— Não! — Foi o grito que saiu da minha garganta, mais rápido que eu pudesse conter. Aquilo não podia estar acontecendo. Não bem na minha frente.

Soltei o escudo no chão da arena tão logo eu a vi se arrastar na direção de Jonathan. O que aquele infeliz estava fazendo? Era para ele fugir com Hegulos e me deixar na arena! Era com isso que sempre contava! A covardia dele o salvaria e eu poderia morrer em paz no lugar dele, mas não...Ele tinha que estragar todo o meu cenário e se meter a besta em, mesmo depois de ferido, tentar atacar a merda daquela cobra horrenda.

Se minha espada ainda estvesse presa na cauda do monstro seria ela masmo que eu usuaria, pulando — Ou me jogando, caindo, seja lá como quiser chamar. — sobre o cabo, forçando a terminar o trabalho que começamos e, enfim, decepar a cauda dela e, numa rodada de ataque total, eu me precipitaria contra ela buscando empalar suas costas antes que chegasse até o idiota que devia ter ficado deitado e deixado eu morrer no lugar dele, não o contrário.

Se minha espada não tivesse presa a cauda, eu usuaria minha faca de arremesso e avançaria feito um louco direto para o pescoço da serpente, cravando a faca bem na jugular do monstro, mesmo que acabasse me cortando no processo. Couro resistente ou não, eu não deixaria ela chegar em Jonathan.

Eu não estava nem aí se ela tentaria me atacar ou me jogar contra parede, ou abrir meu ferimento ou me matar, desde que eu conseguisse tempo para a merda do Hegulos, que já deveria ter dado um jeito de resgatar o infeliz do Jonathan.

— Você não vai levar ele, sua bruxa! Se quer alguém, é comigo que você vai para o inferno. Deixa esse idiota arrogante em paz! — Eu gritaria para a cobra em puro desespero.

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A plateia assiste, em silêncio pela primeira vez naquela luta. Semideus e monstro se empalam em suas armas, ambos encarando um ao outro com um sorriso doloroso no rosto. O máximo que o semideus conseguiu erguer sua espada foi até a clavicula da monstra e, enquanto sua lâmina lentamente corta ossos e carne, ele sente a lâmina da monstra entrando por suas costelas, abrindo espaço entre elas à força e deixando o sangue escapar.

Bjorn assistiu horrorizado um Jonathan ensanguentado tombar em meio a um redemoinho de areia dourada.

Jonathan estava tonto. O garoto sentia o corpo dormente. Estava tremendo. Não sabia dizer se estava sentindo dor. Estava com fome. E com sono. Muito sono. Tendo como ultima visão Bjorn se arrastar até ele, Jonathan desmaiou.

---

Bjorn apoiou a cabeça de Jonathan em seu colo. O garoto respirava com dificuldade, e a multidão havia recobrado a voz. Gritavam eufóricos por mais. Mais sangue, mais morte, mais dor, mais um semideus morto na areia. É tudo o que queriam.

Dois ciclopes de expressão boba se aproximaram com uma maca em mãos. Jonathan foi precariamente equilibrado sobre ela, e Bjorn foi erguido por uma mão de ferro quando um dos ciclopes se aproximou. Os garotos foram guiados de volta pelo corredor úmido de onde vieram, sob a arquibancada, e seus equipamentos foram tomados de volta. Quase todos... Bjorn se horrorizou quando percebeu que ele e Jonathan seriam jogados de volta na cela. Lá, o garoto pôde encontrar gaze e água. Ao lado, dois pratos com algo que deveria ser comida.

A cela estava fria. Bjorn se sentia tonto; o garoto percebe que também não estava lá muito bem. No seu coturno, ele sente o canivete que havia pego antes.

O que vi na arena nunca mais saiu da minha cabeça. Eu estava olhando uma pessoa ser empalada bem na minha frente e eu, fraco e pequeno, assistindo imponente a morte de meu...Amigo? Companheiro de Cela? Aliado? Não importava qual o título que ele tivesse pra mim ou que ele gostasse de ser chamado. Em toda a minha vida eu nunca me senti tão fraco.

Corri feito um louco na direção dele, enquanto a serpente se desfazia em pó dourado. Eu tinha meus próprios ferimentos para cuidar, mas o desespero de perder alguém...Importante? Será que eu poderia chamá-lo assim?

Jonathan não era minha pessoa favorita no mundo, na verdade, existia uma grande possibilidade que estar com ele fosse me matar, apenas para que ele salvasse sua vida, mas...Se meus sentimentos por ele eram tão negativos...Porque eu estava chorando?

As lágrimas rolaram fartas pelo meu rosto, enquanto eu corria até ele.

— Seu infeliz arrogante! Porque cargas d'água você não fugiu?. — Disse entre um soluço e outro, acariciando o rosto dele e o pondo em meu colo.

