--Irmãozinho. – Disse. A voz era feminina, fina e muito familiar.

Gean não via nada, apenas a escuridão e mais escuridão. O Jovem se sentia vazio. Gean estava perdido em suas próprias sombras, que o consumiam cada vez mais como a fúria de um deus. Sua respiração ofegante por baixo da mascara, era a única coisa que ele podia ouvir naquela negra imensidão. Mesmo para um filho de Hades, ele não conseguia ver nem mesmo um dedo na sua frente.

--Irmãozinho. – Se repetiu o som. Dessa vez, a voz parecia ainda mais familiar.

Um pequeno feixe de luz surgiu em toda a escuridão, imediatamente quebrando a solidão do filho de Hades. O cavaleiro negro sentia que aquele pálido ponto de luz era onde estava sua felicidade. Era aquele tímido ponto de luz, que o arrancaria de todas as trevas que consumiam seu ser.

--Irmãozinho. – Mais uma vez. Ele já reconhecia a voz, era de Kadie.

Sua irmã Romana estava há anos na custodia de seus maiores inimigos, e Gean não se sentia forte o suficiente para conseguir resgata-la. O jovem tentou esticar a mão em direção ao ponto, mas sentiu seu corpo travando. Era assim que ele se sentia. Incapaz de salvar sua irmã daquele que se aproveitou de sua doce inocência, transformando-a em um boneco de prazer e destruição.

-Por favor, me ajude irmãozinho. – A Voz era doce.

O pálido ponto branco se desprendeu do horizonte, tornando-se a imagem de uma pequena garota com longos cabelos e olhar gentil. Era exatamente desse jeito que Gean se lembrava de usa irmã. Antes de tudo, antes dos ciclopes. Ela sorriu e estendeu a mão para o amado, permitindo assim que o garoto finalmente conseguisse mover seus membros.

Mas antes que Gean pudesse se livrar finalmente de todas aquelas trevas, algo aconteceu. As sombras também formaram uma imagem. Um homem alto, com cabelos negros espetados, corpo atlético e olhos orientais.

--Venha. – Disse. O Homem de sombras passou a mão pela garota de luz, segurando-a pela cintura. Era perceptível uma malicia tanto em sua voz quanto face.

--Sim. – Respondeu Kadie. Seu corpo respondia involuntariamente, ela não queria aquilo, mas de alguma forma ela obrigada por uma força da qual ela não tinha como se defender. No seu interior, a garota deveria estar chorando por aquilo tudo.

Juntos, sombra e luz caminharam para longe. Gean gritou, mas ninguém ouviu.

O Filho de Hades acorda no meio da noite, mas ele não estava em seu chalé. Todo seu corpo estava amarrado por uma espécie de corda reluzente, que emitia uma espécie de energia branca. Gean estava no interior da floresta preso, e não sabia como ou porque havia chego ali.

Kadie e minha mãe sempre gostavam de doces. Me lembro de uma vez que eu cheguei da escola, em um dia onde a professora deu uma barra de chocolate pra cada um dos alunos, éramos pouco afinal de contas e ela estava largando o emprego. No fim da tarde, todos estávamos voltando pra casa com a barra de chocolate em mãos e eu era o único que não havia sequer aberto a minha. Peguei a bicicleta velha, e desajeitadamente voltei pra nossa casa. Era velha e mal se aguentava em pé, a parede tinha marcas pretas de sujeira e infiltração, mas mesmo fora do natal tinha alguns pisca-piscas iluminando a varanda com várias cores diferentes.
 
Quando entrei, dei de cara com as duas dormindo no tapete, com um cobertor sobre o corpo e viradas para a televisão ainda ligada. Fechei a porta devagar tentando não acordar elas, mas do nada as duas pulam do cobertor gritando pra tentar me dar um susto. Eu finjo que funciona mostrando surpresa e sentando no chão, tentando parecer espantado, e depois sorrio.
 
As duas começam a rir comigo, minha mãe era simplesmente idêntica à Kadie, os mesmos olhos verdes, a mesma boca, o mesmo nariz e o cabelo liso que nenhuma das duas se importava em pentear mas que por algum motivo nunca ficava desarrumado. Me levantei, e depois da janta dei a barra de chocolate para elas, alegando não gostar de chocolate como sempre fazia. Elas aceitaram e enquanto comiam eu fui dormir. Era mentira, eu adorava chocolate.
 
