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Fórum de Mitologia Grega baseado em Percy Jackson e os Olimpianos e Os Heróis do Olimpo!


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por Aron Tinuviel 16/12/16, 11:01 am

Aron Tinuviel

Aron Tinuviel
Filho(a) de Apolo
Filho(a) de Apolo
Nome da narração: Instrumentos Mortais I
Objetivo da narração: Introdução de trama
Quantidade de desafios: 1
Quantidade de monstros: 12
Espécie dos monstros: Aves de Estinfália da espécie Canário Dourado.

A manhã fora particularmente decepcionante. Eu odiava quando o clima fechava daquela forma, parecia que papai havia passado a noite inteira na gandaia e estava com ressaca demais para dirigir sua carruagem, ou talvez estivesse tão bêbado que a lei seca aérea não permitisse que ele dirigisse. Seja qual fosse a razão o dia estava nublado, com nuvens pesadas arrastando-se vagarosamente acima do acampamento. Um vento gélido vindo do norte fazia meus ossos tremerem sempre que acariciava minhas bochechas.

Eu não era o único que estava desgostoso com a manhã, meus irmãos estavam indispostos com a falta de sol, por isso o treino matinal estava sendo totalmente improdutivo. Mesmo Max estava desanimado e suas instruções pareciam preguiçosas, coisa que nunca acontecia com o nosso Führer Robin Wood Russo.

Eu vestia uma jaqueta de couro vinho por cima de uma camiseta preta, jeans lavados e coturnos negros. Max  comentara que eu estava parecendo com papai quando apareceu para ele há muitos anos atrás, minha própria experiência dizia que Apolo só usava roupas assim porque gostava de ser visto como um espírito selvagem, era assim que minha mãe o descrevia. No meu caso era porque não tive tempo de fazer minhas malas quando vim pro acampamento, e as peças de roupa que minha irmã mandava ocasionalmente eram descoladas demais para meu estilo discreto, quase podia vê-la rindo ao comprar os modelos.

Ao fim daquele desanimado treino, eu atei a aljava nas minhas costas, ao lado do arco curto. Eu queria andar normalmente, sem equipamentos, mas Max era chato quando se tratava de preparo, ainda que fosse apenas para um treino matinal dentro do acampamento, com um exercito de poderosos semideuses, protegidos por uma barreira mágica que impedia monstros de entrarem. Afinal, qual o risco que eu corria?

Toda a monotonia foi embora quando a figura loira veio correndo em minha direção, chamando desesperadamente meu nome. A longa cabeleira loira seguia seu portador enquanto o vento gélido tratava de levá-la para onde mais quisesse. Os olhos azuis, como safiras brilhantes, apresentavam olheiras profundas, sua pele era tão bronzeada quanto a minha, mas era mais baixo, menos atlético, de constituição mais esguia. Embora seu sorriso fosse tão cativante quanto o de meus outros irmãos, Alex Hearthcrow sempre parecia meio desorientado no meio dos arqueiros, por isso pouco participava dos treinos matinais. Fato compensado pelo seu talento incomum para música, sendo maior que a maioria dos filhos de Apolo, a ponto de ter se tornado um Menestrel sagrado pelo próprio Orfeu em seu primeiro ano de acampamento.

— Preciso da sua ajuda! — Foi o que conseguiu dizer entre um fôlego e outro.

Alex não estava em seu estado normal. Eu não o via desde a noite anterior, seu beliche estava vazio ontem, eu sabia disso pois ficava ao lado do meu. Imaginei que tivesse passado a noite em claro, seus olhos estavam vermelhos, como se tivessem sido forçados a noite inteira. Arfava tanto que imaginei que tivesse gasto toda a sua energia na corrida. O Alex a minha frente estava errado.

Alex era um poço de calmaria, lembro-me dele sempre mediar os conflitos que ocasionalmente aconteciam no chalé 7 — Eram egos solares demais para um chalé tão pequeno —, mesmo tendo apenas 15 anos, os dois últimos como campista. Sua voz era melodiosa e as notas que saiam de sua lira podiam até mesmo colocar a violenta prole de Ares para dormir no meio de uma batalha.

