Correr sempre fora algo natural para mim.
Minhas primeiras memorias de criança, me remetem a lembrança de um pequeno Saito correndo pelos frios campos do Dojo. Com o tempo, eu corria cada vez mais, seja para onde for: Para fugir, para se divertir, para se exercitar.
No nosso treinamento infantil como ninja meu irmão sempre fora mais habilidoso, mais forte, mais ágil. No entanto, eu ainda era mais rápido. Mamãe dizia que eu não havia nascido para ficar parado, ela dizia que eu e a velocidade éramos um só.
De fato, era isso que agora acontecia.
É difícil falar sobre o passado quando ele estava passando literalmente diante de seus olhos.
Correr na linha do tempo era um sentimento de vazio, uma solidão que mostrava o quão grandioso o universo ao redor podia ser. No momento em que contemplei esse poder, pude sentir o quão poderoso havia me tornado. Sim, agora eu podia fazer o que quisesse.
Mas para que serve o poder?
A havia toda eu nunca tive muitas metas ou objetivos, eu apenas corria. Corria para onde a vida me levasse, tentando dar o máximo de mim e chegar nos meus limites. Talvez eu fosse um garoto inconsequente com grandes poderes. Afinal, não é à toa que eu já havia morrido uma vez.
Caminhando na linha de tempo, foi naquele momento em que eu vi a mais poderosa das esposas de Ares cortando minha cabeça, levando meu corpo a morte.
Caminhando na linha do tempo, foi naquele momento que vi meu corpo se arrastando do mundo dos mortos de volta para a vida.
Às vezes, ainda posso sentir a morte em mim.
No entanto, agora até a morte se tornara um conceito puramente superficial. A morte estava intricadamente ligada com o tempo, com ambos caminhando lado a lado na linha do destino que as parcas tecem para cada um de nós. Mas quando você controla o tempo, não deveria controlar também a morte.
A morte.
Eu não sabia ao certo o que fazer com todo aquele poder, mas foi quando o pensamento de ser MAIOR do que a morte veio a minha cabeça. Novamente, minha mãe veio à cabeça. A também descendente de todas as mitologias me disse uma vez, que o poder serve apenas para proteger aquele que nós amamos.
Minha mãe havia morrido para proteger quem ama.
De todas as pessoas que já passaram pela minha vida, ela foi a única que eu realmente havia amado.
Era minha obrigação moral e ética utilizar meu poder para proteger quem eu amava, e assim eu iria fazer. Acelerei ainda mais meu corpo, me tornando nada mais do que um conjunto de raios amarelos correndo naquele túnel de lembranças, que agora mais do que nunca se tornavam tão vividas me avisando para não fazer aquilo.
Sera que se eu salvasse minha mãe, essas lembranças ainda existiriam? Será que se eu salvasse minha mãe, tudo que eu havia aprendido ainda aconteceria? Será que se eu salvasse minha mãe, eu me lembraria do passado?
E meu destino, e a serpente? Bom, no futuro dois irmãos poderiam nascer e resolver isso por mim. Estava decidido.
A minha frente, o fim do do tempo se abriu mostrando aquele fatídico dia de inverno, em que o templo foi invadido. Atravessei o portal, voltando 6 anos no passado. Tudo parecia do mesmo jeito, frio e cinzento.
No entanto, meu corpo não havia parado de correr. Acelerei em direção a floresta na qual minha mãe deveria estar fugindo comigo e com meu irmão. Após rodar esperando, senti a aproximação dela, junto ao Saito de 13 anos e Minato. Ela via a frente, comigo e com meu irmão pulando nas arvores atrás dela, extremamente nervosos pelo que o futuro nós reservava.
Sorri, pois me lembrei que apesar de preocupado, eu me sentia protegido.
Mas tudo se tornaria um pesadelo em poucos segundos.
A gigantesca serpente então surgiu, pulando do mato e se atirando na minha mãe. Essa era minha deixa, acelerei e puxei minha katana para matar o monstro que acabara com minha vida e salvar minha mãe.
Mas naquele momento, mais uma coisa extraordinária aconteceu.
Quando você se torna um com a velocidade, o mundo gira tão devagar que ele se torna nada. Você controla como quer a velocidade das coisas ao seu redor, é pode simplesmente ver tudo com lentidão enquanto você está simplesmente parado. Foi o que aconteceu, mas não feito por mim.
Algo tão rápido que eu, ou até mais, surgiu através de outro portal a minha frente.
Vi um Saito um pouco mais velho do que eu, acabado, ferido e extremamente nervoso a minha frente.
--Eu tenho pouco tempo – Ele disse.
O Viajante do tempo utilizava roupas de ninjas de elite, exatamente como as de Minato. No entanto, acima da roupa ele portava um robe de sensei com algumas palavras nas costas, mostrando-se o atual líder dos Namikaze.
--Você não pode fazer isso, você não sabe as mudanças que isso vão causar. Seu lugar não é no Japão como um ninja, mas sim no ocidente como um semideus. – Falou.
Pisquei, e pude ver por um segundo o futuro que aquela ação me reservava. Uma guerra civil, entre dois gigantescos clãs: O Namikaze, liderado por mim e nosso clã rival, liderados por Minato.
Essa guerra também teria seus reflexos no Japão, levando todo país para um destino sangrento. No fim, mãe acabaria morta e Minato despertaria a cobra pelo mesmo objetivo: Poder, utilizando-a para me vencer e tornando-se imperador.
Eu não podia salvar minha mãe sacrificando o destino de tantos.
O outro Saito então se foi, e quando o mundo a minha volta voltou a acelerar tudo que pude fazer foi ver minha mãe sendo novamente morta por aquela serpente. Meus olhos se encherem de lagrimas, e sem pestanejar eu comecei a chorar. Ouvi mais uma vez os gritos de minha mão, seguido pela palavra que ficou marcada na minha vida.
“CORRAM”
Foram as últimas palavras dela.
E assim como os jovens Saito e Minato faziam, agora eu também corria. Atormentado pela segunda vez, eu aprendia que o destino era um só, e independente de como eu o alterasse eu só acabaria adiando as coisas.
A serpente surgiria de qualquer jeito.
Contudo, a morte e o tempo ainda andam lado a lado, e eu ainda podia salvar muitas vidas. Corri mais uma vez pela linha do tempo, dessa vez com uma data diferente em mente. Fui para o mesmo lugar, o dojo.
Meu objetivo era simples: Eu sabia que a serpente iria renascer, mas eu ainda podia ser capaz de salvar o dojo, e salvar as filhas de Kushinada.