Quando acordei, um pedaço da barra estava do lado do travesseiro com um bilhetinho da minha mãe. “Não precisa sacrificar sua felicidade pela nossa!” E aquele foi o melhor pedaço de chocolate da minha vida, e a melhor memória também.
 
Agora, na escuridão, minha irmã chamava meu nome. E eu era incapaz de atende-la, era incapaz de protege-la. O maldito asiático chamava ela, e hipnotizada por seus feitiços ela atendia, como uma escrava, alguém sem vontade, sem vida. E eu não conseguia chamar por seu nome, não conseguia chegar em casa e fingir levar um susto, não conseguia entregar a barra de chocolate pra ela e minha mãe. Só conseguia correr, ir em sua direção com as pernas bambas de cansaço. Mas não importava quanto corria, ela só ficava mais distante. Até desaparecer novamente.
 

Acordei de meu sonho no meio da floresta, amarrado por uma corda luminosa que me impedia de utilizar meus poderes, me impedia de dar um único passo, e cada momento parado era um momento mais distante de Kadie. Porém, eu não podia fazer nada ali. Não podia me soltar, nem me preparar. Tudo que eu podia fazer era esperar por quem quer que fosse o responsável disso. Procuro pela escuridão, em busca de alguém ali comigo.

Gean estava preso de uma forma que seu corpo se tornava inútil, tudo que ele conseguia fazer era ver, ouvir, sentir e respirar. Totalmente desabilitado, o filho de Hades esperava por seu destino. Durante esse pequeno espaço de tempo no qual esperou, a cria do submundo pensava no que teria colocado ele naquela maldita situação.

Sua cabeça encostada na grama finalmente conseguiu distinguir uma figura. Caminhando em sua direção, uma mulher de jaqueta branca e corpete negro se aproximava. Ela tinha belos traços finos e delicados, dignos de uma princesa, facilmente filho de Hades percebeu que se tratava de uma europeia. Seus olhos azuis brilhavam na noite, junto da mecha vermelha que se desprendia de sua cabeleira negra.

Na sua cintura uma bainha segurava seu florete, enquanto a jovem carregava dois coelhos em suas mãos. Ela sorriu, sentando-se do lado do príncipe do submundo. Sem dizer nenhuma palavra, a mulher organizou lenha ate formar a estrutura de uma fogueira, acendendo-a com um isqueiro de prata entalhado.

Em silencio ele começou a cozinhar o coelho, sem nem mesmo dar atenção ao seu sequestrado.

aparência totalmente fiel a imagem:

Preso, em uma corda que limitava meus poderes e movimentos, eu abraçava a melancolia solitária de minhas memórias. A saudade de um lar que nunca vai voltar, uma vida que foi queimada e agora era apenas um amontoado de cinzas e brasa. Tão quente, que era doloroso tocar naquilo. Meu coração gritava, enquanto eu demonstrava a mais quieta e fria das expressões. É comum as pessoas me olharem e verem um garoto de rosto bravo quando estou quieto, as expressões cadavéricas herdadas de Hades faziam eu parecer um homem morto amarrado à uma corda.
 
E nessa corda, cercado por nada mais que um passado distante e sombrio, eu vi a garota mais bela da minha vida. Tão bonita quanto uma princesa, ela carregava dois coelhos e sentou-se ao meu lado para cozinha-los. Observei em silêncio enquanto ela fazia isso, vendo seus traços obviamente europeus e um florete na sua cintura. Alguns diziam que aquela era a arma mais graciosa de todas, tão rápida e subestimável que poderia matar alguém apenas sendo desembainhada.
 
Mas isso é uma mentira, a arma de verdade era obviamente essa garota, qualquer um se distrairia ou subestimaria essas expressões frágeis e delicadas ao ponto de morrer e acreditar que ela é inofensiva. Esse é provavelmente um dos maiores enganos das pessoas que olham para ela. E talvez, eu também estivesse me entregando à esse engano.
 

- Pode me desamarrar? - Independente da resposta, e do que ela faça. Me viro e pergunto... - Quem é você?

A europeia ignorava o filho de Hades, enquanto lentamente desmembrava os coelhos com suas mãos nuas e espetava sua macia carne em gravetos. A cria do submundo apenas observava a tudo atento, lendo os traços da mulher e descobrindo que obviamente ela era uma poderosa guerra. Afinal, que seria capaz de pegar um filho dos grandes de surpresa enquanto ele dormia e ainda amarra-lo?

Gean finalmente decide falar, pedindo obviamente para ser solto. A dama do florete responde ainda sem olhar em sua face.