Sua mãe era uma violoncelista famosa, nos dávamos bem justamente por isso. Minha mãe havia tocado com a orquestra de Alice, mãe de Alex, antes do nome da violoncelista ser conhecido mundialmente, lembro-me de mamãe comentando o talento individual que ela conseguia exibir mesmo em meio a tantos instrumentos. Alex dissera que Alice era fã da minha mãe, então, quando nos conhecemos, automaticamente ficamos ligados.

Por isso aquele estado esbaforido me causou angustia. Seja lá o que estivesse acontecendo parecia ser extremamente grave para desestabiliza-lo.

— Preciso que você me ajude com uma coisa — Repetiu, frisando com veemência que Max não era bem vindo.

Os dois não se davam bem. Não se provocavam ou brigavam, mas sempre que seus olhares se cruzavam, quase podíamos ver as faíscas saindo de seus olhos. No geral todos os campistas recuavam dois ou três passos quando eles se encaravam, parecendo duas víboras prontas para dar o bote. Eu nunca apostaria contra Max, mas Alex paralisaria qualquer um antes que tivesse a chance de se quer sacar sua arma.

— Vai na frente. — Eu disse para meu irmão maior, que lançou um olhar contrariado para mim e um ameaçador para Alex, antes de dar as costas e seguir para o refeitório.

Alex ficou vigiando os passos de Max se afastando, até ter certeza que o outro não ouviria. O que só me deixou mais preocupado.

— Onde é o incêndio? — Eu disse por fim, tentando manter um tom animador, já vira Alex fazer isso antes com os outros, mas nunca pensei ter que acalmá-lo.— Se você não conseguiu apagar, duvido que eu consiga! — Abri meu sorriso de filho de Apolo que sempre fazia as pessoas piscarem, como se em transe.

Alex olhou furtivamente os arredores antes de responder. Vi hesitação em seus olhos, parecia travar uma batalha interna com inúmeros argumentos que tornavam aquele pedido impossível, mas o cansaço venceu a disputa. Precisava de ajuda.

— Há algum tempo que eu procuro uma coisa… — Ele remexia-se inquietamente, nervoso com o que o incomodava tanto. Senti uma dor aguda no peito, mas tentei ignorá-la. — ...É uma lenda antiga… — Continuou fazendo-me sentir o peso de um antigo segredo. De repente me senti fazendo parte de um clube secreto. — ...Certa vez, um conjunto de três instrumentos foram abençoados pelo próprio Orfeu, chamavam-se Instrumentos Mortais. — Mais pouco e eu quase pude ouvir os raios e trovões cortando o céu nublado quando ele nomeou os instrumentos. Não fosse a seriedade com que ele tratava o assunto eu teria feito alguma piada.  — ...Eles estão escondidos em algum lugar, não sei ainda onde, mas tem que ter uma pista na biblioteca. — A certeza dele vinha de algo mais que apenas instinto, mas eu percebi que estava com medo de parecer louco caso contasse o resto da história.

Fiquei tentado a não ajudar, mas sua expressão desesperada foi o que pesou em minha decisão. Mesmo que ele estivesse errado e aquilo significasse horas perdidas na biblioteca, eu não conseguiria recusar seu pedido.

— Então vamos! — Disse tomando a dianteira enquanto ele me atualizava da situação.

Eu quase podia adivinhar que ele sonhara com alguma informação na biblioteca. Não seria incomum, e explicaria toda aquela convicção a respeito de por onde começar sua busca.

Eu mesmo tinha sonhos constantes. Naquela manhã, por exemplo, sabia que minha irmã não estava tão segura quanto gostaria. Ela encontrava-se em alguma espécie de pântano escuro com suas amigas, provavelmente caçando algum monstro terrível que estava causando desequilíbrio na natureza. Se eu fosse mais forte poderia ajudá-la, mas no momento tudo que me sobrava era treinar arduamente para um dia poder protegê-la.

