O passeio sobre Órion estava maravilhoso. Com Dite atrás de mim, eu sentia calafrios. Me pego pensando em quanto tempo estive longe de outros semideuses. Após tantos anos lutando sozinho, percebo que a última vez que havia saído em missão acompanhando, havia sido exatamente aquela escolta, 5 anos atrás, na qual estive com a filha de Afrodite e dois outros semideuses. O peso dos anos passa pela minha mente me deixando cansado por um momento, porém, logo recobro o ânimo. Percebo que se era com Dite que eu estava de volta acompanhado, tanto tempo depois, aquilo deveria significar algo bom.
Não deixo de ficar abalado com o que vejo pelo caminho. Aquela não era, definitivamente, minha terra, e nem sequer era parte do ocidente, mas eu não deixava de sentir pena de todas aquelas almas mortais que eram arrasadas por problemas divinos. Talvez, afinal, fôssemos todos iguais pelo mundo. Quem sabe não haveria semideuses egípcios lutando contra deuses antigos e medonhos, tentando salvar suas vidas e seu lar. Aquele pensamento me deprime, mas também me dá força para prosseguir e combustível para encarar o que quer que se pusesse em meu caminho.
Dentro do hospital as coisas estavam ainda piores. Cenários de guerra não eram novidade para mim. Muito menos humanos com mutações. Mesmo assim, a dor tomava conta do ambiente. Se houvesse algum deus de morte ou até mesmo A Morte, no Egito antigo, ali ele estaria, colhendo almas e estimulando choros. Ao ver tantos feridos e a incapacidade da medicina mortal em curá-los, não deixo de desejar a companhia de um filho de Apolo. Me pego pensando em Enzo, um estimado colega do chalé de Hera. Seus préstimos seriam indispensáveis naquele local, mas não deixo de lembrar que ele também deveria estar sendo requisitado em nosso país natal, afinal, era um excelente semideus e a guerra com certeza chegara lá também.
Fico interessando na manifestação de um senhor, quando ela pronuncia o nome de minha mãe, antes de desmaiar. Eu imaginava que aqueles humanos fossem apenas hospedeiros de alguma magia ou alma maligna. Essa informação não me acalentava, mas me fazia controlar os ânimos, já que somente enxergava mortais indefesos em sofrimento, emitindo sons que não gostariam de emitir. Ameaças sobre o fim do mundo eram frases que semideuses sempre ouviam, então não dou tanta importância, apesar de engolir um palavrão sobre esses inimigos miseráveis.
Após trocar informações com minha companheira, lhe requisito que me acompanhe até a entrada do esgoto referido por ela. Observo o buraco. Definitivamente, o subterrâneo não era um dos lugares que me atraíam. De forma geral, Hera sempre me protegera no ar, e na terra eu me sentia em casa. Porém, abaixo dela, não tinha nenhuma garantia. Novamente me vejo pensando em um companheiro que seria útil, Daniel. Infelizmente, não podia contar com ele tampouco, mas por outro lado, aquela parecia a melhor pista e eu deveria segui-la.
- Com absoluta certeza, a peste está sendo espalhada à partir do museu. Acredito que entrar pela porta da frente não seria a melhor estratégia. Desgosto do subterrâneo como qualquer criatura racional, mas imagino que seja mais fácil se locomover por aí. Além disso, podemos encontrar pistas mais densas que apenas palavras de mortais possuídos e pequenos escorpiões. Se você puder garantir um pouco de luz, eu desço para averiguar o local.
Espero que Dite lance alguma chama divina no buraco. Seres das trevas certamente correriam ao ver uma chama sagrada repentina. Em seguida, tento descer com cuidado, invocando minha armadura da tatuagem. Quando chegasse ao fundo, usaria a luz da espada e da chama para averiguar o local, sem dar muitos passos, além de pegar o escudo. Se a área estivesse limpa, chamaria Dite comigo, a não ser que ela quisesse ir por outro lugar, obviamente.
Analiso os caminhos que eu poderia seguir. Possíveis ameaças ou aquele velho pressentimento de morte certa, que geralmente aponta o caminho certo. Não deixo de ficar atento à ataques surpresas, mesmo que fossem magia ou invisíveis. Minha sensibilidade agora deveria me permitir proteger a mim E a Dite. Não estava acostumado com isso, mas mesmo sabendo que ela podia se defender sozinha, a minha perícia e experiência deveriam fornecer mais proteção à ela.