A história que se passa no leve flashback que a deusa Hera me mostra me faz refletir muito acerca de seres humanos. De fato, você nunca conhece uma pessoa. Não adianta tentar definí-la com o que ela aparenta ser ou baseado em suas ações. Todos tem uma parte de si que fica oculta e, o que eu vi foi algo inacreditável, inimagnável e muito trágico.
Lembro da época em que cheguei no acampamento sem saber fazer absolutamente nada. Fui ajudado por muitos semideuses, de início, por meus irmãos. Quando já possuía certo conhecimento em combate, fiquei interessado em entrar no grupo dos campeões de Hera porque vários dos semideuses mais poderosos faziam parte daquele grupo, e passei a treinar com afinco, não para me igualar a eles, pois pensar isso seria idiotice, mas pelo menos, chegar o mais perto possível.
Durante essa jornada, o semideus que eu mais via em combate era Criptoniano. O cara destruía tudo com uma força esmagadora. Claro que filhos de Ares possuem um poder avassalador por si próprios, mas ele, junto de Aaron, era o campeão de Hera mais orgulhoso...
Lembro então da recepção calorosa no início da noite. Todos estavam ali num clima amigável que eu jamais imaginaria que pudesse existir, e lembro principalmente da expressão de Cripto. Será que ele sabiá que ele sabia que a hora do Adeus estava se aproximando? Aquilo era realmente triste.
No decorrer da história do flashback descubro um lado que nunca imaginei que existisse poderosa máquina de guerra ambulante. Se alguém me descrevesse as cenas que eu vi, certamente eu desmentiria e riria da cara do indivíduo. O cara que anda pela arena dividindo monstros ao meio com uma mega montante flamejante andar com uma princesa com um sorriso de bobo apaixonado tipo atores de filmes de Hollywood? Impossível!
Mas era tudo verdade. À medida que as palavras de Hera entravam em minha cabeça e eu visualizava aquelas imagens, meu corpo se inundava com uma tristeza enorme. Talvez eu estivesse entendendo o que Cripto estava sentindo, mas eu sabia que a dor dele era infinitamente maior.
Fico boquiaberto ao ver o próprio Ares falando em tom paternal. Ele raramente aparecia no Acampamento, e sempre vinha com um ar de desdém e superioridade, tocando o terror em tudo e em todos. Mas vendo aquilo, descobri que até mesmo os mais bravos e valentes combatentes possuem um lado mais voltado ao emotivo.
Em seguida, vejo o encanto de Ares que seria o responsável por manter a mente da garota ali, para sempre, e descubro que Cripto viajava para ver Helta de tempos em tempos, num mundo criado pelos deuses que apenas eles dois podiam entrar. A honra e senso de dever do filho de Ares eram algo admirável, e eu agora estava ali, invadindo todo aquele espaço por ordens de Hera, que provavelmente me enviou para dar um fim ao sofrimento de seu campeão. Entendo seu lado, pois Hera é sem dúvida a mais humana entre todos os deuses, pois conhece melhor que ninguém as dificuldades enfrentadas por qualquer um, pelo fato de ser a deusa do lar.
Entendido – Respondo em um tom de voz determinado – A senhora acredita que Cripto já cumpriu a pena que ele próprio se impôs por tempo suficiente, e eu estou aqui para livrá-lo disso. Muito obrigado por me escolher, minha rainha. Prometo não decepcioná-la e trazer meu irmão devoto de volta. A partir daqui, eu cuidarei desse assunto.
A cena muda e estou agora cara a cara com Helta, que mais parecia um espectro sombrio que uma consciência que deveria estar sendo preservada. Uma aura escura emanava dela, como se estivesse se sentindo traída e abandonada. Era realmente uma alma infeliz que também merecia seu descanso eterno.
Meu olhar que normalmente é sereno e calmo dá lugar a um olhar severo. Eu me tornaria a personificação da determinação, pois eu tinha três objetivos que seriam cumpridos com uma só tacada. Eu livraria Cripto de sua prisão, Helta de sua agonia e sofrimento e realizaria o desejo nobre de minha imperatriz. Custasse o que Custasse.
Invoco meu Arco Troiano Longo Composto [Heroico] [Elétrico] [Laminado] [Ouro]** e me apresso em disparar duas flechas de ouro contra aquele espectro que um dia foi uma pessoa. Mas para minha surpresa, o ataque se mostra completamente inútil. Meus projéteis atravessam Helta. O mesmo acontece quando tento atirar esferas explosivas, facas e qualquer outra coisa. Ela agora mais parecia com um fantasma atormentado.