Nunca deixava de admirar o prédio da biblioteca do acampamento. Era suntuoso, gigantesco e branco. Tinha um arquitetura grega que o fazia assemelhar-se a um banco. Dentro dele as prateleiras iam acumulando-se em uma aparente infinidade de informações. Eu particularmente me sentia incomodado com o edifício, não gostava da impressão que me causara no primeiro dia que o visitei.

Havia um sem numero de histórias e mitos catalogados ali e todas elas lembravam-me do que poderia acontecer comigo. Meu maior medo era que talvez, em alguns anos, meu nome estivesse escrito em letras douradas numa capa de couro entre muitas outras nas prateleiras que me cercava. Heracles, Perseu, Jasão e mais um bocado de nomes que ficaram gravados na história mortal e imortal, moldando a civilização como a conhecemos.

Muitos pensavam ser uma grande honra estar no hall de fama do Olimpo, mas os nomes que me cercavam não tiveram tantos finais felizes como os contos de fadas de Charles Perrout, que minha falecida avó me contava sentada em sua poltrona enquanto fazia tricô. O fato de muito mais tarde eu descobrir que as histórias que originaram os contos de autor francês serem tenebrosamente sombrias não ajudava em nada meus crescentes temores. Eu definitivamente não queria ser uma história com um final tragicamente grego.

Só esse pensamento deveria ter me mantido longe da biblioteca por eras, mas o acervo de partituras era incrível. Havia tantas obras, algumas eu julgava perdidas, queimadas, ou esquecidas em lugares remotos, mas o acampamento tinha as obras originais de Bach. Além dessas ainda haviam sonetos incríveis escritos por Apolo, Orfeu e seus menestréis. E é claro, as informações contidas nos livros poderiam significar a diferença entre a vida e a morte em futuras provações, e semideuses tinham um bocado de provações. Era só por isso que eu mantinha uma rotina de visitar a biblioteca três vezes por semana.

A bibliotecária, uma das filhas de Atena, olhou feio para Alex. Pelo que me dissera, ele passara as últimas dez horas, o que significava ter passado a noite inteira lendo sem conseguir pista alguma, até o momento que resolveu me pedir ajuda. Isso explicava a expressão cansada, os olhos fundos, as olheiras pesadas e até mesmo o nervosismo crescente. Ninguém devia ficar tanto tempo sem dormir, não era saudável.

Não havia muitos campistas no local, a maior parte dos semideuses tem dificuldade de concentração, alguns até são disléxicos — Imagino que para esses últimos a biblioteca seja um desafio pior que caminhar pelo Tártaro.  Aparentemente a prole de Apolo era menos atingida por esses defeitos, já que arqueiros necessitam de concentração e não dá para escrever música e poesia com dislexia.

Nos dirigimos para uma mesa que já tinha um bocado de livros espalhadas, aparentemente a bibliotecária não dignara-se a recolher um se quer. Muitas das obras eram sobre Orfeu, outras sobre Apolo, percebi que até mesmo Asclépio fora consultado, o que não fazia sentido algum, mas resolvi não questionar.

— Tem mais alguns nas prateleiras — Disse apontando para uma sessão que devia ter uns cem livros sobre Orfeu, mas eu imaginava que todos contassem a mesma história, com poucos detalhes diferentes e talvez até mesmo mentirosos a seu respeito.
Algo me ocorreu. Não sou tão sensitivo quanto a maioria dos meus irmãos, mas às vezes tenho lampejos de como devo proceder. Chame de intuição, instinto ou até mesmo sexto sentido, mas para mim, era como um insistente sussurro quente e melodioso em meus ouvidos.

— Vou tentar as partituras, pode haver algo nas notas que indique alguma pista. — Eu disse e estava preparado para ser chamado de louco, mas a expressão de Alex iluminou-se como se eu tivesse desatado os mistérios do universo.

