdade. Lhokita estava entre elas. Se eu captasse a atenção da Tenente das Caçadoras… Bom. Ela era a semideusa mais forte viva. Então, provavelmente era a semideusa mais rica viva.
— Martelo! — Grito — Quero pontas de estígio prontas para serem afiadas. Faça-as de lateral triangular, e losangulares em vista frontal. 3x5 centímetros. **100** unidades. Go, go, go!
Enquanto meu martelinho lindo trabalhava martelando pedaços de estígio aquecidos, me pus a fazer o mesmo, mas com pontas de prata. Essas pontas, porém, seriam mais finas que o normal, pois as flechas seriam especiais. Comecei a pegar as hastes, de três em três, e soldá-las nas pontas. Depois comecei a alterar uma das hastes com um martelinho, pinças, solda e outros apetrechos a fim de fazer alguns testes com ela; a ideia era formar alguns encaixes intricados entre as 3 flechas, unindo-as como se fossem uma. Mais um mecanismo foi necessário; uma espécie de sensor mecânico na lateral que captava a velcoidade e o deslocamento do vento, e seria o responsável por desprender as 3 flechas no ar.
Levei um certo tempo calibrando as três, pois foi necessário adaptar o posicionamento das penas na extremidade e o formato da ponta para garantir que as flechas mantivessem o curso o mais estável possível após se dividirem. Assim a mira do arqueiro seria preservada ao máximo, mas eu sabia que não seriam apetrechos fáceis de serem utilizados. as flechas eram mais finas depois de disparadas, mas um pouco mais grossas antes disso, e precisariam de prática e adaptação pra serem usadas.
Empolgado, fiz **75** dessas flechas.
Fui até a bigorna onde o martelinho trabalhava incessantemente. Sorri e fui pegando as pontas de flecha de estígio já prontas e afiando-as na máquina com pedra de amolar giratória. Sentei-me diante dela e comecei a pedalar o pedal em baixo, fazendo o grande anel de pedra girar. Uma a uma peguei as pontas de estígio e comecei a amolá-las de um lado e depois do outro, encostando-as suavemente no fio e deixando que ele as desse o toque final; corte. à medida que o martelinho terminava de produzir as pontas eu já ia pegando-as, sempre com meu braço mecânico, e amolando-as satisfatoriamente no amolador.
— Ótimo! Agora, preciso que você me faça… Um café.
Eu estava apenas brincando, mas o martelo assentiu e saiu voando, me deixando parado, sozinho e boquiaberto.
— Espere… Como eu vou forjar sem você? — perguntei, mas tarde demais.
Suspirei, burro, e decidi dar continuidade ao que eu podia fazer. Coloquei as mãos na cintura e olhei ao redor, feliz com todo o caos. Inspirei o cheiro quente da fuligem e suspirei deixando chamas dançarem de minhas narinas.
— Já sei — Falei comigo mesmo.
Tinha tido uma ideia legal. Levei um litro de prata derretida para a máquina tecelã e deixei-a fazendo metros e metros de um fio beeeeem fininho. Enquanto isso comecei a trabalhar em um mecanismo que já tinha feito antes; uma bobina especial com algumas runas cravadas. As bobinas estariam dispostas em uma dezena dentro de uma ponta de flecha especial; cada uma minúscula e fofa, mas contendo metros de fio de prata bem fino. Essas bobinas iriam disparar os fios para se enrolarem nas coisas mais próximas, atraídas pela presença de monstros e na sua ausência, se prendendo ao ambiente como uma teia.
Quando a máquian terminou com os fios eu encostei neles com minha mão de carne e osso e usei de Rearranjo para dar-lhes propriedade elástica sem, porém, tirar a resistência e a tenacidade de um metal. Então comecei a preencher as bobinas uma a uma, e encaixá-las corretamente dentro das pontas de flecha. Fiz a estrutura delas com chapas de bronze, tesouras, lixas e solda. Um tempo depois, olhei admirado meu protótipo e testei-o em um manequin, satisfeito com o resultado; um manequin todo enrolado em fios prateados. Então me pus a produzir mais **50** delas.
Quando terminei, uma surpresa maravilhosa; meu martelo chegou, flutuando deitado na Horizontal e trazendo equilibrado em cima dele uma caneca cheia de café.
— Amigo… Você é um amigo — Falei, pegando a caneca e puxando Martelo para um Abraço.
Feliz, beberiquei o café e deixei a caneca sobre a mesa. Avaliei os materiais diante de mim, refletindo sobre o que ainda poderia fazer. Tinha algumas pontas de flecha de prata brutas nos moldes… Eram pontas de flecha comuns, então logo pedi para que o martelo continuasse o trabalho com elas. Empilhei algumas sobre a bigorna e deixei que ele começasse a trabalhar sobre elas e fui pegando as prontas para afiar como tinha feito anteriormente com as te estígio.
