Levo uma bofetada, recuando um passo, e esfrego o local com a minha mão. Aquela mulher tinha sempre que me bater? Seria essa nossa dinâmica sempre que nos encontramos. Reviro os olhos internamente, precisava acalmar aquela guria.

- Calma, Cindy. Sei que você gosta de me bater, mas podemos fazer isso em um contexto mais apropriado, não acha? - falo, lançando um sorriso malicioso. - Encare nosso encontro como um contratempo, você parece ser decidida e poderosa o suficiente para alcançar seus objetivos. Não tenho dúvidas disso. Mas para você virar a Rainha das Amazonas, precisamos sair daqui, não acha?

Me aproximo um pouco, pronto para aparar mais uma bofeta, e tento tocá-la para usar meu l Toque Emocional l e lhe acalmar um pouco os ânimos. Ter uma aliada, mesmo que aquela, para sair desse labirinto infernal, seria útil.

Toque Emocional: Você pode causar sensações ''gostosas'' nas pessoas com o simples toque, fazendo-a rir, se sentir apaixonado ou com o coração partido.

Mentalmente, dou de ombros, o que raios a vida da garota tinha a ver comigo? Ela havia me amarrado, me batido e me feito sentir-me um inútil. O que eu devia a ela? Nada.

- Você superará, eu superei quando Pã me expulsou dos Guardiões, encontrará sua vocação em outro lugar – digo o mais calmo possível.

Então noto o elevador que não estava ali antes, e Amanda saindo por suas portas, estralando os dedos. Mau sinal, duas amazonas já eram o suficiente para me nocautear. Respiro fundo, mantendo uma pose relaxada, enquanto sinto todos os músculos do meu corpo lutando para ficar em posição. Ao ouvir o questionamento da mulher, não consigo me controlar, e um solto um riso, seguido por um sorriso amarelo.

- Me arrepender? De usar minhas habilidades? Sou um semideus, assim como você, fui jogado em um mundo em que monstros são reais, deuses são crianças mimadas, e tudo tenta te matar o tempo inteiro. Me diga, qual seria meu destino em Amazom se não tivesse usado meus poderes? A morte? Uma vida de escravidão? - rio mais um pouco, divertido pela fala da mulher – Não, eu não me arrependo do caos que trago, nem da discórdia que deixo para trás. Não escolhi nascer com meus dons, nem neste mundo, mas nasci. E vou utilizar eles da maneira que bem entender, que seja para conseguir mais um trabalho como modelo em cima de um mortal qualquer, seja para enganar semideuses que desejam a minha morte. E você, Amanda? Sente-se culpada por matar e torturar semideuses, em nome de Amazom e do Olimpo?

Culpa não era uma emoção que passava por mim frequentemente, não após Pã. Culpa era para aqueles que desejavam se conformar as normais e as regras que lhe eram impostas, eu eu não sou uma dessas pessoas.

Me levanto pela terceira vez, e bato a poeira do meu corpo. Suspiro e começo a andar novamente até achar alguma porta, enfrentar alguma pendência antiga, e ser atingido novamente, e então tudo começaria de novo. Este dia havia começado com um acontecimento do meu passado distante, com Pã, e algo do meu passado recente, com as Amazonas, qual seria o próximo desafio? Enfrentar uma simulação minha do agora? Ter um vislumbre do futuro?

Aquele dia interminável teria que chegar ao fim em algum momento, mas quando? Sinto a raiva aumentar, enquanto me encaminho para a porta que certamente apareceria, quem estava brincado daquele jeito comigo?

Lágrimas de felicidade chegam aos meus olhos, mas as contenho. Uma balada? Finalmente eu estava no meu ambiente, finalmente eu não teria um alvo gigantesco na minha testa, e talvez ninguém estivesse pensando em comer meus órgãos. Suspiro aliviado, e nota a moça que estava no bar. Dou-lhe um meio sorriso, intrigado, obviamente ela era uma deusa, ela que havia me feito passar pelo pior dia da minha vida?

- Olá. - digo, me aproximando e pedindo um gin tônica para o bartender. - Então, você que me chamou aqui? O que quer de mim?

Meus sentidos de semideus permaneciam alertas, algo justificável depois do dia que havia tido.

Inclino a cabeça, pedindo outro gin para o bartender. Era verdade, eu não aguentava mais toda aquela baboseira do mundo divino, precisava de uma saudável pausa, organizar minhas ideias e desfrutar da companhia de outra pessoa por algumas horas.

- É, você está certa. - digo, pegando a outra bebida e dando um gole. - Quem é você?

Aquela pergunta era simples, mas carregava o que eu realmente queria saber, eu precisava me preocupar com a mulher, ou o show de horrores continuaria em alguns instantes?