Os gritos ao nosso redor nem me abalavam. Acho que se mais um monstro saísse por aquele alçapão eu mandaria para o Hades antes que ele tivesse tempo de se vangloriar. Na verdad, eu estava desejando que mais alguém se atrevesse a aparecer. Eu queria muito extravasar toda aquela dor e sofrimento que pulsavam em meu peito.

Mas, para minha raiva maior, não me trouxeram outro oponente.

Os cíclopes vieram para tirar o corpo de Jonathan da arena. Eu esperneio e gritei com a falta de tato deles, lutando com o que me segurava aos gritos, mas bastou ele apertar minha ferida para eu me encolher de dor e seguir passivo pelo corredor em que havíamos saído.

Eu fiquei horrorizado com o fato de nos mandarem de volta à cela com o Jonathan naquele estado. Eu já imaginava que eles não teriam uma enfermaria para prisioneiros, mas eu esperava mesmo que pudéssemos ser jogador na vala. Eu tinha um plano bem orquestrado para sairmos de lá, mas, para meu desgosto, nós morreríamos na cela ou morreríamos na arena, não importa que tipo de ferimentos nós tivéssemos.

Na cela, eu encontrei gaze e água, o que não adiantaria mui para o nível de ferimentos que possuíamos, mas eu teria que lidar com isso.

Peguei o feno e o trancei longamente. Seria nossas ataduras, até que pudéssemos realmente ter algo para nos enrolar. Limpei os ferimentos como pude, usando a água e a gaze. Para conter maiores hemorragias, eu usei o feno trançado e o enrolei por sobre o ferimento do indefinido, apertando bem, para que a pressão do ferimento impedisse maiores deramamentos de sangue.

Se fosse funcionar, eu arrancaria a lança e faria o mesmo que fiz com as costelas, para impedir que ele morresse de tanto sangrar. Mesmo tonto, cuidaria dele primeiro, inclusive, se ele recobrasse a consciência, eu daria a comida para ele primeiro, antes de dar a minha.

Se ele não recobrasse, eu me enfaixaria com o feno, como fiz com ele, limpando antes meu ferimento. Depois comeria, dando tempo para ele descansar um pouco. Só então tentaria despertá-lo para poder dar comida a ele.

O canivete ainda estava na minha bota e eu precisava que ele recuperasse um pouco de força, ao menos para que eu pudesse carregá-lo, sem que ele corresse o risco.

— Hei... — Eu falaria, com certa dose de carinho, acariciando o rosto dele como se faz com uma criança. Se fosse preciso, jogaria um pouco de água para despertá-lo e dar a comida dele.

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Bjorn inicia seus primeiros socorros enquanto Jonathan estava desacordado. O garoto limpa o ferimento e, por fim, Jonathan acorda, já "tratado".

Bjorn sorri quando o garoto abre os olhos, e percebe que tem "curativos" de gaze e feno. Ele nota o mesmo em Bjorn, sentado a seu lado, e eles trocam breves palavras. Os garotos comem seu alimento, percebendo que tinha cheiro de ração de gato e gosto de feijão (?), e descansam um pouco. Eles puderam ouvir, apavorados, o portão abrir e os guardas entrarem mais uma vez. O trio passou direto pela porta de sua cela, indo buscar uma nova vítima; um jovem sátiro que esperneava violentamente.

-- Quando teremos de fazer isso de novo? -- perguntou Jonathan inocentemente.

-- Se tiver sorte, amanhã -- Falou uma voz atrás deles -- Se não tiver, daqui a algumas horas.

Eles se viraram e não ficaram surpresos em ver Hegulos ali. Ao seu lado, uma estranha criatura negra que parecia um cão de olhos vermelhos rosnava para os garotos. Hegulos encostou a mão da cabeça do cão, que silenciou-se.

-- Vá, menino -- Fala hegulos, e o cão recuou alguns passos, encarando Jonathan, e desapareceu no escuro canto da cela.

Hegulos aproximou-se e entregou uma sacola a Bjorn. Dentro, o garoto encontrou um cantil com algo que parecia mel e um pacote com 4 barras que pareciam... o que seria aquilo?

-- Nectar e Ambrosia. Um gole, uma mordida. Se não, vocês morrem.

Aparentemente, o filho de Hades tinha seu próprio modo de ajudar, embora não tenha apenas observado-os quase morrer na arena, em meio aos monstros, estranhamente despercebido, como se fosse apenas mais um na multidão.

-- Vocês fizeram bem lá atrás.

(Sry o post torto ): to com fome dms p pensar em palavras certas p postar )

Ouvi a réplica de Jonathan com meu coração dando pulos de alegria. Ele estava acordado.

— Críticas e comentários sarcásticos...Nunca imaginei que fosse me sentir tão aliviado por ouvi-los. — E ri com satisfação.

Tentei alimentar o garoto como pude e me preocupei com o estado do corpo dele. Será que haveria alguma enfermaria para monstros naquele lugar? Talvez algum suprimento curativo para semideuses. Eu precisava pensar em algo melhor para fazer.

