Se o dia podia ficar mais entediante, ninguém poderia dizer. Não havia nada pra fazer, e os Centuriões estavam sendo convocados diariamente para resolverem uma complexa burocracia. Para alguns, isso era muito chato, para outros isso era inaceitável. Mas a maioria simplesmente aceitava o que estava acontecendo, e com a ausência do Pretor Saito, as pessoas não conseguiam tomar todas as decisões.
A maioria das pessoas nem sequer imaginava onde estava o neto de Vênus. Mas Tobi sabia. Ele era um dos únicos que sempre manteve contato direto com o Pretor dentro e fora do Acampamento. Agora, ele sabia que seu irmão estava aprontando alguma coisa em Los Ângeles, e sabia que seria chamado logo.
E então, saindo de mais uma exausta reunião burocrática com os Centuriões, onde decidiram que sim, a cor da capa de Pretor vai continuar sendo roxa, Tobi se dirigiu até sua coorte enquanto a noite começava a cobrir o céu com seu manto. Por um momento, se sentiu decadente ao entrar na barraca, feita puramente de pano, que servia para os legionários. O Acampamento Júpiter tinha uma das maiores verbas dos estados unidos, capaz de dar diariamente mais de 5000 dólares por dia para semideuses viajarem por aí, mas não pode sequer fazer uma construção descente.
O filho de Mercúrio entrou no seu quarto, apertado demais por sinal. Deitou-se na cama dura e sem nada além de uma coberta fina, e decidiu que era hora de dormir. Porém, os Deuses tomaram uma decisão diferente, e no fundo da sua mente ele ouviu um lobo uivando. Era uma mensagem telepática, aguda e em alto e bom som. Lupa o estava chamando.
Tobi pegou seus itens (Poste eles aí pls) e desceu a colina do Acampamento. Ele sabia onde a loba estava por causa da ligação telepática entre os dois. Não sabia por que ela simplesmente não falou nada mentalmente, afinal uma conversa por telepatia pode ser feita mesmo a quilômetros de distância. Porém o garoto sabia que não se discordava da Loba.
Chegando lá, ele viu ela com mais duas criaturas caninhas, a matilha estava menor. Mas imediatamente, respondendo as incertezas do garoto ela disse “Não se preocupe, eu apenas trouxe menos companheiros para chegar mais rápido”. Era estranho falar mentalmente, passava a sensação de se estar fazendo caretas para um animal. Com certeza, se Tobi visse alguém fazendo isso, iria achar que essa pessoa era um retardado.
- Tenho pouco tempo para explicar. - Fala Lupa na mente do garoto, com muita clareza. - Existe uma ameaça em uma cidade perdida. Humanos e monstros se unem para algo que os oráculos dizem ser catastrófico. Chamei você aqui na clareira, pois é o único que consigo confiar com toda a certeza, e também, porque há um traidor, unido à esse grupo, aqui no Acampamento. Estou buscando ele ainda, mas preciso que você vá até a cidade averiguar as coisas para mim... Silenciosamente, se é que me entende. - Lupa parecia muito séria nessa última frase. - Não peça dinheiro para ninguém, nem fale com ninguém do Acampamento sobre isso. Existem humanos lá que devem ser eliminados, e os romanos não podem pensar que estamos perdendo a noção de humanidade.
A loba sobe até a colina onde está o Acampamento, deixando o garoto no escuro. A noite já caia por completo. E mesmo sem ela dizer, ele já sabia o nome da cidade fantasma. Chernobyl.