Eu já estava no Acampamento a muito tempo, tinha logo que voltar para Los Angeles, minha carreira como modelo sempre era interrompida por alguma baboseira divina. Naquela noite, eu havia decidido finalmente ir embora, depois de estar curado de minhas feridas do assalto as Amazonas. Não havia visto Alex desde aquele dia, e Henry estava sempre ocupado com seus deveres de conselheiro, me sentia muito sozinho e precisava desesperadamente de um bar, uma balada e finalmente acordar na casa de algum desconhecido pela manhã.

Fui dormir pensando em todos meus contatinhos que estavam me esperando em L.A., e obviamente deu tudo errado. Acordo em um corredor estranho, com um cheiro insuportável, e levo minha mão ao nariz.

“Ótimo, segunda vez no mesmo mês que acordo em um lugar estranho, sem ideia de como cheguei aqui, e tenho certeza que não foi minha lábia ou minha beleza que me trouxe aqui, foi meu sangue. Isso está ficando velho...”

Olho ao meu redor, vendo o corredor infinito, bom era melhor começar a andar, a saída não estaria a minha frente. Escolho aleatoriamente seguir pela minha esquerda, e começo a caminhada, atento aos meus arredores.

O garoto segue caminhando por uns 10 minutos pelo corredor sombrio, seus pés começam a doer devido a pedrinhas pontudas no caminho. Se continuasse ali ia acabar pegando um resfriado devido aos pés descansos. Foi quando ele vê uma porta feita galhos que se entrelaçavam entre si, flores coloridas enfeitavam-na destoando muito aquilo de todo o resto do ambiente.

A porta se abre revelando um comodo iluminado, o chão era coberto por um tapete de grama baixa, pequenos arbustos cresciam nas paredes e o cheiro ali dentro era de terra molhada e amora. Havia uma cama no final do comodo feita da mesma maneira que a porta, um ser estava deitado ali, um ser que Draco conhecia. Ele possuía chifres e patas de bode, seu nome era Pã.

Ótimo, perfeito, eu teria que fazer uma pedicure depois de tanto tempo caminhando em meio as pedrinhas. Justo quando meus pés começavam a vejo uma porta coberta de trepadeiras, estanco na frente da porta, apreensão em meu peito, ela logo se abre revelando um gramado. Meus olhos foram lentos em esquadrinhar a sala, eu já sabia quem estava ali, e quando vejo a figura deitada sinto meu corpo paralisar. Pã, meu antigo senhor, e meu eterno carrasco. Meus batimentos aceleram, minhas mãos ficam frias e tem borboletas em meu estômago, sinto o mundo girar e a respiração ficar curta e rápida.

Minha memória do dia em que havia abandonado os Guardiões vem a tona. Era uma tarde, um dia depois que havia rompido meu namoro com Emma, as lágrimas da filha de Apolo ainda frescas em sua face, enquanto ela corria para longe. Foi a primeira vez que me perguntei o que realmente era amor, pois sentia algo muito próximo disso por ela, mas claramente a garota me amava mais. Fui buscar orientação de meu senhor, e enquanto estava em sua presença havia duvidado do meu amor pelo mundo natural. Me lembro do grito hediondo soltado pelo velho sátiro, lembro das pragas que ele lançou em mim, e me lembro de correr o mais rápido que consegui para fora da floresta. E essa havia sido minha carreira como Guardião, uma dúvida por um momento e o exílio total.

Sinto minha boca seca, a ansiedade em peito aumentando, por que ele havia me invocado ali? Queria aterrorizar novamente um semideus? Era apenas um bode sádico, afinal? Sacudo a cabeça, me forçando a dar alguns tímidos passos para dentro da sala. Eu não era mais aquele adolescente cheio de ideias sobre como o mundo deveria funcionar, já era mais experiente e não poderia deixar aquele bode continuar a brincar comigo. Reúno toda minha bravata, deixando uma expressão de leve desinteresse tomar conta de minha face (l Dissimulador l).

- Então, o que quer de mim dessa vez, Pã? Me trouxe aqui para gritar mais um pouco? - pergunto, mas a voz falha no final, e ansiedade toma conta mais uma vez.

Dissimulador: Os filhos de Afrodite possuem total controle sobre suas emoções e conseguem escondê-las dos demais, tendo maior facilidade para mentir e dissimular seus pensamentos e sentimentos.

- Então, o que quer de mim dessa vez, Pã? Me trouxe aqui para gritar mais um pouco? -Fala o garoto tentando parecer arrogante mas falhando devido a ansiedade que tomava conta de seu corpo.

-Você falou comigo Draco, falhou com todos. Por sua causa eu vou morrer, a natureza irá morrer e com isso o mundo em que conhecemos. Você é uma vergonha para os semideuses, alguém que só quer saber de si mesmo.