Ele tinha razão quanto a camisa, mas fiquei com vergonha de tirá-la e ficar na frente dele. Eu jamais admitiria isso. Como eu tinha outra opção, decidi pela que não me deixaria constrangido.

Quase grudei no teto como um gato,p quando o filho de Hades falou tão próximo de nós. Num saque rápido, eu estava com meu prego de emergência na mão, pronto para defender o corpo frágil de Jonathan, ficando entre o indefinido e Hegulos.

Ah tah! Agora ele aparece!

O garoto dispersou seu cão, que não parecia muito feliz em nos ver e acredite, eu também não estava muito afim de ficar com um cão raivoso. Abaixei o prego e baixei a guarda.

— Obrigado. — Agradeci, pegando o pacote do garoto analisando seu conteúdo.

Aquele seria a diferença entre vida e morte, mas me preocupava com o que estava do lado de fora. Quem será que era o próximo?

— Tome! — Antes de me curar, dei a Jonathan um gole e uma mordida, como o garoto mandara, fazendo o mesmo comigo.

Ouvi o elogio do garoto, mas não achei merecedor. Se eu tivesse realmente ido bem, Jonathan estava em condições melhores...Ah...E eu também.

— Qual o plano? Vai precisar que façamos algo? — Perguntei, retirando o canivete de mil e uma utilidades da bota e analisando-o. Precisava entender o que poderia fazer com ele.

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Hegulos inclina a cabeça como um cão confuso enquanto ouve jonathan, aparentemente bravo, falando com ele.

-- Eu posso tirá-los daqui -- Fala ele, em seu tom murmurante de sempre, ainda encarando o garoto com a cabeça inclinada -- Mas o sumiço de dois prisioneiros chamaria mais atenção do que podemos nos dar o luxo. Além de não resolver o nosso problema.

Eles ouviram o urro da multidão. Um minuto depois, os guardas passaram carregando o sátiro. Ou o que restou dele, eles perceberam. Os ciclopes olharam na direção de sua cela, mas aparentemente não viram Hegulos parado ali, e seguiram direto. eles não ouviram o som de nenhuma cela sendo aberta, o que significava que o corpo do sátiro foi levado para outro lugar.

Hegulos olha para Bjorn.

-- Se eu preciso que façam algo? -- Ele inclina a cabeça para o outro lado, sua expressão se alterando pela primeira vez de indiferença para confusão. O filho de Hades não parece ser muito inteligente -- Fique vivo.

O garoto puxou seu traje pro lado, abrindo sua capa, e um corvo saiu voando dali, pousando alegremente na cabeça de Bjorn.

-- Não irei arriscar tirá-los daqui. Mas posso ajudar se precisarem. Só não esperem que eu lute em seu lugar. Vocês são semideuses. Reajam, ou morram. Se tudo der certo, são eles quem fugirão de nós.

Hegulos arremessa algo na direção de Jonathan. Os garotos olham e percebem uma pequena adaga negra e opaca fincada no chão ao lado do garoto ferido. Jonathan segura a arma e sente seu braço pesado, frio, mas a adaga encaixava estranha e perfeitamente em sua mão. A arma tinha duas lâminas brotando do punho, e sua aparência perversa agradou o garoto de alguma forma.

http://www.tabonfils.com/upload/35/c8/35c8a653a62bd900.jpg

Hegulos recua na direção do canto do recinto. Os garotos percebem que em questão de segundos, ele não estaria mais ali. Se tivessem algo a falar, era o momento.

Percebi a razão por trás daquelas palavras e realmente fazia muito sentido, mas uma coisa, que já me preocupava faz tempo no meu inconsciente fez-se aparente, agora que tinha como ter notícias concretas.

- Como estão os outros? Tem notícias? Há algo que podemos fazer para ajudá-los? - Falei antes que o filho de Hades desaparecesse. Eu estava preocupado com os demais, claro. Era minha natureza, eu não podia evitar.

Depois que o garoto me desse notícias e me respondesse, eu ficaria observando o lento progresso de cura, tateando o ferimento, vez ou outra, tentando ver se estava infeccionando ou curando.

- Estou sim, obrigado por perguntar. - Respondi, com um sorriso aberto no rosto. Eu ficara feliz pela recuperação dele e pela preocupação. - Acho que você deve dormir um pouco...

Eu me encolhi numa das paredes para dar espaço ao garoto. Peguei o rato no meu bolso e pensei em descartá-lo, mas eu precisava de algo para me distrair e o deixei ali. Eu não queria atrapalhar o sono do garoto, mesmo sentindo o frio que me fazia tremer. Era menos pela umidade da cela e mais pela quantidade de erros que eu havia cometido na arena. Agora, com o embate sendo repassado na minha mente, eu percebi que havia feito escolhas ruins, que tinham colocado a vida de Jonathan em risco e precisava, urgentemente, consertar essas atitudes.

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ATT MINHA FICHA HADIS.

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