Um calafrio percorre meu corpo dos pés a cabeça, e meus sentidos ficam em alerta. O frio percorria minha pele de maneira constante ao longo de todos esses anos levando uma vida de semideusa, pulando de orfanatos em orfanatos, até me arrastar ao acampamento grego, lutando pela minha própria vida. Aquele lugar era esquisito, e Lewis não ter voltado até agora só me deixava mais curiosa, afinal, ele era um meio irmão meu. Não deveria ser fraco. Meus pensamentos se esvaem quando duas recepcionistas aparecem, avaliando-as percebo que pareciam um tanto quanto artificiais demais.

- Como podemos te ajudar, querida? - Escuto uma falar. Aquilo não me cheirava bem. Desde que minha antiga diretora de orfanato se transformara em uma tremenda fera, humanos também poderiam ser imprevisíveis. Abro um sorriso frio, olhando-as com meu olhar vazio.

- Preciso que peguem minhas bagagens, as deixei na calçada. - Eu falo em um tom mais alto, enquanto tiro minha adaga negra de meu cinto, com minhas mãos atrás das costas, observando-as. Ao mesmo tempo, tento sentir a presença de algum espírito ou verificar se havia alguma sombra boa o suficiente para eu me aventurar em busca de meu irmão. - Aliás, vocês viram um garoto parecido comigo por aí? Nosso pai não está muito contente com seu sumiço, vim buscá-lo. Sabem como é, adolescentes...

Cerro os olhos enquanto falo, sabia que elas não cairiam no meu papo, porque sequer pareciam humanas. Além de que eu nunca tinha realmente visto Lewis, mas os filhos de Hades seguiam um padrão físico peculiar. Então mantendo-me em alerta, eu já me preparo para um possível conflito. Ainda que precisasse achar a garota e Lewis, eu não fazia ideia onde estavam e não iria sair batendo de porta em porta. Talvez, se eu conseguisse bisbilhotar na listagem de hóspedes... Por enquanto, mantenho-me em posição defensiva, pronta para desviar caso fosse necessário.

Passivas:

Poucas sombras, atendente esquisita... é, acho que não teria jeito. Ainda segurando minha adaga, avalio a mulher a minha frente, com um olhar frio. Eu poderia atacá-la, se fosse uma mortal, a adaga não iria feri-la, então não tinha nada a perder. Concordo com sua fala, acenando com a cabeça e me aproximando até 2m dela, fingindo que iria acompanhá-la. Fico atenta com seus movimentos e uma vez estando á um distância favorável, me preparo para um ataque. Era no mínimo esquisito aquele tipo de convite.

- E ele está cansado? Estranho, ele não costuma ter sono. - Comento. Assim que ela se virar, ou tentar algo, eu parto para cima dela com minha [Lâmina do Estige], contando com minha agilidade eu impulsiono os meus pés no piso com força, visando efetuar um corte ágil e direto nas dobras de seus joelhos, por trás. Se desse certo, aquilo debilitaria um pouco sua movimentação, e caso ela seja realmente uma mortal muito estranha e a arma não faça absolutamente nada além de atravessá-la como um fantasma, eu me recomponho forçando um sorriso meio lunático, dizendo em seguida. - Desculpe, tropecei. Vocês tem carregador para celular?

Fico atenta á segunda atendente que fora buscar as malas, procuro pelas paredes algum tipo de tomada. Na pior das hipóteses, eu tentaria causar um curto circuito na rede elétrica do prédio e abusar das sombras do lugar pra der um fora dali com Lewis e a pirralha.

Vendo-me presa nessa situação, faço a unica coisa que me resta; Gritar.
Começo a gritar o mais alto que eu posso, ao ponto de achar que minha garganta estava sendo rasgada de dentro para fora. Ainda segurando as facas e sem tirar os olhos do cara. Se ele viesse para cima de mim, como havia ameaçado, tentaria acertar suas partes baixas e correr dali.