Mais um dia brilhante sobre o acampamento brilhante, com o sol irritantemente quente sobre nossas cabeças. Eu preferia treinar à noite na maioria dos dias mas, recentemente, estava cobrando mais de mim mesmo em relação aos treinos e aprendizado sobre a vida de semideus. Eu estava honestamente empolgado com tudo aquilo, apesar da fatalidade que parecia ter de lutar pela minha vida todos os dias.

Para lutar dignamente então, ali estava eu, na arena de treinos. Levava comigo minha novíssima espada, com a qual teria de trabalhar para conseguir um balance e equilíbrio corretos turante a luta.

A arena estava como sempre talhada pelo som de choque de metal e madeira. Alguns campistas treinavam com espadas e escudos de madeira forrada. Os mais experientes usavam armas de verdade para se degladear mais emocionantemente.

Fui até os bonecos a um lado, feitos de madeira e roupas forradas onde os noobs como eu deviam aprender a controlar os próprios corpos antes de querer partir para a batalha contra monstros e guerreiros de verdade.

Escolhi um alvo, um boneco de madeira particularmente carrancudo e fiz questão de puxar a espada, batendo a bainha em alguém atrás de mim ao fazê-lo.

-- Ah! Me desculpe -- falo sem jeito e envergonhado para a pessoa, vendo uma garota que nunca tinha visto antes.

cumprimento-a e observo por um momento tentando adivinhar seu pai/mãe, sabendo que ela provavelmente fazia o mesmo comigo.

-- Estaria afim de treinar? Bem eu literalmente não tenho nada a ensinar, gostaria de aprender a lutar na verdade...

equipamentos levados:

Eu havia acordado sem disposição naquele dia que pra mim não estava nada alegre. Tinha chegado o período em que toda mulher fica mais sensível às suas emoções, e mesmo filhas de Belona sofrem como qualquer outra -com o bônus de mortalidade de todo legionário. Ou seja, depois que saí da Coorte estava pronta para arrancar cabeças e ver sangue rolar. Pra quem estava com preguiça de sair da cama, fiquei cheia de energia. Então fui pra o coliseu de treino.

Treinava uns ricochetes em um boneco de treino quando parei para respirar e ver os demais futuros concorrentes pela sobrevivência. Dei um passo para trás quando senti uma cutucada indelicada no torso que evocou fúria ameaçadora. Virei com o sangue fervente e pronta para enforcá-lo com o chicote quando vi que era só um novato.

Controlei-me melhor e respondi ao rapaz:
- Vou deixar essa passar, se duelar comigo. -fiz questão de manter a postura autoritária que apenas filhos da guerra são capazes de demonstrar. - Não é isso que quer?

Reparando na frágil postura de combate que ele se posicionava e a falta de firmeza na espada, aquele garoto não parecia ter noção de como lutar com uma arma bélica. Antes de tudo ele precisava conhecer o próprio corpo, a consciência corporal era fundamental para saber que tipo de arma usar.

-Antes de usar a espada, acho que tu deveria saber usar os punhos. O que tu é? Mago?

Se ele fosse filho de algum deus da guerra ou tivesse ascendência em algum haveria algum traço, mas pode ser que eu estivesse enganada. Guardando o chicote na cintura, me pus me posição de combate esperando alguma reação dele.

Equipamentos:

Passivas:

Me senti ainda mais sem graça diante da postura rígida e confiante da garota. Eu estava desacostumado a lidar com as pessoas do acampamento; a maioria era uma incógnita. Eu não conseguia adivinhar suas idades, seu poder ou de quem eram filhos. Cada pessoa era um mistério que eu as vezes preferia não desvendar, mas, se passasse a vida fugindo não passaria de um fardo para mim mesmo.

-- S-sim! Sim! -- falo primeiro meio incerto, mas reforçando com confiança depois, tentando me convencer a ficar firme como a garota.

-- Antes de usar a espada, acho que tu deveria saber usar os punhos. -- Fala ela, o olhar estalando como um chicote sobre a espada frouxamente segurada em minha mão direita -- O que tu é? Mago?

-- E-eu sou... Sim -- falo um tanto quanto decepcionado. Afinal, tudo o que eu fazia era levantar terra e espalhar as chamas na lareira pra me manter aquecido à noite. Claro, meus irmãos mais antigos conseguiam conjurar elementares e cuspir labaredas de fogo, e tudo isso era legal, mas eu não podia deixar de almejar a imagem de um herói, poderoso e habilidoso com a espada que tinha em minha mente -- Mas eu gostaria de aprender a usar uma espada, também! Usar magia é muito... Cansativo.

Assim, embainho novamente a espada, com o sentimento que havia encontrado uma boa pessoa para me dar a disciplina e dureza que me faltavam para começar a me lapidar naquele novo mundo. Enrolo novamente a faixa vermelha em volta da bainha e do punho e deixo a arma repousando encostada no homem de madeira que eu pretendia atacar momentos antes.

Sem jeito me posiciono diante da garota, tentando não me manter muito desconcertado. Respiro profundamente, lembrando de manter-me sobre o controle da respiração, inspirando e expirando com profundidade para manter-me calmo e devidamente oxigenado (?).

Humpf! Homens! Apressados como sempre perdem todo o prazer. Usar lâminas e os punhos são praticamente a mesma coisa, uma é a extensão do outro. Se usar magia o cansava, usar a espada seria tanto quanto.

– Primeira lição: descubra tua perna de apoio. - logo depois avancei pra cima dele na intenção de parar o punho a poucos centímetros de seu rosto, a menos que viesse para frente.
Com isso, descobriria em qual lado se apoiava, se era canhoto ou destro pela mão que usasse na frente durante a defesa (se era a esquerda/direita e atrás direita/esquerda, ou vice-versa) e qual a velocidade de resposta ao perigo que ele tinha (reflexos de combate).


