O Acampamento Meio-Sangue tem várias peculiaridades. Uma delas é o chalé dos filhos de Hades. Há quem diga, que se alguém andar por ali no meio da noite e não pertencer àquele lugar, uma mão zumbi surge do chão e te puxa até o submundo sem deixar nenhum rastro. Já no chalé dos filhos de Phobos, alguns podem ouvir gemidos de dor e agonia, como se alguma criatura estivesse sendo torturada e implorasse pela morte.
Hack
Hack estava deitado em sua cama, com o corpo dolorido devido à uma série de treinos todos os dias. O chalé de Ares sempre foi perfeito para um lutador, com alvo de dardos nas paredes ao invés de quadros, bonecos de madeira para socar ao invés de estátuas, e espadas ao invés de decorações. O cheiro de suor e sangue se espalhava pelo lugar, alguns irmãos tinham brigado essa tarde novamente.
Havia algo no sangue do filho de Ares, algo que causava um pequeno aperto no coração quando ele via seus irmãos se machucando. Não era como se ligasse para eles, mas a herança divina unia eles, era para se protegerem e não se matarem. E nessa noite, Hack sentia novamente uma dor no coração, como se sua família precisasse dele exatamente agora, e por isso não conseguiu fechar os olhos para dormir. Por isso, não foi surpresa que em um brilho cinzento o próprio Deus do medo, e seu irmão, Phobos, surge ao lado de sua cama.
O campista se prepara para levantar e fazer uma reverência, mas se impressiona ao olhar na face do Deus, haviam lágrimas, suas bochechas estavam vermelhas e ele parecia chorar faziam éons. Mas ainda mais impressionante, foi quando ele se ajoelhou ao lado da cama de Hack, apertou seu braço com força e disse:
- Onde?... Onde está? - Ele perguntava enquanto chorava, seus lábios inferiores chegavam a tremer, normalmente na presença de Phobos a maioria das pessoas sente um medo capaz de paralisar o coração por alguns segundos, mas Hack podia sentir apenas algo semelhante à compaixão, sentia a tristeza do Deus na sua frente. - Onde está o meu amor? Papai levou-a de mim... Você pode encontra-la não pode? - Parecia uma súplica, os papéis estavam invertidos, era como se Hack fosse o Deus e Phobos orasse para ele.
O Deus se levanta, e todos os outros no chalé permanecem dormindo sem nem desconfiar do que estava acontecendo. Ele caminha de um lado para o outro nervoso, como se alguém pudesse encontrar ele e o obrigasse a fugir. De alguma forma Hack soube que era Ares quem Phobos estava temendo.
- Por favor irmão eu imploro, vá a cidade dos anjos, eu sinto que ela está lá. Não deixe meu amor morrer por favor! - Ele coloca os dedos nas têmporas e passa a pensar... E então, como se tivesse uma ideia ele diz: - O demônio vermelho, filho de Hefesto!! Ele pode te ajudar. Ele é a chave para... - Subitamente Phobos olha para o horizonte através da janela, e pela primeira vez, o Deus do medo parecia apavorado.
Sem falar mais nada, seu corpo começa a brilhar e Hack fecha os olhos enquanto Phobos desaparece com a luz de uma supernova. Ele definitivamente fugia de algo.
Roran
Roran estava acordado. O único nas forjas à essa hora da manhã. Não importava o que fazia, ele não fechava os olhos. Há muito tempo seu corpo havia passado por uma transformação, mas por algum motivo isso havia se tornado mais forte de um tempo para cá. Enquanto ele martelava alguns metais aleatórios, via que as chamas ao seu redor começavam a variar as cores, se tornavam vermelhas apenas por estarem perto dele.
O filho de Hefesto sentia o demônio gritando dentro de si, clamando por sangue. Roran havia tido alguns sonhos, onde o mundo era consumido por uma chama vermelha que brilhava tão alto que chegava até o Olimpo. Imagens rápidas de milhares de Deuses mortos e sangrando na escada que levava até o templo dos Olimpianos, e subindo essa escada, causando tragédia estava Roran, com um sorriso insano e cheio de prazer no seu rosto. Esse sonho tem se tornado cada vez mais comum, e o garoto sentia como se fosse traição deitar para fechar os olhos.
E ali nas forjas, o único lugar onde ele se acalmava, as chamas sussurravam entre si. O fogo alaranjado, oriundo de Hefesto chamava-o de Demônio, renegado, diabo. E as chamas vermelhas simplesmente consumiam tudo que ousava irritar ao garoto. Em poucos minutos, o lugar parecia estar banhado de sangue, pois as chamas vermelhas tomaram conta de tudo. O garoto tinha que sair dali, fazer alguma coisa... Ele precisava de uma missão.