Enquanto o Deus vai falando ele se senta na cama, seus braços estavam finos, sua pele murcha e sua pele clara como um fantasma.

-OLHE PARA MIM, OLHE O QUE VOCÊ CAUSOU! -Gritava o Deus com suas ultimas forças.

-Você falou comigo Draco, falhou com todos. Por sua causa eu vou morrer, a natureza irá morrer e com isso o mundo em que conhecemos. Você é uma vergonha para os semideuses, alguém que só quer saber de si mesmo.

A ansiedade em meu peito diminui por um instante. Eu havia falhado com ELE? Um senhor que não ajuda seus subordinados, que os expulsa de seus protegidos por uma dúvida, que não os acolhe, protege, e os ensina a serem melhores? Sinto meu peito arder em raiva, mas não explosiva, eu nunca havia sido do tipo que explode de raiva, sou do tipo que se vinga, que mantém-se em silêncio para arquitetar um plano.

- Não falhei com você, Pã. Você falhou comigo, falhou com os Guardiões, e falhou com o mundo natural. Estava a beira da morte antes de nós, e agora está novamente… Se um Deus morre duas vezes em menos de 100 anos, a culpa é de quem? Dos humanos que pararam de acreditar nele… Ou do Deus que é muito fraco para se impor? - falo, abrindo um sorriso complacente.

-OLHE PARA MIM, OLHE O QUE VOCÊ CAUSOU! -Gritava o Deus com suas ultimas forças.

- E parece que eu estava certo ao final, você me trouxe aqui apenas para gritar mais um pouco. - digo, olhando com indiferença o moribundo. - Irei lhe acompanhar em seus momentos finais, pois é assim que merce ir para o Tártaro, sozinho com um semideus que lhe detesta para te fazer companhia. A imagem da decadência de um outrora poderoso Deus.

O mundo natural havia sido meu grande amor, mas havia sido minha maior decepção. Anos haviam se passado desde que consegui observar suas belezas sem ser cagado por pássaros, tropeças em raizes, cair em tombos de praia e bater a testa em galhos que apareciam magicamente em minha frente. Eu não devia nada a Pã, nada à aquele mundo, nada a ninguém.

Draco argumenta com Pã que parecia cada vez mais irritado com as palavras proferidas pelo garoto, quando o semideus termina de falar o Deus pega sua flauta e arremessa no peito do filho de Afrodite. O Semideus sente uma dor lancinante, seu peito ardia por inteiro e depois disso suas forças foram se esvaindo, ele cai no chão e seus olhos se fecham, o levando para um mar de escuridão.

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O garoto acorda, ele olha ao redor onde paredes de pedra seguem infinitamente para frente e para traz, a pouca luz era provida por tochas penduradas ao longo do corredor que tinha mais ou menos 5 metros de largura. O cheiro de mofo e umidade faz ele colocar a mão no nariz e pensar que estava no labirinto de Dédalo, um lugar detestável para se acordar só de calça de moletom e com a camiseta laranja do acampamento. Ele esta desarmado e tudo era igual ao que acabou de acontecer instantes atras.

A dor lancinante em meu peito, uma última vingança de Pã contra mim, sinto meu mundo dissolver. E no instante seguinte, estava onde havia começado meu dia. Me levanto, vendo minhas vestes idênticas as que usava antes, o mesmo corredor, a mesma certeza de estar no Labirinto. Estalo a cabeça, e passo a mão no peito, sem sentir nenhum vestígio da flauta que havia me matado momentos atrás. A trama se complicava, não havia sido Pã que me levou para aquele lugar detestável. Estalo o pescoço, e começo a caminhar para a direita dessa vez, na esperança de chegar em outro lugar.

Mas tinha um pressentimento que não chegaria em nenhum lugar diferente.

Mais uma vez, meus pés quase definitivamente precisariam de uma pedicure. Outra sala, dessa vez diferente. Não estava coberta pela grama, nem com um Deus moribundo na minha frente, não… Cindy me olhava, desprezo manchado em seu olhar, e eu me senti levemente culpado. A garota havia caído em meu charme na última vez que nos encontramos, e eu tinha a impressão que não cairia novamente.

- Olá, Cindy. Descobriu quem sou, então? - digo, trocando o peso de perna e apoiando o braço na cintura. - Surpreso? Sim. Não te esperava encontrar no labirinto. Como estão as coisas na Amazom? Espero que minha visita não tenha lhe atrapalhado muito.

Por dentro, a ansiedade voltava a correr. Dessa vez minha mente trabalhava a mil. Quem havia me chamado no labirinto? E quem estava colocando todas as minhas piores escolhas na minha frente? Algum sádico, não havia dúvida, mas com qual propósito? Me testar? Me amedrontar? Teriam que fazer melhor do que mandar um Amazona.