De alguma forma, a minha indignação com aquele momento me fez perder a noção com a realidade. Não estava mesmo tão escuro como eu imaginava: Já estava amanhecendo.
Enzo estava certo. Enzo...o tom de voz de espanto e medo ao ver o Rakshasa sumiu quando se manifestou novamente. Havia apenas perguntado se ele conseguiria atirar de noite, mas o jeito como o garoto respondera e o olhar de desprezo que lançou para mim, me fez querer não ter perguntado aquilo.
Não queria ofender o filho de Apolo, mas temia que ele tenha entendido daquele jeito...Porém, Enzo pareceu mudar completamente a expressão ao redirecionar a fala aos monstros.
- Vocês tem 5 segundos para saírem daqui. Se quiserem mesmo nos enfrentar saibam que estarão com problemas irreparáveis. -disse Enzo.logo em seguida começando a contar o tempo.- 1... 2...
O garoto estaria tão seguro assim que conseguiria derrotar esses monstros? Pois até meio minuto atrás, ele parecia um tanto nervoso. Mas de alguma forma, eu confiava no menino. Sentia que ele falava sério, bem diferente do Enzo que conheci no começo da missão.
- Hora, mas o que está dizendo, moleque? Você foi encurralado! Está achando que intimida aquém? Um filho de Apolo com esse arco curto não me atingiria nem se eu quisesse! – Disse o Rakshasa em tom de completo desdém.
O que aconteceu em seguida me fez arrepiar. E pra fazer um filho de HADES arrepiar, tinha que ser algo realmente incrível. E foi.
-..3... 4... 5 – O tempo de vocês acabou! SOLARIS! -gritou Enzo.
A tatuagem grega que se escondia no braço do garoto começa a brilhar e em suas mãos surge um exemplar de arco totalmente diferente dos que nunca vi antes. Ele era Longo, possuía lâminas de ouro e de seu corpo era visível certa quantidade de carga elétrica que o percorria incessantemente. Uma arma um tanto quanto intimidadora. Pelo que javia percebido, o nome da arma deveria ser ''Solaris''.
Mal tendo tempo de avançar, o Rakshasa foi parado por duas flechas de ouro que atingiram suas duas pernas ao mesmo tempo, e as flechas estavam eletrizadas, como se o elemento que compunha o corpo do arco fosse passado para cada projétil ao ser disparado, que fez o monstro ter tremores e queimaduras que comprometeriam seus movimentos por um bom tempo.
- Mas o que? -indagou o monstro- Quando fez isso moleque inútil! Keli, acabe com esses inúteis! Vamos devora-los vivos!
Eu não poderia deixar a diversão toda para Enzo, também queria fazer a minha parte. Com minha habilidade, prendi a companheira Empousai do monstro em um Invólucro de Sombras, impossibilitando seus movimentos. Logo em seguida, convoquei chamas que pareciam brilhar como a noite...se é que isso é possível. Era uma magia chamada Fogo Negro, que quanto mais escuro estiver, mais poderosa fica. Se a escuridão que eu imaginava antes fosse real, o fogo seria bem maior e mais potente, contudo, o fogo que conjurei foi o bastante para incinerar a Empousai ali mesmo. Sua alma foi parar dentro do meu Diamante de Almas e aquilo continuava sendo um fenômeno que eu tinha certeza que não enjoaria de ver.
- Esse efeito é legal.-disse Enzo. Agora seu tom estava casual, como antes. Mesmo parecendo 1000x mais destemido com seu arco Solaris empunhado- Lembro de ter visto esse fenômeno do diamante na lanchonete. Você matou algum monstro lá? A propósito, poderia fazer de novo? Tem um gatinho amedrontado ali...
Então a alma daquelas duas monstras foram sugadas pro meu diamante? Droga! Eu queria ter presenciado...
Aceno com a cabeça para Enzo, dizendo que acabaria com o Rakshasa. Com minha adaga de ferro estígio em mãos, iria dar um fim no monstros, porém, antes atacá-lo, ele disse:
- Aproveite enquanto pode... Filho de Hades... Você e toda sua raça serão exterminados quando o Rei surgir e tomar o domínio desse mundo. Você pode ter me vencido, mas uma morte ainda mais cruel espera por você e pelos seus amigos inúteis!
Serrei ainda mais minha mão em torno do cabo da adaga e olhei para o monstro com um olhar de súbita ira.
- Isso não vai acontecer. Não deixarei isso acontecer.
E com um golpe em sua garganta, o calei, para sempre. O monstro virou pó e sua alma foi sugada para meu Diamante.
A batalha havia terminado. Pelo menos aquela batalha. Mas e agora? As palavras do monstro havia penetrado no meu subconsciente. Morrer e fazem com que meus amigos morram...eles não poderia morrer. Não por minhas causa, por eu não ter sido forte o suficiente...isso não podia acontecer.
Olho para Enzo, que parecia estar perdidos em seus pensamentos quando nossos olhos se encontram. Nesse momento, a ficha caiu. Onde estamos? Cadê o motorista pra nos levar até a estação de metro?!
O ônibus não poderia ter se dirigido sozinho até aqui. Tinha que haver um motorista, não tinha? Afinal, Enzo e eu, junto da Empousai e do Rakshasa estávamos como passageiros....
Pediria para enzo me ajudar a achar o motorista. Olharíamos sua cabine, o bagageiro, debaixo do caminhão e até no banheiro do ônibus. Sabia que filhos de Apolo tinham uma ótima audição, e como aquela estrada estava deserta, qualquer ruído seria uma pista caso ele esteja preso ou pelos arredores do lugar.
Se achasse, pediria para continuar o caminho.
Caso não achássemos ele, não teríamos outra escolha...
Sempre que me deitava no telhado de meu chalé para descansar, gostava de ler algo. Um desses livros foi ''O guia para um Semideus novato'', onde ensinava coisas básicas para um semideus que acabava de descobrir quem realmente era. O que na época, era o meu caso. Lá dizia sobre cosias como Mensagens de íris e Ligações empáticas, mas teve algo que me chamou a atenção. Uma parte sobre o Táxi das irmãs Cinzentas:as Greias. Quando se joga uma Dracma no ar e se faz um breve pedido, um táxi com três mulheres ''cegas'' chegaria para levar o semideus para qualquer lugar desejado.
Essa era uma ocasião. Não tínhamos como ir ou pra onde ir. Eu tinha dinheiro...tudo estava de acordo.
Jogaria uma moeda para cima e pediria para que as Irmãs viessem ao meu encontro. Esperaria. Se elas aparecessem, pediria para que nos levassem a uma estação de metrô que tinha uma linha para o Alaska.
Achando o motorista e ele continuando o percurso ou pegando o Táxi das Irmãs, de alguma forma chegaria à estação. Chegando lá, iria direto comprar as passagens e embarcar rumo ao nosso último(ou penúltimo) ponto de parada.