Começamos com os títulos mais estranhos, as datas mais remotas, e fomos avançando as eras de musicas. Cantarolávamos baixinho as notas, tentando encontrar dentro das melodias qualquer coisa que nos colocasse na pista dos tais Instrumentos Mortais. Os minutos começaram a transformar-se em horas, enquanto a biblioteca esvaziava-se até só sobrar nós dois e a filha de Atena. Vez ou outra eu a via espreitar seus olhos na nossa direção, estava passando de aborrecida para curiosa, filhos da sabedoria costumam ser assim.

Havia encerrado uma partitura do soneto dos primordiais, que se me permite dizer, era uma verdadeira cacofonia que Apolo conseguira harmonizar de maneira que eu só podia descrever como divina. Os tempos dispostos na pauta e as notas eram tão confusas que só seria entendido quando executados, uma música que representava exatamente os deuses primordiais.

Me dirigi a prateleira novamente para pegar uma outra edição e a essa hora meu estômago já rugia de fome. Acho que já devíamos ter passado da hora do almoço, mas a biblioteca era privada de luz natural para não deteriorar as obras, então não conseguia me orientar.

Na prateleira, um título me chamou a atenção: “Réquiem de Orfeu”. Não sabia que Orfeu havia criado uma homenagem fúnebre para si mesmo, muito menos que ele era católico para isso. Mozzart havia preparado um para si e se transformara em sua mais famosa obra. A curiosidade me impulsionou a tomar a partitura nas mãos e analisá-la enquanto voltava para a mesa.

Comecei a cantarolar as notas e percebi o quão difícil seria tocar a música, devo ter refeito as estrofes umas quinze vezes antes de perceber o sentimento que a música queria passar. Estava prestes a comentar com Alex quando ouvi o ressonar dele sobre a mesa. Estava tão cansado que caíra sobre uma partitura espalhando sua cascata loira pelas muitas folhas. Talvez tivesse sido apenas uma perda de tempo, mas não conseguiria vê-lo tão aflito e não ajudá-lo. Além do mais, descobrira uma partitura realmente interessante.
Tentei cantarolá-la novamente e dessa vez o canto de uma dúzia de pássaros diferentes começaram a ecoar. Dessa vez estava correto, a execução estava ótima, mas tinha um problema: Eu não era um pássaro! Não era eu quem cantava.

Percebi que o som vinha dos fundos da biblioteca, que devia ficar a um milhão de anos luz de onde estava, pelo menos parecia estar a essa distância. Se a bibliotecária notou a cantoria não deu importância, continuava com seus afazeres nada empolgantes, me perguntava quem dera esse castigo a garota ou o que ela fizera para merecê-lo.

Até tentei acordar Alex antes de saciar minha curiosidade a respeito da música, mas meu irmão dormia como uma pedra, se não visse seu peito subir e descer eu acharia que estava morto. A bibliotecária sumira repentinamente, talvez fora fazer um lanche ou seja lá o que bibliotecárias fazem quando desaparecem de seus postos.

Travei uma batalha acirrada entre meu instinto de sobrevivência e minha curiosidade, um dizia: Corre; o outro: Siga. A curiosidade venceu.

Fui avançando pelo corredor passando pelas sessões tão minuciosamente organizadas. Percebi que a sessão dos fundos realmente guardava livros mais antigos, podia sentir pelo cheiro característico de civilizações diferentes. Os olimpianos migravam à medida que as eras avançavam e deixavam suas marcas em todas elas. Só ali, cercado por tantos livros, eu pude perceber o quão estranho era ter um pai de dois mil anos.

Ao chegar na última sessão da biblioteca, no corredor esquerdo, havia uma enorme prateleira com um solitário livro no centro. Sua capa era dourada decorada com uma dúzia de canários. Olhei ao meu redor, todos os alarmes do meu cérebro soando o alarme de perigo, ninguém estava por perto, absolutamente ninguém. Toquei o livro sentindo-o sobre os meus dedos, obviamente era poderoso, podia sentir o formigamento que ele causava sempre que o tocava. Tomei-o em minhas mãos, ainda absorvendo com o tato os relevos que formavam as aves canoras. O abri e em sua primeira página havia o desenho dourado em alto relevo de um violino, uma flauta e uma lira.