– A perna que fica pra trás vai sustentar teu corpo na movimentação, seja ataque ou defesa. - recusaria o punho. – Pra usar a espada é fundamental um bom equilíbrio.

E se ele a perdesse durante um combate saberia como se defender sem usar magia. Muitos magos perecem facilmente por dependerem exclusivamente da magia, e quando bloqueados de acessá-la não lhes resta mais nada se deixarem a esperteza e criatividade de lado. O mesmo acontece com espadachins que também não treinam sem suas armas, logo morrem por falta de inteligência.


– A propósito, meu nome é Hannah. - dizia enquanto levava a perna esquerda para trás, preparando os punhos a frente do corpo em posição defensiva. – Cai dentro.

Se ele viesse atacar de frente eu me abaixaria e esquivaria para o lado, girando o corpo para não dar as costas ao meu oponente. Se viesse por uma das laterais meu plano era recuar alguns passos e identificar qual era sua perna de apoio, estando atenta em ambos os movimentos para analisar a postura dele em combate e em quais pontos poderia ajudá-lo a melhorar. Agora estava com a cabeça mais tranquila e conhecia a necessidade de se preparar para enfrentar o que viesse.

Nível 1 - A Arte da Guerra: Como herdeiro de Belona, o herói foi nascido para a guerra. Diferentemente dos filhos de Marte, entretanto, se trata de uma guerra friamente calculada. Pragmáticos, conseguem enxergar cada aspecto de um conflito e se beneficiar com cada um deles.

P.S.: Equipamentos no 1° post.

Ouço a garota atentamente, posicionando-me à medida que compreendia o que ela falava sobre os membros de apoio. Em uma das aulas que eu havia recebido eu tinha ouvido sobre o que ela dizia mas, sempre que estava prestes a lutar, um branco total se passava em minha mente, e eu sentia que era minha primeira vez novamente. Repreendo-me por esta displicência mental, apegando-me às palavras dela como se disso dependesse minha vida - e de fato, um dia, poderia depender.

Assim, recuei assustado quando ela socou em minha direção, seu punho parando poucos centímetros da ponte de meu nariz. Do meu ângulo de vista havia um punho enorme em minha frente antes que eu percebesse que ela estava atacando, e recuei rapidamente, apoiando a perna direita para trás, percebendo minha mão esquerda erguida instintivamente para me defender, compreendendo melhor as palavras de minha tutora.

- A propósito, meu nome é Hannah - fala ela, o que entendo como um sinal de aceitação, e antes que eu pudesse me apresentar também ela completou - Cai dentro.

Um pouco mais animado eu ergo os braços, tentando manter a postura leve e firme ao mesmo tempo, incerto de qual seria o mais correto, então apenas tento manter-me confortável, em uma posição que me parecesse adequada para reagir rapidamente; os joelhos levemente flexionados, a perna esquerda mais pra frente e a direita mais pra trás, pronta pra me apoiar se eu pular pra trás pra evitar outro soco surpresa. Sabendo que cedo ou tarde teria de avançar, decido pelo cedo, pegando impulso pra tentar atingir ela no rosto com um soco, embora eu duvidasse muito que meu punho fosse encontrar o rosto dela. Mas não tinha problema, meu real interesse era ver como ela reagiria a este ataque, para que eu soubesse como tentar me defender da próxima vez. Ela abaixou velozmente, meu punho passando centímetros acima de eu ombro, e recuou um passo. Eu duvidava que fosse conseguir evitar um ataque com tanta displicência, mas previa que logo teria de tentar. Tento aproximar-me dela novamente com passos acilantes, mantendo minha perna esquerda na frente como antes, atento pra tentar recuá-la caso a garota a chute pra me tirar o equilibrio, e se ela fizer algum ataque contra minha parte superior pelas laterais apenas recuo erguendo o braço pra bloquear golpes contra meu rosto, e se for um golpe de frente tento mover-me para um dos lados para fugir da rota de seu ataque tão rápido quanto possível, recuando o corpo enquanto o inclino pras laterais, torcendo para não levar um socão no nariz.

Hm, ele aprendia rápido para alguém que não era acostumado a lutar corpo a corpo, mas não o julgo. Gostei disso. Ele também tinha uma boa velocidade que, se treinada, seria bastante útil futuramente. Mas, deixando de lado o papo furado, hora de ensinar um pouco de autodefesa na prática. Ou o que minha criatividade -e a dele- permitisse.

Como eu ainda estava abaixada aproveitei para fazer uma rasteira ao estilo da capoeira mirando em seu calcanhar com toda a agilidade que eu possuía (assim criando mais força), apenas para derrubá-lo e não quebrar seu tornozelo. Se não funcionasse, faria uma saída do mesmo estilo de luta, utilizando a outra perna para prender o quadril dele e usar o meu peso, o dele e a gravidade para levá-lo ao chão.

– Sempre procure ser criativo na sua defesa, tente jamais baixar a guarda ou dar brechas. Ande com coragem, afinal, é fazer o que é preciso mesmo com medo. - diria estendendo a mão para começarmos a próxima rodada, embora estivesse me divertindo.

Assim que ele estivesse de pé sacaria minha espada segurando-a com as duas mãos para dar mais firmeza. Ainda lembrava das lições de esgrima que meu pai ensinara ao que parecia séculos atrás no tempo em que vivíamos naquela floresta desconhecida por muitos, mesmo não sendo o tipo de espada adequada.

– Assim que estiver pronto, começamos.

Já sabe:

PS: Equipamentos no 1° post.