"
O problema é esse - escreveu Holmes em 1899 - o tédio. E a falta de interesse. Melhor dizendo, tudo se torna demasiadamente fácil. Quando a graça de solucionar crimes é o desafio, a possibilidade de que você pode fracassar, então os crimes têm algo que retêm a atenção. No entanto, se para todo crime há uma solução e, não obstante, de decifração fácil, não há razão alguma para solucioná-los.
Veja: um homem foi assassinado. Logo, alguém o matou. Foi morto em decorrência de um ou mais dentre um punhado de motivos: tornou-se um problema para alguém, ou possuía algo desejado por alguém, ou enfureceu alguém. Onde está o desafio nisso? Eu lia nas gazetas a respeito de crimes que deixavam a polícia perplexa e me descobria a solucionar o caso, em linhas gerais ou até em detalhes, antes mesmo de chegar ao fim da reportagem.
O crime é solúvel demais. Dissolve-se. Por que telefonar à polícia e revelar as respostas para seus mistérios? Deixo de lado, de novo e de novo, como um desafio a eles, já que a mim não desafia. Sinto-me vivo apenas quando percebo um desafio."
Nesse vazio que o filho de Hefesto constantemente mergulhava, quando via um oponente, o destruía, quando a forja chamava seu nome, construía. Mas o resultado era certo, a vitória era tão certeira que ele poderia jurar que Niké o amava secretamente e por isso fariam um novo semideus, destinado ao mesmo tédio e vazio.
Afastou esses pensamentos da cabeça, afagar o vazio é como alimentar um cão faminto, ele consome tudo que é dado - inclusive o tempo - e transforma no que ele é, vazio. O bar onde Johnny estava era pouco movimentado, na verdade quem visitava aquele muquifo eram só semideuses, monstros e alguns Deuses menores. Não que tivesse algo de especial, era só um lugar no meio do nada, tão perdido quanto o campista esteve ao chegar pela primeira vez no Acampamento, e era melhor assim.
Nunca foi presenciada briga alguma ali, apesar da variedade de criaturas. O semideus podia até ver uma Empousa, uma Dracaena e um Minotauro no fundo daquele lugar, mas eles só queriam esquecer seus problemas, ou lembrar. Sally era um homem velho, e parecia ser só um mortal comum que servia bebidas tão amargas quanto a vida e tinha um sorriso simpático e desprovido de dentes, ninguém gostaria de incomodar Sally, ele provavelmente morreria ao presenciar qualquer discussão e aquele lugar - que por sinal fedia a óleo de moto - fecharia e seria esquecido.
- Me desce uma dose aí, Sally. - Chegou um escandaloso, e o dono do bar pegou um Whiskey velho, e colocou num copo grande demais para conter uma única dose. - Porque eu mereço! - Gritou para os gatos pingados que estavam ali dentro, ergueu o copo e virou. A expressão em seu rosto era decifrável, a bebida era ruim e forte. - Me vê outra! - Bateu com o copo na mesa, estava ao lado de Johnny, e começou a o encarar. - Ei, garoto! Você deve fazer muitas coisas, não é? Tome, para caso precise dos meus serviços.
Passou um cartão por cima do balcão, e Johnny não parecia ter interesse nenhum no seu conteúdo ou no que aquele homem estava falando. Ele era tão desinteressante quanto perder um sapato na areia de um deserto. Ao olhá-lo, entretanto, o filho de Hefesto leu: "OBEDIAH BERGFALK - DESFAZEDOR".
Veja: um homem foi assassinado. Logo, alguém o matou. Foi morto em decorrência de um ou mais dentre um punhado de motivos: tornou-se um problema para alguém, ou possuía algo desejado por alguém, ou enfureceu alguém. Onde está o desafio nisso? Eu lia nas gazetas a respeito de crimes que deixavam a polícia perplexa e me descobria a solucionar o caso, em linhas gerais ou até em detalhes, antes mesmo de chegar ao fim da reportagem.
O crime é solúvel demais. Dissolve-se. Por que telefonar à polícia e revelar as respostas para seus mistérios? Deixo de lado, de novo e de novo, como um desafio a eles, já que a mim não desafia. Sinto-me vivo apenas quando percebo um desafio."
Nesse vazio que o filho de Hefesto constantemente mergulhava, quando via um oponente, o destruía, quando a forja chamava seu nome, construía. Mas o resultado era certo, a vitória era tão certeira que ele poderia jurar que Niké o amava secretamente e por isso fariam um novo semideus, destinado ao mesmo tédio e vazio.
Afastou esses pensamentos da cabeça, afagar o vazio é como alimentar um cão faminto, ele consome tudo que é dado - inclusive o tempo - e transforma no que ele é, vazio. O bar onde Johnny estava era pouco movimentado, na verdade quem visitava aquele muquifo eram só semideuses, monstros e alguns Deuses menores. Não que tivesse algo de especial, era só um lugar no meio do nada, tão perdido quanto o campista esteve ao chegar pela primeira vez no Acampamento, e era melhor assim.
Nunca foi presenciada briga alguma ali, apesar da variedade de criaturas. O semideus podia até ver uma Empousa, uma Dracaena e um Minotauro no fundo daquele lugar, mas eles só queriam esquecer seus problemas, ou lembrar. Sally era um homem velho, e parecia ser só um mortal comum que servia bebidas tão amargas quanto a vida e tinha um sorriso simpático e desprovido de dentes, ninguém gostaria de incomodar Sally, ele provavelmente morreria ao presenciar qualquer discussão e aquele lugar - que por sinal fedia a óleo de moto - fecharia e seria esquecido.
- Me desce uma dose aí, Sally. - Chegou um escandaloso, e o dono do bar pegou um Whiskey velho, e colocou num copo grande demais para conter uma única dose. - Porque eu mereço! - Gritou para os gatos pingados que estavam ali dentro, ergueu o copo e virou. A expressão em seu rosto era decifrável, a bebida era ruim e forte. - Me vê outra! - Bateu com o copo na mesa, estava ao lado de Johnny, e começou a o encarar. - Ei, garoto! Você deve fazer muitas coisas, não é? Tome, para caso precise dos meus serviços.
Passou um cartão por cima do balcão, e Johnny não parecia ter interesse nenhum no seu conteúdo ou no que aquele homem estava falando. Ele era tão desinteressante quanto perder um sapato na areia de um deserto. Ao olhá-lo, entretanto, o filho de Hefesto leu: "OBEDIAH BERGFALK - DESFAZEDOR".