- Então golpes físicos não vão funcionar enquanto ela não recuperar o controle. Aparentemente não vou ter como remover esse encanto com métodos de combate tradicionais.
Helta, enfurecida começa a movimentar os mais diversos objetos com uma espécie de telecinese. Vários objetos da mobília que existia no castelo começam a flutuar desordenada e rapidamente, e ela parecia controlar tudo de acordo com a sua vontade. Aquilo seria algo impossível de se imaginar na terra, mas lembro que eu estou em um mundo paralelo, onde ela é a governante. Tudo aqui obedece ao chamado e ordem dela e o único que tem poder para parar com isso é Criptoniano...
Uma cadeira passa perto de me atingir enquanto minha cabeça começa a trabalhar. Quando finalmente tenho uma ideia genial, uma escrivaninha cai em cima de mim pelas costas, seguida de uma poltrona e algumas cadeiras. Pego de surpresa eu estava indefeso e à merc}e de Helta, que havia perdido o controle completamente.
Tento me livrar de todos os objetos e me mover, e por sorte escapo de ser atingido por um sofá de 3 lugares, um piano e mais duas poltronas. Infelizmente não escapo do ataque traiçoeiro de uma mesa de centro que bate com bastante força nas minas costas, me fazendo cair de lado, de frente para uma cômoda. Atrás dela, estava um porta-retrato parcialmente quebrado, com Cripto e Helta sorrindo como um verdadeiro casal apaixonado.
Resolvo pegar objeto e o levanto na direção do semifantasma, que começa a tremer e ponderar se continua a me atacar ou não. Eu, agora como um porta-voz do olimpo aproveito essa chance:
- Helta, estou aqui como um Porta-Voz de Hera. Vim aqui para acabar com esse sofrimento. O seu e o de Criptoniano!
Ao ouvir que Criptoniano estava sofrendo, a expressão quase morta dela começa a mudar para algo mais triste. Ela começa a praguejar aos prantos o por que de não poder ser feliz ao lado se seu amado e o por que de ele não estar ali para acalmá-la.
- Helta, você está esquecendo uma coisa importante. Criptoniano está e sempre estará junto com você. Sempre que você quiser. - Mostro novamente o retrato dos dois sorrindo e continuo – Ele sente a dor da sua perda até hoje, e mesmo assim segue em frente. Luta com oponentes mais fortes e se aprimora a cada dia. Posso afirmar com certeza que grande parte disso é dedicado a você. Por favor, volte a si!
Aos poucos, a forma fantasmagórica de Helta desaparece e vejo que ela está voltando a ter o controle de sua consciência. Ela assume, pouco a pouco, a forma da bela jovem que adentrou a prisão do castelo com dois monges. Estava chorando um pouco e me estende a mão, pedindo para segurar o retrato. Entrego-o sem hesitar.
- Então, ele continua lutando por mim, apesar de todo esse tempo, não é?
- Sem sombra de dúvidas. Seu amor certamente é uma das coisas mais preciosas na vida dele. Você não precisa perder tempo pensando em acreditar em mim, o sorriso dessa foto diz tudo – Digo me aproximando de Helta para lhe dar um abraço. – Eu sinto muito mas preciso ir, minha missão de te resgatar está concluída.
Espero pelo momento em que a jovem, na emoção do momento retribua meu abraço e com minha adaga recurva, perfuro seu coração pelas costas. Aquela foi a atitude mais traiçoeira de minha vida e eu me arrependeria muito de fazê-lo, mas era necessário. Haviam motivos maiores.
Vejo que a garota faz uma expressão de completa surpresa, pois não imaginaria que este era meu objetivo. Porém, seu rosto começa a sorrir, ao passo que se dissolve lentamente em poeira. Helta estava livre de seu encantamento.
Como foi dito por Hera, uma pedra preciosa aparece no lugar onde a garota desaparece. Depois que a pego e guardo em segurança, o palácio e o mundo paralelo todo começam a tremer e tudo desaba. Escuridão e silêncio voltam a dominar e eu acordo no meu beliche, dentro do Chalé de Hera, onde Aaron, Leonardo e James estão jogando Truco. Cripto está deitado na cama ao lado, segurando aquela pedra preciosa com um sorriso no rosto, totalmente diferente do que eu tinha visto ao chegar.
Chamo rapidamente sua atenção em um tom de desafio:
Aposto meu arco que você vai ficar pra trás na próxima partida de truco
-Eu acho que você não devia contar com sorte desse jeito, novato. Mesmo que ela seja de principiante.
Minha missão estava cumprida e eu, me sentia realizado e com um novo amigo.