Coloque-o no lugar e esqueça-o! Disse a voz.

Sabe quando eu disse que, às vezes, ouvia um sussurro? Não era como aquilo. A voz que geralmente ouvia era calorosa, melodiosa quase simpática, um sussurro gracioso que guiava os meus instintos. A voz que soou do livro era diferente, falava em milhares de tons diferentes, como se fosse um coral com todas as vozes divididas e perfeitamente harmonizadas. Era bela, cativante, mas definitivamente não era calorosa.

Sabe os alarmes? Tinha que instalar um sistema de eletro choque neles para que eu não os ignorasse mais. Evidentemente ignorei a voz e folheei o livro. Claro que deu tudo errado.

O livro ficou tão quente que o soltei num susto afastando-me enquanto vapor saía dele. Era impressão minha ou o vapor estava tomando a forma de notas musicais? As páginas folhearam-se sozinhas a uma velocidade que não me permitia ler as pautas. O livro fechou-se e os pássaros na capa do livro começaram a mexer-se, voando para fora da capa, crescendo até ter um tamanho normal. Suas penas eram metálicas e seu canto era perfeito, cantavam O Réquiem de Orfeu em total harmonia.

Fiquei tão distraído com a canção que quando atacaram eu estava totalmente despreparado. Fui envolto em um furacão dourado de penas, bicos e garras. Minha pele ardia conforme suas garras cravavam-se em minha carne abrindo cortes e arranhões aqui e ali. Ouvi o som de rasgo de tecido, senti beliscões na orelha, fios do meu cabelo foram puxados para muitas direções diferentes e durante alguns segundos tudo que eu consegui fazer foi me debater a esmo tentando afastar a revoada de canários assassinos, cantando uma canção que se tornaria minha balada fúnebre.

Comecei a me afastar passo após passo, sentindo as lágrimas arderem em meus olhos, eram minhas glândulas respondendo às dores agudas que vinham de tantos lugares, que meu cérebro tinha dificuldades de processá-las. Lembrei-me da minha espada e, num movimento rápido, a saquei cortando o ar sem mira. Um dos pássaros que fez um mergulho infeliz na direção do meu rosto fora atingido. Seu ganido desentoou o coro de canários que se afastou por um segundo, tempo que pude correr desesperado na direção da saída.

Não tive tempo de dar nenhum passo a mais. A nuvem se recuperou e voltou a cantar naquele coro infernal a morte de Orfeu, talvez se tornasse o meu réquiem também. Um deles desceu até a minha perna e seu bico, afiado como um alicate, arrancou um pedaço da minha coxa. Minha reação automática foi bater nele com a espada para me livrar da maldita criaturinha, que voou pela estante de livros, acabando por ser soterrado por alguns exemplares grossos. Acho que eram dicionários.

Eu gritei de dor, quando as garras de outra fincaram-se nas minhas costas e tudo que eu podia fazer era cortar o ar em desperto. Hora ou outra eu por pura sorte acertava um deles. Queria meu arco comigo, mas eu não tinha tempo de pegá-lo.

Naquela confusão toda, consegui matar mais dois, fazendo-os virar pó. Então a nuvem recuou e eu corri feito  um maluco para longe dela. Pensei em levar meu arco, mas estava longe demais. Todos pousaram nas prateleiras e continuaram a cantar o Réquiem.

Eu deveria ter tapado os ouvidos.

Eu imaginei que aquilo fosse um momento de pausa da batalha, mas era algo pior: Eles começaram a cantar “God Rest Ye Merry Gentleman”. Canários cristãos?! Oi?!

Poucas coisas eram mais chatas do que músicas de natal e aquela devia estar envolvida com mágica, pois, na terceira estrofe da música eu já havia solto a espada e levado as mãos em desespero aos ouvidos.

Sentia que a música estava penetrando em meus ouvidos e pinicando a minha mente com imagens da qual eu não queria me lembrar. A notícia da morte da minha mãe. O enterro sem corpo. Os meses em que passei em estado vegetativo. O sentimento de abandono paterno. Tudo o que realmente tirava a minha paz.

