O ceifador não avança, só mantém os olhos fixos ao do garoto que escolhe proteger Astra. A menina sente imensamente agradecida, mas não demonstra de forma alguma. Mantém-se estática e silenciosa, protegida pela presença do filho de Hades. O ceifeiro à sua frente, não se distancia e fala ainda na mesma distância, que o permitia sentir o seu hálito: - Cuidado. O sangue nesta é de Vênus, mas não a que você ou a acampamento romano conhece. - E desapareceu como se nunca tivesse estado ali.
Fico com as palavras do homem em minha mente, como uma filha de Vénus poderia ser perigosa? O problema que Vénus antigamente era chamada de Estrela da Manha, ou Estrela D'Alva... Assim como Lúcifer.
Tiro o crucifixo de meu peito e coloco na garota.
-Essa vai ser sua proteção, nunca tire de seu pescoço, ok? Deus há de te proteger quando eu estiver longe, agora vamos.
Continuo meu caminho para o aeroporto, teria que levá-la comigo agora, não confiava em mais ninguém.
Stephen se vê sozinho com Astra e os seus próprios pensamentos. Ela sorri para o seu novo guardião. E eles caminham até o aeroporto. Algumas passagens estavam em oferta, e Astra, demonstrando inteligencia, mostrou a sua identidade que estava guardada num bolso da mochila e passaram sem grandes dificuldades. Normalmente, Stephen morreria, mas Zeus parecia estar muito ocupado no momento para se preocupar. Fizeram um voo bastante tranquilo até Los Angeles e aterrissaram na Califórnia. Era de manhã, e nenhum dos dois tinham dormido. Tinham menos de oitenta dólares restantes, o que talvez fosse o suficiente para hospedagem.
Enquanto estávamos no voo, pergunto para Astra sobre a sua vida. Eu ficara bastante curioso com as palavras do Ceifeiro. Pergunto se ela chegou a conhecer seu pai, se coisas estranhas aconteciam ou apareciam para ela, qual era a sua religião e etc.
Chegando na California, vou direto achar um hotel que fosse barato para passar o dia (Hotel California). Tento dialogar com o dono para que ele tenha pena de nós, afinal, estávamos sós em uma cidade desconhecida. Não tínhamos dinheiro e nem comida, muito menos moradia. Esperava a compreensão e a sensibilidade do dono para nos dar um desconto, ou quem sabe, nos deixar ficar lá de graça mesmo. Peço para Astra fazer cara de cachorro pidão, poderia funcionar.
Astra ainda estava um tanto chocada pela morte de sua mãe. Embora Stephen não tenha tocado no assunto e ela não tivesse chegado perto desde que pediu a sua ajuda, ela sabia o que aconteceu. Era bastante inteligente, mas inocente e melancólica. Talvez este último simplesmente pela conjuntura dos fatos. - Sim, meu pai... foi para o céu há alguns anos. Ele sempre me levava ao parque pra brincarmos. A coisa mais estranha foi noite passada. E, bem, mamãe ia pra igreja às vezes e me levava. Eu gostava da música e da escolinha. Me deixavam desenhar.
Stephen não precisa pechinchar muito, o dinheiro era suficiente para dois ou três dias num motel de beira de estrada. A cama era ruim, e a comida era dura. Mas ele tinha tempo de resolver a sua missão enquanto Astra ficava protegida no quarto. O filho de Hades dormiu o dia todo, assim que pousou a cabeça no travesseiro o sono veio e despertou somente quando já era noite. Astra tinha assistido um pouco de televisão num canal infantil, mas rapidamente também foi rendida ao sono. Stephen acordou, mas ela ainda repousava, com a tevê ligada.
Levanto após um longo dia de sono e desligo a televisão, aparelho fascinante, por sinal. Vou até a cama onde Astra estava deitada, já que eu dormi no safá, óbvio, e vejo se a mesma está coberta corretamente.
Depois disso, tomo um banho e vejo se teria algo para comer no hotel. Acordo Astra e falo que eu terei de sair por um tempo, que é pra ela ficar o tempo todo no quarto e não sair de maneira alguma. Caso ela faça isso, digo que ficarei muito zangado.
Pergunto ao dono do hotel onde fica o bar que Quiron havia me dito, caso ele não fale, saio do hotel e caminho a esmo, perguntando para pessoas aleatórias onde o bar fica.