— As pontas de estígio! — lembrei de sobressalto. Eu tinha afiado elas, mas tinha esquecido de uní-las a suas hastes. Larguei as pontas de flecha de prata lá e fui correndo terminar as de estígio amaldiçoando o TDAH.
Das 100 pontas de estígio, uni 50 a hastes também de estígio e 50 a hastes de ferro mortal, permitindo que outras caçadoras as utilizassem.
Depois disso voltei correndo para o martelo, pra terminar de afiar as pontas de flecha que ele estava terminando e então uni todas a uma haste de prata. Levei as 50 flechas para a mesa e com a solda em meu dedo indicador esquerdo comecei a entalhar nelas algumas runas. Em 20 entalhei runas de Água e Criação, para que produzissem grandes voolumes de água quando alimentadas por energia.
Em outras 20, fiz runas para Raio e Criação.
Nas outras 10… Decidi fazer algo a mais. Entalhei um intrincado sistema de runas com “Sombras, Energia, Absorver”, “Sombras, Energia, Converter”, e por fim vários outros sistemas rúnicos com “Fogo, Criação, Ataque”, “Raio, Criação, Ataque”, “Vento, Criação, Contorcer” e “Energia, Ataque”. A ideia era criar um verdadeiro caos de efeitos em uma única flecha… Mas, claro, o custo em energia seria alto. Entalhei as flechas com belos desenhos de lua apenas por decoração e as reservei junto às outras.
Bebi mais um pouco de café, reflexivo. Eu tinha agora mais duas ideias em mente. A primeira exigiu que eu produzisse mais moldes - muitos moldes a mais. Moldes especiais de flechas um pouco mais finas que o normal, e agora adaptadas com encaixes mecânicos semelhantes aos das Flechas-Miragem, mas ainda mais intrincados. Precisei de um bom tempo para balancear os moldes e por fim começar a preenchê-los com prata.
O trabalho a seguir foi exaustivo mas satifatório. Encaixar flechas, transmutá-las, desenhar runas, encaixar mais flechas, soldar, transmutar, soldar runas… As horas se passaram despercebidas, e eu me vi forçdo a beber um total de 4 poções de energia ao longo da manhã para não me ver incapacitado de continuar. Mas logo eu tinha minha mais nova obra-prima em mãos; uma flecha. Uma aparente simples flechas. Apenas os olhos mais afiados notariam as centenas de divisõesentalhadas em sua superfície. O peso era maior que o de uma flecha normal, e ela certamente custava mais do que uma. Deixei-a ao lado das outras flechas miragem. Mas achei inapropriado. Coloquei-a no topo da pilha como uma rainha entre as cópias baratas.
— Estamos quase terminando — Falei com meu martelinho. Agora só faltava resolver uma questão; como as caçadoras iriam carregar tudo aquilo?
Me coloquei então a preparar mais uma coisa. Peguei o ultimo pote com prata derretida dentro doo forno de fundição e o despejei sobre uma chapa de bronze, deixando que se espalhasse bem em uma área de 2x2m. Então espereiq ue a prata secarre, o que aconteceu bem rápido e, enquanto isso, cortei algumas tiras de couro em moldes para aljavas pequenas. Quando a prata secou eu a toquei e com minha habilidade de Rearranjo eu primeiro senti toda a estrutura da chapa de prata e então a alterei para que ficasse maleável como um tecido.
Logo cortei a prata em moldes para revestir o couro e depois me pus a costurar tudo em 5 aljavas de couro e prata, firmes e confortáveis com cintas de altura adaptável. Usando meu martelo eu dobrei a névoa à volta, contorcendo-a em volta da arma. Concentrei-me por alguns momentos e então martelei as aljavas, transferindo a energia e a Névoa para elas uma a uma. Com isso torci o espaço dentro delas para que acomodassem mais flechas do que parecia possível, expandindo o espaço e contornando as leis da física.
Também comecei a escrever runas do lado de fora de cada uma, bordando-as com um fio de diorito na prata e no couro. A ideia era criar um encanto de charme, e fazer as runas “conduzirem” o efeito da Névoa depositada nas aljavas. Com isso, a dona poderia manipular sua forma e tamanho.
Ufa. Suspirei, passando a mão sobre a testa suada.Comecei a distribuir as flechas de cada tipo em uma aljava difernte para entregar às caçadoras; elas poderiam decidir como dividí-las depois.