Certo filósofo disse uma vez: "O silêncio fala quando palavras não conseguem". Me perguntava o que toda aquela calmaria significava. Deitado, cobri meus olhos com a testa da minha mão, tentando recordar um acontecimento, da primeira vez que tocara o mar. Para ser honesto, não lembrava muito bem. Era pequeno na época, mas achei tudo incrível. É difícil explicar para quem nunca sentiu. Quando um filho de Netuno toca o mar, ele sente algo especial, ele se sente especial. Em um bom sentido, conseguimos relaxar e sentir-nos completos. Almejava reencontrar essa contagiante emoção. Infelizmente, acreditava que quando saísse do beliche os deveres de Roma me chamariam. Seria enviado para uma grande missão ou para mais uma faxina na coorte. Graças a Netuno não foi bem assim que aconteceu. Todos pareciam ocupados demais para falar comigo ou me pedir ajuda. Senti-me feliz. Uma ideia veio a minha mente e resolvi não resistir à tentação. Preparei-me de forma higiênica e assim que me senti pronto, catei meus pertences, sendo seletivo quanto aos essenciais em batalha, e marchei para fora da monotonia, indo em direção ao coliseu.
[...]

Enfrentar um monstro é algo divertido para certos semideuses suicidas. Para azar dos meus inimigos, estou dentro desse grupo. Meu coração martelou no peito, meus joelhos dobraram instintivamente em forma defensiva e pus-me a apertar o cabo do tridente.

- Shit – Metros à frente, duas criaturas feias fitavam-nos de uma maneira tenebrosa. E aqui estou eu, enfrentando a morte mais uma vez e pondo-me a prova frente ao olhar dos deuses. Bem, não sozinho. Alguém havia chegado na arena e se juntado a mim em uma pequena aventura. Não me sentia incomodado com a presença do outro campista, já havia enfrentado monstros enquanto eu trabalhava em equipe, mas precisava dividir os confrontos, afinal não havia sincronia entre nós. Ele não era Lydia. Cada um tinha de ter um alvo.

- Fique com a aranha, avance pela lateral oposta a minha. - Diria antes de me afastar do provável semideus, indo alguns metros para as laterais, onde me tornaria um oponente mais óbvio para a Dracaena. Clark já havia me falado sobre um monstro do tipo. Lembrei de tomar cuidado com as caudas. Lança contra lança era o resumo do que estava para vir. Agradeci aos deuses pela oportunidade e me despedi da hipótese de um dia monótono. Sem mais delongas, busquei partir para o choque.

Avançaria portando o tridente com as duas mãos, seguindo até o membro em que ela portava o escudo, de forma a tornar mais previsível o seu ataque tendo em visto que eu estava em uma lateral oposta a arma, ao chegar no alcance da sua arma e ao vê-la atacar iria buscar um desvio explorando as minhas pernas para jogar meu corpo para o lado ou me agachar. No caso de o ataque ser concentrado e rápido, utilizaria a minha lança para tentar jogar o ataque para o lado. Na hipótese de um desvio bem-sucedido, contra-atacaria com uma estocada em seus membros inferiores com o intuito de dificultar sua movimentação e tomar algumas noções de resistência corporal. Sendo o início do confronto não espero feri-la gravemente, mas almejo tomar conhecimento de sua velocidade (tanto de movimento quanto de ataque) e resistência, o que seria crucial para futuras investidas. No caso de qualquer surpresa vinda de meus oponentes, recuaria e me colocaria em uma postura totalmente defensiva, buscando as melhores maneiras de desvio e utilizando a minha arma tanto para retornar ofensivas quanto para evitar danos a minha integridade física.