Astra cultivou certa afeição pelo seu guardião, que era recíproco. Stephen a cobriu com o edredom fino e gasto do hotel e ela prometeu que seria boazinha e ficaria ali assistindo televisão. Beijou-o na bochecha, e talvez fosse o primeiro beijo que o filho de Hades recebeu em toda a sua vida.
O dono do hotel era um sujeito velho e carrancudo, mas por alguma razão havia simpatizado com os dois e ficou feliz em dar direções ao garoto. Stephen saiu do estabelecimento sabendo o caminho qual tomar.
Não demorou muito. O lugar era bem iluminado, e bastante bonito também. Talvez moderno demais para o filho de Hades, mas ele não poderia negar que era bonito. Entrou e viu que haviam poucas pessoas, mas todas estavam extremamente bem vestidas e o lugar tinha perfumes diferentes e conflitantes, mas nenhum em excesso ou que fosse de alguma forma ruim. Um homem louro, vestido completamente de branco levantou-se do bar assim que Stephen entrou e caminhou até o piano, que estava localizado no centro do bar. Sentou-se e fechou os olhos por um segundo. O homem era bonito. Sua beleza roubava toda a atenção e a luminosidade do lugar, era equiparável, ou até melhor, do que Afrodite. Transmitia também uma serenidade e controle. Não precisava pensar muito pra saber que ele era a razão pela qual Stephen tinha sido mandado até ali. Começou a tocar, então, e embora a melodia não fosse lá essas coisas, o piano soou como se reproduzisse vozes de anjos.
Após terminar a sua performance, ouviram-se palmas sutis por parte dos presentes que logo voltavam a conversar entre si e bebericar seus drinques, sem dar muita atenção ao recém chegado. O pianista se levantou e voltou ao bar, pedindo um copo de alguma coisa ao bartender.
Eu ficara muito agradecido com o dono do hotel, não só pela sua gentileza, mas por não me tratar diferente, o que era normal de acontecer.
Vou caminhando com o meu Manto Negro até o local, esse era fino e requintado, totalmente diferente do que eu esperava. Pensei em uma taberna com pessoas brigando, quebrando garrafas entre si, mas nada disso. Haviam poucas pessoas lá dentro, talvez pelo medo do últimos acontecimentos. Eis que então um homem louro se levanta e começa a tocar um piano de cauda que havia ali. A musica era bela, porem tensa. Aquele homem era por onde eu deveria começar.
Vejo que, depois do "espetáculo" o mesmo resolve se sentar novamente. Avanço até o balcão e sento do seu lado, tentando fazer o máximo de discrição possível ao me movimentar, nisso eu era bom.
-Não tem medo de se expor assim? Digo, depois de tudo o que aconteceu... -Falo olhando para frente, tentando identificar o preço das bebidas. -Um homem prudente não ousaria chamar tanta atenção. Por Deus, um homem prudente nem entraria nesse bar.
O homem encarou Stephen e o filho de Hades percebeu que seus olhos eram feitos de ouro líquido. Um dourado que não parecia estranho, mas só realçava a sua beleza ainda mais. Não diria em voz alta, tanto pela sua masculinidade quanto pela fúria da deusa, mas Afrodite não conseguiria ser mais bela. Ele encostou os lábios no copo, mas não bebeu nada. Sorriu com o comentário do ceifador, e o seu sorriso iluminava ainda mais o lugar. - Não vamos fale d'Ele aqui. Deus é uma criança entediada brincando com uma colonia de formigas. - Mesmo falando o que seriam as mais severas heresias no lugar em que Stephen cresceu, a sua voz trazia um conforto que até mesmo discordar de suas palavras agarrando em seus ideias se tornava uma tarefa complicada. Virou o copo com sua bebida requintada e bebeu o líquido inteiro. Brinco com o palito cruzado na azeitona com os dedos. - Não somos homens, e nem prudentes, não é? O que veio fazer aqui, criança?
-Veja-me um whisky, por favor. -Digo ao bartender despretensiosamente, como quem pede pão em uma padaria, então volto minha atenção ao homem de olhos dourados, com um sorriso no rosto. -Vim beber e conversar com você, mas pelo jeito você já sabe disso, não? -Dou mais um sorriso. Um sorriso sem qualquer sentimento. -Por mais chato que isso seja, temos que conversar, caro amigo de olhos dourados.
Mensagens