Eu senti que meu peito estava se abrindo e alguém arrancava meu coração, esmagando-o entre as mãos bem na minha frente, deixando o sangue jorrar para todos os lados. Senti minha respiração cada vez mais distante, minha vida se esvaindo dentro da minha cabeça.

Eu precisava de ajuda. Eu queria gritar, mas nenhum som saía, como se minha boca estivesse costurada e tudo que eu pudesse fazer fosse emitir aquele "hum, hum" desesperado e sôfrego. É a maldita música de natal rodeando meu subconsciente e substituindo minha existência. Será que nem em minha morte ela pararia?

Tentei pensar em um outro repertório para me concentrar. Se fosse para morrer, seria com a canção que eu amava, a que minha mãe amava, a que lembrava nossos melhores momentos. Eu não ia morrer com todos os meus arrependimentos expostos dessa maneira.

Comecei cantarolar "Yerushalaym Shell Zahav" dentro da minha cabeça, lembrando-me de todos os abraços que minha mãe me dera ao piano, de como nos emocionávamos com a canção, de seus sorrisos, de sua imponência ao piano, de como ela parecia amar tudo que fazia e, que mesmo em morte, fora amada pelo meu pai. Lembrei-me dele tocando a mesma música, dele vendo meus boletins de escola, dele vigiando minha vida sem, contudo, poder realmente interferir.

O peso foi sumindo. As imagens foram mudando, as agulhas se afastando de minha mente e sendo substituída pela dor de ter partes de sua pele arrancadas. Podiam não ser grandes, mas aquelas bicadas eram como alicates.

O controle do meu corpo foi sendo recuperado, conforme eu me libertava do encanto da música, usando minha própria cantoria. Eu não ia morrer ali. Muitas pessoas importantes tinham se doado para que eu estivesse vivo naquele momento, eu não permitiria que esses sacrifícios fossem em vão.

Deitado, como estava, minha mão foi apalpando o chão até encontrar minha espada, que aqueceu-se com o calor solar. Os pássaros não notaram e, quando eu tirei a minha espada em um corte paralelo ao meu corpo, vi os metais dos pássaros derretendo sobre minha pele, conforme a lâmina os destruía.

Aquilo me queimou e eu gritei de dor, mais uma vez. Mais fazia pouca ou nenhuma diferença. Eu tinha vencido os nove que tinham sobrado. Me ergui ainda com dificuldade, sentindo tudo em mim doer. Eu procisava de cuidados médicos imediatos, mas eu não deixaria que aquilo acabasse daque maneira. Eu queria aquele maldito livro.

Não sei se canários dourados são realmente inteligentes, mas a nuvem dispersou-se, dificultando a mira, mas consegui abater mais um antes que seus ataques viessem de todas as direções, intensificando as bicadas em minhas mãos. Só a minha determinação mantinha as mãos fechadas no arco enquanto minha carne era arrancada delas.

Percebi que havia um padrão de ataque. Depois de atacarem eles sempre voavam unidos por uma fração de segundo antes de se dispersar e retomar a ofensiva. Ocorreu-me uma idéia. Algo que havia dominado há alguns dias atrás.

Olhei ao redor e a filha de Atena ainda não estava em seu posto. Fui até o fim do corredor e achei o livro onde o havia deixado, não estava quente como antes, nem tinha canários em alto relevo.

Impresso no livro, estava o Réquiem de Orfeu e páginas em branco. Me fez pensar se aquilo era tudo o que eu ganharia, além de um tempo na enfermaria.

Quando tornei para o local da batalha, percebi com assombro que não havia sinal de luta. As prateleiras estavam devidamente organizadas e os livros no lugar. Os arranhões, cortes, bicadas, rasgos e queimaduras não desapareceram, muito menos a dor.  A mensagem ecoando na minha mente um milhão de vezes: Coloque-o no lugar e esqueça-o! Eu ignorei, não permitiria que aquilo me detivesse. Não depois da maldita ilusão que quase me cobrara a vida.