--Não. – Disse secamente.

Os coelhos ficaram prontos, e a espadachim rapidamente começou a comê-los sem demora. Ela parecia não se importar em alimentar o filho de Hades. Gean agradeceu por ter feito uma janta decente. Ao se virar, o garoto fez outra pergunta que foi respondida mais uma vez de forma ríspida.

--Sua captora, e você é minha isca. – Disse. Seu sotaque de origem francesa era sem duvidas encantador.

Sentia falta do meu respirador, mesmo quando eu estou ofegando ou cansado ele estabilizava rapidamente minha respiração. E estar amarrado por cordas me deixava com uma sensação parecida, a de não conseguir fazer meus pulmões trabalharem sozinhos. Eu poderia simplesmente abrir uma fenda do Tártaro em baixo dessa garota e invocar alguns esqueletos para me soltarem, mas algo me dizia que não seria tão simples. Sem falar que eu estou sem meus equipamentos, e se ela está com eles eu primeiro precisaria descobrir alguma forma de encontra-los.
 
- Sua captora, e você é minha isca. - Agora a situação começou a ficar mais interessante. Ela poderia usar qualquer pessoa ou criatura pra ajudá-la no seu objetivo mas escolheu um Filho de Hades, servo de Éris.
 
Talvez ela fosse uma simples caçadora... Não, uma caçadora comum não teria um florete, nem tanta habilidade e nem tanta beleza. Isso parece meio preconceituoso, mas nenhum lugar além de filmes e livros tem pessoas tão belas e bem vestidas correndo pelo meio do mato. A realidade é completamente diferente. É só reparar nas Caçadoras de Ártemis quando chegam ao Acampamento, sujas de terra, galhos e folhas. Não é fácil se manter bem arrumado vivendo alguns bons meses em meio à animais selvagens e caçando filhos de Hades.
 

- O que exatamente você espera atrair? Um cão infernal? Eu te dou um se quiser... - Falei com tranquilidade. Na verdade eu só estava usando um pouco da lábia de servos de Éris para contornar a situação e descobrir o motivo de ela ter me sequestrado.

No momento que vi o brilho vermelho eu senti que a situação iria ficar bem complicada, talvez pelo brilho acabar com metade dos meus poderes, ou talvez pelas duas garotas serem estranhamente lindas e eu não me dar nem um pouco bem com mulheres. Mas o mais estranho de tudo isso, era me usar para atrair aquela garota. Mas essa situação poderia ser uma oportunidade. Não tinha nenhum interesse em me meter na vida dessas duas garotas, sei que uma delas me sequestrou mas eu tenho meus próprios problemas. Por isso me concentro apenas em arrumar uma forma de me soltar daquelas cordas brilhantes, coisa que eu dificilmente vou fazer sozinho.
 
- Você sempre foi tão previsível Alice. - O brilho azul hipnotizou meus olhos, dando uma beleza que nunca antes eu vi em uma luta.
 
- ESSE NÃO É MEU NOME! - A garota com uma roupa que por sinal, era muito parecida com a minha, estava em fúria. E eu não entendia direito a situação.
 
Observei a batalha, e quando o show de luzes se tornou o foco da atenção delas eu comecei a trabalhar em formas de agir. Poderia invocar algum esqueleto, mas não tinha certeza de que ele conseguiria cortar as cordas que me prendiam. A chance dessa corda não ser comum é imensa, e sair de fininho acarretaria na possível perda dos meus itens, que ainda não faço ideia de onde estão. Acho que tinha que chamar um pouco de atenção.
 
- Se prometer me soltar e devolver meus itens, eu te dou uma ajuda. - Não falo pra nenhuma em especial, não fazia diferença pra mim receber ajuda de uma ou de outra. Mas se obter resposta de uma das garotas, algo concordando com o que ofereci e de forma que não pareça uma mentira descarada, eu uso |Amedrontar| na que não concordou com meu plano, de forma que ela fique paralisada.
 
Mas mesmo assim, ainda tem grande chance de elas simplesmente me ignorarem, já que essa luta parece ser tão ‘intensa’ para as duas. Nesse caso, planto uma ideia simples na mente de minha captora “Assim que terminar com minha irmã, vou soltar o garoto e devolver seus itens”. O |Whisper of Chaos| cresceria como uma ideia própria até se tornar uma obsessão, e aí sim eu utilizo |Amedrontar| na outra garota, a de espada brilhante e vermelha.
 

