“- É isso que você quer?... - Ele perguntou, com a voz rancorosa e triste. O pretor viu que ele chorava. - TOME!!! - Mercúrio cravou a espada no chão, e um pilar de luz se ergueu pela escuridão da noite. - Amaldiçoado seja você Saito!!! Mataria seu irmão por uma espada? Por garotas? - Ele olhou com desdenho e raiva para Orihime e Kurayami. Saito queria explicar, que tentou, que era para salvar o mundo, queria fugir dali, mas sentia que fugiria de si próprio fazendo isso. - Maldito seja teu sangue desde a tua, até a décima segunda geração, que seus filhos e seus netos, sintam a dor que senti ao ver meu filho, desejando a morte do próprio irmão. E que você, jamais tenha o direito de ser feliz.”
Saito acordou suado, e gritando. Seu corpo parecia ferver de medo. Aquela memória vivia voltando para atormentá-lo, todas as noites, havia semanas. A lua se pendurava no céu entre as nuvens, e apesar da reação que o corpo do Pretor estava tendo parecer inversa, a noite estava fria. Tão fria que talvez a própria Quione estivesse descendo dos céus em direção ao Acampamento.
Como aplausos, o som da chuva cercava a Principia. Os semideuses se dobravam em seus sonos perante ao poder de Júpiter. O vento açoitava as paredes, assoviando entre os galhos e fios por entre as casas. As janelas eram fustigadas pelo poder assombroso da noite, e as trevas se escondiam da presença dos trovões. Saito se levantou da cama e andou pelo prédio dos líderes. Antigamente ele estava à beira de uma guerra civil, mas ultimamente ele andava à beira de cair em depressão. Havia sido amaldiçoado por seu próprio pai, não que a maldição pudesse ter efeito importante em sua vida mas o simples fato de ser odiado por Mercúrio era doloroso.
O Pretor chegou na sala onde recebia as pessoas, na mesma sala onde seu mestre havia aparecido para ele um ano atrás. O mestre do Dojo havia chamado Saito para uma missão no Japão, e lá ele lutou contra Minato, que havia enlouquecido pelo poder de Kusanagi-no-Tsurugi, a lendária espada que agora estava na posse do filho de Roma. Saito entendia porque seu irmão havia se perdido na loucura. Em cada luta que ele empunhou a espada, passou a ter duas batalhas. Uma contra o adversário e outra para manter o controle de sua mente.
Alguma coisa lhe dizia que essa noite seria parecida. E essa coisa era seu instinto de batalha apitando. Bastou o filho de Mercúrio olhar pela janela de onde encarava toda Nova Roma para sentir a aura sombria envolvendo o lugar. Era um poder tão imenso, que poderia destruir todos no Acampamento Júpiter em um estalar de dedos. Durante a noite todos estavam despreparados, haviam apenas um ou outro legionário no turno noturno mas não parecia o suficiente para aguentar tanto poder. Mas de onde essa aura vinha?
- Bela pergunta! - Atrás de Saito fala alguém com voz rouca e animada, e bastou ele se virar para ver um homem de manto negro, com imagens de nuvens vermelhas ao redor do seu corpo, longos cabelos negros ao redor de um rosto pálido, acompanhado de uma serpente gigante que envolvia seu corpo.
- Homem:
Em seu dedo havia um anel, grosso e dourado com um Kanji japonês de número. E o homem parecia não parecia desejar uma batalha. Pelo contrário, seus olhos vasculhavam o corpo de Saito por cada canto, como se desejassem disseca-lo para ver cada músculo seu.
- Eu realmente mataria você. Mas recebi ordens. - Saito não precisava que ele falasse para saber quem estava atrás dessas ordens. - Minato... Ele mandou dar um recado. - Ao invés de falar, o homem fechou seus olhos. Eles permaneceram fechados por algum segundo, mas quando se abriram revelaram o brilho de um rubi, mais brilhante que a noite e mais vermelho que sangue. Os olhos tomaram conta do corpo de Saito, e ele se viu paralisado, entregue àqueles olhos. Eram tão belos que o Pretor tinha vontade de se ajoelhar, e servir ao dono daqueles olhos pro resto da vida. - Veja...
- Olhos:
E então, hipnotizado por aqueles olhos o Legionário viu milhares de imagens. Corpos queimados, mutilados, rasgados. Alguns estavam em situações impossíveis de ver. Mas em todos, seja em pedaços de rosto, de braços, em corpos queimados... Todos eles tinham escrito em japonês “Brekluc”. E então, as imagens sequenciais são substituídas pela imagem do Dojo onde morava no Japão. O lugar onde passou a infância com sua mãe e irmão... Algumas pessoas passeiam por lá, outras treinam. Velhos, crianças, adolescentes. Famílias lotavam o lugar que outrora era vazio, sem a família do Pretor. E de repente, uma explosão faz o lugar desaparecer, a floresta de árvores de cerejeira ao seu redor começa a pegar fogo, e alguns gritos de sobreviventes são ouvidos. Ao fundo, o sol começa a se erguer mas ainda assim estava escuro. Enquanto em Nova Roma a noite acabara de chegar. Saito soube, apesar de seu breve conhecimento sobre os horários... Aquela imagem era em tempo real, e seu lar acabara de ser explodido. Em meio às chamas, uma sombra, um homem com braço mecânico segurando uma katana. Ele aponta a espada para Saito e fala na ‘ilusão’.
- Você não foi rápido o suficiente. - E desaparece, deixando para trás apenas o caos infernal.
Saito abre os olhos, e respira fundo como se durante todo este tempo tivesse esquecido de fazer isso. Ele continua na princípia, mas o homem pálido não estava mais ali.