Subitamente fui tomado por preocupação. Será que Alex estava bem?

Corri desesperado com a espada em punho, pronto para cortar qualquer coisa, mas a mesa estava exatamente como a deixei e Alex ainda roncava baixo. Acordou de sobressalto assustando-se ao me ver armado e todo tenso, além de ferido.

— Oh Céus! O que eu perdi? — Alex lançou um olhar preocupado para meus ferimentos.

— Canários dourados assassinos. — Disse, e ao vê-lo bem, tudo que consegui fazer foi rir. Uma crise de riso tão grave que parei só quando a filha de Atena apareceu para me repreender. Claro! Uma nuvem de pássaros pode me atacar, mas eu não posso rir na biblioteca.

Contei a Alex todo o acontecido e o vi correr desesperadamente de volta onde vi a prateleira. Tateou da mesma forma que eu, fez-me cantarolar a música e nada. Em sua frustração chegara a socar a parede.

Eu lhe entreguei o livro, mas ele recusou firmemente, dizendo para que eu ficasse com ele.

— Ele me disse para parar de procurar... — Sua expressão era de pura fúria misturada a culpa. —... Mas eu não podia parar, se tivesse... — Eu não precisava que ele terminasse a frase para saber o que ele queria dizer.

— Não se culpe, eu estou bem... —O tranqüilizei e o vi lutar com a culpa, mas no fim abriu um sorriso.

— Obrigado. — E abraçou-me forte, sujando-se um pouco de sangue.

Saímos da biblioteca para o frio da tarde, apesar de toda a confusão pegara o Réquiem de Orfeu para tentar executar ao piano. Nunca mais deixei de pensar nos Instrumentos Mortais, silenciosamente jurei a mim mesmo encontrá-los.

Poderes Passivos:

Poderes Ativos:

Recompensa escreveu:{Réquiem de Orfeu — Introdução} / Partitura [Depois do episódio ocorrido na biblioteca do acampamento, Aron descobriu uma música antiga chamada Réquiem de Orfeu, que teria sido escrita pelo próprio deus. Ela está impressa no livro misterioso encontrado pelo semideus. O que ele não sabia era que ela possuía propriedades mágicas. Uma vez por ocasião, caso o semideus de Apolo cante ou toque a música ele será tomado por um vigor a mais, que fará com que seus poderes, durante dois turnos, necessitem de um gasto 10% menor de MP. É necessário que o semideus passe um turno cantando ou tocando a música. O filho de Apolo pode não saber, mas o Réquiem não está completo.

{Grimório do Menestrel} Um livro encontrado por Aron na biblioteca do acampamento e que aparentemente grava partituras mágicas. O livro está com os Instrumentos Mortais impressos em alto relevo nele e, mais tarde, descobre-se que as partituras formam um mapa para encontrar os instrumentos abençoados por Orfeu.

#1

Poseidon

Poseidon
Deus Olimpiano
Deus Olimpiano
OP aceita!

Exp a receber: 1000
Dracmas a receber: 1000
Perícia com espadas: 20

Itens recebidos:
Partitura: [Réquiem de Orfeu — Introdução]¢

¢Depois do episódio ocorrido na biblioteca do acampamento, Aron descobriu uma música antiga chamada Réquiem de Orfeu, que teria sido escrita pelo próprio deus. A partitura está em uma página solta, que talvez possa ser encaixada em algum livro. O que ele não sabia era que ela possuía propriedades mágicas. Uma vez por ocasião, caso o semideus de Apolo cante ou toque a música ele será tomado por um vigor a mais durante dois turnos. É necessário que o semideus passe um turno cantando ou tocando a música. O filho de Apolo pode não saber, mas o Réquiem não está completo.

Se quiser o grimório, faça uma missão ou outra OP.


PS: Calor solar no seu nível aquece pouco a espada, não seria o suficiente para derreter os passáros.

PS²: essa parte está certa? Parece que está faltando algum trecho:
Spoiler:

#2

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