Novamente, não há nada que eu possa fazer a não ser observar.

Ativas:
Nível 9 - Amedrontar: O personagem cria uma ilusão com os maiores medos de seu inimigo, fazendo-o ficar paralisado e aterrorizado. Essa Habilidade consome 40 pontos de energia. A habilidade entrará em espera durante 3 turnos. O narrador decide os efeitos específicos desse poder.  (Requer 8 CHA)
Nível 7 – Whispers of Chaos II: O servo de Éris agora pode plantar uma ideia na mente de um alvo de maior intelecto; o mesmo pode ser feito em múltiplos oponentes de baixa inteligência. O uso desta habilidade requer 50 pontos de energia e entrará em espera por quatro rodadas.

As duas garotas lutavam com graciosidade, brandindo suas espadas como se fossem partes do seu corpo. Nunca vi tamanha perícia antes, e não fosse por eu estar preso na maior parte do tempo aquilo teria sido algo interessante de participar. Porém, quando a pausa das garotas aconteceu eu me senti levemente aliviado. E a garota de espada vermelha lança uma onda de choque na fogueira, que por sinal estava perto demais de mim e por isso eu fiquei meio atônito com aquela ação.
 
Só que de repente, vi um rastro vermelho passando perto do meu corpo, e as cordas já não me prendiam. Fiquei de pé, e só então percebi que estava com roupa de dormir. Ver isso me fez pensar na remota chance de meus itens estarem no Acampamento e a chance de eu encontra-los era bem baixa.
 
Não devia dar atenção à isso por enquanto. Porque a garota de espada azul utilizou a mesma onda de choque na espadachim de Capuz. Essa luta era muito estranha, as vezes não pareciam lutar fisicamente, era como se controlassem algo além, e isso também estivesse em conflito. No fim das contas eu nem ligava pra aquilo, tudo que eu queria era sair daquela floresta e voltar pro chalé de Hades, seguir com a vida.
 
Talvez pudesse invocar um cão infernal agora mesmo e desaparecer, seria simples e eu não me envolveria com essas garotas. Mas aquela impressão que me passaram, quando vi a semelhança em seus rostos. Poderiam ser irmãs, crianças que seguiram caminhos diferentes e mesmo assim algo fez as duas se encontrarem. Pensar nisso me lembrou de Kadie, e no quão doloroso foi eu ter que abandonar o Acampamento Júpiter e deixa-la pra trás. E por isso, hesitei quando a encapuzada gritou para mim.
 
- Ataque! - Naquela hora, meus pés se cravaram no chão, e eu não sabia se era certo atacar a garota de espada azul.
 
Ela havia me capturado para atrair “Alice”. Me questionei, seria certo atacar essa garota sendo que eu faria o mesmo por minha irmã? Não sabia responder isso, afinal se fosse fácil acabar com uma dúvida desse jeito todos os problemas do mundo seriam resolvidos em questão de segundos, eu tinha que descobrir por conta própria, e foi assim que decidi fazer a |Invocação| de um pequeno grupo de esqueletos atrás de minha captora de espada azul enquanto corria na sua direção. Meu Liquor Umbrae me deixava praticamente invisível durante à noite, mas a luz do fogo misturada com suas espadas não me ajudava tanto assim.
 

Com os esqueletos atrás dela, provavelmente a garota se viraria para abatê-los com a espada ou a rajada daquela energia invisível. Nisso, eu me aproximaria o mais rápido possível e faria um |Toque Gélido| na parte de trás de sua cabeça, ou nuca, de forma que eu consiga desmaia-la, mas não matá-la. Se conseguir, tento pedir alguma explicação pra garota encapuzada. 

Nível 5 - Invocação[Inicial]: O filho de Hades invoca um pequeno bando de esqueletos (HP: 50/50). Metade deles usam uma lança e a outra metade uma espada, todos usam um elmo comum e um peitoral de couro. O uso desta habilidade consome 50 pontos de energia. A habilidade entrará em espera durante 5 turnos. O narrador decide os efeitos específicos desse poder.
Nível 4 - Toque Gélido: Este poder faz com que um alvo sinta um frio intenso que lhe arrepiará inteiro. O Alvo ficará com todas as articulações doloridas e duras com o frio, sofrendo penalidade em todos os movimentos. Porém, como o nome diz, é necessário TOCAR o alvo. O uso desta habilidade requer 25 pontos de energia. A habilidade entrará em espera durante 3 turnos.

Paradas(que durmo usando) e.e:

Obs das Paradas: